domingo, 26 de fevereiro de 2012
OSCAR
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Melhor do que assistir aos hiper-desfiles
das escolas de samba - com direito à selvageria na apuração em São Paulo e à
inovadora paradona da Mangueira na Sapucaí - é estourar a pipoca e abrir o
refri ao espetáculo hollywoodiano de hoje. (...)
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(...) Merecemos uma saideira para adiar o
choque de realidade como o câncer do Chavez, o assassinato de jornalistas na
Síria, as desavenças lupetistas em São Paulo e o lento retorno dos nossos
políticos.
Umberto Eco cunhou a expressão
“apocalípticos” & “integrados” - os que esnobavam aristocraticamente a
cultura de massas e os acólitos do admirável mundo novo da tecnologia
globalizada, hoje em 3D e com seus Iphones, Ipads, e-commerce, blogs. Tudo
mudou e pouco mudou. O conteúdo é tudo, seja lá qual for o suporte.
A diferença talvez ainda resida
entre o espetáculo ao qual se assistia da janela de casa e, na rua, a massa
sacolejando no velhíssimo Entrudo. Dá na mesma vibrar sentado na arquibancada.
No Nordeste – acima da Bahia que concorre ao Oscar com a batucada do desenho
“Rio” – ainda há carnaval como folguedo coletivo, sem parente-patrocinador e
sem mega-empresas faturando.
- “Há diferença entre “assistir” e
“ser” o espetáculo”, explicou-nos em off o Sr. Charles Preto, lendário
presidente do bloco carnavalesco Pacotão. Ainda assim, o cinema continua
imbatível na sala escura, protegida da violência das ruas e seus primórdios são
homenageados em “O artista”, com charme de Clark Gable. Já temos até um cinema
nacional prá valer e não aquele heróico pioneirismo que foi a Vera Cruz, quando
Ciccilo Matarazzo e Yolanda Penteado davam festas para Errol Flynn e seu
bigodinho bi-sexual.
Pragmatismo dos tempos em que até
o PT optou pelo bom senso das concessões/privatizações, Meryl Streep interpreta
magnificamente a gerentona Margareth Tatcher. Filme chato, mas cujos flashs
backs mostram a violência que foi fechar as contas estouradas do populismo
trabalhista inglês. Deus que nos livre do mesmo destino e que nos permita criar
um Ministério da Cultura ou uma tevê aberta inteligente que nos proporcione a
transmissão da Berlinale e de Cannes. Hotxuá! o espírito do carnaval não é
sonhar de graça?
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Paternidade
– Estima-se que 5 milhões de estudantes brasileiros que não têm a paternidade
reconhecida – dados do Censo Escolar de 2009 – sejam beneficiados com o
Provimento nº 16 do Conselho Nacional de Justiça, que permite que mães, mesmo
sem a presença do pai, possam registrar seus filhos. O POPULAR 26.02
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Crise
faz disparar as diferenças entre ricos e pobres na Espanha EL PAIS 26/02/20
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Um
relatório da Caritas indica que há 580 mil lares sem qualquer renda (34% a mais
que em 2007). As execuções hipotecárias quadruplicaram. O fantasma que percorre
a Europa com o nome de crise, recessão ou dívida está causando mais desastres
na Espanha do que no resto da UE. Os últimos números são dolorosos, mas doem
mais, se isso é possível, quando são comparados com os dos vizinhos.
Um
exemplo é o crescimento descontrolado do índice de pobreza, o mais alto da
UE-21, só superado por Romênia e Letônia.
Contra
uma média de 16% na UE -21, o índice espanhol de 2011 representa um valor 5
pontos maior que em 2007, o dobro dos valores da Holanda (10,3%) e muito
superior ao da França e dos países nórdicos (13%).
Também
disparou nesses cinco anos a distância entre ricos e pobres. Tomando como
referência os países de maior renda da união, o crescimento da desigualdade na
Espanha mais que duplica o da França, triplica o da Alemanha e é quase 5 pontos
maior que a média da UE-15. Em porcentagens, a renda correspondente aos 20%
mais ricos da população espanhola e aos 20% mais pobres passou de 5,3 em 2007
para 6,9 no final de 2010. É o maior aumento da desigualdade dos 27 países da
UE.
Essa
duplicidade, com risco para a coesão social, é a constatação mais preocupante
do último relatório da fundação Foessa (Fomento de Estudos Sociais e de
Sociologia Aplicada), divulgado ontem à mídia pelo secretário-geral da Caritas,
Sebastián Mora. Intitula-se "Exclusão e desenvolvimento social na Espanha.
Análise e perspectivas 2012", e oferece conclusões irrefutáveis, por mais
desanimadoras que pareçam. "A pobreza é mais extensa, mais intensa e mais
crônica", disse Mora.
Na
Espanha, os pobres são mais pobres desde que começou a crise, com uma
diminuição do limite de pobreza que passou de 8 mil euros em 2009 para 7.800 em
2010. A renda média diminuiu 4%, mas se compararmos a evolução da renda per
capita com a do índice de preços a queda está perto de 9%.
Um
indicador muito representativo é a perda de bem-estar nos lares: 30% chegam mal
ao fim do mês e reduzem abaixo do suportável seu gasto em consumo de carne, por
exemplo; 41% expressam sua incapacidade de enfrentar gastos imprevistos. 3,3% não têm qualquer renda, nem do trabalho
nem de prestações por desemprego ou da previdência social. São 34% a mais que
no começo da crise. No final de 2011 esse problema afetava 580 mil lares.
Um
indicador que ilustra a evolução da crise é o número de sentenças de execuções
hipotecárias: em 2010 foram quase 100 mil e multiplicaram por quatro as
registradas em 2007.
A
pobreza também anda por bairros, como se costuma dizer, com uma concentração
marcante no sudoeste da península e nas ilhas Canárias. A comunidade autônoma
com maior índice de pobreza, Extremadura, supera Navarra - a região com menor
incidência desse problema - em mais de 30 pontos percentuais (38,2% e 7,3%
respectivamente). Contrastam também os índices do País Basco (11,6%) e Astúrias
(12,3%) com os das comunidades com níveis de pobreza mais altos, que além de
Extremadura são Canárias (31,1%), Andaluzia (30,1%) e Murcia (29,2%).
Esta
é apenas uma radiografia do Estado do bem-estar espanhol, cujo gasto social em
termos de PIB ou calculado per capita revela o longo percurso que resta para se
aproximar dos níveis médios da UE em investimento de recursos que favoreçam a
igualdade dos espanhóis.
Segundo
o relatório apresentado ontem pela Caritas, o gasto social na Espanha está 15
pontos abaixo do da maioria dos países do euro com maior nível de renda (25
pontos de distância em relação ao indicador da Alemanha). O economista Vicenç
Navarro calculou que para alcançar esses níveis a Espanha deveria aumentar seu
gasto social em 75 bilhões de euros por ano.
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FERREIRA GULLAR
Trocas
e truques
Senador
não é eleito para legislar? Por que então o presidente da República o convida
para ministro? FOLHA SP 25.02
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Pouca
gente há de se lembrar de um personagem que, antigamente, habitava o livro de
leitura no colégio e que se chamava João Pergunta. E, se assim se chamava, era
porque vivia a perguntar sobre tudo o que via ou ouvia. Às vezes penso que sou
um pouco como ele, já que estou sempre a questionar o que acontece em meu
redor. E particularmente no campo político, uma vez que é ali que muita coisa
de nossa vida se decide.
Como
não sou especialista no assunto, posso às vezes formular perguntas tolas, cuja
resposta todo mundo já sabe, menos eu. Mesmo assim, insisto, porque, se não o
entendo, não fico quieto.
Uma
dessas coisas é a insistência com que ultimamente se nomeiam parlamentares para
a função de ministro. Sei muito bem que isso não é de agora, mas sei também que
nunca se tornou tão frequente. Alguma razão deve haver, porque político não
prega prego sem estopa. E tanto mais pelas implicações decorrentes disso.
Pense
comigo: deputado, senador não é eleito para legislar? Por que então o
presidente da República os convida para ministro? Desconfio haver algo de
errado nisso.
Ou
será que não? Vamos examinar: o Estado brasileiro é composto de três poderes
que, para o bom funcionamento do regime democrático, são independentes uns dos
outros. Se não me engano, o Congresso tem como uma de suas funções fiscalizar o
Executivo, impedindo assim que o presidente da República desobedeça o que o
Parlamento decidiu e a legislação prevê. Logo, a relação entre esses dois
poderes, se deve ser harmoniosa, deve também preservar-lhes a autonomia.
Será
que essa autonomia se mantém quando o presidente da República coopta deputados
e senadores para compor seu ministério?
Estará,
no mínimo, comprometida, uma vez que o ministro é um auxiliar subalterno do
presidente da República, a quem deve obedecer. E então a coisa fica assim:
elegemos o cara para a função de legislador -o que significa representar-nos na
elaboração das leis, na defesa de nossos direitos de cidadão, e ele passar a
servir ao poder. Não só não cumpre com a função para a qual o elegemos como
passa a servir ao poder que deve ser fiscalizado por ele. Há algo de errado
nisso ou sou eu que estou vendo chifre em cabeça de cavalo?
Não
estou não, mesmo porque a coisa não fica aí. Na verdade, o presidente não o
nomeia ministro por sua competência técnica, e sim por sua importância dentro
do respectivo partido. Ou seja, ao fazê-lo, o presidente coopta não apenas o
escolhido mas também o partido a que ele pertence. Disso resulta que, se por um
lado, a relação autônoma entre os dois poderes se rompe, por outro lado e por
isso mesmo, o ministério passa a ser um feudo do partido, que o usa conforme
seus interesses político-eleitorais.
E
como isso implica o desvio do dinheiro público para os cofres do partido, essa
operação fraudulenta, para se efetuar, leva inevitavelmente ao envolvimento de
outros personagens e instituições fajutas, como se viu recentemente nos
escândalos de vários ministérios.
Mas a coisa não para aí. Como causa primeira de
tudo isso, no caso do governo Lula, por exemplo, havia um projeto de poder
pouco democrático, que está na origem mesma do PT. Como seu propósito era (e é)
manter-se no poder indefinidamente, Lula evitou, em seu primeiro governo,
aliar-se ao PMDB, que exigiria dele a partilha dos ministérios.
Como
se sabe, está aí a origem do mensalão, que consistia em comprar com dinheiro os
pequenos partidos, em vez de lhes dar cargos importantes no governo. Devido ao
escândalo que resultou disso, Lula mudou de tática e passou a comprar os
partidos de outro modo, oferecendo-lhes ministérios. Era o passo que faltava
para que o governo petista se convertesse nessa espécie de neopopulismo, que
rege hoje o país.
Essa
cooptação de políticos visando a manutenção do poder teve como resultado um
fenômeno até então inédito na vida política brasileira: a demissão, em apenas
um ano, de sete ministros implicados em corrupção. O último deles entregou o
cargo outro dia, e seu substituto -do mesmo partido, claro- também responde a
processos na Justiça. Como se vê, ficha limpa, entre essa gente, é raridade.
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