quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


CNBB escolhe saúde pública como tema da Campanha da Fraternidade e critica corte do Orçamento Agência Brasil 22.02
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Parceria possível
Maior encontro científico do mundo foca em velho problema brasileiro e conclui, ignorando velhos tabus políticos: sim, é factível conciliar produção agrícola e conservação de florestas CORREIO  22.02

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Plantação em Mato Grosso: com incentivos econômicos, aumento da produtividade em áreas já degradadas evita novos desmatamentos

Se um dos objetivos da reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), que terminou na segunda-feira em Vancouver, no Canadá, era encontrar soluções para a falta de alimentos, energia e água, a discussão não poderia deixar de incluir os problemas da Amazônia, maior bacia fluvial do mundo, localizada em uma região de expansão da fronteira agrícola e centro da polêmica construção de novas hidrelétricas gigantescas. Um estudo realizado por norte-americanos e apresentado no evento mostrou que um dos velhos problemas da floresta já pode ser amenizado. A eterna disputa entre produtores, favoráveis à expansão das plantações, e conservacionistas, que defendem a floresta, pode ser resolvida com o estímulo à agricultura intensiva. A experiência de se produzir mais no mesmo espaço de terra vem mudando a cara de Mato Grosso, e tirando do estado a fama de destruidor da mata.

Segundo a pesquisa encabeçada por especialistas da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA) e publicada em janeiro no períodico Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), agricultura e preservação ambiental podem combinar quando políticas públicas dão incentivos ambientais e financeiros para o produtor ocupar áreas já degradadas ou adotar técnicas que melhorem a produção. Essa conclusão surgiu depois dos especialistas monitorarem dados de derrubada da mata, de produtividade e de produção de alimentos no estado do Centro-Oeste, entre 2001 e 2010.

Dados do satélite Moderate Resolution Spectroradiometer (Modis, na sigla em inglês) serviram para classificar áreas de pastagem, lavoura e vegetação nativa dentro do bioma de floresta em Mato Grosso. Os dados de produtividade por hectare e da produção agrícola vieram de pesquisas feitas por agências como o IBGE e a Fundação Getulio Vargas (FGV). No período, apesar de o desmatamento ter despencado para 30% da média histórica, a produção agrícola cresceu, mesmo “economizando” 3 milhões de hectares para a produção de soja, mostrando que a demanda por commodities, que deve crescer nos próximos anos, poderá ser suprida sem mexer na floresta.

Em entrevista ao Correio, a líder do estudo, Marcia Macedo, alerta, no entanto, que os resultados positivos só puderam ser alcançados devido ao incentivo governamental à adoção de técnicas de melhoria de produtividade por hectare. “Os nossos resultados mostram que, em vez de expandir para novas áreas de floresta, 91% da expansão da soja ocorreu em áreas abertas, já desmatadas, na segunda metade da década de 2000”, conta a especialista. “Neste caso, a intensificação só contribuiu para reduzir o desmatamento com a ajuda de incentivos econômicos, como a queda no mercado global de commodities, e políticas públicas que incentivaram a redução do desmatamento no fim da década”, completa.

Efeito dirigido
O processo de intensificação da produção combinado com redução do desmatamento só ocorreu na segunda metade da última década. Até 2005, a cultura da soja, já bastante intensiva, não contava com os incentivos descritos pela pesquisadora. “Isso provocou o desmatamento de novas áreas. Foi de 2005 a 2010 que houve forte redução no desmatamento, enquanto a produção de soja aumentou”, conta a pesquisadora. Ela ressalta que, sem a ação do poder público, o efeito inverso pode acontecer. “Em princípio, se a demanda for constante, isso pode reduzir a pressão para novos desmatamentos. Na prática, contudo, esses aumentos de produtividade aumentam a lucratividade da agricultura e podem incentivar a expansão da agricultura regionalmente, provocando mais desmatamento”, alerta.

Exemplo desse risco descrito pela especialista é o que já vem acontecendo na Amazônia peruana. O mesmo estudo também avaliou os impactos da agricultura intensiva na porção ocidental da floresta. Por lá, não são a soja e o gado, mas a palma, planta utilizada para a para a produção de óleo, que vem causando a perda de área nativa. O fenômeno foi mais forte justamente nos últimos cinco anos, quando o desmatamento no Brasil caiu. Estima-se que 96% da retirada de mata decorrente da agricultura industrial ocorreu na segunda metade da última década.

Mesmo hoje, o caso peruano é o inverso do brasileiro. Ao contrário do que acontece por aqui, no Peru, a tendência é de crescimento no desmate. “Nossos resultados na Amazônia peruana indicam que 72% da expansão do plantio industrial para a produção de óleo de palma provocou desmatamento na região”, explica o pesquisador Victor Gutierrez-Veléz. Para ele, a tendência negativa não é exclusividade de grandes produtores. “Também comparamos o desmatamento provocado pela produção intensiva com a expansão por pequenos agricultores, com plantações de baixa produtividade. Cerca de 75% das plantações intensivas avançaram em áreas de floresta, comparadas com 30% das de baixa produtividade.” Isso significa dizer que os agricultores que usavam técnicas de aumento da produção desmataram ainda mais do que aqueles que usam métodos mais arcaicos.

O peruano, contudo, faz coro com a pesquisadora brasileira Márcia Macedo quando o assunto é a potencialidade das políticas de estímulo à agricultura intensiva. “O nosso estudo demonstra que a expansão da produção intensiva para novas áreas não é o suficiente para reduzir a pressão sobre florestas”, diz Gutierrez-Veléz . “A intensificação (só) pode contribuir para a redução do desmatamento em casos aonde existem mecanismos políticos ou econômicos que incentivam o uso eficiente de áreas degradas, em vez de novos desmatamentos; ou seja, a intensificação pode ser uma ferramenta para a conservação, mas que também pode ter efeitos colaterais, se não for acompanhada por outras ações.”, completa Márcia.


Baixa industrialização

O termo commodity se refere a produtos de base comercializados em estado bruto ou com um baixo grau de industrialização. Para ser uma commodity, ele deve ser uniforme — não apresentar diferença na qualidade de um lote para outro —, existir em grande quantidade e ser originário de diversos produtores. Minérios, soja, milho, café, trigo e peixes são exemplos de algumas commodities produzidas no Brasil.


Os nossos resultados mostram que, em vez de expandir para novas áreas de floresta, 91% da expansão da soja ocorreu em áreas abertas, já desmatadas, na segunda metade da década de 2000. Nesse caso, a intensificação só contribuiu para reduzir o desmatamento com a ajuda de incentivos econômicos”

Marcia Macedo, líder de estudo feito na Universidade de Columbia (EUA) sobre produção e conservação em Mato Grosso

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Sofrimento climático
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Cisterna em propriedade do interior de Pernambuco: sobrevivência CORREIO  22.02
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Apesar dos imensos avanços nos últimos anos, o Brasil ainda é um dos líderes da desigualdade social em todo o mundo. Quando o assunto é a mudança climática, o país também esta entre os que mais podem — e precisam — agir para frear as alterações drásticas que assolam o planeta. Embora estejam intimamente relacionados, os dois assuntos vem sendo tratados de maneiras separadas pelos gestores públicos. É preciso mudar essa tendência, defende o Instituto Ecoar para a Cidadania, organização não governamental com sede em São Paulo, que participou do painel Transcendendo as barreiras da interdisciplinaridade para mobilizar conhecimento, dentro da reunião da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS).

A presidente da ONG, Miriam Dualibe, explica que os reflexos das mudanças no clima são sentidos com mais força pelas populações mais pobres, rurais ou urbanas. Para enfrentá-los, são necessárias ações que hajam tanto de maneira ambiental quanto social. “Projetos que têm essa visão sistêmica conseguem contribuir para o enfrentamento do aquecimento global, ao mesmo tempo em que geram renda e trabalho para comunidades e aumentam a resiliência do território e das pessoas, promovendo justiça social e ambiental”, afirma.

No caso das populações rurais, um ponto importante seria revalorizar os modos de produção que desgastam poucos recursos. “A agricultura tradicionalmente feita por comunidades, em todo o mundo, já faz esse tipo de conservação, uma vez que os recursos que essas comunidades possuem são muito precários. Se nós resgatarmos essas práticas e a elas adicionarmos conhecimentos e tecnologias de ponta, podemos ter muito sucesso”, aponta Mirian. “Há experiências exitosas em todo o mundo. Posso citar como exemplo o programa Cultivando Água Boa, que vem recuperando nascentes, instalando cisternas, recuperando áreas degradadas, aumentando significativamente a área de agricultura orgânica e gerando energia a partir de resíduos de animais”, exemplifica.

No caso das comunidades, o problema é que a maioria não está preparada para lidar com as alterações no clima. “Nas grandes cidades, o impacto das mudanças climáticas é ainda maior, uma vez que grande parte da população, especialmente a mais pobre, vive em áreas de risco. São riscos que se tornam muito maiores com o agravamento dos fenômenos extremos, como chuvas torrenciais, e deslizamentos de terra”, lamenta a pesquisadora, que alerta para a falta de ação nas zonas urbanas. “Nossas cidades não estão preparadas para as mudanças de clima que já se apresentam. Temos feito muito pouco em termos de adaptação. Nesse ponto, os países desenvolvidos estão muito à nossa frente, seja em termos de pesquisas, seja em termos de mudanças na infraestrutura”, completa. (MMM)

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A intérprete de Lamartine
Maíra de Deus Brito
Pianista fluminense, Neusa França chegou a Brasília em 1959. A amizade com Lalá não esmoreceu: "Ele me visitou aqui várias vezes" CORREIO  22.02
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Autor das marchinhas O teu cabelo não nega e Linda morena, Lamartine Babo também deixou seu legado em canções juninas (Chegou a hora da fogueira), nos foxes (Canção pra inglês ver) e nos inúmeros hinos de clubes de futebol (América, Fluminense, Flamengo e Vasco são alguns deles). Mas o que pouco sabem é que Lamartine não sabia escrever em partituras e, por isso, cantarolava as notas para maestros ou músicos amigos. Uma das pessoas que teve o privilégio de “tirar” as melodias para o compositor carioca foi a pianista Neusa França, personagem importante da história de Brasília.

Neusa chegou à capital federal antes da inauguração e, com a bagagem, trouxe para o cerrado várias lembranças. “Lamartine Babo era muito meu amigo e sempre ia na minha casa em Ipanema, quando eu morava no Rio, ou aqui em Brasília. Certa vez, ele cantou um chorinho que levei só quatro minutos para tirar no piano”, recorda a instrumentista fluminense. “Achei aquele choro muito bonito. Ele cantava afinado, mas em um tom baixo. Ele não tinha muita respiração porque era tuberculoso”, revela.

Um dos “ditados musicais” resultou num encontro de Neusa com Radamés Gnatalli. O “ouvido bom” da pianista fez com que ela tirasse uma música mais rápido que Gnatalli, motivo suficiente para Lamartine fazer piada com os amigos. “Você venceu Radamés por três minutos!”, provocou Lalá, como era conhecido. “Passado um tempo, nós três estávamos em um chá na Ordem dos Músicos, no Rio, quando Lamartine nos apresentou e contou a história dos três minutos. Foi aquela brincadeira e todos caímos na risada”, conta.

A mudança do Rio de Janeiro para Brasília — para acompanhar o marido, o advogado Oswaldo França — não interrompeu os encontros com amigos. “Lamartine me visitou aqui várias vezes. Tia Amélia, Jacob do Bandolim e o grupo dele também participavam e ficávamos até o dia amanhecer fazendo música. Era muito agradável.”

Aos 91 anos, Neusa viveu a época de ouro do carnaval com as marchinhas de Nássara, João de Barro e, claro, Lamartine Babo. Ao analisar a folia de hoje, a autora do Hino a Brasília sentencia: “Aquilo é que eram os verdadeiros carnavais”. “As moças se fantasiavam e sentavam-se nas capotas dos carros, que andavam bem devagar por causa das serpentinas que ligavam um veículo ao outro. Ficava lindo aquele efeito. Jogávamos confetes e o carnaval de rua era agradável, sem problemas sérios, sem bebidas e sem excesso. O que se tem hoje não é nem a sombra da festa de antigamente”, conclui.


Pioneira
Nascida em Campos (RJ), Neusa França chegou a Brasília em 1959 e foi professora de música no Colégio Elefante Branco e no Caseb, escola para a qual compôs Hino do Caseb. Em homenagem à nova capital, criou a música do Hino a Brasília, que tem como letra uma poesia do capixaba Geir Campos.


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