quarta-feira, 19 de outubro de 2011

RELATO SERVIDOR TRE - RJ sobre "Reajuste e Modelo Remuneratório"

Prezados colegas de Poder Judiciário da União e do Ministério Público da União. Por Email 18.10

Sou servidor do TRE-RJ, trabalho em Zona Eleitoral da Capital e tenho

uma história muito peculiar, para a qual peço a atenção de todos,

porque o ocorrido nos remete às discussões de hoje, sobre reajuste e

modelo remuneratório.

Fui aprovado no concurso de 2001, mas fora do número de vagas

oferecidas então, que era de apenas seis para o meu cargo. Durante o

prazo de validade do concurso, começou a tramitar no Congresso

Nacional um Projeto de Lei de criação de cargos para as Zonas

Eleitorais de todo o Brasil.

Formou-se uma comissão de aprovados no Rio de Janeiro, com o escopo de

buscar todo apoio possível para a rápida tramitação daquele Projeto de

Lei. Assim, procuramos a OAB-RJ, Conselhos Profissionais e o Sindicato

de nossa categoria.

Em rápido resumo, nosso trabalho obstinado e o apoio das entidades

citadas foi fundamental para que alcançássemos nosso objetivo. O

Projeto de Lei foi aprovado, os cargos foram criados, depois providos

e hoje estou aqui, servidor do PJU.

Por que esta introdução? Para que eu tivesse a oportunidade de dizer

que o sindicato aqui do Rio, o SISEJUFE-RJ e a federação à qual está

filiado, a FENAJUFE, foram de uma importância capital em minha vida.

Este registro é necessário para que, a uma, eu não pareça ingrato e, a

duas, para frisar que num mundo democrático e civilizado, aqueles que

concordam hoje, podem discordar amanhã e prosseguirem em convivência

harmoniosa. Isto não tem sido possível, porque o sindicato não admite

vozes dissonantes.

Outra posição que quero patentear é a de eleitor do PT, desde 1998.

Minha visão da política é aquela conhecida de todos, de que quem não

gosta dela será administrado pelo grupo que representa aqueles que

gostam. Cresci desenvolvendo o hábito de ler jornais, e neles

acreditei cegamente, por mais tempo do que seria razoável. Depois de

muito analisar os votos que já havia dado e colocar na balança a

decepção que alguns me causaram, vi que o PT era vítima de uma

demonização exagerada, assim como o PDT de Leonel Brizola. Conclusão,

vi no PT um sopro de renovação e apostei.

Sei que esta questão é polêmica e muitos podem querer parar de ler

minha mensagem aqui. Sugiro que não o façam, ou se privarão de uma

análise REALMENTE ISENTA, de um servidor colega seu, sem qualquer

pretensão político-sindical ou político-partidária. SOU PETISTA, MAS

NÃO ESTOU AQUI PARA ELOGIAR O PT. SOU SINDICALIZADO, E DISSO NÃO ABRO

MÃO, MAS ESTOU AQUI PARA CRITICAR O SINDICATO. Aos cinquenta e três

anos de vida, meu intuito maior é o de melhorar meu padrão de vida e o

da minha família. Acessoriamente, encontrei uma bandeira que me faz

bem empunhar: a bandeira da melhor distribuição do "bolo salarial"

destinado ao PJU e ao MPU.

O Movimento Pró-Subsídio deu origem à Comissão Pró-Subsídio, que foi o

germe da ANATA. Falando assim, parece que foi fácil. Muita luta, muita

incompreensão, cansaço, desgaste com colegas de trabalho e embates com

dirigentes sindicais, que noutro dia me ajudavam. Convenhamos, é muita

pressão. Mas quero dizer que estou firme naquilo que acredito ser o

melhor para nossa carreira, para nossas famílias e para o futuro do

nosso país e das gerações vindouras.

Faço uma crítica construtiva aos sindicatos, e não tenho sido bem

compreendido. A crítica consiste em apontar a incoerência que trazem

entre o discurso que sustentam e as teses que defendem. Os nossos

sindicatos, em sua grande maioria, são filiados à CUT, base de apoio

importante do governo. Como podem apoiar um governo dito de esquerda,

que tem, INEGAVELMENTE, atuado para diminuir as diferenças em nosso

país, e aqui, no âmbito da carreira que representam, defenderem

solução que não é a mais vantajosa para a grande maioria que se

encontra na base da pirâmide remuneratória?

Das duas, uma: ou os sindicatos agem deliberadamente para dividir a

categoria e, assim, conseguir concretizar uma suposta intenção do

governo de nos dar ZERO de aumento, ou militam pela minoria, o que é

de todo extravagante.

Quem sugere esta reflexão é um colega servidor que é PETISTA e que é

SINDICALIZADO, desde o dia em que tomou posse. Então sinto-me bem à

vontade para fazer minhas críticas.

Ao arrepio de todo este raciocínio lógico que desenvolvi, o

SISEJUFE-RJ tem repetido, à exaustão, que somos, a ANATA/CPS, "agentes

do governo". Trata-se da velha estratégia propangandística do Nazismo,

de repetir uma mentira inúmeras vezes, até que soe como verdade

inegável. Vejam que inversão insólita: eles, filiados à CUT, alguns

desfrutando da condição de Diretores da CUT, outros já tendo alçado

voos mais altos, como é o caso do, hoje, Deputado Roberto Policarpo,

eleito pelo PT, como podem os integrantes deste grupo rotular alguém

de "agente do governo"? Para aumentar o absurdo de suas acusações, os

acusadores, mais que ninguém, personificam o vínculo governista. E

nós, a ANATA/CPS, que os combatemos e denunciamos, é que somos

"agentes do governo". Muitíssimo pior do que isso, é verificar que

alguns acreditam.

E assim vamos patinando, sem sair do lugar. Os anos passam, a gente

fica roendo as unhas, torcendo para que "os sindicatos e a FENAJUFE

nos salvem" e consigam "arrancar", HEROICAMENTE, mais um PCS pra

gente. Aí, conseguem, parcelados em suaves prestações, como convém à

geração de superávit primário, à contenção de despesas com pessoal e

todo o receituário conservador aplicado pelo governo, com o apoio dos

seus fiéis parceiros do movimento sindical. Tudo na camaradagem?

Percebam que, enquanto nosso salário diminui, o prestígio dos

dirigentes sindicais aumenta. Nós, da ANATA/CPS vemos um nexo entre os

dois fenômenos. Esperamos que a categoria veja, também.

O Subsídio não é bicho de sete cabeças. O Subsídio é a proposta que

vem para modernizar a questão remuneratória no serviço público. Muitas

mentiras foram lançadas contra o Subsídio e tivemos de desmentí-las

TODAS, logrando êxito, diga-se de passagem. Então por que esta

sensação de que a categoria quer Mamute, ou Mamutinho, ou Mamutinho em

fatias fininhas? Onde está a nossa capacidade de indignação? Chamo a

atenção dos colegas, que 56% se fossem pagos de uma só vez já não

seria grande coisa, em função das imensas perdas inflacionárias. Caso

saia parcelado... Aí deixo para a análise de cada um.

Uma coisa PRECISA FICAR CLARA: quem tem sido intransigente nesta

história toda? O Ministro Peluso? Não, porque ele já declarou estar

aberto a uma proposta. O Executivo está intransigente? Não, o

Executivo já teve inúmeras chances de derrotar qualquer pleito nosso

de reajuste, seja qual for o índice, seja qual for o modelo

remuneratório. Bastaria ao governo colocar o PL 6.613 em pauta, nas

três oportunidades que teve e derrotar o texto original. E não o fez,

dando prova inconteste de desejo de diálogo. A INTRANSIGÊNCIA ESTÁ NOS

SINDICATOS!!

Colegas, pensem: os diretores de sindicatos recebem instruções, cursos

de formação, são submetidos a toda uma doutrina que os ensina a agir

de forma sorrateira e dirigida a conquistar a simpatia da massa. O que

são aqueles discursos inflamados, com a veia do pescoço quase

explodindo, senão uma encenação de uma veemência, de um inconformismo

e de uma contundência absolutamente desproporcionais aos argumentos

neles contidos? Será que eles subriam num caminhão de som para

explicar à população que lutam para que os colegas detentores de

supersalários não percam seus "direitos historicos"? Será que ficariam

vermelhos como pimentão, na saída do metrô ou de um estádio de

futebol, "esclarecendo" o povão, aos berros, sobre a tese que

defendem? Fariam isto com os olhos coléricos dos injustiçados, com o

"mingau das almas" acumulado no canto da boca", revezando-se com os

perdigôtos da indignação fraudulenta? NÃO... NÃO O FAZEM, PORQUE SABEM

QUE SERIAM REPELIDOS. Mas encontram eco e apoio dentro da própria

categoria que, EM SUA IMENSA MAIORIA, vem sendo vítima de graves

perdas salariais por conta da ATUAÇÃO PELEGA destes traidores da

categoria, eles sim AGENTES DO GOVERNO, sabedores ou não desta sua

triste condição.

Então eu convido os colegas a olharem tudo isto com outros olhos. É

nos momentos de crise que surgem as melhores oportunidades. Desenha-se

no horizonte, uma alternativa remuneratória mais digna para a IMENSA

MAIORIA. E não é só isso... Materializa-se, a cada dia, uma nova visão

sobre o papel que devemos desempenhar no desenvolvimento da NOSSA

CARREIRA. Já passou da hora de deixarmos pra trás o ANTIGO HÁBITO DE

DEIXAR QUE NOSSO FUTURO SEJA ESCRITO PELAS MÃOS DE TERCEIROS, pelo

simples fato de uma pequeníssima parcela de nós ter-lhes outorgado uma

representação, que deveria significar a concretização do desejo da

maioria e não a defesa insana e covarde de uma parcela minoritária.

Venham com a gente. Não se desfiliem de seus sindicatos. Caso ainda

não sejam filiados, apressem-se em se filiar. Mas analisem as

intenções da ANATA/CPS e unam-se a nós, também. Encorajam-me a fazer

este pedido, os reiterados relatos de colegas que, a despeito de serem

pró-PL (talvez até por desinformação), elogiam a persistência e a

competência com que temos trabalhado em prol do Subsídio, sendo que o

nosso fruto mais saboroso é o PL 2.199/11, que reajusta os rendimentos

dos colegas do co-irmão MPU, oferecendo SUBSÍDIO aos seus servidores,

proposição que deve progredir até o fim do ano.

Eu convido os colegas a conhecerem melhor a proposta do Subsídio,

visitando diariamente este site www.subsidioja.com.br. Aqui você

encontrará notícias, comentários, fórum de debates, abaixo-assinado

destinado aos que apoiam o modelo remuneratório, compare e comprove,

além de orientações em geral. Porque se vocês forem se informar sobre

Subsídio nos sites dos sindicatos, convenhamos, vocês estarão pedindo

para ser enganados!

UNIÃO, FORÇA E SUBSÍDIO JÁ!"

Orlando Lima Cardoso

Analista Judiciário - Área Administrativa

Tribunal Regional Eleitoral do RJ

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STJ: Casamento entre gays

O STJ vai discutir amanhã se pessoas do mesmo sexo podem ou não se habilitar para o casamento. A discussão vai além da decisão do STF, que já reconheceu para a união homoafetiva os mesmos efeitos jurídicos da união estável entre homem e mulher. No entanto, trata-se de casamento civil, que se distingue da união estável e confere aos cônjuges mais direitos do que aos companheiros. A questão surgiu no Rio Grande do Sul, quando duas mulheres requereram habilitação para o casamento e o pedido foi negado. Elas entraram na Justiça gaúcha com a alegação de que não há nada no ordenamento jurídico que impeça o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O POPULAR /GO 19.10

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O Código Florestal e os cientistas. O Estado de S. Paulo - 19/10/2011

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Na semana passada, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Associação Brasileira de Ciências (ABC) apresentaram um documento sobre a reforma do Código Florestal. Diferentemente das posições anteriores, esta é mais precisa nas sugestões e marca posição, fundamentada em pesquisas, nas questões em que elas se mostram contrárias ao texto em discussão no Senado.

Embora o documento seja uma contribuição ao debate, as entidades optaram, em lugar de dar prioridade só às questões com amparo nas pesquisas das ciências experimentais, por se aventurar em temas econômicos e jurídicos, nos quais o grupo tem menos a contribuir. Da mesma forma que um novo código não sairá à imagem e semelhança dos interesses dos produtores rurais, o mesmo não ocorrerá com os desejos desse grupo de cientistas. Até porque, se levadas a ferro e fogo, as sugestões do documento não promovem uma reforma do código, mas apenas uma atualização. Nesse sentido, é um documento de posições maximalistas e, como tal, ignora as abordagens que justificam a reforma em discussão.

O central das sugestões da SBPC e da ABC se refere às áreas de proteção permanente (APPs), sobretudo as de beira de cursos d"água, e à reserva legal (RL). Quanto às APPs de beira de cursos d"água, defendem recuperação integral da vegetação nativa e manutenção da definição de APPs do código vigente. São contrários à aplicação do conceito de área rural consolidada porque, embora reconheçam que há atividades produtivas que devem ser mantidas em APPs, veem nele uma deterioração do propósito principal dessas áreas de garantir serviços ambientais fundamentais.

Em relação às RLs, mostram-se contrários à compensação do déficit de reserva legal no bioma, pois entendem que ela deva ocorrer apenas no mesmo ecossistema - ou seja, num polígono geográfico muito menor e mais uniforme. São contrários também ao cômputo das APPs conservadas na RL. Argumentam que o tratamento diferenciado deve ser dado apenas aos agricultores familiares, e não a todas as propriedades menores que quatro módulos fiscais, como define o projeto em votação no Senado. Na prática, as sugestões de SBPC e ABC levam, no caso da RL, a uma situação semelhante à que elas estão propondo para as APPs: um forte aumento na obrigação de reflorestamento nas propriedades onde o déficit ocorre, pois as alternativas de compensação continuam muito restritas.

Por fim, para confirmar que a tese central defendida pelas entidades é buscar o máximo possível de reflorestamento, o documento insiste que o custo da restauração é baixo, os serviços ambientais das APPs restauradas poderiam ser pagos, as áreas restauradas poderiam ter retorno econômico e que elas vão agregar valor ao produto agrícola. Fecham o estudo falando das inúmeras funções ambientais das vegetações ripárias.

Os cientistas estão errados? No mundo ideal, não. No mundo real, composto por 5,2 milhões de estabelecimentos rurais, ocupando, no mínimo, 330 milhões de ha (39% do território brasileiro) - sendo que 72% desse total já foi convertido para atividades antrópicas -, cuja situação de conformidade com a legislação ambiental é absolutamente desconhecida, a possibilidade de os cientistas estarem defendendo argumentos confinados ao campo das ideias é muito grande.

Não estou, em hipótese alguma, desmerecendo as ideias. Mas, se temos um código vigente, que desde 1965 é ignorado pelo próprio Estado - porque ele determina que o reflorestamento das APPs em áreas privadas pode ser executado pelo poder público se o dono da terra não o fizer e, no caso de ocupação com atividades produtivas, o proprietário deverá ser indenizado -, qual o propósito prático de defender a recomposição integral de APPs e, principalmente, de RLs?

Sou, por convicção, defensor de arranjos de mercado que remunerem a vegetação nativa remanescente. Afinal, se eles existissem, os enormes passivos de APPs e RLs seriam muito menores. Aliás, os que dizem que outros países não têm mecanismos semelhantes à APP e RL estão errados. No entanto, nos países onde mecanismos equivalentes existem, os custos são partilhados com a sociedade, bem diferente do caso brasileiro.

Uma proposta coerente de atualização do código, para usar o termo empregado por SBPC e ABC, que defendesse a integral restauração das APPs, deveria propor em conjunto o sistema de pagamentos por serviços ambientais como forma de financiar parte do investimento necessário, seja para o isolamento das áreas (no caso das pastagens), seja para arcar com os custos de oportunidade da retirada de atividades produtivas, quando for o caso. Mas não é isso que os cientistas recomendam. Eles sugerem que os pagamentos por serviços ambientais são uma possibilidade de retorno econômico futuro, o que é vago e distante da realidade de quem tem a obrigação de pôr conservação em prática.

Além disso, a tese de que é possível fazer a recuperação integral dos déficits de RL, no mesmo ecossistema, em áreas de baixa aptidão agrícola e ocupadas com pastagens não se sustenta. Se isso fosse verdade, o déficit de RL não existiria, porque os próprios produtores buscariam regularizar-se dessa forma. Segundo, porque essa tese pressupõe uma transformação tecnológica da pecuária de corte que requer mecanismos de incentivos e promoção de investimentos, os quais o código não contempla.

Existe uma combinação possível entre as propostas dos cientistas e os anseios por regularização dos produtores. Ela não passa pelas ideias dos cientistas sobre RL. Mas poderia passar pelas propostas em relação à recuperação das APPs, desde que ajudem a encontrar a solução para que a sociedade se corresponsabilize por parte dos investimentos necessários para promover sua restauração.

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Transporte público, energia e a questão ambiental. Valor Econômico - 19/10/2011

Em todo o mundo se manifestam as consequências do modelo de deslocamento de pessoas e de cargas que foi adotado já no início do século passado, com o advento dos automóveis e caminhões, sustentado pela farta disponibilidade de petróleo. A primeira delas foi uma contínua perda da prioridade do transporte público em relação ao individual nas grandes cidades aliada a igual abandono das ferrovias no transporte de cargas no interior. A segunda foi o progressivo congestionamento das vias públicas, cujo efeito foi sendo postergado por meio do contínuo e crescente investimento nas obras viárias. Finalmente, a terceira consequência foi a constatação cada vez mais segura da elevação da poluição ambiental. Assim, foi dado o alerta ambiental, com o reconhecimento da poluição local e global, reflexo da queima de combustíveis, especialmente os de origem fóssil.

Nas fases anteriores de desenvolvimento, aspectos econômicos pouco importaram, sendo sempre encobertos pelo aumento da produtividade. O progressivo encarecimento do transporte, a utilização de veículos de baixíssimo rendimento energético, os riscos de escassez dos combustíveis, entre outros, sempre foram vistos como inconvenientes superáveis pelo lucro. Até mesmo a escassez de combustíveis foi encarada apenas como uma questão de preço e/ou de pressões econômica e política sobre os produtores.

Mas o alerta da poluição mudou os rumos da história. Os seus efeitos não são controláveis por meio de maior ou menor investimento. Talvez um pouco tarde, face às consequências adversas de curto prazo, foi preciso verificar as causas.

Dessa forma, é necessário e urgente mudar as matrizes de transporte, dando ênfase aos modos ambientalmente sustentáveis e reduzindo aqueles que consomem combustíveis com baixo rendimento energético, que promovem mais acidentes e que, nas cidades, forçam cada vez mais o desaparecimento das funções sociais da rua. Significa jogar no lixo da história os cálculos de "custo-benefício", sempre invocados em favor dos transportes menos sustentáveis, por não levar em conta as chamadas "externalidades negativas" e seus vastos custos socioambientais.

Para ilustrar o que se afirma, apoiemo-nos no caso da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Os deslocamentos motorizados de pessoas hoje se distribuem entre os modos públicos (metrô, trem, ônibus, trólebus) e privado (basicamente automóveis). No tocante aos transportes motorizados, o sistema público representa 55% dos deslocamentos e os automóveis representam 45% na cidade de São Paulo, conforme pesquisa Origem/Destino do Metrô, realizada em 2007.

Basta lembrar que o transporte de um passageiro de automóvel ocupa um espaço viário cerca de 60 vezes maior do que aquele efetuado por um ônibus grande circulando em corredor apropriado, para sentir o significado da grande participação dos automóveis no transporte urbano. Este dado recomenda esforços no sentido da alteração da matriz de transporte.

Essa mudança deve levar em conta possibilidade de geração contínua e não esgotável das fontes de energia como o etanol e da energia elétrica firme. O etanol, além de emitir cerca de 70% menos gás carbônico, tem a possibilidade de ajudar no resgate do carbono graças às plantações de cana-de-açúcar.

Além disso, a fluidez do transporte coletivo tem relação direta com o meio ambiente. O aumento da velocidade diminui as emissões. Um ônibus em um corredor em São Paulo tem velocidade média 20 km/h, o que diminui o consumo em 20% e as emissões, em 40%, se comparado aos que não estão nos corredores. Em casos como Expresso Tiradentes, a velocidade sobe para 37 km/h, cortando o consumo pela metade e as emissões, em 60%.

Assim, sob o ponto de vista do dispêndio de energia, a situação não é menos gritante. Basta lembrar que, na RMSP, avaliou-se, alguns anos atrás, que, enquanto uma viagem por automóvel demanda 13 kWh de energia, aquela feita em metrô consome 0,5 kWh.

Façamos então um exercício. O que aconteceria se a matriz de transportes motorizados fosse alterada para 70% e 30%, na relação do uso do transporte público e do privado? Isso poderá ocorrer se esse transporte público for de boa qualidade, por meio de aumento de oferta dos sistemas metroferroviários e uma parte razoável do espaço liberado destinada a corredores de transporte eletrificado sobre pneus, em faixa segregada, formando um modo de transporte de média capacidade, que a cidade hoje não possui.

Reduzir em 1/3 o transporte por automóveis, cuja frota circulante paulistana é de 3,3 milhões do total de veículos particulares (com exceção de motos, caminhões e ônibus), significa transferir para os modos públicos 1,54 milhão de passageiros, liberando cerca de 1 milhão de automóveis que, em circulação, ocupam 49 milhões de metros quadrados de vias, além das faixas de estacionamento correspondentes. A absorção desses passageiros por um corredor eficiente implica a utilização prioritária de apenas 3,9 milhões de metros quadrados.

A energia economizada, por outro lado, chegaria a 16 milhões de kWh por dia, suficiente para abastecer cerca de 1,4 milhão de casas com demanda unitária de 350 kWh/mês.

Além das economias enormes que podem advir da substituição do transporte individual pelo coletivo, a troca de veículos a combustíveis por outros de tração elétrica, cujo rendimento energético dos motores é três vezes maior, também representa economia nada desprezível. Ademais, a produção de energia se torna cada vez mais difícil, onerosa e arriscada (vide Japão e Golfo do México), sendo uma insensatez desperdiçá-la, seja a que título for.

Marcelo Cardinale Branco, administrador de empresas, é secretário municipal de Transportes de São Paulo. Foi presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e secretário municipal de Infraestrutura e Obras.

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A cultura popular autêntica ocupou por duas noites (segunda-feira e ontem) o palco da Sala Villa-Lobos com pompa e circunstância. Dércio Marques, Pereira da Viola, Genésio Tocantins e as Irmãs Galvão protagonizaram o belíssimo espetáculo Brasil clássico caipira, tendo na retaguarda a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, sob regência do maestro Cláudio Cohen. CorreioWeb 19.10

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Doação Elevador ao IHGD pela Gasol

O presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, coronel Affonso Heliodoro dos Santos, está exultante com a doação do tão necessário e esperado elevador para a melhor acessibilidade naquela instituição, bem como a revitalização dos espaços, patrocinada pela Rede Gasol de Combustíveis. Na sexta-feira, às 19h, na sede do instituto, na Quadra 703/903. CorreioWeb 19.10

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Leilão das Obras expostas no Garvey Park Hotel

As obras em exibição no Garvey Park Hotel, de sexta a segunda-feira (21 a 24), das 13h às 19h, serão leiloadas por Celso Albano — Artes e Antiguidades na terça-feira (25), às 20h30, no Espaço Renata La Porta, na QI 9 do Lago Sul. De Salvador Dalí, Tomie Othake, Di Cavalcanti, Luiz Costa, Heitor dos Prazeres a Antônio Poteiro, Sérgio Telles, Darlan Rosa, Bruno Giorgi, Scliar, Siron Franco e Aldemir Martins, os colecionadores e admiradores de arte terão um acervo incomparável à disposição. CorreioWeb 19.10

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Aruc 50 anos

Os 50 anos de atividades serão comemorados pela Associação Recreativa e Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), considerada, oficialmente, por um decreto do GDF, Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal CorreioWeb 19.10

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.A festa será na sexta-feira (21), em área coberta na quadra do Cruzeiro Velho, a partir das 20h. Com entrada franca, pede-se doação de 2kg de alimentos não perecíveis, que serão entregues a entidades assistenciais do Cruzeiro e do DF. O show terá a participação do grupo Luz do Samba, de Sobradinho e da cantora carioca Dorina. Depois, outro portelense de boa cepa sobe ao palco: Marquinhos Diniz, que faz parte da ala dos compositores da Portela. Em seguida, a Bateria Nota 10 da Aruc, comandada por Mestre Branca, faz as honras da casa, apresentando o samba-enredo para o carnaval 2012: Portinari, as cores e as caras do Brasil, e preparando o ambiente para o momento mais nobre, quando recebe a Velha Guarda da Portela, a mais tradicional e respeitada do samba carioca.

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O papel do Judiciário na integração da América do Sul. Ministro Ari Pargendler

Presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) CorreioWeb 19.10

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O Superior Tribunal de Justiça (STJ) se tornará a casa dos poderes judiciários sul-americanos durante dois dias (20 e 21 de outubro). O Tribunal da Cidadania, última instância em questões infraconstitucionais no Brasil, será a sede da VI Cúpula dos Poderes Judiciários da União das Nações Sul-Americanas, a Unasul. Presidentes e magistrados dos países que compõem o bloco — Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela — mais representantes dos observadores Cuba e Panamá vão debater a integração continental pela perspectiva judicial sob a égide da tríade transparência, gestão e modernização.

Esta será a primeira vez em que a Cúpula se reunirá após a entrada em vigor do Tratado Constitutivo da Unasul, o qual foi referendado pelo Senado Federal em 7 de julho deste ano. A validação do acordo pelos 12 países do bloco concretiza a ambição dos chefes de Estado que se reuniram no embrionário encontro de Cusco, em 2004, na tentativa de alinhar uma estratégia comum de defesa da região.

Foi a partir daquela reunião que as autoridades da região atentaram para a necessidade de atuar conjuntamente diante dos desafios e mazelas do continente. Os países sul-americanos comungam inúmeras vantagens — biodiversidade, riquezas minerais e hídricas, mercado em expansão —, assim como problemas — narcotráfico, lavagem de dinheiro, contrabando e grilagem de terras, além da dívida moral histórica para com os povos indígenas e descendentes de escravos.

Ambiciosos projetos de infraestrutura, sobretudo de desenvolvimento energético e de transporte — rodovias, ferrovias e vias fluviais —, já estão sendo levados a cabo. O próximo passo do bloco será a integração econômica, cujo início está previsto para 2014. Um desafio e tanto se considerarmos as peculiaridades de cada país e o fato de existirem outros entes multilaterais há muito estabelecidos, como o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e, em breve, Venezuela) e a Comunidade Andina de Nações (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru). Além disso, não se pode ignorar o esforço para incorporar Guiana e Suriname ao bloco por conta das ligações históricas desses países com as ex-colônias inglesas e holandesas no Caribe.

Com quase 400 milhões de habitantes, o continente sul-americano tem um PIB que ultrapassa os US$ 3,6 trilhões — se fosse uma só nação, seria a quarta economia mundial. O potencial para o crescimento econômico é muito grande, dada a magnitude das reservas naturais de minérios e petróleo, a quantidade de terras aráveis e o dinamismo crescente dos setores industriais e de serviços. Nesse contexto, a Unasul é uma tentativa de promover o desenvolvimento social conjunto do continente, trabalhando em prol dos interesses comuns e fortalecendo a América do Sul como ente geopolítico no cenário das relações internacionais.

Uma integração tão profunda como a almejada pela Unasul passa por questões econômicas, infraestruturais e de defesa. E, evidentemente, acaba chegando à Justiça. Uma maior sintonia dos sistemas judiciais será imprescindível para que se concretizem muitas das metas previstas e se enfrentem desafios e problemas comuns a todo o continente. Por isso, desde 2007, os poderes judiciários do bloco se reúnem anualmente para viabilizar essa integração.

Aqui, em Brasília, durante a VI Cúpula, os magistrados terão a oportunidade de apresentar o desenvolvimento de seus sistemas judiciais em termos tecnológicos e gerenciais. O STJ tem claro que é a partir do aprimoramento administrativo das cortes que se realizará a tão desejada integração. Para tanto, o Tribunal da Cidadania sugeriu aos países a adoção de uma Carta de Princípios de Transparência dos Poderes Judiciários da Unasul. Dessa maneira, presidentes e magistrados reforçam o compromisso não apenas de modernizar suas cortes, mas também de usar a tecnologia para promover o acesso dos cidadãos ao Judiciário e, assim, reforçar a democracia — característica de que, felizmente, todos os países sul-americanos também comungam hoje em dia.

Para o STJ, será mais um passo decisivo na promoção de questões gerenciais e de modernização. Desde a implantação de seu bem-sucedido programa de digitalização de processos, a Corte passou a firmar protocolos de cooperação com tribunais latino-americanos, europeus e africanos. Benefícios como economia de dinheiro e de recursos naturais, maior agilidade na tramitação processual e amplo acesso às informações por parte de advogados e interessados atraíram a atenção de magistrados de todo o mundo.

O Superior Tribunal de Justiça quer compartilhar suas experiências e também aprender com a realidade de todos os seus vizinhos continentais. Conhecer uns aos outros, fortalecer laços, construir pontes de diálogo e desenvolver iniciativas conjuntas são os objetivos dessa VI Cúpula. Com o Tratado Constitutivo já em vigor, é imperioso aos judiciários dar a sua essencial parcela de contribuição para integrar esse gigante cada vez mais importante chamado América do Sul.

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A tevê é minha. Serviços de transmissão on-line conquistam o público que não quer mais ficar preso à grade de programação das emissoras CorreioWeb 19.10

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Quem nunca perdeu um capítulo importante da novela por conta de um compromisso? Ou não conseguiu ver um filme? Ou deixou de acompanhar um seriado porque passa no horário do trabalho? A grade da tevê já deu dor de cabeça para muita gente. No entanto, a liberdade para montar sua programação é uma das possibilidades na internet. Os novos serviços permitem ao internautas assistirem, legalmente, a seus programas favoritos a qualquer hora e no dia que bem entenderem.

Para utilizar esse tipo de serviço, basta ter um computador e uma conexão banda larga à internet. Isso porque os filmes e as séries são carregados e transmitidos on-line. Os sites oferecem planos que saem mais em conta que os pacotes ofertados pelas televisões por assinatura. Até mesmo a programação de alguns canais de televisão aberta já está disponível na web.

A redução nos gastos foi o que chamou a atenção do economista Bruno Santos, 31 anos. Ele assume que acompanha a tevê pelo computador e já está completamente habituado à ideia. “O preço é muito bom, especialmente quando comparado aos da televisão paga para serviços semelhantes”, explica. Outra coisa que atrai o rapaz de rotina atribulada é a possibilidade de assistir aos programas prediletos quando bem entender. “A maior vantagem é a flexibilidade de poder ver quando eu tenho tempo disponível”, ressalta.

Liberdade

A infinidade de programas e a flexibilidade de horários que a internet proporciona fizeram com que a estudante Thamy Ribeiro, 23 anos, decidisse montar a própria programação. Ela é assinante de um provedor de internet que oferece o conteúdo da tevê aberta e a cabo. Assim, ela pode assistir a séries e novelas que perderia por conta do estágio. “Meu horário é muito variado, por isso vejo tudo quando chego em casa, pela tevê on-line. Com a internet, eu posso ver o que quiser, quando quiser.”

A estudante Fernanda Mendes, 21 anos, também tem dificuldades em conciliar a vida universitária com a grade de programação da tevê. Para isso, ela optou pelos serviços de transmissão on-line e os utiliza diariamente. “Como escolho meu horário, é cômodo porque eu não fico mais refém da televisão. Você não precisa deixar de fazer nada e ainda pode ver tudo quantas vezes quiser. O preço é bem razoável”, afirma.

A professora de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) Tânia Montoro, especialista em estudos da televisão, entende que a chegada da programação à internet é um movimento de derivação do conteúdo. “A tevê está aumentando a acessibilidade, são formatos que facilitam o consumo dos meios de comunicação”, opina.

Bruno Santos considera que o processo de substituição da televisão pela internet é algo que em breve vai ser tornar irreversível. “Acho que é um movimento que já está em curso. Eu praticamente só ligo a tevê para assistir eventos esportivos, o resto é no computador.”

Problemas

Apesar da comodidade e do baixo custo, os serviços oferecidos no Brasil possuem alguns problemas que ainda incomodam os usuários. Bruno, por exemplo, reclama principalmente da falta de opções disponbilizadas. “Nem todos os meus programas prediletos estão lá, mas a comodidade supera isso”, comenta. Para Fernanda Mendes, os sites estrangeiros ainda estão um passo a frente dos nacionais. “As páginas norte-americanas são mais completas, contam com mais filmes clássicos, de diretores menos conhecidos.”

Apesar de facilitar a vida dos usuários, Tânia Montoro aponta que esse tipo de serviço ainda não melhora o conteúdo da programação. “A verdade é que as novas tecnologias favorecem o consumo, mas esses formatos ainda não conseguiram trazer um aumento da qualidade”, enfatiza.

Thamy Ribeiro: "Meu horário é muito corrido, por isso vejo tudo na tevê on-line"

Onde acessar

NetFlix: um dos serviços mais populares do momento. Com uma assinatura mensal de R$ 14,99, o usuário tem acesso a filmes e seriados (www.netflix.com). Globo.com: oferece acesso à programação da TV Globo. Assinatura mensal de R$ 12,90 (www.globo.com). Muu.com: serviço exclusivo para usuários de TV por assinatura ou da Globo.com, oferece séries e filmes dos canais Globosat (www.muu.com).

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INSTRUMENTAL » No sopro do samba. No show que apresenta de hoje a sexta no Clube do Choro, o saxofonista e flautista Humberto Araújo interpreta clássicos de mestres como Candeia, Cartola e Noel Rosa. Araújo monta o roteiro do show com base nos dois discos da carreira solo, Choro criolo e Sambas instrumentais CorreioWeb 19.10

Humberto Araújo ficou mais conhecido por sua atuação como saxofonista, flautista e arranjador, ao lado de nomes consagrados da MPB, do porte de Jorge Ben Jor, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Ivan Lins, Martinho da Vila, Maria Bethânia e Nana Caymmi. São mais de 500 títulos gravados, 200 arranjos e 150 destaques em solo. Ele marcou presença, também, em discos de artistas da nova geração, como a cantora Roberta Sá e o grupo Casuarina.

Em carreira solo, Araújo lançou em 2000 o CD Choro criolo, tido como um disco virtuosístico pela crítica. Mais recentemente, gravou com o Humberto Araújo Quinteto o álbum Sambas instrumentais, lançado pelo selo carioca Fina Flor, em parceria com o Sesc. Esse trabalho serve de base para o show que o músico fará de hoje a sexta-feira, às 21h, no Clube do Choro.

“De uma vez anterior que estive no Clube do Choro, mostrei os temas que gravei no Choro criolo. Agora, vou ter o máximo prazer de lançar em Brasília meu segundo disco, para uma plateia informada, respeitosa, num local de referência para a música instrumental e a cultura brasileira”, enfatiza o saxofonista. “Vou dedicar esse show ao grande violonista Alencar Sete Cordas, com quem tive o prazer de tocar várias vezes, inclusive nas lendárias reuniões promovidas pelo Dr. Six (bandolinista e ex-presidente do Clube).”

Em Sambas instrumentais, ao lado de Ruy Quaresma (violão), Zé Luiz Maia (baixo), Jorginho Gomes (bateria) e Fernando Merlino (piano), Humberto recriou 12 sambas antológicos, entre os quais Tenho um novo amor (Noel Rosa), O mundo é um moinho (Cartola), O mar serenou (Candeia), Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes) e Fato consumado (Djavan).

“Esse é um trabalho atípico na minha trajetória, mas o resultado me trouxe muita satisfação. Sinto que é um repertório que me fez chegar mais próximo do público, como pude constatar na série de shows que fiz no circuito Sesc do Grande Rio”, comemora Humberto. “Acredito que no Clube do Choro a resposta da plateia vai ser semelhante.”

No show, o instrumentista traz outra novidade. Conhecido pelo som que extrai do seu sax tenor, no Clube do Choro ele estreia o sax barítono, adquirido há pouco tempo. “Estou em lua de mel com o instrumento, que me possibilita criar sonoridades, enriquecer minha música”, festeja. Ele toca, ainda, com igual competência, sax soprano e alto.

Do roteiro, além de músicas do Sambas instrumentais, fazem parte temas do disco anterior, choros de Pixinguinha, Jacob do Bandolim e K-Ximbinho, além de Desafinado e Chega de saudade, parcerias de Tom Jobim com Newton Mendonça e Vinicius de Moraes, respectivamente. No palco, ao lado de Humberto estará o grupo brasiliense Choro Livre, formado por Henrique Filho (violão sete cordas), Rafael dos Anjos (violão seis cordas), Márcio Marinho (cavaquinho) e Valério Xavier (pandeiro).

Humberto Araújo

Show do saxofonista carioca, acompanhado pelo grupo brasiliense Choro Livre, de hoje a sexta-feira, às 21h, no Clube do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos; R$ 20 e R$ 10 (meia). Informações: 3224-0599. Não recomendado para menores de 14 anos.

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MUTAÇÕES » A preguiça que faz criar

O poeta, letrista e filósofo Antonio Cicero fala sobre o tema hoje, às 19h30, na Caixa Cultural CorreioWeb 19.10

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Oswald de Andrade escreveu: ninguém quis comprar o poeta. Mas, na contramão das relações utilitaristas de mercado, a poesia resiste como uma atividade em que a preguiça se torna fecunda e produtiva. Poesia e preguiça são o tema que o poeta, filósofo e compositor carioca Antonio Cicero aborda hoje, a partir das 19h30, na Caixa Cultural: “Para quem pensa que tempo é dinheiro ou que só o perecível vale a pena, a poesia não tem lugar nenhum”, comenta Antonio Cicero. “Felizmente, nem todo mundo pensa assim.”

De maneira geral, a fruição de um poema exige mais tempo livre do que a de obras de outros gêneros artísticos. Não precisamos nos concentrar numa canção ou numa pintura, ou numa escultura, ou na arquitetura de um prédio, para que elas nos deleitem. Podemos apreciá-las en passant. Não é assim com um poema escrito, observa Antonio Cicero. Quem lê um poema como se fosse um artigo de jornal, por exemplo, não é capaz de fruí-lo. Para desfrutar um poema é necessário dedicar-lhe tempo: tempo livre de preocupações utilitárias, livre de finalidades ulteriores, livre de trabalho, livre, em suma, do princípio do desempenho, que rege quase toda a nossa vida cotidiana. “Para fazer um poema, é necessário ainda mais tempo livre. E nada garante que, ainda que um poeta dedique muito tempo à criação de um poema, esse poema vai ficar pronto. Ora, do ponto de vista de quem se encontra submisso ao princípio do trabalho ou do desempenho, alguém que se entrega desse modo a um tempo livre não está fazendo nada, de modo que é simplesmente preguiçoso.”

Cicero pinçou a expressão “preguiça fecunda” no poema A cabeleira, de Charles Baudelaire. Trata-se de um estado de espírito em que a sensibilidade, a imaginação, o intelecto, a cultura — em suma, as diferentes faculdades do poeta — brincam irresponsavelmente umas com as outras. “Nesse estado, abolem-se temporariamente as dicotomias necessárias para a vida utilitária, como a que separa sujeito de objeto, significado de significante, atividade de passividade, causa de efeito etc.” A internet provocaria uma preguiça infecunda e improdutiva, uma preguiça de ler? “Quanto à internet, creio que tudo depende do uso que dela se faz”, responde.

Os poetas modernos ou pós-modernos não assimilaram também a velocidade e a fugacidade, escrevendo com letras de macarrão ou em guardanapos, sem tempo para a preguiça? Cicero não crê que haja poetas de verdade que não tenham tempo para a preguiça, no sentido que indicou. Um poeta assim seria sem tempo para a poesia: “Quanto a escrever em guardanapos, muitas vezes isso ocorre porque a intuição produtiva ou a inspiração nem sempre vem quando a gente quer; às vezes, ela passa voando, quando a gente menos espera; e então, se o poeta não a capturar em pleno voo, e colocar num guardanapo, corre sério risco de perdê-la. Como diziam os antigos, a Musa é ciumenta”.

Banalização

Poetas modernos da qualidade de Baudelaire e Rimbaud usaram o haxixe e outras drogas com o objetivo de ampliar o campo da percepção. Hoje, as drogas foram massificadas e banalizadas. Mas Cicero lembra que o próprio Baudelaire dizia concordar com o teórico musical Auguste Barbereau, que afirmava que os grandes poetas não necessitavam de drogas, pois eram capazes de atingir um estado poético pelo puro e livre exercício da vontade. “De todo modo, eu faria algumas distinções. Penso que as drogas que criam dependência física, como a heroína, são simplesmente nocivas. Além disso, considero nocivas drogas como a cocaína e seus derivados, pois, independentemente de criarem dependência, tornam seus usuários pessoas extremamente desagradáveis e antipoéticas. Já a maconha e o haxixe, parecem-me ser mais ou menos como o álcool: algumas pessoas se dão bem com elas, outras mal. Quanto a mim, prefiro entrar no estado poético sem ter tomado droga nenhuma.”

Qual o lugar da poesia em que tempo é dinheiro? A apreensão utilitária e instrumental do ser, que é a que praticamos durante a maior parte da nossa vida, é absolutamente necessária, mas não é a única, responde Cicero. “É possível também uma apreensão estética do ser: uma disponibilidade tal às suas manifestações que as distinções utilitárias, instrumentais, estabelecidas pela razão crítica deixam, momentaneamente, de ter a última palavra. O poeta enquanto poeta, isto é, enquanto faz poesia, habita o mundo aberto pela apreensão estética do ser.”

Poesia e preguiça

Palestra do poeta Antonio Cicero, hoje, às 19h30, na Caixa Cultural, dentro do ciclo Elogio à preguiça. Próximas palalestras: O leitor preguiçoso, Francisco Bosco, em 25 de outubro e O esgotamento da ética do trabalho, Vladimir Saftle, em 27 de outubro.

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LITERATURA » Conversas com a vida. Diálogos com o lirismo e com o amor pontuam as poesias do livro de estreia de Alberto Bresciani. Bresciani, o poeta: "Todo mundo escreve a partir de uma visão pessoal de mundo" CorreioWeb 19.10

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Se a vida é um constante diálogo, a poesia de Alberto Bresciani é um respiro entre uma conversa e outra. Como todo respiro, sempre existiu, só não era percebido. Juiz do trabalho, ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), mineiro de Juiz de Fora e radicado em Brasília desde 1988, Brescianie escreve poesias desde a infância, mas nunca teve intenção de publicar até se ver cercado pelos poetas da capital. Angélica Torres Lima, Nicolas Behr, Luís Turiba, Carla Andrade e Nélia Ribeiro tanto disseram que Bresciani, 50 anos, resolveu tentar. Incompleto movimento, cujo lançamento acontece hoje na Livraria Cultura, saiu da gaveta porque, segundo os amigos, lugar de verso é na boca do leitor. “O livro era um movimento paralisado”, brinca.

A coletânea de 75 poemas está pronta há um ano e tem muito do próprio poeta. “Uma vez, li um texto de Amós Oz em que ele condenava a busca do escritor por parte do leitor a partir do que ele escreve. Mas todo mundo escreve a partir de uma visão pessoal de mundo”, constata. “Então, em muitos momentos, as situações podem não ter acontecido, mas partiram de uma visão pessoal minha. Sempre tive a necessidade de transpor esse sentimento e estado de espírito para o papel.” No papel, Bresciani dividiu a transposição em quatro partes às quais associou a ideia de movimento porque o ato de criar a poesia é também uma maneira de dialogar com a vida.

Dos gestos que transfiguram consiste numa espécie de conversa consigo mesmo. Aqui estão revelações, o espaço onde o poeta avisa ser um bom ouvinte, um observador do mundo e coletor de vislumbres. “Ouço melhor do que vejo/e conheço — mais do que tudo — /a convulsão do peito/o extenso espanto eterno”, escreve. Curiosamente, é o poeta René Char, citado na epígrafe de Um jardim, quem dá o tom da escrita de Bresciani: “Você tem pressa de escrever/Como se estivesse atrasado em relação à vida”. Tem a ver com a estreia tardia.

Dos gestos que iluminam vem a seguir com uma carga amorosa que o autor admite gostar bastante. “Costumo brincar que meus poemas sempre são de amor, mesmo quando não são. A poesia, para mim, sempre traz uma imagem amorosa no geral e isso é uma situação que me instiga, me desafia”, diz. Mais ou menos como o perigoso Polígono, do qual emergem versos como “Sobre a mesa/o movimento da faca/altera as faces do ar” e “De outro/o atrito da hora/acorda a garganta”.

Em Dos gestos que atordoam, o poeta continua a descida nos desvãos da poesia amorosa. “No topo/da queda/desencanto/e medo”, diz o verso de Hora desmarcada, um dos momentos em que Bresciani fala também de um certo desencanto presente aqui e ali quando se trata de refletir sobre o mundo. “Não sei se é em decorrência do tempo ou da idade, mas percebo isso em relação ao mundo, à vida. Não prego o desencanto, mas vejo que ele anda aparecendo também no trabalho de escritores que fazem prosa”, repara, ao se lembrar de Philip Roth e J.M. Coetze. “Mas não sou um pessimista. Sou otimista.” Dos gestos que paralisam encerra a coletânea com o que o poeta identifica como “diálogos com eu lírico”. E como se quisesse prevenir o leitor dos caminhos tortuosos da poesia, escreve Implosão e adverte: “Não há alívio/nas imperfeições dessa terra/já tão antiga/esquecida de ser outra.”

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Judiciário - PRAZO DE VALIDADE

O Tribunal de Justiça de SP deve perder 24 desembargadores até 2012. Cinco dos 348 magistrados fazem 70 anos, limite para a aposentadoria, em 2011. Outros 19 completarão sete décadas no ano que vem. Os dados são do "Anuário da Justiça de SP", que será lançado na sexta. Coluna Mˆnica Bérgamo FSP 19.10

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Lenine constrói CD com silêncios e sons do cotidiano

CHÃO ARTISTA Lenine. LANÇAMENTO Universal. QUANTO R$ 28, em média FSP 19.10

Motor de máquina de lavar, apito de chaleira, canto de canário, o bater de máquina de escrever, passos no chão. Entre artificialidade e organicidade, experimentação e familiaridade, o novo disco de Lenine, "Chão", é todo construído sobre sons captados de elementos bucólicos.

As letras (suas e de parceiros como Carlos Rennó e Lula Queiroga) seguem o esquema poeminhas, entre o singelo e o simplismo. Da foto de capa com seu neto deitado em seu peito à companhia de seu filho Bruno Giorgi na produção e banda, o álbum é claramente íntimo. Gravado todo em dupla ou trio (também com o guitarrista JR Tostoi), sem bateria, com ambientes costurados, composto de vazios e sons pontuados.

Maneira válida de manter tudo interessante, sem também precisar abandonar o habitual. Conceito sonoro novo, a música de sempre.

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Novo site disponibiliza obra da compositora Chiquinha Gonzaga. Mais de 300 partituras para piano solo e voz podem ser baixadas FSP 19.10

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Mais de 300 partituras de valsas, polcas e canções da compositora e regente brasileira Chiquinha Gonzaga (1847-1935) podem ser baixadas de graça no site www.chiquinhagonzaga.com.

Chiquinha inaugurou o cancioneiro brasileiro de Carnaval com a marcha-rancho "Ó Abre Alas" (1899). Mereceu biografia de Edinha Diniz e foi resgatada para o grande público quando se tornou tema de uma minissérie da TV Globo, em 1999.

O site representa um salto no número de partituras disponíveis da autora. "Hoje, há 12 músicas dela editadas comercialmente", contabiliza o pianista Wandrei Braga, responsável pelo projeto, ao lado de Alexandre Dias.

Concentrado na produção da compositora para piano solo e para voz, o acervo digital não traz sua obra na íntegra. Ficou de fora a música dos mais de 80 espetáculos teatrais, que deve ser contemplada em eventual desdobramento do projeto.

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Entrevista com cabo Alselmo esquentou volta do 'Roda Viva'. NA REPERCUSSÃO, BOA PARTE ERA REVOLTA PELA TRANQUILIDADE COM QUE FALAVA DAS MORTES QUE CAUSOU. Roberto Muylaert, que dirigia a Cultura e criou o programa há 25 anos, não gosta do formato do "Roda Viva", retomado agora respeitando os traços originais. FSP 19.10

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Diz que ele só foi melhorar quando mudou, pouco tempo depois, para apenas um andar, sem o balcão de plateia. Diz também que por vezes as entrevistas perdiam força porque as perguntas atravessadas "se anulavam umas às outras, para alívio do entrevistado".

Mas, afirma, "a pauta é o que valida". Anteontem, na retomada sob o comando de Mario Sergio Conti, a pauta, entrevista com o cabo Anselmo, informante da ditadura que teria levado dezenas e talvez centenas à morte, causava furor antes de ir ao ar.

O ex-ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) postou que era "entrevista com um canalha", que o programa "escolheu um dos piores seres humanos para o retorno". Urariano Mota, autor de "Soledad no Recife", sobre a ex-mulher de Anselmo, morta sob tortura após delação do marido, lamentou que ele iria "ganhar uma vez mais todas as luzes para falar o que entender, como entender e quando entender".

Cabo Anselmo ouviu perguntas duras, foi chamado de "cachorro", uma expressão policial para delatores, mas pouco revelou. No rescaldo, o noticiário destacou que ele disse que pode entregar nomes à Comissão da Verdade, desde que ela tenha integrantes "da direita"; que recebe mesada de empresários, sem dar nomes; e que não se arrepende de nada.

Na forte repercussão via Twitter, boa parte era revolta pela tranquilidade com que falava das mortes que causou, inclusive da mulher com o "feto aos pés" -que ele diz não ser dela. "Não tenho consciência pesada de nada."

Por vezes, divagava misturando temas: Rússia, "empresários americanos" que apoiaram o comunismo. Dizia de sua leitura de blogs, hoje. Por insistência dos entrevistadores, reconheceu que a morte de Soledad Barret Viedman é algo que "não está resolvido", acrescentando: "Eu sentia amor por ela".

De modo geral, estava à vontade. Na chamada de um dos intervalos comerciais, Conti falou: "O 'Roda Viva' volta já, com cabo Anselmo". E ouviu-se ao fundo, do próprio "cachorro": "Legal".

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Tecnologia sofre com evasão universitária. De 174 mil alunos de faculdades da área, 87% deixam carreira; até 2014 faltarão 45 mil analistas e programadores . Concorrência entre empresas por analistas provoca diferença salarial de até 80% em oito Estados brasileiros FSP 19.10

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A alta evasão de cursos de graduação deverá contribuir para o apagão de mão de obra de 45 mil profissionais nas carreiras básicas de tecnologia até 2014 nas principais regiões do país.

A conclusão é do mapa da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) em oito Estados: Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Dos 174.161 matriculados nas principais carreiras do setor -como programadores ou analistas de sistemas-, 87% abandonam os cursos. Atualmente o número de formados por ano na região analisada está em 22.895, segundo a pesquisa antecipada à Folha.

"Além do conhecido deficit de engenheiros, faltam profissionais até para escrever código. O setor vive uma situação crítica", afirma Sérgio Sgobbi, diretor de educação da Brasscom.

Os profissionais mais procurados pelas empresas atualmente são os analistas de desenvolvimento de sistemas, os analistas de suporte e também os programadores.

O cenário deve piorar até 2014, quando serão formados nos oito Estados avaliados 33.625 trabalhadores em tecnologia, ante 78.530 vagas abertas.

Considerando o deficit de engenheiros, faltarão 200 mil profissionais para o setor nos próximos três anos. Segundo Sgobbi, a retenção dos alunos nas universidades esbarra em dois principais problemas, a seleção no vestibular e até mesmo o assédio corporativo por estudantes dessas carreiras.

"Em muitas faculdades, especialmente particulares, o processo seletivo é raso, e muitos não gostam do curso e acabam desistindo logo no início", diz.

Contribuem também para a evasão os estudantes que trancam a matrícula por conseguir emprego rapidamente e preferir a experiência profissional.

TALENTOS

A competição empresarial por talentos tem gerado distorções salariais e na forma de contratação dos profissionais em diferentes regiões.

Para o cargo de analista de sistemas, as variações salariais entre os Estados chega a ser de 80%. Enquanto a remuneração média no Paraná para profissionais em início de carreira é de R$ 2.208, no Distrito Federal, puxado pelos projetos de governo, chega a R$ 3.980.

"Muitas empresas têm contratado programadores como analistas de sistemas para valorizar a carreira e elevar os salários, evitando o assédio da concorrência", afirma. Hoje a média salarial nacional de um programador é de R$ 1.636, ante R$ 2.772 de um analista de sistemas.

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