quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Rio %2b 20 - JOSÉ GOLDEMBERG - Professor da Universidade de São Paulo

Será realizada no Rio de Janeiro, no início de junho de 2012, uma conferência internacional da Organização das Nações Unidas para marcar o 20º aniversário da Rio-92. Duas décadas se passaram desde a realização dessa conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento que é considerada a mais importante até hoje sobre o tema e à qual compareceram mais de 100 chefes de Estado. CORREIO 13.10

A Rio-92 ocorreu num momento em que o movimento ambientalista mundial estava em ascensão, o que favoreceu os resultados alcançados — os mais importantes dos quais foram a Convenção do Clima e a Convenção de Biodiversidade. Outros resultados foram a Declaração de Princípios sobre Florestas, a Declaração do Rio de Janeiro e a Agenda 21, que, apesar de meramente retóricos, fizeram avançar a agenda ambiental em muitos países.

A Convenção do Clima foi ratificada e seguida pela adoção do Protocolo de Kyoto, em 1997, que deu “dentes à Convenção”, fixando reduções mandatórias de emissões de gases que provocam o aquecimento da Terra apenas para os países industrializados. Os Estados Unidos, contudo, não ratificaram o Protocolo de Kyoto (que só entrou em vigor em 2005), o que reduziu muito sua eficácia. A Convenção da Biodiversidade só teve o seu primeiro protocolo adotado em Nagoya, em 2010, e ainda não entrou em vigor. As perspectivas atuais, portanto, não são as melhores.

A própria Organização das Nações Unidas, ao convocar a Rio+20, limitou seu escopo: ela terá apenas três dias de duração (de 4 a 6 de junho). A Conferência do Rio, em 1992, teve duração de 15 dias, o que deu tempo para ampla mobilização das organizações sociais e até para os negociadores dos países que vieram ao Rio.

Antes da Rio+20, haverá em Durban, na África do Sul, em dezembro próximo, a Conferência das Partes da Convenção do Clima, quando essa discussão poderia avançar. Em preparação, houve uma reunião dos ministros do Meio Ambiente dos países do Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China) em Minas Gerais, em 26 e 27 de agosto, que se limitou a repetir velhos chavões adotados desde 1992. Ou seja: de que cabe aos países industrializados reduzir suas emissões e pagar aos países em desenvolvimento — que são isentos da obrigação de reduzir suas emissões — para que se adaptem às mudanças climáticas.

A impressão que se tem, lendo o comunicado final da reunião de ministros, é que eles não se deram conta ainda de que a Conferência de Copenhague já mudou a arquitetura de implementação da Convenção do Clima e abriu caminho para o abandono de compromissos multilaterais e a adoção de metas nacionais voluntárias. Para persuadir os países industrializados a fazer mais, isto é, reforçar e estender o Protocolo de Kyoto, os países do Basic precisariam fazer mais do que fazem hoje, uma vez que suas emissões já são maiores do que as deles.

Hoje, a China é o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo e os países não industrializados já são responsáveis por mais da metade delas. Dentro de 10 anos, provavelmente, as emissões desse grupo de países atingirão 70% do total, invertendo a situação que existia 20 anos atrás.

A forma Basic de fazê-lo é iniciar uma negociação séria com os atuais signatários do Protocolo de Kyoto, para sua inclusão na lista dos países que aceitam metas quantitativas; ou seja, adotar um processo de graduação. No Protocolo de Kyoto, China, Índia, Brasil e África do Sul são tratados exatamente como países pequenos que contribuem muito pouco para as emissões. Não é realista insistir nessa ilusão.

Em particular no caso do Brasil, não é sem tempo que o Itamaraty decida como e onde quer ficar. Por um lado, o país aspira ser um dos grandes no cenário mundial e conseguir lugar de membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, com as responsabilidades que isso implica. Por outro, alinha-se com países que não têm realmente como enfrentar o problema das mudanças climáticas e são dependentes de doações dos países ricos para tal. Esse é, no fundo, um comportamento bipolar, que na prática só favoreceu até agora a China, que, protegida pelo Protocolo de Kyoto, se tornou o maior emissor mundial.

Sem novas propostas criativas, a Conferência de Durban irá fracassar, comprometendo o sucesso da Rio+20 em 2012.

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Museu de História Natural britânico promove 'caça a invertebrados' para fim de levantamento sobre o estado dos mesmos. BBC Brasil 11/10

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O projeto Laboratórios a Céu Aberto, do Museu de História Natural britânico, está encorajando os cidadãos a fazerem expedições para caçar insetos e moluscos.

As caçadas não são predatórias, mas deverão contribuir para um levantamento sobre o estado dos animais invertebrados na Grã-Bretanha.

Mais de 500 mil lesmas, caracóis, aranhas e besouros já foram encontrados e catalogados, mas os organizadores do projeto pedem um último impulso nas buscas antes do inverno.

Segundo a pesquisadora Lucy Carter, do Museu de História Natural, a caçada também inclui missões específicas, como a observação de seis animais considerados mais importantes.

Um deles é a lesma-leopardo, uma das maiores do país, que pode chegar a ter 16 centímetros de tamanho.

Para estimular o interesse das pessoas, o museu criou um guia gratuito e um aplicativo para telefones celulares que ajuda a identificar os insetos encontrados.

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Memória - Mensageiro da ecologia. O diretor inglês Adrian Cowell, morto na segunda-feira, se esforçou em levar para a tela a beleza e as mazelas da relação do homem com a natureza. O popular/GO 13/10

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Adrian Cowell (à dir.), com Vicente Rios, no Fica de 2008: acervo foi doado à PUC-GO

Ele não sabia ao certo quantos quilômetros havia viajado de avião, barco, trem ou no lombo de uma mula. Poucos vezes por lazer, embora seu trabalho fosse encarado como um estilo de vida. Adrian Cowell, inglês nascido na China em 1934, teve uma história em particular com a Amazônia e com o Brasil Central, filmando e fotografando para a BBC de Londres e também para trabalhos pessoais. No Brasil, um de seus maiores parceiros foi o Instituto de Pré-História e Antropologia (IGPA), departamento da PUC-GO, ao qual doou um acervo de sete toneladas de filmes e vídeos sobre a região amazônica.

O cineasta morreu na segunda-feira, em Londres, de insuficiência cardíaca. Segundo a revista Carta Capital , ele estava com a bagagem pronta para voltar ao Brasil para finalizar um documentário sobre a violência no sul do Pará.

Em 2010, Cowell doou à PUC-GO filmes em película, vídeo e fitas de áudio colhidos desde o final da década de 50 até os dias atuais nos Estados da Amazônia, Rondônia, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, além de Goiás e Tocantins, estes em menor quantidade. Assim, a universidade torna-se a mantenedora de um dos maiores acervos mundiais sobre a Amazônia.

Em meados dos anos 50, o diretor, que também era historiador, fez vários registros do Xingu. Por tabela, filmou também Goiânia, que era a porta de entrada para a Amazônia por terra, pela entrada sul da Amazônia. Na época ele trabalhou em atividades coordenados pelos irmãos Villas-Boas.

Desde o início dos anos 80, em convênio com a então UCG e em parceria com Vicente Rios, antrópologo e documentarista da universidade, Adrian filmou as novas fronteiras de exploração da região amazônica. Depois de percorrer por longo anos a Amazônia, ele comentou ao POPULAR que nunca tinha visto um ritmo tão rápido de destruição de um bioma.

Peregrino

Nas suas várias entrevistas concedidas a esta repórter, sua figura não parecia a do viajante inquieto que cruza os sete mares. Lembrava mais a imagem de um peregrino paciente e perseverante em sua missão de revelar ao mundo as mazelas e as belezas da relação dos homens entre si e com a natureza. Um mensageiro.

Um dos últimos trabalhos do diretor no Brasil, ao lado de Vicente Rios, foi o média-metragem Batida na Floresta , um documentário com elementos de drama cujo protagonista é um funcionário do Ibama que arrisca a própria vida para defender as florestas do desmatamento provocado pelos madeireiros. O filme foi premiado no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás (Fica), realizado em junho em 2008.

No ano passado, ele participou do festival com o curta Jangadeiros , dirigido por ele e com imagens registradas por Jesco von Puttkammer, indigenista e documentarista. Em cena, o cotidiano árduo dos pescadores de uma pequena vila no litoral do Ceará nos anos 1960. A pobreza e a falta de recursos dos moradores, somadas à fotografia quase estourada e a montagem dramática de Adrian, fazem do filme um peça memorável, quase épica.

No período, em entrevista ao POPULAR, ele destacou que as próprias dificuldades na filmagem determinaram o perfil do filme - uma das características do diretor era aproveitar os obstáculos e fazer deles aliados para a melhor imagem, num conjunto que contextualizasse uma determinada situação.

Em outra entrevista ao POPULAR, Adrian comentou sobre a missão e os dilemas como documentarista. "A objetividade é impossível. Eu não apresento um retrato objetivo nem predefinido da situação. Eu chego num lugar e tento entender os lados envolvidos. Vicente e eu ficamos discutindo isso e as entrelinhas também. No final, eu edito o material filmado e depois mando para a parte brasileira, que é a Universidade Católica, que tem o direito de fazer uma outra versão, mas até hoje isso nunca ocorreu."

Ao comentar sobre a conscientização popular a respeito do meio ambiente a partir dos anos 80, quando conceitos como ecologia passaram a entrar mais em voga, ele ressaltou o quanto o governo militar era controlador e que hoje é a mídia quem exerce um grande papel na preservação da natureza. "A cabeça da população brasileira mudou muito. Não dá para quantificar o quanto a mídia influenciou, mas acredito que ela tenha contribuiu bastante. Por outro lado, a mídia contribui para a geração do desejo do consumo, que tem um efeito muito predatório sobre os recursos naturais e na poluição do planeta."

Esse embate entre consumismo e consciência ecológica, concluiu ele na entrevista, leva a uma situação paradoxal. "No caso da sociedade brasileira, fica a questão de que todo mundo quer mais conforto, o que leva a mais consumo, e ao mesmo tempo queremos que o meio ambiente sofra menos danos."

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Livro. Cinema de dar água na boca

Livro Jantares de Cinema: Receitas dos seus Filmes Favoritos O popular/GO 13/10

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A escritora norte-americana Bechy Thorn reuniu no livro Jantares de Cinema: Receitas dos seus Filmes Favoritos (foto) as principais receitas mostradas na telona. O lançamento é da Editora Gutenberg, com tradução de Daniel Veloso. Abrangendo diversos estilos de filmes de diferentes épocas, como Star Wars e O Diário de Bridget Jones , a obra compila 74 receitas que ficaram famosas em Hollywood. Além de uma breve resenha sobre o filme e uma frase que o fez entrar para a história, o livro apresenta as receitas de forma simpática e próxima à linguagem cinematográfica.

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CNJ quer fim do Instituto Padre Severino. Relatório mostra que unidade funciona em conflito com a lei. O Globo - 13/10/2011

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Está saindo de cena um símbolo da linha-dura no tratamento de jovens em conflito com a lei no Rio de Janeiro. Se seguir as recomendações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o governo fluminense fechará até o fim do ano o Instituto Padre Severino, na Ilha do Governador. Em 57 anos de existência, a unidade coleciona um histórico de superlotação, maus-tratos, rebeliões e fugas, mas nenhuma denúncia até então fora capaz de desativá-la.

O fim do Padre Severino é uma das recomendações do relatório produzido pelo programa "Justiça ao jovem", do CNJ, sobre as condições de seis unidades destinadas à execução de medidas socioeducativas a jovens em conflito com a lei no Rio. Iniciada no ano passado, a campanha é nacional. Todos os estados foram visitados por equipes do programa, que só não concluíram ainda o relatório de São Paulo.

Das seis unidades fluminenses visitadas em maio deste ano, o relatório diz que o Padre Severino foi a única onde reiteradamente houve reclamação dos adolescentes contra a violência praticada por agentes de segurança, inclusive com o uso de gás de pimenta. O CNJ também constatou a superlotação do instituto (embora a unidade ofereça 120 vagas, apresentava 271 adolescentes internados no período da visita), má conservação das instalações, alimentação de qualidade ruim e insuficiência no número de funcionários.

A única atividade oferecida pelos adolescentes nessa unidade, segundo o relatório do CNJ, seria o ensino formal, e, mesmo assim, sem carga horária suficiente. Os alojamentos ficavam em duas alas, com no máximo oito vagas. No entanto, alguns chegavam a comportar até 16 adolescentes, obrigando muitos jovens a compartilhar a cama. Na inspeção, a equipe do CNJ constatou infiltrações nas instalações e problemas com a circulação do ar.

Mas os problemas no Padre Severino não são uma particularidade do Rio. No relatório sobre a Paraíba, que acaba de ser divulgado, o programa concluiu que a imposição de castigos físicos aos adolescentes tem se mostrado uma prática regular no estado. De acordo com o relatório, 60% dos adolescentes internados no Centro de Atendimento ao Adolescente (CEA) de João Pessoa se queixaram de violência.

Com base em visitas feitas em novembro do ano passado a seis unidades paraibanas, assim como à Vara da Infância e Juventude (onde tramitam os processos), o CNJ verificou que outro problema considerado "preocupante" pela equipe do "Justiça Jovem" foi a internação provisória em Campina Grande, que ocorre de forma adaptada num edifício planejado para ser anexo de uma delegacia de polícia.

O Padre Severino também não foi o único condenado à desativação pelo programa. Em Santa Catarina, por exemplo, foi sugerido o fechamento das unidades São Lucas (São José) e Pliat (Florianópolis), "onde os jovens são objeto de violência física e psíquica", descreve o relatório. Para a equipe que visitou o estado, os educadores "vivenciam a cultura da dominação e da intimidação".

Como o CNJ não tem poder para fechar as unidades críticas, opta por fazer as recomendações ao Poder Executivo e encaminhar cópias do relatório aos Tribunais de Justiça e aos Ministérios Públicos de cada estado visitado.

O "Justiça ao Jovem" nasceu de outro programa do CNJ, os "mutirões carcerários". Ao visitar as cadeias destinadas a adultos, juízes e técnicos do Conselho aproveitavam para vistoriar as unidades de adolescentes. Ao assumir a Presidência do CNJ, em abril do ano passado, o ministro Cezar Peluso (também presidente do Supremo Tribunal Federal) resolveu formalizar o trabalho e lançou o programa.

As visitas seguem um método próprio e produzem uma série de dados. As recomendações de fechamento de unidades têm sido atendidas pelos governos estaduais.

Na ocasião da visita ao Rio, o diretor do Padre Severino, Alexandre de Jesus Pinheiro, disse à equipe do CNJ que o instituto será desativado até o fim do ano. Para isso, encontram-se em andamento as obras para a construção de novas instalações, mais modernas e no mesmo terreno onde a unidade funciona atualmente. Outros estabelecimentos destinados a internação provisória, segundo ele, estão em construção em outros locais.

Alexandre Pinheiro procurou destacar os avanços no tratamento aos menores, como acesso a médico, dentistas e psiquiatras e participação em várias atividades.

O Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) disse ao GLOBO que vai se manifestar hoje.

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PRODUÇÃO GRÁFICA » História não oficial. Rótulos de cachaça: concorrência copiava o designs das mais vendidas CorreioBsB 13/10

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O cotidiano de uma cidade contado através de embalagens, rótulos, lacres, logotipos e anúncios. No livro Imagens comerciais de Pernambuco (Néctar), Silvio Barreto e Isabella Aragão, professores do departamento de design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), reúnem ensaios sobre uma época distante (1940-1970), mas ainda assim imponente, em que a indústria gráfica dependia de matrizes cravadas em pedras para sobreviver. O acervo, herdado pela UFPE em 1995 da Oficina Guaianases de Gravura, recupera, literalmente, fragmentos da memória visual de Recife.

A técnica da litografia, substituída por impressoras na metade dos anos 1970, parece contar uma história informal daqueles tempos. “A gente começou a observar as imagens em 2006. Então, estamos ainda num processo de descoberta. Elas permitem olhares interessantes. O que caracterizava um rótulo de bebida nos anos 1950? Tem mil perguntas que a gente pode fazer. Temos interesse na tipografia, nos elementos das imagens, nos adornos, elementos que chamamos de esquemáticos: estética diferenciada, mesmo num momento anterior ao offset (impressão através de chapas, em quantidades médias e grandes)”, explica Barreto, doutor em tipografia e comunicação gráfica na Universidade de Reading, na Inglaterra.

ara o autor, que integra outras frentes de pesquisa, como o projeto Memória Gráfica Brasileira (parceria com a PUC do Rio e o Senac de São Paulo), o interesse nas peças comerciais vai além da simples curiosidade profissional.

Legado retrô

“O grafismo de várias coisas tem uma linguagem atual, você não percebe que era dos anos 1950 ou 1960. No design gráfico, há uma valorização muito grande do que é retrô. Com a chegada de uma ideologia mais limpa, clean, vinda da Europa, há um ruptura no design. Mas é possível observar períodos anteriores, em que o design brasileiro tinha características próprias”, conta Barreto.

Com ajuda do Funcultura, sistema de incentivo à cultura do governo do estado, os professores reproduziram cerca de 280 imagens, a maioria em preto e branco. Em alguns casos, as cópias receberam coloração digital. “Outro fato interessante é que existia uma lei de plágio, mas ela não se aplicava. As gráficas pareciam ter um apreocupação em fazer um rótulo parecido com o do concorrente”, comenta o pesquisador.

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LANÇAMENTO » Matemática literária

Livros de contos do português Gonçalo M. Tavares harmonizam letras, números e rabiscos e brincam com nomes importantes das artes CorreioBsB 13/10

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O projeto é a criação de uma utopia. O central é cada vez mais o bairro propriamente dito, onde acontecem coisas, há personagens de atitudes estranhas, inimizades, como qualquer outro bairro. Ele não existe no espaço ou no tempo"

Gonçalo M. Tavares, sobre a série de livros O Bairro

Entre os estudantes, circula um velho clichê: quem se dá bem com letras e palavras costuma se embolar diante de números e equações, e vice-versa. Nos livros que o português Gonçalo M. Tavares lança no Brasil, porém, essas distâncias são enfrentadas com a ajuda generosa da ficção. Em O senhor Valéry e a lógica e O senhor Swedenborg e as investigações geométricas (Casa da Palavra), mais dois títulos da coleção O Bairro, o poeta francês Paul Valéry e o teólogo sueco Emanuel Swedenborg moram no mesmo vilarejo. Lá, vivem dezenas de figuras essenciais da poesia, da literatura e de outras áreas: Marcel Proust, Bertolt Brecht, Michel Foucault e até Fernando Pessoa — um mapa feito à mão indica o endereço de cada um. “São personagens puramente ficcionais”, avisa Tavares, 41 anos, que publica desde 2001 e tem no Brasil títulos pela Leya (Viagem à Índia) e a tetralogia de romances O Reino, editado pela Companhia das Letras. Vencedor de prêmios como o José Saramago e o Portugal Telecom, ele tem livros traduzidos em 40 países.

Os dois novos habitantes apresentados ao leitor brasileiro têm hábitos esquisitos. Valéry é de poucos amigos e anda pelas ruas com medo da própria sombra, perdido em raciocínios lógicos absurdos, acompanhados de rabiscos e pequenos desenhos. Swedenborg finge prestar atenção aos colegas — T.S. Eliot é um deles — e queima neurônios conectando leis da geometria ao comportamento humano. Ele gosta de ilustrar suas dúvidas e soluções em triângulos, retas e circunferências. É como se o poeta e o teólogo da ficção de Tavares tentassem dar conta de um mundo impreciso por meio de um cálculo infalível. E, claro, falham na maior parte do tempo.

O SENHOR VALÉRY E A LÓGICA

De Gonçalo M. Tavares. Casa da Palavra, 88 páginas. R$ 21.

“Eles nada têm a ver com biografia. Há uma ligação com associações pessoais minhas. É mesmo uma homenagem. O que faço é dar o nome de um artista a um personagem. É um pouco como damos nomes de escritores a uma rua de uma cidade”, detalha Tavares. As histórias vêm em minicontos, quase sempre ilustrados por rascunhos gráficos. E a organização de cada capítulo é como a de um livro de matemática, em tópicos numerados.

Um traço

Para o autor, há um elo comum entre design, escrita e número, elementos igualmente explorados nas histórias. “A estrutura é o traço. Estamos habituados porque escrevemos no computador, com teclas. Mas na caneta, quando fazemos um traço, pode ser uma letra, uma casa ou um número. Acho que o design pode ser lido como uma frase”, diz o escritor, que esteve no Rio de Janeiro recentemente, na Bienal do Livro.

Dos cerca de 40 moradores do bairro, 10 já ganharam seu próprio livrinho — oito lançados no Brasil. “O projeto é a criação de uma utopia. O central é cada vez mais o bairro propriamente dito, onde acontecem coisas, há personagens de atitudes estranhas, inimizades, como qualquer outro bairro.

O SENHOR SWEDENBORG E AS INVESTIGAÇÕES GEOMÉTRICAS

De Gonçalo M. Tavares. Casa da Palavra, 112 páginas. R$ 21.

Ele não existe no espaço ou no tempo. Entro num mundo mais do encanto. Enquanto o mundo do romance é mais do desencanto”, separa. Tavares gostou da experiência: é a chance de, enquanto descansa de narrativas pesadas, se dedicar a textos mais leves. E, talvez sem essa intenção, arriscar uma teoria das emoções sem a sisudez de uma pesquisa científica. As variáveis, todas humanas, não podem ser contadas nos dedos.

Literatura variada

Gonçalo Tavares nasceu em agosto de 1970, em Luanda, capital de Angola, mas seguiu ainda pequeno para Portugal. Desde a estreia, em 2001, com Livro da dança, Tavares publica escritos em várias frentes: romance, poesia, ensaio e textos dramatúrgicos. Mesmo jovem, já acumula obra extensa, da qual se destacam a tetralogia de romances O Reino (publicada pela Companhia das Letras), que propõe uma análise da maldade humana, e os livrinhos da coleção O Bairro (pela Casa da Palavra). Parte da sua obra poética foi organizada em 1 (Bertrand Brasil). Ela reúne oito livros de poemas. Seu livro mais premiado, Jerusalém, terceiro na série O Reino, rendeu ao escritor os prêmios Ler/Millenium-BCP (2004), José Saramago (2005) e o Portugal Telecom (2007).

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CORRUPÇÃO » Da rede para a rua

Organizado por meio da internet, protesto pela ética na política reuniu 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios CorreioBsB 13/10

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Com vassouras, cartazes e bandeiras do Brasil, os manifestantes saíram do Museu da República às 10h e chegaram à Praça dos Três Poderes às 11h40

Poderia ser mais um tradicional 12 de outubro. Mas, neste ano, a missa em homenagem à Nossa Senhora Aparecida e os brinquedos infláveis para a criançada tiveram de dividir espaço, na Esplanada dos Ministérios, com uma multidão de indignados com os rumos da política no Brasil. Articulada pela internet, a Marcha contra a Corrupção reuniu cerca de 20 mil pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar do Distrito Federal. Jovens, adultos, idosos e famílias inteiras caminharam pacificamente do Museu da República até a Praça dos Três Poderes pedindo mais transparência e ética na política. Embora o número de manifestantes tenha sido bem menor do que os 40 mil contabilizados no primeiro protesto do grupo, durante as comemorações do Sete de Setembro, o resultado de ontem é comemorado pelos organizadores. Houve protesto ontem em várias cidades do país, mas em nenhuma o número de manifestantes superou o de Brasília.

“Muita gente veio, de forma espontânea, nesta marcha que é nossa, de todo mundo. Todos pelo fim da corrupção”, disse Lucianna Kalil, uma das organizadoras do protesto. Em uma hora e quarenta minutos de manifestação, muitos foram os alvos; Jaqueline Roriz, deputada federal que se livrou da cassação recentemente; José Dirceu, apontado como o “comandante” do mensalão; José Sarney, o presidente do Senado. Em relação à presidente Dilma Rousseff, o tom era ameno, quase que de aviso sobre os malfeitos. “Oh, Dilma, preste atenção, o brasileiro não quer mais corrupção”, bradavam.

A ambulante Telma Ferreira, de 32 anos, moradora de Planaltina, ficou sabendo do protesto pela televisão. “Vim porque cansei de receber três ou quatro deputados durante as eleições na minha casa. Eles pedem para a gente trabalhar na campanha, fazer boca de urna e depois desaparecem. Tenho meu valor. Quero respeito.” Vestida com uma camiseta do movimento Remédio para o Brasil é VNC (vergonha na cara), aproveitou a multidão para vender balas e chicletes. “Além de ganhar um trocado, tenho que pagar a condução”, explicou.

A massa de manifestantes pertencia, porém, quase em sua totalidade, à classe média. Com óculos caros, tênis da moda e celular de última geração, eles registravam com entusiasmo os momentos e personagens mais marcantes do protesto, muitos deles fantasiados ou carregando cartazes engraçados. Daniela Kalil, irmã de Luciana e também organizadora do evento, arrisca um palpite sobre a ausência de pessoas de renda mais baixa. “Panfletamos em todas as cidades do DF. Talvez por não se acharem parte de Brasília elas não se mobilizem tanto. Mas acredito que, cada vez mais, todos estão percebendo a importância de protestar”, diz Daniela.

Os rostos jovens, com alguns traços ainda infantis, destacaram-se entre a multidão de gente que invadiu a Esplanada ontem — muitos trajando camisetas pretas e empunhando vassouras pela “faxina” política. Um dos grupos mais engajados era o Juventude Consciente, que reuniu mais de 1,4 mil estudantes de escolas secundárias de Brasília. A maior parte deles nem sequer tem título de eleitor ainda.

Desde o protesto do Sete de Setembro, o grupo que organizou a marcha de ontem repete exaustivamente que é apartidário, sem vinculação política ou de qualquer natureza. Talvez por isso a procedência de um trio elétrico usado ontem durante a marcha tenha causado certo desconforto. Entre os próprio organizadores, havia várias explicações diferentes, incluindo “oferta de uma pessoa que não quer se identificar “ e “algo que foi bancado pela organização e será pago com a venda das camisetas da marcha”. Até que Lucianna Kalil, uma das mentoras do movimento, disse que o veículo havia sido cedido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), como no primeiro protesto.

O apoio ficou explícito nos discursos anteriores ao início da caminhada. Presidente da OAB no DF, Francisco Caputo destacou a disposição da entidade de lutar em favor da honestidade na política. “É uma honra Brasília sediar o maior movimento contra a corrupção do país. Somos 720 mil advogados atentos aos rumos do país e vamos cobrar o fim da corrupção”, afirmou ele.

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Terceirização é isso. A indústria de ponta hoje se sustenta no trabalho precário. A terceirização reduz salários e aumenta a intensidade do trabalho, o adoecimento, as horas de trabalho, a desorganização sindical, a rotatividade. Sociólogo Ricardo Antunes, 58 FOLHA SP 13/10

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FILANTROPIA . Viúva de Steve Jobs vira alvo de atenção por projetos educacionais FOLHA SP 13/10

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DE SÃO PAULO - Steve Jobs pouco falou sobre filantropia em vida. Agora, após a sua morte, as atenções se voltam para a viúva do executivo, Laurene Powell Jobs, 47 -sobre como destinará a fortuna herdada. Grandes doadores do Vale do Silício não sabem se o casal chegou a fazer doações anô- nimas para instituições, de acordo com o "Wall Street Journal".

Mas Powell Jobs se ligou a causas relacionadas à educação. O dinheiro da família ajudou Powell a fundar a ONG College Track, dedicada a ajudar crianças de baixa renda a ingressar na faculdade. "A senhora Powell Jobs pensou: 'Isso é tão importante que não vou apenas assinar um cheque; vou construir com as minhas próprias mãos'", afirma o cofundador da College Track, Carlos Watson. No final da década de 1980, ela teve duas atuações em bancos. Conheceu o cofundador da Apple quando fazia o seu MBA na Universidade Stanford.

Hoje, além de presidir a ONG, Powell Jobs também integra o conselho de instituições como Teach for America, Stand for Children e New America Foundation. Recentemente, ela tam- bém fundou uma instituição filantrópica que promove empreendedores focados em ajudar reformas sociais pelo mundo.

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Luta social vai se ampliar, diz professor. Indústria se sustenta na precarização do trabalho, diz Ricardo Antunes, que escreveu 'O Continente do Labor'

Bancários mostraram que, mesmo em mundo de máquinas, é possível parar um banco para negociar, afirma autor FOLHA SP 13/10

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Trabalhadores dos Correios assistem ao julgamento da greve no Tribunal Superior do Trabalho

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A terceirização reduz salários, aumenta a intensidade do trabalho e desorganiza os sindicatos. É nela que a indústria se sustenta. A visão é do sociólogo Ricardo Antunes, 58, que prevê aumento nas lutas sociais no mundo. Professor de sociologia do trabalho na Unicamp, ele está lançando o livro "O Continente do Labor". Nesta entrevista, ele fala das greves dos bancários e dos Correios.

Folha - Como analisar greves como a dos bancários e dos Correios?

Ricardo Antunes - Diziam que não iria haver mais greve bancária. Chegamos a ter 1 milhão de bancários. Hoje são 490 mil, mas há milhares nos call centers que realizam trabalho de bancários. Até a compensação é terceirizada. A terceirização é a porta da precarização e da informalidade. Os bancários mostram que é possível fazer greve.

Qual é a novidade nesse movimento?

Para extrair um aumento um pouco maior do que a inflação do setor mais rentável da economia é preciso fazer greve. Mesmo nesse mundo cheio de máquinas, com pelo menos um terço do trabalho bancário sendo realizado por terceirizados, é possível parar um banco e exigir negociações. Já os Correios querem se tornar uma transnacional da correspondência, mas tratam os seus trabalhadores como um nível de intensificação da força de trabalho.

Como é essa nova morfologia produtiva e como ela afeta o sindicalismo?

Reestruturação produtiva, desregulamentação do trabalho, informalização. Chegamos a ter quase 60% na informalidade. Os sindicatos não sabem representar a classe trabalhadora informalizada.

O sindicalismo hoje não é muito atrelado ao Estado e ficou anestesiado?

Sim. O sindicalismo autônomo dos anos 70 desapareceu. Na CUT houve processo gradativo estatização das cúpulas. A briga é para ver quem fica com o ministério, a previdência, a secretaria.

Historicamente como isso se situa?

O sindicalismo está vivendo um processo semelhante ao que houve na virada do século 19 para o 20, quando o sindicalismo de ofício foi alterado porque nasceu a indústria fordista e foi criado o sindicalismo de massa. Agora, a tendência da indústria é ser liofilizada, enxuta. Assim, as empresas esparramam a produção e nasceram pequenas fábricas chamadas de "outsourcing". Qual é o sindicato hoje capaz de enfrentar isso? Os sindicatos, como no século 19 para o 20, estão passando por um tsunami e desse tsunami vão nascer formas novas.

A Zara se enquadra nisso?

Terceirização é isso. A indústria de ponta hoje se sustenta no trabalho precário. A terceirização reduz salários e aumenta a intensidade do trabalho, o adoecimento, as horas de trabalho, a desorganização sindical, a rotatividade. A Zara utilizou de trabalho de bolivianos e peruanos, que trabalham 16 horas por dia na indústria de confecção. Isso tem que ser coibido.

O sr. diz que Lula foi o paladino do capital. O que acha de Dilma?

É uma incógnita. Num período de crescimento de 4%, a incógnita não aflora. Quando a coisa esquentar e as lutas sociais se ampliarem...

O sr. acha que isso vai acontecer?

Não tenho dúvida. Tem havido em todo o cenário global uma amplificação das lutas sociais.

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