sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Literatura. Ensaios premiados

Professora e escritora Moema de Castro e Silva Olival recebe prêmio da UBE-RJ O popular/GO 14.10

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Moema de Castro Olival: "Estou realmente muito feliz"

A escritora, ensaísta e professora goiana Moema de Castro e Silva Olival será agraciada com o Prêmio Antônio Olinto, da União Brasileira dos Escritores - Seção Rio de Janeiro, pelo livro O Espaço da Crítica III, lançado no ano passado pela Editora UFG. A premiação até então inédita no currículo da ensaísta será entregue no dia 28, na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio. O comunicado oficial chegou na semana passada à escritora de 79 anos, que já esteve à frente da coordenação do mestrado em Letras da Universidade Federal de Goiás, na qual hoje é professora emérita.

A obra agraciada com o prêmio é o décimo livro já lançado pela escritora e ensaísta (e terceiro de um série) e faz uma análise da crítica literária contemporânea e o processo de valoração de obras contida nela. "Receber um prêmio como esse é sempre gratificante, especialmente quando ele vem de fora do nosso Estado. Estou realmente muito feliz", disse a escritora ao POPULAR. Nascida na cidade de Goiás, filha de Colemar Natal e Silva e Genezy de Castro e Silva, Moema é doutora em estilística e crítica literária pela USP e professora titular aposentada da UFG.

Entre outras premiações que coleciona estão a medalha Wendell Santos (1996), do Conselho Estadual de Cultura de Goiás; Prêmio Clara Ramos (1997), da UBE-RJ; Prêmio Tiokô (1998), da UBE-GO, e 1º Prêmio da Bolsa de Publicações Nelly Alves de Almeida (1999). Atualmente, a professora prepara uma publicação inédita na carreira, um livro de contos.

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Com tantos protestos, algo de diferente está acontecendo no mundo The New York Times 14/10

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Com tantos protestos sociais espontâneos irrompendo por toda parte, desde a Tunísia até Tel Aviv e Wall Street, é evidente que existe algo ocorrendo globalmente que necessita de definição. Estão em circulação duas teorias unificadoras que me intrigam. Uma delas diz que isso é o início da “Grande Ruptura”. A outra afirma que tudo o que está ocorrendo faz parte da “Grande Mudança”. Você decide.

Paul Gilding, ambientalista australiano e autor do livro “The Great Disruption” (“A Grande Ruptura), argumenta que essas manifestações se constituem em um sinal de que o atual sistema capitalista obcecado com o crescimento está atingindo os seus limites financeiros e ecológicos. “Eu vejo o mundo como um sistema integrado, de forma que não enxergo esses protestos, a crise da dívida, a desigualdade, a economia ou a mudança climática de forma isolada. O nosso sistema está passando por um processo doloroso de ruptura”, afirma Gilding. E é isso o que ele quer dizer com o termo Great Disruption.

“O nosso sistema de crescimento econômico, de democracia inefetiva, de sobrecarga do planeta Terra – o nosso sistema – está devorando a si próprio vivo. O movimento Occupy Wall Street (Ocupar Wall Street) é como aquela criança da história dizendo aquilo que todos sabem, mas têm medo de dizer: o imperador está nu. O sistema está falido. Pensem sobre a promessa do capitalismo global de mercado. Se deixarmos o sistema funcionar, se permitirmos os ricos ficarem mais ricos, se deixarmos que as corporações se concentrem nos lucros e que a poluição continue ocorrendo sem taxação e contestação, todos teremos uma vida melhor. Pode ser que a riqueza não seja igualmente distribuída, mas os pobres ficarão menos pobres, aqueles que trabalharem mais arduamente conseguirão empregos, os que estudarem mais obterão empregos melhores e nós contaremos com riqueza suficiente para consertar o meio ambiente.

“Mas o que estamos presenciando agora – de forma mais extrema nos Estados Unidos, mas basicamente no mundo inteiro – é a maior de todas as quebras de promessas”, acrescenta Gilding. “Sim, os ricos estão ficando mais ricos e as corporações estão lucrando – e os executivos delas são regiamente recompensados. Mas, enquanto isso, a situação do povo está piorando – a população está se afogando em dívidas referentes à casa própria ou à educação –; muita gente que trabalhou duro está desempregada; muitos que estudaram bastante não conseguem obter um bom emprego; o meio ambiente está sendo cada vez mais danificado; e as pessoas estão percebendo que os seus filhos ver-se-ão em uma situação ainda mais difícil do que os pais”.

“Esta onda particular de protestos poderá crescer ou não, mas o que não desaparecerá é a ampla coalizão daqueles indivíduos para os quais o sistema mentiu e que agora acordaram. Não são apenas os ambientalistas, os pobres, ou os desempregados. É a maioria das pessoas, incluindo aquelas da classe média com alto nível educacional, que estão sentindo na pele os resultados de um sistema que fez com que todo o crescimento econômico registrado nas últimas três décadas fosse parar no bolso da parcela de 1% da população que ocupa o topo da pirâmide de distribuição da riqueza”.

Mas John Hagel III, vice-diretor da instituição Center for the Edge, em Deloitte, e John Seely Brown veem as coisas de forma um pouco diferente. No seu livro recente, “The Power of Pull” (algo como, “O Poder da Retirada”), eles sugerem que nós estamos nos estágios iniciais de uma “Grande Mudança”, precipitada pela fusão da globalização com a Revolução das Tecnologias de Informação. Nos estágios iniciais, nós experimentamos essa Grande Mudança como uma pressão que se acumula, deteriorando o desempenho e provocando um aumento de estresse porque nós continuamos a operar com instituições e práticas que são cada vez menos funcionais – de maneira que o surgimento de movimentos de protesto não é nenhuma surpresa.

No entanto, a Grande Mudança desencadeia também um enorme fluxo global de ideias, inovações, novas possibilidades de colaboração e novas oportunidades de mercado. Esse fluxo está ficando cada vez mais intenso e rápido. Eles argumentam que, atualmente, a exploração do fluxo global se tornou um fator fundamental para a produtividade, o crescimento e a prosperidade. Mas, para explorar esse fluxo de maneira efetiva, todo país, toda companhia e todo indivíduo precisa aumentar constantemente os seus talentos.

“Nós estamos vivendo em um mundo no qual o fluxo prevalecerá e derrubará todos os obstáculos à sua frente”, afirma Hagel. “À medida que o fluxo ganha impulso, ele destrói as preciosas reservas de conhecimento que antigamente nos proporcionavam segurança e riqueza. Ele nos conclama a aprender mais rapidamente com trabalho conjunto e a retirar de nós próprios uma quantidade maior do nosso verdadeiro potencial, de maneira tanto individual quanto coletiva. Isso é algo que nos entusiasma com as possibilidades que só podem ser concretizadas com a participação em uma gama mais ampla de fluxos. Essa é a essência da Grande Mudança”.

Sim, as corporações contam atualmente com acesso a softwares, robôs, automação, mão-de-obra e talento intelectual mais baratos do que nunca. Portanto, a obtenção de um emprego exige mais talento. Mas a contrapartida disso é que indivíduos em qualquer lugar do mundo podem acessar o fluxo para fazer cursos online da Universidade Stanford mesmo se estiverem em uma vila na África, a fim de criarem uma companhia com clientes espalhados por toda parte ou para colaborarem com pessoas também dispersas pelo mundo. Nós estamos com mais problemas do que nunca, mas também com mais instrumentos para solução de problemas do que nunca.

Portanto, temos diante de nós duas narrativas. Uma focada na ameaça, a outra na oportunidade, mas ambas envolvendo mudanças colossais.

Gilding é, no fundo, um otimista. Ele acredita que, embora a Grande Ruptura seja inevitável, a humanidade funciona melhor em épocas de crise, e, assim que esta chegar com toda força, nós estaremos à altura do desafio e criaremos uma mudança econômica e social de potencial transformador (utilizando as ferramentas da Grande Mudança).

Hagel é também um otimista. Ele sabe que a Grande Ruptura pode estar pairando sobre nós, mas acredita que a Grande Mudança criou também um mundo no qual uma quantidade maior de pessoas dispõem das ferramentas, dos talentos e do potencial para superar essa crise.

O meu coração está com Hagel, mas a minha cabeça diz que seria arriscado ignorar Gilding.

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Produção artesanal

» Por seu lado, já está fazendo falta a grande feira realizada em Brasília, coordenada pelo governo federal. Aconteceu no ano passado, na Concha Acústica. Artesãos de todo o país e pequenos produtores rurais mostraram tudo o que sabem. Não era pouco e era muito bom: de alimentação a sandálias de látex. Coluna Ary Cunha Correio 14.10

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CONFERÊNCIA » Políticas para as mulheres em debate Correio 14.10

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Uma série de conferências organizadas pela Secretaria da Mulher do Distrito Federal pretende discutir vários temas com o objetivo de auxiliar a construção de políticas públicas voltadas a elas. As duas primeiras etapas regionais ocorreram no último dia 8, quando foram ouvidas representantes de cidades como Águas Claras, Brazlândia, Riacho Fundo 1, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires. Hoje, será promovido o encerramento dos debates. Pela manhã, a audiência ocorrerá no Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília, Anfiteatro 11, e, à tarde, no câmpus da UnB em Planaltina.

Moradores dessas regiões poderão acompanhar a conferência, fazer perguntas aos convidados e fazer sugestões. Um convênio com o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) e a secretaria garantirá ônibus para transportar os participante até os locais dos encontros. De acordo com a secretária da Mulher, Olgamir Amâncio, 180 pessoas estiveram na última reunião. Temas como preconceito sexual, racismo, mercado de trabalho, saúde e violência foram discutidos nas duas primeiras etapas.

Os assuntos tratados nos quatro encontros serão levados à Conferência Distrital de Política para Mulheres, marcada para acontecer entre 21 e 23 de outubro, no Museu Nacional. A proposta é apresentar as sugestões na Conferência Nacional, prevista para ocorrer em Brasília, no mês de dezembro. Para a secretária da Mulher, o objetivo das ações, além de assegurar o cumprimentos dos direitos das brasilienses, é aproximar toda a população da realidade e dos desafios que elas enfrentam diariamente. “Com essas conferências, estamos dando a oportunidade de participação efetiva das mulheres do DF na formulação de políticas públicas em todas as áreas”, declarou Olgamir Amâncio.]

Machismo

De acordo com a titular da pasta, o machismo é um dos assuntos que mais mobilizam as participantes .“A escola acaba tendo um papel importante nesse sentido. Por isso, propusemos uma reformulação do currículo básico das instituições de ensino. A ideia é incluir nas atividades escolares discussões sobre a questão de gênero”, adiantou Olgamir. A saúde da mulher também é um dos pontos centrais dos debates. O atendimento humanizado em hospitais públicos a pacientes que sofrem de câncer de mama e de útero também está na pauta do evento. “Percebemos que muitas mulheres são revitimadas quando recebidas nos centros de saúde.”

Mestre em políticas públicas pela Universidade de Brasília, a professora Tânia Montoro esteve presente em uma das conferências. “Eu vi uma capilaridade do movimento de mulheres, que está se tornando mais democrático e popular. Percebo também que não há somente a participação de feministas”, observou a docente. A grande preocupação de Tânia é a falta de acesso delas às políticas públicas.

Participe

Os ônibus que levarão os interessados em participar das conferências aos locais onde ocorrerão as reuniões airão do estacionamento das administrações de Brasília e de Planaltina, às 7h e às 13h, respectivamente. A Secretaria da Mulher montará uma brinquedoteca para que as mães tenham onde deixar os filhos. Os pequenos serão acompanhados de psicólogos e pedagogas. Mais informações pelos telefones: 3961 -1572 e 3961-1514 ou nos sites www.mulher.df.gov.br/ e http://conferenciamulheresdf.blogspot.com.

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A universidade integradora da América Latina. Professor aposentado da Universidade de Brasília, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Correio 14.10

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Tive o privilégio de visitar recentemente a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), no complexo de Itaipu, em Foz de Iguaçu, região trinacional: Argentina, Brasil e Paraguai. Ela é uma das caçulas no sistema federal de universidades e sua implantação foi precedida pela criação, em maio 2007, do Instituto Mercosul de Estudos Avançados (Imea), uma parceria da Hidrelétrica de Itaipu, da Universidade Federal do Paraná e da Universidade de Pisa. Em dezembro do mesmo ano, o Ministério da Educação enviou à Presidência da República o projeto de criação da Unila.

Em janeiro de 2008 foi criada a comissão de implantação, com a participação de 13 membros e presidida pelo atual reitor, professor Hélgio Trindade. O desafio da comissão foi construir o modelo de uma universidade para o século 21, criando uma instituição que respondesse de forma inovadora e competente à integração promovida pela convivência intelectual e interpessoal, estabelecendo acordos de cooperação e intercâmbio, e aberta a toda América Latina e ao Caribe.

Esse desafio implicava em romper os parâmetros tradicionais e absorver, de forma crítica, a experiência de sucesso de outras universidades latino-americanas. Resgatando a ideia de Darcy Ribeiro, de consulta a cientistas, professores e intelectuais brasileiros, na elaboração da proposta de criação da Universidade de Brasília, foi feita ampla consulta, agora de âmbito internacional. Além de brasileiros, foram consultados especialistas de vários países: México, Nicarágua, Venezuela, Argentina, Estados Unidos, Uruguai, Chile, Colômbia, França, Portugal e Espanha.

Às indagações, procuraram respostas na missão da nova universidade no contexto da mundialização, seus principais eixos temáticos, da inter e da transdisciplinaridade, das formas de recrutamento de alunos e professores e na harmonização do local, do regional e do universal, voltada para os desafios da América Latina. As contribuições foram compiladas no livro: Unila — Consulta internacional (Imea 2/2009).

É importante destacar algumas sugestões e comentários, como o de Celso Pinto Melo, atual presidente da Sociedade Brasileira de Física: “Usar extensivamente um programa de professores visitantes, que pudessem passar períodos não muito longos debatendo novas ideias e novas abordagens para as questões da América Latina”. É também precioso o comentário do neurocientista Ivan Izquierdo: “A Unila deverá entender como princípio fundamental que o conhecimento sempre foi global — o que Sócrates, Galileu, Newton, Einstein, Jenner, Shakespeare, Borges e Beethoven criaram, pensaram e inventaram foi para todos, pertence ao mundo todo”. Outra sugestão que merece destaque foi feita pelo físico Sérgio Mascarenhas: “Criando um território diplomático tipo “zona franca do conhecimento” para os atores da obra Unila, de modo tal que as partes se libertem de culturas congeladas em regras jurídicas, isonomias funcionais, aversão ao risco das diferenças de mérito e outras facetas da cultura herdada pelo Brasil”.

O projeto de lei da criação da Unila foi sancionado em janeiro de 2010 e as atividades acadêmica foram iniciadas em agosto do mesmo ano, nos seguintes cursos de graduação: ciências biológicas — ecologia e biodiversidade; ciências econômicas — economia, integração e desenvolvimento; ciência política e sociologia — sociedade, Estado e política na América Latina; engenharia de energias renováveis, engenharia civil de infraestrutura; relações internacionais e integração. Posteriormente foram criados novos cursos nas áreas de antropologia, desenvolvimento agrário e segurança alimentar, geografia, história e letras. A meta em cinco anos é chegar a 10 mil alunos, 5 mil do Brasil e 5 mil de outros países da América Latina.

Da visita mencionada no início do artigo, fiquei particularmente impressionado com o entusiasmo e a paixão dos dirigentes e professores. Presenciei casualmente, com professores e alunos de diferentes áreas de conhecimento, uma experiência de física instrumentalizada por raio lazer em um espaço de convivência onde se podia ver o céu, as árvores e ouvir o canto dos pássaros. Nesse ambiente universitário permeado pelo bilinguismo, pela interdisciplinaridade e pela multiculturalidade, conversei com estudantes brasileiros e de outros países que estampavam em seus rostos sorridentes a satisfação e o privilégio de estarem em uma instituição inovadora, voltada para quebrar o modelo envelhecido das universidades brasileiras e latino-americanas. Vida longa para a Unila.

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CINEMA » Na trilha do batuque ancestral. Drums - Tambores, documentário em longa-metragem do diretor brasiliense Sérgio Raposo, será exibido a partir de hoje no Festival do Rio Correio 14.10

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A equipe do filme partiu de Moçambique (foto) rumo ao Maranhão, passando por China e Portugal: conexão entre o instrumento e a vida

Uma restrita equipe de cinco pessoas, aventuras em estradas por áreas de terreno acidentado, passagens por vilas carentes de desenvolvimento e estadas por seis países. Todos esses esforços, com a injeção de US$ 500 mil e a estrutura profissional da produtora local Cinevideo, renderam ótimo mérito para o cineasta brasiliense Sérgio Raposo, 39 anos: com cinco exibições asseguradas, o longa-metragem dele Drums — Tambores integra, a partir da projeção de hoje no Odeon (Cinelândia), a Mostra Expectativa do Festival do Rio.

Exibida em suporte digital, a fita está em negociações para participar do Doha Tribeca Film Festival, no Catar. “Essencialmente musical”, o filme cerca o tema “dos tambores e das pessoas ligadas a algum tipo de tradição relacionada a eles”. Na sequência dos curtas em 16mm e 35mm, respectivamente, O rival (2004) e Residual (2007), Sérgio Raposo conta que, há mais de um ano, ele foi fisgado pelo projeto, que teve produção executiva de Mônica Monteiro.

Vocação internacional

Pelo “perfil internacional”, Drums — Tambores, à época, com a produção em andamento, se valeu da associação com a rede televisiva árabe Aljazeera Documentary Channel. “Apostamos na vocação natural do filme que estreia em janeiro no canal e será comercializado para tevês a cabo de diferentes países”, conta o diretor.

Pela ordem, o filme parte de Moçambique, para chegar a porções da China, de Portugal e alcançar o estado brasileiro do Maranhão. “No Brasil, a gente foi para a Casa Fanti Ashanti (em São Luís), um centro que valoriza a cultura afro-brasileira em atividades comandadas pelo pai Euclides, fundador do uso religioso do tambor”, conta Raposo. Afora o segmento do Tambor de Mina — ao qual Euclides se dedica há mais de 50 anos, com desenvolvimento do candomblé —, a produção também investiu no Tambor de Criola, de raiz popular, representado pelo percussionista Mestre Amaral.

Arremate na construção do tambor: cerco ao tema por todos os lados

Em Moçambique, onde há filial da produtora brasileira, a equipe do filme deixou a movimentada Nacala Porto, com intensa concentração de navios no litoral, rumo à interiorana vila da província de Niassa, batizada como Metarica. “A gente apresenta um personage , o Chaisson Meja, que deixou o Norte, e usa o tambor como um elemento aglutinador do contato e das origens dele que extrapolam costumes da etnia macua (agrícola)”, comenta Sérgio Raposo. No itinerário emocional à frente de Chaisson, pesam as lembranças do avô, um fabricante de tambores, além dos fundamentos comunitários repassados pelo tio, liderança local e musical da região visitada.

Relações familiares estão registradas em Drums — Tambores, a partir da história do músico Ateeq Mubarak, filho de pescador, que, na rica capital do Catar (Doha), celebra o vigor cultural do povo. Na etapa africana do filme, mais precisamente na Zâmbia, quem comanda a narrativa é Stanard Halenga, há mais de 20 anos familiarizado com tambores.

“A gente conta sobre o uso dos tambores budimas tradicionais entre o povo tonga, além de expor seis tipos de instrumentos da região. É interessante observar como a construção do lago artificial Kariba, que fez uso do Rio Zambeze, modificou a região. O povo tonga conta com a música, para manter viva a lembrança da vida dos pais e do resto da família que teve de se mudar, por causa do lago. A função dos tambores foi expandida. A sonoridade dos funerais foi ampliada para outros eventos e festividades”, explica Sérgio Raposo.

Desprovido de sentido, pela visão dos europeus do século 17, o padrão de ritmos adotados pelos percussionistas é item de análise no documentário. Pelos integrantes portugueses do Drumming, na cidade do Porto, é expressa uma visão contemporânea da música tirada do tambor. “O diretor de arte do grupo Miquel Bernat comenta, no filme, o processo de organização do ritmo. Ele explica a visão caótica associada ao instrumento, além de ressaltar questões da harmonia alcançadas pelo equilíbrio no uso dos tambores”, conclui.

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MÚSICA » Novidades que vêm do Pará. O músico paraense Felipe Co rdeiro procura aliar proposta conceitual e ritmos Correio 14.10

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A música produzida no Norte e Nordeste do Brasil ganhou visibilidade há alguns anos; principalmente, depois do movimento mangue beat, que teve como ícone o músico Chico Science. Hoje, uma das cenas mais comentadas, fora do eixo centro-sul, é a paraense, que lançou nomes como Gaby Amarantos. Outra cria dessa ebulição musical é o CD Kistch, pop, cult, do músico Felipe Cordeiro.

A concepção do álbum surgiu de reflexões sobre a transformação cultural e sobre o processo de reprodução e cópia, de gêneros como o tecnobrega, que sempre usa a mesma batida. Felipe diz que o nome dado ao disco é “autoexplicativo”, pois kistch, pop e cult são termos inseridos no comportamento da sociedade e, assim, a proposta fica clara: abordar a mistura de informações por meio de ritmos, que vão do brega à música clássica. Para o surgimento desste trabalho, foi primordial o contato com a diversidade musical e as “inquietações” de Felipe Cordeiro, que também é graduado em filosofia pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

A lambada e a guitarrada, por exemplo, foram estilos com os quais ele sempre conviveu, pois o pai dele, Manoel Cordeiro, é produtor musical, e sempre estava em contato com os artistas paraenses. Além dos conterrâneos, nomes como Chico Buarque, Aldir Blanc, Edu Lobo o influenciaram.

Kistch, Pop, Cult

Disco de Felipe Cordeiro.

Lançamento do selo Ná Music. Preço: R$ 20. À venda no site www.newamazoniasmusic.com. Ouça algumas músicas em www.felipecordeiro.net.

Essas reminiscências aparecem nas letras do disco. A faixa Legal e ilegal, que relaciona bebidas com ritmos de dança (“aguardente no bom samba canção, uisquinho da bossa nova”), é dedicada ao cantor de lambadas Alípio Martins, famoso na década de 1980, e amigo próximo do pai de Felipe.

“Quando comecei a elaborar o disco eu não sabia, exatamente, o que eu queria, mas tinha certeza de que pretendia fazer um link do Alípio com algo do Arrigo Barnabé, que também admiro muito. Para mim, Alípio representa simplicidade, uma coisa direta, com um humor que me seduz.” De acordo com ele, o lambadeiro incorporava o kistch e o pop, que permitem uma aglomeração de estéticas, meios de reproduzir e reinventar, sem perder uma proposta poética.

Nietzsche

Outra música destacada por Felipe é Fanzine kistch, que também caracteriza a proposta do CD. Ela tem a estrutura de um “diálogo de quadrinhos”. Nos versos, uma menina está em um sebo da cidade e pega um livro de Nietzsche. Nela, a proposta é discutir o mundo “pop cult”, no qual as pessoas buscam uma identidade, algo que as coloquem em um nicho social, o que, às vezes, se torna uma conduta caricata. “Nessa música, o fato de estar em contato com a obra de um filósofo mostra como as pessoas gostam de se reinventar e procuram se achar seu lugar no meio da multidão. É aí que surgem os rótulos do que é cult, do que é pop…”.

“O disco tem essas dicas conceituais, embora eu não quisesse que parecesse isso. Eu queria que as pessoas ficassem em cima do muro, se perguntando: o disco é conceitual, artístico, comercial ou pop?” Na faixa Lambada com farinha, por exemplo, tem uma introdução erudita com um quarteto de cordas. Após alguns segundos, entra uma batida de guitarrada, “isso contextualiza a guitarra com a música erudita e proporciona outra audição.”

Diversidade rítmica

» A cena musical no Pará já tem ritmos conhecidos como o carimbó, guitarrada e até o próprio tecnobrega, no entanto ainda são classificadas com exotismo. “A gente ainda se afirma muito por conta da sedução dos ritmos. A música do Pará é dançante, não acho que devemos negar isso. Mas, acho que há poucas pesquisas sobre esses ritmos com amadurecimento mais fortes, os músicos não podem se restringir à coisa do exótico. Tem que amadurecer o conceito, olhar para essa musicalidade criticamente Isso é uma obra de arte completa”, destaca Felipe Cordeiro.

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LITERATURA » Poesia partida em dois territórios

O escritor Eduardo Garcia vive na Espanha, mas sonha com coqueiros e músicas de Caetano Veloso. As duas pátrias se confundem em seus versos Correio 14.10

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Garcia: "Descobri que passei 10 anos escrevendo sobre a impossibilidade de morar em dois lugares ao mesmo tempo"

O poeta espanhol Eduardo Garcia levou anos para entender a própria obra. Depois de seis livros publicados e 16 anos de trajetória, ele agora sabe exatamente a origem dos versos que um dia creditou ao gosto pelo realismo fantástico. Filho de espanhóis, Garcia nasceu em São Paulo, aprendeu a falar em português e, aos 7 anos, voltou com os pais para Madri. As duas línguas se instalaram em proporções iguais na cabeça do garoto, quem mais tarde escreveria poesias inspiradas em um mundo fantástico.

Um dia, lendo escritos do italiano Claudio Magris, ele percebeu: “Eu tinha esquecido que o Brasil que idealizava era um sonho e descobri que passei 10 anos escrevendo sobre a impossibilidade de morar em dois lugares ao mesmo tempo. O desejo sempre está do outro lado. Por definição, é algo que você não pode ter. Se você conseguir, deixa de ser desejado. Isso acontece com minha identidade. Moro num lugar do mundo onde me sinto muito bem, mas não posso esquecer que nas minhas mensagens sonhadas têm coqueiros, toca Caetano Veloso e se fala português”.

Garcia mora na Espanha e veio a Brasília para lançar Antologia pessoal, primeira coletânea de poemas em português, uma seleção de versos de toda a carreira do poeta traduzidos por Antonio Miranda e editados pela brasiliense Thesaurus. A tradução de Antologia pessoal foi iniciativa de Miranda. “Um dia abro meu correio e acho um tal Antonio Miranda. Não sabia quem era, nada. Disse que queria traduzir meus poemas e começamos uma relação amistosa. Ele acabou se comprometendo com o livro”, conta o escritor.

Antologia pessoal

De Eduardo Garcia. Thesaurus, 190 páginas. R$ 30

A poesia de Garcia tem vários pontos de conexão com a contemporaneidade, mas é no universo interior do poeta que estão ancorados a maior parte dos versos. “Nós, escritores transterrados como eu, temos duas pátrias, por isso acabamos não tendo nenhuma. Construímos uma pátria na linguagem, construímos um mundo com palavras. Isso é muito especial para mim”, diz.

Inquietação

A poesia, para o espanhol, pode ser encarada de duas perspectivas. Do ponto de vista individual, ela funciona como a busca de uma resposta para uma pergunta existencial sobre a própria identidade. Garcia começa a escrever a partir dessa inquietação. Mas o que vem depois é desconhecido. “Para mim, é fundamental não saber aonde vai o poema. Se souber, posso fazer literatura, fica muito bonitinho, bem escrito. Mas a poesia é algo mais, a técnica é necessária, mas você tem que não saber, tem que ser um acontecimento. E à medida que vai acontecendo você vai descobrindo coisas que não sabia. É um pouco aterrorizante também.”

Do ponto de vista social, o alcance da poesia é bastante largo e carrega certa responsabilidade. Em um mundo marcado pela rapidez e eficácia, o tempo de um verso se torna um luxo. “O que faz a poesia no século 21? Acho que faz tudo, mais que nunca, porque ela vai na contramão de uma civilização tecnocrática, uma civilização que cada vez mais cultua a razão, a ciência, o mercado, tudo isso nos faz ser gente muito eficaz e produtiva, mas nos aproxima das máquinas, dos robôs. A poesia, pelo contrário, apela à alma.”

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Brasília, território do blues. De sexta a domingo, Brasília se torna, mais uma vez, território do Blues.Jornal de BsB 13.10

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O Complexo Cultural da República, espaço entre o Museu Nacional e a Catedral de Brasília, foi o palco escolhido para receber atrações locais, nacionais e internacionais que farão parte da 5ª edição do Festival República Blues.

Para a programação deste ano, o Clube do Blues de Brasília, responsável pela realização do evento, traz à cidade ícones do blues nacional como Blues Etílicos e Celso Blues Boy e revelações como a cantora Taryn, vinda diretamente do Rock in Rio.

Entre os nomes locais estão Brazilian Blues Band, Dillo Daraújo e Língua Preta. No time gringo, feras como o guitarrista Larry McCray, a cantora Tia Carrol, o pianista e cantor Donny Nichillo e o gaitista Peter “Mad Cat” Ruth, todos americanos.

“Selecionamos os artistas de acordo com o índice de participação em festivais em todo o País. Também costumamos dar oportunidade a revelações do gênero”, explica Luiz Kaffa, coordenador do Clube do Blues.

Recordista em público e em vendagens de CDs no segmento, a Blues Etílicos está comemorando 25 anos de carreira. A banda, uma das atrações de domingo, é a mais popular do estilo blues rock e a que está há mais tempo em atividade no Brasil. Eles já dividiram palco com alguns dos maiores nomes do blues como B. B. King, Robert Cray e Buddy Guy.

Já o gaitista americano Peter Mad Cat, que se apresenta nesta sexta, volta ao País para se apresentar ao lado de Big Joe Manfra e sua banda, tendo Jefferson Gonçalves como convidado especial, também na gaita. Uma parceria que rendeu o CD Live in Rio, gravado ao vivo. Mad Cat desfilará toda sua técnica e feeling em clássicos na gaita, acompanhado de Big Joe Manfra (guitarra), Fábio Mesquita (baixo) e André Carvalho (bateria).

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Os versos da poesia na dança. Jornal de BsB 13.10

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O grupo Margaridas Dança existe desde 2004 e sempre acreditou no diálogo entre diversas manifestações artísticas. Nesta sexta e sábado os integrantes da companhia vão mostrar a relação entre dança e poesia com o espetáculo Buquês, inspirado no livro homônimo da escritora e bailarina Laura Virgínia. A atração inédita fica em cartaz no Sesc Ceilândia, com apresentações às 16h e 20h, sempre com entrada franca.

Além de ter escrito a obra que deu origem à montagem, Laura também assina a coreografia e direção de Buquês. "O livro é dividido em quatro partes: alegria, leveza, amor e paixão. A gente não faz exatamente como no livro porque é como uma tradução de uma língua para outra", revela Laura sobre o processo de adaptação. "Como a dança é uma mídia ao vivo, transformamos o contexto dos poemas", explica. Uma iluminação especial promete ajudar a plateia a compreender e vivenciar as sensações propostas pelo grupo.

No palco, ela e os bailarinos Júlio Cesar Campos, Andréia Tang, Cleani Marques Calazans irão recitar os versos enquanto dançam. O espetáculo também conta com Beneto Luna Reis como convidado especial. O grupo preparou-se para a estreia com ensaios desde março deste ano.

Ao contrário do que se pode imaginar, o nome Buquês não está relacionado com flores. “É uma reunião de cores e aromas. O aroma representa a dança. A partir do instante que você faz um movimento, ele vai ficar só na lembrança de quem viu, assim como um cheiro”, compara Laura sobre o caráter efêmero da coreografia. Ela define os temas das poesias como “aromas poéticos”, ou seja, sentimentos e sensações que as pessoas podem sentir. “A gente está trabalhando quatro estados energéticos“, resume.

Buquê segue em turnê nos dias 25 e 26 de outubro, no Sesc de Taguatinga. Depois, no final do mês, vai para o Espaço Mosaico (714/715 Norte), de 27 a 30 de outubro, com ingressos a R$ 30 (inteira).

video-arte

Laura fez residência artística em Londres por seis meses, onde gravou uma videoarte que integrará o projeto Dança para Tela. "Vai ser lançado dia 26 de novembro, na Fundação Darcy Ribeiro (o Beijódromo). O evento será aberto ao público, com cerca de 20 vídeos de artistas de vários cantos do Brasil", antecipa.

Buquê – Sexta e sábado , às 16h e 20h, no Sesc Ceilândia. Entrada franca. Classificação livre.

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Chico Buarque inicia turnê em novembro. O cantor e compositor começa por Belo Horizonte (dias 5 a 8) a turnê nacional de lançamento do disco "Chico". Depois, segue para Porto Alegre (dias 28 e 29), Curitiba (15 a 18 de dezembro), Rio (5 a 29 de janeiro) e São Paulo (1º a 25 de março). Outras cidades ainda devem ser acrescentadas ao roteiro. A última turnê de Chico foi a do CD "Carioca", de 2006. FSP 14.10

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Nelson Motta autografa biografia de Glauber Rocha hoje no MIS. FSP 14.10

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"A Primavera do Dragão - A Juventude de Glauber Rocha" (Objetiva, 368 págs., R$ 56,90), livro de Nelson Motta sobre o expoente do cinema novo, será lançado hoje, às 19h, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo.

O livro reconstitui os anos 1960, que antecedem o estouro da carreira do cineasta.

Motta fará uma palestra no auditório do museu seguida pela projeção gratuita do longa "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964).

O evento, organizado por Cosette Alves, presidente do Conselho Administrativo do Museu, será encerrado com uma sessão de autógrafos.

A PRIMAVERA DO DRAGÃO

LANÇAMENTO hoje, às 19h, no MIS (av. Europa, 158, Jardim Europa, SP, tel. 0/xx/11/2117-4777)

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PALHINHA

Vanessa da Mata será a convidada especial do show do Buena Vista Social Club com Omara Portuondo no dia 20, no HSBC Brasil. FSP 14.10

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Coleção traz clássico de Antonioni no domingo

'O Deserto Vermelho' é o novo título da Coleção Folha Cine Europeu

Filme do cineasta italiano estrelado pela musa Monica Vitti enfoca o mal-estar da modernidade FSP 14.10

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A Coleção Folha Cine Europeu lança, neste domingo, "O Deserto Vermelho", clássico do italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007) e seu mais forte trabalho sobre o mal-estar da modernidade.

Um livro com fotos e textos sobre o cineasta, sua obra e mais informações acerca do longa acompanha o DVD.

Rodado em 1964, após o diretor filmar "A Aventura" (1960), "A Noite" (1961) e "O Eclipse" (1962), a conhecida "Trilogia da Incomunicabilidade", "O Deserto Vermelho" conta com a musa de Antonioni, Monica Vitti, no papel da protagonista, Giuliana.

Ela acompanha, com o pequeno filho, o marido engenheiro numa cidade industrial. Neurótica, recém-saída de uma clínica psiquiátrica, sofre uma piora nesse ambiente poluído, enevoado.

Zeller (Richard Harris), um colega de trabalho do marido, interessa-se pela mulher, dando-lhe especial atenção.

Antonioni explora bem a potencialidade visual de Ravenna, cidade rural que se tornou urbana em pouco tempo, devido à industrialização.

O trabalho de som e a atenção especial às locações, arquiteturas e ambientes estruturam o enunciado. Antonioni escolhe o espaço e objetos para então colocar seus personagens lidando com eles.

Isso chegaria bem forte também no seu mais popular longa, "Blow Up - Depois Daquele Beijo" (1966). Muito antenado com seu momento, aqui Antonioni registra a "swinging London" dos anos 60. Em 1970, comentaria sobre os jovens lidando com o mundo, por meio da contracultura, em "Zabriskie Point".

Em 1975, ele levaria ao limite o vazio e a angústia que marcaram sua obra. Em "O Passageiro - Profissão: Repórter", Jack Nicholson é um jornalista que troca de identidade e assume outra relação com o mundo.

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