quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
As
suspeitas que pairam sobre a Operação Pinheirinho
Coluna Econômica - 08/02/2012 Blog:
www.luisnassif.com.br
-
São
injustas as generalizações contra o Poder Judiciário. Com razão, os juízes se
consideram o poder mais fiscalizado da República.
O
primeiro nível de fiscalização é o fato de todas as decisões serem públicas. O
segundo nível de fiscalização é dos próprios advogados da parte perdedora. O
terceiro nível, as corregedorias estaduais. Depois, os recursos aos tribunais
superiores. E, por fim, o Conselho Nacional de Justiça. Englobando tudo, os
códigos de processos, os rituais a serem obedecidos, as hierarquias das leis e
das medidas.
Assim,
a identificação de irregularidades se dá quando procedimentos são atropelados e
decisões tomadas ao arrepio da lei.
***
Por
tudo isso, o Poder Judiciário paulista não pode deixar passar em branco as
denúncias do Defensor Público de São José dos Campos, Jairo Salvador,
especificamente sobre a atuação de três magistrados: o presidente do Tribunal
de Justiça, desembargador Ivan Ricardo, do juiz estadual Rodrigo Capez e da
juíza Márcia Loureiro, de São José dos Campos, envolvidos no episódio de
Pinheirinho.
É
injusto tomar a instituição pela ação individual de seus membros; mais injusto
é o TJSP não esclarecer as denúncias formuladas e permitir que se tome o todo
pela parte - ainda que a parte seja seu próprio presidente
***
Durante
toda a operação, o desembargador Ivan e demais personagens defenderam a versão
de que a lei estava do lado da massa falida, e contra os moradores.
Em
um vídeo que circula no Youtube, o Defensor Público mostra que a lei estava do
lado dos moradores. Nem se está falando aqui de interpretações da Constituição,
sobre a função social da propriedade e do direito à moradia. Está se falando
dos procedimentos jurídicos, dos formalismos ao quais estão sujeitos todos os
operadores do direito.
***
Em
2005, foi impetrada uma liminar de reintegração de posse de Pinheirinho na 6a
Vara Civil de São José dos Campos. O juiz indeferiu. Tempos depois, o juiz da
18a Vara acatou a liminar. O TJSP derrubou sua decisão, julgando-o incompetente
para o caso. Afinal, a ação pertencia à 6a Vara - para a qual retornou.
Desde
então, durante 8 anos a massa falida da Selecta tentou derrubar a decisão, sem
conseguir. Os moradores de Pinheirinho venceram TODAS as ações posteriores.
***
Além
disso, existem dois recursos pendentes no TJSP – o que desmonta a farsa de que
a ação havia esgotado todos os procedimentos.
***
A
maneira como foi concedida a liminar de reintegração de posse, atropelando a
decisão anterior da 6a Vara e os recursos em andamento resvala para o escândalo
- se não houver explicações satisfatórias.
Depois
que o juiz da 6a Vara indeferiu o pedido da massa falida, só poderia impetrar
outra liminar se houvessem fatos novos. No entanto, inicialmente, a juíza
alegou que estava revigorando a liminar da 18a Vara, sem nenhum fato novo e sem
nenhuma outra provocação das partes. Quando se deu conta de que, anos atrás, o
Tribunal havia decidido pela incompetência da Vara voltou atrás, disse ter sido
mal compreendida, e declarou estar "reconsiderando" a decisão do juiz
da 6a Vara.
As
decisões atropeladas
Não
ficou nisso. O juiz Silvio Pinheiro, da 1a Vara da Fazenda Pública, proibiu a
demolição das casas de Pinheirinho, negando o pedido da prefeitura, que havia entrado
com ação demolitória com base nas normas urbanas de ocupação do solo. Havia
também uma ordem de uma juíza federal, confirmada por um desembargador,
determinando que a Policia Municipal e a Policia Militar se abstivessem de
participar da desocupação. Todas as decisões judiciais viraram terra arrasada.
Um
episódio escabroso - 1
O
depoimento do Defensor Público narra um episódio testemunhado por ele e por um
oficial de justiça que, segundo suas palavras, mostra “quão vergonhoso, quão
ilegal e quão imoral” foi a operação. Soube da operação às 6 da manhã. Às 6:15
estava no local tentando ser recebido pelo comandante da operação. Foi atacado
com balas de borracha. Conseguiu não ser atingido. Dirigiu-se ao Major Paulo
para lhe entregar a ordem da Justiça Federal.
Um
episódio escabroso - 2
Rindo,
o major se recusou a receber a ordem alegando que ele não era oficial de
justiça. Às 9 horas, Salvador apareceu com o oficial de justiça e a ordem do
juiz para que fosse suspensa a operação. Foram recebidos à bala novamente,
mesmo identificando-se. Conseguiram
furar o cerco e se aproximar do coronel Messias. “E lá eu presenciei uma cena
que jamais imaginei ver na minha vida”, diz Salvador.
Um
episódio escabroso - 3
O
mandado entregue por um oficial de justiça foi pego por um juiz assessor da
Presidência do Tribunal – Rodrigo Capez. Salvador reagiu informando que o
mandado se destinava ao comandante da PM e deveria ser entregue a ele. O
oficial de justiça tomou o mandado da mão de Capez e entregou ao coronel Messias.
E o coronel, visivelmente abalado, tremendo, segundo Salvador, recebeu ordem de
Rodrigo Capez sobre o que ele deveria escrever.
Um
episódio escabroso - 4
“Escreva
aí, senhor comandante, que o senhor não vai cumprir a ordem”. E o coronel se
submeteu à ordem de um juiz que nada tinha a ver com o processo, violando todas
as normas jurídicas conhecidas. “Eu me envergonho da Justiça que temos”,
concluiu Salvador. “Ganhamos e não levamos e a postura do juiz violou todas as
normas legais conhecidas, como o princípio do juiz natural”.
Um
episódio escabroso - 5
Alegou-se
que as casas demolidas tinham sido autorizadas pelo Tribunal de Justiça, que
resolveu um conflito de competência entre a Justiça Estadual e a Federal. Mais
uma mentira, diz Salvador. O conflito de competência dizia respeito a uma ação
da AGU (Advocacia Geral da União). Nada tinha a ver com a determinação do
desembargador, para que a Polícia não se envolvesse na operação”. O episódio
ficará por isso? Não haverá punições?
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ARTES CÊNICAS »
Labirinto poético
Montagem
curitibana inspira-se na vida e obra do escritor e tradutor Paulo Leminski e
cria um mosaico de influências CORREIO
BSB 09.02
-
Vida,
da Companhia Brasileira de Teatro, volta à cidade para curta temporada, de hoje
a domingo, na Caixa Cultural
Vida,
espetáculo da curitibana Companhia Brasileira de Teatro, está encharcado de
influências da obra do poeta Paulo Leminski, embora não preste um tributo ou
faça referência direta aos seus textos e aos poemas. “Resolvi transitar pelas
influências dele, pela relação que ele tinha com a linguagem, a forma como
escrevia. Leminski era um monstro devorador de referências e resolvemos
trabalhar com o reflexo dessa experiência”, explica o diretor da montagem,
Márcio Abreu. Depois de colecionar prêmios e passar pelas maiores cidades do
país, Vida vem a Brasília pela segunda vez (fez uma passagem-relâmpago durante
a última edição do festival Cena Contemporânea) e será encenada de hoje a
sábado, às 20h, e domingo, às 19h, na Caixa Cultural.
O
encantamento pela obra do poeta, também curitibano, surgiu na adolescência do
diretor. “Li um livro dele chamado Vida, que reúne as biografias de Trotski,
Jesus Cristo, Bashô (mestre japonês da poesia Hai-kai) e Cruz e Souza. Uma
loucura. A leitura me marcou muito e resolvi partir desse título”, explica ele.
“Nós, de Curitiba, cidade onde o Leminski vivia, fomos muito influenciados por
esse mundo subterrâneo, off que era próprio dele. Trabalhamos muito com
dramaturgia contemporânea do exterior e queríamos nos voltar pra nossa casa, no
desafio de voltar aos textos próprios. Nada melhor do que falar sobre alguém de
quem tivéssemos referências”, explica a atriz e dramaturga Giovana Soar.
Definido
o rumo que seguiria, a companhia dividiu o processo em duas etapas. A primeira,
que durou aproximadamente um ano, envolveu pesquisas e leituras sobre a obra
completa do poeta e de suas influências. Nessa fase, os integrantes da trupe
entraram em contato com sua vertente de tradutor. “No papel de tradutor, ele
também era um criador, a linguagem dele estava presente na tradução”, destaca o
diretor de Vida. Eles criaram um solo que não estava previsto (Descartes com
lentes), baseado em outra obra dele, organizaram uma exposição sobre o poeta e
até estrearam um texto bilingue, em Paris, com atores franceses.
Encontros
informais
O
período também envolveu encontros informais com parentes, amigos, estudiosos da
obra e parceiros profissionais de Leminski, conta a atriz Giovana Soar, amiga
pessoal de Áurea, uma das filhas do poeta. “Nesses encontros, coletamos
histórias bonitas, como a do Solda, cartunista e amigo do escritor. Solda nos
contou que era um caipira, não era de contato físico, dava os tradicionais
tapinhas nas costas na hora de cumprimentar alguém. Um dia, Leminski se
pendurou nele e disse: ‘É assim que se abraça, cara’. Esse episódio acabou
entrando na montagem”, revela.
Quem
conhece a obra do poeta, prossegue ela, há de reconhecer o espírito leminskiano
ali e acolá. Um exemplo são as referências a Catatau, jorro narrativo sem
divisão em parágrafos ou capítulos. “O espetáculo também não para, começa e
termina em um só fluxo”, revela a atriz. Depois, o grupo se debruçou na
dramaturgia, num vaivém entre compor o texto e fazer incursões pela sala de
ensaio.
O
fruto da imersão no universo poético de Leminski deu origem à seguinte trama:
quatro pessoas exiladas se encontram em uma sala de ensaio, para criar um
número musical em homenagem ao aniversário da cidade aonde vivem. Durante duas
horas, o público convive com desejos, idiossincrasias, realizações e
frustrações dessas personagens. “É um espetáculo sobre a transformação, de se
deixar afetar pelo outro”, explica Giovana.
Reconhecimento
Desde
a estreia, em março de 2010, a peça ganhou o Prêmio Bravo! Bradesco Prime de
Cultura 2010, na categoria melhor espetáculo. Também ganhou a premiação
Governador do Estado do Paraná, nos quesitos texto, direção, ator principal,
ator coadjuvante e música. Foi ainda indicada ao Shell, o mais importante dos
prêmios nacionais, nas categorias texto, música e cenário.
VIDA
Direção
de Márcio Abreu. Com Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo
Ferrarini. De hoje a sábado às 20h e domingo, às 19h, no Teatro da Caixa (SBS
Quadra 4, lote 3/4 – 3206-9448). Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia). Não
recomendado para menores de 14 anos.
O
pensamento poético de Paulo Leminski mobilizou os artistas
Três
perguntas para - Márcio Abreu
O
que Paulo Leminski representa?
Ele
foi um farol na cultura brasileira. Na década de 1980, tinha carta branca da
editora Brasiliense para traduzir e publicar quem quisesse. Trouxe autores e
obras que demorariam a chegar ao Brasil como Giacomo Joyce, de Joyce James,
Malone morre, de Samuel Beckett, obras do Bashô e do Yukio Mishima (autores
japoneses). Ela cria um diálogo de obras clássicas com a contemporaneidade ao
traduzir Satyricon, de Petrônio, um dos primeiros romances ocidentais. Já fazia
e falava sobre grafites nos anos 1980, foi grande pensador e ensaísta de seu
tempo. Devorou e deglutiu influências, transformando-as em uma obra gigante,
luminosa. Hoje, já não se vê mais uma reedição de seus livros, apenas a
republicação de antologias. E isso é um atentando contra a cultura brasileira.
De
que forma a influência dele está presente na obra?
Se
eu conseguisse dar uma resposta objetiva sobre essa experiência artística de
apropriação da obra, teria escrito um livro e não feito uma peça. Temos clareza
e convicção de que Vida só existe por causa dessa relação criativa e libertária
entre os artistas envolvidos e a literatura do Paulo Leminski. É uma obra
original e não existia antes de todo esse processo.
A
peça trabalha com polifonia, música e vários idiomas. Como é isso?
Há uma pluralidade de referências que convivem no
mesmo plano, uma simultaneidade de cenas, o que é uma polifonia que gera
sentidos para além do sentido imediato. A banda de exilados faz música ao vivo,
uma trilha original composta por André Abujamra, em uma relação direta com a
vertente musical do Leminski. Desde 2002, os trabalhos da companhia também têm
forte relação com a música. Já criamos e produzimos até uma ópera (O
empresário, de Mozart). Leminski também era um profundo conhecedor de idiomas.
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