segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"O descaso pelo idioma é um sintoma de que a cultura está doente."

Evanildo Bechara

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Quando a música vai ao público

Ex-aluno do Centro de Ensino Médio da Asa Norte, o maestro Jorge Lisbôa Antunes levou ontem à escola um presente para toda a comunidade. À frente da Orquestra Ars Hodierna, ele apresentou um concerto que conquistou toda a plateia, inclusive os pouco familiarizados com o gênero clássico. CORREIO 28.09

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O maestro (D), que atualmente cursa mestrado na Venezuela, fez questão de percorrer todas as salas e de aproximar a turma

Emitidos com harmonia, os sons dos instrumentos invadiram o pátio do Centro de Ensino Médio da Asa Norte (Cean), na 606 Norte. Aos poucos, o cenário de paredes pichadas, com uma geladeira velha aposentada no canto esquerdo, deixou de chamar a atenção dos espectadores. Diante da força da orquestra, qualquer desvio de atenção seria desperdício. A plateia teve uma oportunidade rara para a maioria, a de ouvir música clássica executada ao vivo, bem de perto. Quem proporcionou o momento aos estudantes foi um ex-aluno do Cean, o maestro Jorge Lisbôa Antunes, 35 anos, à frente da Orquestra Ars Hodierna.

Depois de quase 20 anos, o músico voltou ao colégio para inspirar a nova geração. O concerto faz parte de uma série de apresentações em escolas públicas custeadas com dinheiro do Fundo de Apoio à Arte e à Cultura (Faac). O projeto pretende conquistar novos ouvidos para a música clássica. “A pessoa não pode dizer que não gosta de algo que não conhece. Estamos aqui para apresentar essa possibilidade nova a eles”, explicou o maestro. Jorge Lisbôa é filho de outro músico conhecido em Brasília, o também maestro Jorge Antunes.

Antes de começar, o regente apresentou cada um dos instrumentos ao público. Mostrou que a música clássica faz parte do cotidiano, mesmo quando as pessoas não percebem. “Está nos filmes, por exemplo”, destacou. Explicou as peculiaridades dos sons. Contou também histórias sobre a época dos compositores. Os 33 músicos executaram obras de Domenico Cimarosa, Hans Werner Henze e Beethoven. Começaram com a ópera Casamento secreto, de Cimarosa; seguiram com o 2º movimento da 1ª Sinfonia de Henze e finalizaram com a 7ª Sinfonia do mais conhecido entre os três, Beethoven. Apesar de ser aberto para toda a comunidade, o concerto só foi presenciado pelos alunos. Parte dos estudantes preferiu jogar bola e bater papo.

Os músicos da orquestra: plateia acompanhou com toda a atenção

Talento

Jorge Lisbôa é envolvido com a música desde os 8 anos. Foi nessa época que começou a estudar piano e, principalmente, violino. Atualmente cursando um mestrado na Universidade Simón Bolivar, em Caracas, na Venezuela, ele é professor afastado da Escola de Música de Brasília. Cursou o 1º e o 2º anos do ensino médio no Cean. Antes disso, estudou em outros colégios mantidos pelo governo. “Meu pai era professor da UnB, acreditava no ensino público de qualidade. Eu também acredito, ainda hoje, nessa possibilidade”, lembrou. Concluiu o ensino médio em instituição de ensino privada, ao ganhar uma bolsa por ser músico. “Queriam montar uma orquestra de alunos e me convidaram.”

O regente lamentou a falta de investimento para melhorar a estrutura do Cean. “O colégio não mudou muito. Está conservado, mas não ganhou melhorias, como teatro, auditório, por exemplo. Sempre que nos apresentamos em escolas públicas, tocamos em espaços improvisados”, disse. Antes de se apresentar, o maestro percorreu uma por uma as salas de aula para conversar com os alunos. Falou sobre a origem da música clássica e sobre sua própria história. Jorge Lisbôa chegou recentemente da Moldávia, onde obteve uma menção honrosa, além do diploma de finalista do Concurso Internacional de Regência daquele país.

Um incentivo

O Faac foi criado em 1991 para oferecer recursos a pessoas físicas e jurídicas, no Distrito Federal, para a difusão e o incremento das atividades artísticas e culturais. O Decreto nº 14.085, de 1992, regulamentou as regras. Informações: 3325-6211.

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O popular 03.10

Reflexos do Código Florestal

José Antônio Tietzmann e Silv. O popular 02/10

Já há algum tempo discute-se no Brasil a modificação do Código Florestal de 1965, notadamente com base em premissas como "falta de terras para os agricultores familiares" ou "excessiva proteção ambiental em detrimento da segurança alimentar", entre tantas outras, que vão no sentido de flexibilizar a legislação ambiental brasileira.

E, mais recentemente, já no Senado Federal, nova flexibilização já se desenha no horizonte, relativa à proteção das áreas de preservação permanente, diante de obras destinadas à infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Trata-se, infelizmente, de regredir em relação não apenas à proteção do meio ambiente natural, mas diante de um conceito que, apesar de presente no cotidiano, dificilmente encontra reflexos em termos práticos: o desenvolvimento sustentável.

Nosso desenvolvimento é insustentável sob vários aspectos, e não somente o ambiental. E, nesse sentido, a proposta de flexibilização do Código de 1965, com base em argumentos pouco críveis, é uma lástima que se reconhece, inclusive, em nível internacional.

Com efeito, o Parlamento da União Europeia, por meio de resolução do dia 29 de setembro que visa adotar posição comum sobre a Conferência da ONU Rio+20, afirma com clareza "sua preocupação em relação ao novo Código Florestal que deverá ser adotado pelo Senado brasileiro, que agravará o desmatamento na Amazônia e será assim um entrave aos esforços internacionais de atenuação das mudanças climáticas".

Dito documento pleiteia que o Brasil, como país-sede da Conferência Rio+20, se engaje não somente na proteção das florestas como também para evitar atentados contra a vida daqueles que defendem o meio ambiente.

Não se trata de "imperialismo ambiental", mas sim de chamar a atenção do governo brasileiro para o uso do bom senso no que tange à proteção das florestas no País, como uma resposta aos engajamentos internacionais do Brasil. Notadamente pelo fato de sediarmos, em 2012, essa grande reunião das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável.

Fica o recado às autoridades brasileiras e, em especial, a nossos parlamentares, até mesmo em nome de uma economia verde, tema focal da Rio+20.

José Antônio Tietzmann e Silva é advogado, consultor e professor da PUC-Goiás (o autor escreve da reunião mundial de juristas ambientais, em curso na cidade de Limoges, França, de onde sairão propostas para a ONU relativas à Rio+20)

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Debate - Seminário em Brasília

Produtor Luiz Carlos Barreto. O seminário Novas Perspectivas do Cinema e do Audiovisual Brasileiro, realizado paralelamente ao Festival de Brasília na semana passada, reuniu personalidades da cadeia produtiva do cinema nacional. Durante o evento, que terminou na sexta-feira, houve a cobrança pela adoção de uma visão industrial do setor pelo Ministério da Cultura. ( Folhapress) 03 de outubro de 2011

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"Até agora, só temos incentivo para o desenvolvimento de projetos. Não podemos saudar o bom momento atual do cinema sem enxergar que estes são, na verdade, espasmos", afirmou a produtora Mariza Leão.

Num discurso inflamado, o produtor Luiz Carlos Barreto (foto) defendeu a divisão do Ministério da Cultura em duas pastas, uma voltada às indústrias culturais - com foco no mercado- e outra ao desenvolvimento cultural, preocupado com o fomento das linguagens artísticas.

José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, era um dos nomes escalados para participar do debate, mas faltou à mesa para a qual era esperado. Fez, então, uma aparição relâmpago na quinta, quando falou brevemente de sua relação pessoal com o cinema.

A participação de Dirceu vinha sendo criticada nos corredores do evento por sua falta de envolvimento efetivo no setor. No entanto, o coordenador-geral do festival, Nilson Rodrigues, defendeu sua presença por ele ter sido articulador do projeto de criação da Ancine.

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Brasileiro produz abaixo da média mundial

Produtividade baixa tira competitividade e pressiona inflação, afirmam economistas FolhaSP 03/10

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A produtividade do trabalhador brasileiro está abaixo da média mundial e tem evoluído em ritmo bem menor do a que a dos trabalhadores de outros países emergentes.

Um brasileiro produziu no ano passado, em média, um quinto da riqueza gerada por um americano, um terço da de um sul-coreano e cerca da metade da de um argentino, calcula a consultoria americana Conference Board.

De 2005 a 2010, a produtividade do brasileiro cresceu em média 2,1% ao ano, taxa inferior as de China (9,8%), Índia (5,8%) e Rússia (3,2%).

Segundo economistas, isso ajuda a explicar a perda de competitividade do produto brasileiro e o aumento da inflação no país. Na medida em que a remuneração cresce mais rápido que a produtividade, produtos e serviços tendem a ficar mais caros.

Dados do departamento de estatísticas do trabalho dos EUA mostram que os salários na indústria cresceram, de 2002 a 2008, 174% no Brasil e 133% na China.

Mas lá isso foi compensado pelo aumento da produtividade, diz o economista da UNB (Universidade Nacional de Brasília) Jorge Arbache: "O aumento do salário não é uma coisa ruim, mas, se a produtividade não acompanha, vira um problema".

O ranking elaborado neste ano pelo Conference Board com 114 países mostra que o brasileiro está na 68ª posição em produtividade. Segundo o levantamento, o brasileiro produziu em 2010 20,6% da riqueza gerada por um americano, enquanto a média mundial foi de 26,1%.

A consultoria mede a produtividade do trabalhador dividindo o PIB (Produto Interno Bruto) de cada país por sua força de trabalho.

Para o professor do Insper Naercio Menezes, a precariedade do ensino é o principal fator que explica a baixa produtividade do brasileiro. Além disso, ele aponta a falta de inovação das empresas, que investem pouco na criação de novas tecnologias.

Entre os fatores que limitam a inovação, aponta, estão o excesso de burocracia e a precariedade da infraestrutura, que acabam sugando tempo e dinheiro que poderiam ser gastos em pesquisa.

"A inovação permite produzir mais com o mesmo número de trabalhadores. Enquanto a China solicitou 13.337 patentes em 2010, o Brasil pediu apenas 442. Isso mostra como inovamos pouco", observa Menezes.

Segundo o Conference Board, a produtividade do chinês é ainda menor que a do brasileiro. Isso ocorre porque metade dos chineses vive no campo, setor pouco produtivo no país, diz Arbache.

"A produtividade do trabalhador industrial chinês é maior que a do brasileiro. Isso porque nos últimos anos a indústria chinesa migrou de setores pouco produtivos, como têxtil, para a produção de automóveis e chips", disse.

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Feira de audiovisual começa em Cannes

Edição da MipCom tem foco na Rússia e funciona como principal vitrine de conteúdo para canais estrangeiros

Comissão brasileira tem 35 produtoras independentes e também representantes dos canais abertos FolhaSP 03/10

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Para Cannes, no sul da França, tão importante quanto o cinema é a TV. Lá acontece, de hoje até quinta-feira, a maior feira de audiovisual do mundo, a MipCom (mipworld.com/mipcom).

Além da compra e venda de programação, o evento, que neste ano tem como foco a Rússia, terá discussões sobre o futuro da TV e sobre meios de financiamento.

Uma participação aguardada é a do ator Kiefer Sutherland (de "24 Horas"), que vai falar sobre "Touch", nova série que ele estrela na Fox.

O Brasil enviou uma delegação oficial com representantes de 35 produtoras independentes. Eles vão mostrar seus produtos a canais de diversos países.

Tiago Mello, diretor-executivo da produtora Mixer, viajou a Cannes antes da MipCom para participar da MipJunior, feira de produtos audiovisuais voltados para crianças e adolescentes, que aconteceu no final de semana passado.

"Fiz reuniões [no sábado] com cerca de 30 canais internacionais para falar sobre 'Julie & os Fantasmas'", adianta Mello. Entre os países que já viram um trecho da série, estão Portugal, Canadá, Estados Unidos, China e Rússia.

No Brasil, o programa estreia no dia 17 na Band e no dia 20 no Nickelodeon, que também tem contrato para a exibição na América Latina.

CANAIS ABERTOS

A Band também está entre os canais abertos que enviaram profissionais à França.

Além de "Julie e os Fantasmas", tenta negociar as séries "Descolados" e "Anjos do Sexo", as novelas "Água na Boca" e "Paixões Proibidas (esta uma parceira com a portuguesa RTP) e o programa jornalístico "A Liga".

Já a Globo aposta na venda dos folhetins "Passione", "Cama de Gato" e "Ti Ti Ti" e das minisséries "A Cura", "Força-Tarefa", "As Cariocas", "Cinquentinha", "A Diarista" e "Som e Fúria".

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Festival opõe estilos musicais e gerações

ROCK IN RIO Escalação de artistas como Stevie Wonder e Ke$ha em mesma noite causa estranheza na plateia

Melhor acesso e segurança é obrigação, mas buscar público afinado a cada noite é o desafio para 2013 FolhaSP 03/10

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A discussão sobre o quanto teve de rock e de pop nesta edição do festival escondeu uma outra questão importante no Rock in Rio 2011. Mais do que estilos musicais, o evento colocou em oposição gerações diferentes.

Desde o Rock in Rio inicial, em 1985, a diversidade musical foi bandeira clara a ser defendida. Basta lembrar o primeiro line-up, que colocou lado a lado AC/DC, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Erasmo Carlos, James Taylor e Elba Ramalho.

Mais do que ser pop ou rock, bom ou ruim, a escalação de artistas como Stevie Wonder e Ke$ha numa mesma noite traz o confronto de duas maneiras de se consumir música pop.

Ele, um gênio musical recordista do Prêmio Grammy e regravado por centenas de astros pop. Representante de uma época em que a música era quase sacra, espelho de mudanças comportamentais profundas e item de consumo durável, traduzido em preciosas discotecas caseiras.

Ela, uma garota que não tem talento para criar canções que mudem a vida das pessoas e se tornem itens de adoração perene, mas muito esperta para captar tendências e formar uma persona pop interessante.

Faz música para consumo urgente, som com prazo de validade curto. Se não impacta musicalmente, o visual agressivo e a "atitude" de sexo, uísque e rock'n'roll ajuda.

PLATEIA DÍSPAR

Dentro de cada proposta, o mestre e a mocinha podem fazer shows que satisfaçam a seus fãs tão díspares. Foi o que aconteceu na última quarta-feira no Rock in Rio. O problema é reunir esses dois tipos de fãs numa mesma plateia.

Essa diversidade, que está praticamente no código genético do festival, pode ser tão louvável quanto difícil de administrar.

Filas menores para comprar comida, um esquema mais eficiente de ônibus ligando os bairros cariocas à sede do evento e mais policiamento são medidas que já deixaram melhor os últimos dias do festival.

Mas a maneira de escalar as bandas para causar menos estranheza a um ou outro artista é uma pergunta que ainda espera resposta.

UNIFICAÇÃO

Neste Rock in Rio, o dia que mais chegou perto dessa unificação foi o primeiro domingo (25), reconhecido como o "dia do metal".

Apenas o grupo brasileiro Glória foi vaiado, mas nesse caso trata-se de um problema de qualidade, não de adequação ao gênero pesado.

Com o heavy metal fica mais tranquilo fazer essa divisão, por ser um gênero musical com regras claras e até certo ponto rígidas -cabelo comprido, camiseta preta, vocal gritado, guitarristas velozes, volume bem alto.

Quando se tenta colocar juntos Coldplay, Maroon 5 e Jota Quest, o rótulo de pop rock mostra uma elasticidade que permite o cruzamento de fãs bem diferentes na mesma plateia.

Um Rock in Rio 2013 mais seguro e de fácil acesso é obrigação dos organizadores. Mas fazê-lo buscando um público mais afinado a cada noite é ter um tremendo abacaxi nas mãos.

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44º FESTIVAL DE BRASíLIA DO CINEMA BRASILEIRO » A polêmica não sai de cena

Após a 44ª edição do Festival de Brasília, que termina hoje, seguem os debates sobre o futuro da mostra mais tradicional do país. O consenso, por enquanto, ainda parece impossível CorreioBsB 03/10

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Controverso. A palavra serve para resumir o 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que termina hoje. Os debates em torno da nova configuração da mostra mais antiga do país — que, entre outras mudanças, derrubou a preferência por filmes inéditos na competição e entrou na era digital — incluiu realizadores, produtores e críticos durante os sete dias de mostra, contaminando os corredores e as salas de projeção. Apesar disso, a discussão ainda está longe de render uma conclusão unânime sobre as polêmicas da temporada.

A mais incômoda das alterações, sem dúvida, foi a seleção de filmes não inéditos —o festival repetiu títulos exibidos anteriormente no Paulínia Festival de Cinema e Festival de Gramado. A cobertura feita por veículos da imprensa nacional, com isso, se tornou menos atrativa. Não foram poucos os jornalistas que deixaram o Cine Brasília antes das sessões de Meu país e Trabalhar cansa, que estrearam em Paulínia, depois de assistir aos curtas. “Vou morrer defendendo o ineditismo no Festival de Brasília”, afirma a jornalista e pesquisadora Maria do Rosário Caetano, que participa do evento desde 1975.

Rosário acredita que exibir filmes exclusivos é um fator importante para diferenciar Brasília das cerca de 300 mostras cinematográficas que são realizadas no país. “Se as cinco principais não exibem material inédito, vira uma indústria de festivais”, aponta. Rosário também analisa que a seleção de filmes não deve privilegiar apenas novatos, como aconteceu em 2010. “É da fricção entre estreantes e veteranos que se faz um festival forte. Não se pode fazer festival de gueto. Brasília não pode virar uma sucursal de Tiradentes (mostra que destaca filmes de novos cineastas), nem pode caducar”, aponta.

A mesma impressão é corroborada por outros profissionais da área. “A mudança de data dá as condições para atrair filmes que antes migravam para outras mostras. Este sempre foi um festival que privilegiou o vanguardismo na seleção de filmes e agora seleciona títulos manjados. Brasília tem de definir se quer fazer uma mostra de caráter regional, interessante para o Distrito Federal, ou continuar tendo relevância nacional”, analisou Luiz Zanin, presidente da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), que acompanha o Festival de Brasília desde 1991.

Para o diretor da distribuidora Imovision, Jean-Thomas Bernardini, a questão do ineditismo passa a ser necessária apenas quando há uma safra de filmes ruins. O desafio de Brasília, segundo ele, é marcar que identidade será assumida. “Para nós, distribuidores, é importante conhecer a identidade de cada mostra e escolher onde inscrever nossos filmes. Brasília tem de definir uma cara, não importa que cara seja”, afirmou.

A ser exibido nas salas a partir da próxima sexta, o longa Meu país, por exemplo, pode “usufruir do festival como uma plataforma de lançamento”, como admitiu o diretor André Ristum. A estratégia foi qualificada como “incrível”. “É uma exposição sensacional, num festival que tem destaque em todo o Brasil. Para mim foi sensacional poder usar isso como alavanca para o filme. Não acho que seja negativo para um festival que isso aconteça. Ao contrário: se a gente for ver Cannes, por exemplo, tem lançamentos que entram no circuito no dia seguinte nos Estados Unidos e na França. Os melhores festivais do mundo misturam filmes que não passariam a não ser em festivais com títulos de trajetória já definida”, observa o realizador.

Sugestões

No engate da finalização da mostra, uma nova rodada de discussão a respeito do futuro do festival a partir de 2012, ano em que a mostra alcançará a marca de 45 edições, começa. “Não posso definir como será no ano que vem. Eu sou coordenador do festival, mas não sou funcionário da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Posso apenas deixar um conjunto de sugestões para o órgão”, esclarece Nilson Rodrigues. “No meu ponto de vista, antes da questão do ineditismo, o mais importante é pensar na qualidade dos filmes que serão exibidos. Os filmes são o insumo de qualquer mostra de cinema e o destinatário deles é o público”, esclareceu.

Entre as sugestões que Rodrigues planeja encaminhar para a Secretaria de Cultura está a separação da mostra competitiva de longas-metragens em ficções e documentários, o aumento do número de filmes selecionados para a competitiva e um número maior de mostras paralelas. “Se isso acontecer, haverá sim uma programação com horários conflitantes. É preciso que as pessoas se acostumem com isso. Quando um festival se quer grande tem de ser assim. Um exemplo é o Festival do Rio, que sem isso não seria o grande panorama que é atualmente”, comparou o coordenador.

O loteamento da mostra competitiva, que este ano abriu um flanco para curtas de animação, pode ser visto mais como problema do que como solução. “Brasília nunca teve preconceitos com gêneros e formatos. Já premiou documentários e animações. Por que separá-los em competições específicas? Por que simplesmente não aumentar o número de filmes na disputa?”, questiona Maria do Rosário. “Criar uma competição para documentários seria um retrocesso”, avalia.

Vitrine brasiliense

A mudança da principal vitrine do cinema brasiliense, a Mostra Brasília, que saiu do Cine Brasília para o Museu da República, foi uma das situações que gerou mais barulho dentro da comunidade cinematográfica local. A mostra ganhou um novo horário com exibições todos os dias, à tarde, para que todos os 63 filmes (que não passaram por qualquer critério de seleção) fossem exibidos. “No momento em que a revolução digital promove um novo olhar para a identidade regional, o Festival de Brasília deixou a mostra do cinema brasiliense num local isolado, de difícil acesso e pouco atrativo”, analisou o cineasta de Brasília Geraldo Moraes.

“As sessões que aconteciam entre as 16h e as 19h no Cine Brasília atraíam jornalistas e realizadores de outros estados. Isso facilitava o intercâmbio profissional”, recorda o diretor de fotografia André Carvalheira. “Esta é outra sugestão que iremos encaminhar para a secretaria. Do jeito que está (sem pré-seleção de filmes), a Mostra Brasília não deve ser exibida no Cine Brasília. É preciso que uma seleção seja feita. Aí sim, com a mostra enxuta e qualificada, que deve ocupar o espaço nobre do Festival”, respondeu Rodrigues.

Defendendo o curta-metragem Exu iluminado, na competição da Mostra Brasília, o tarimbado diretor André Luiz Oliveira se disse satisfeito com as mudanças. “Acho o Museu da República perfeito. A cobrança dos jovens realizadores pelo deslocamento do templo que é o Cine Brasília é justa, por serem jovens. Para mim, não procede: é um fetiche com relação ao Cine Brasília. O espaço do museu pode vir a ser exatamente um marco zero. A revolta é inócua, típica da juventude. Acho fundamental um espaço consagrado para o primeiro filme. Imagina a frustração de um cara fazer seu longa e depois não ter onde passar? Lá tem lugar, e achei muito bacana”, avalia. André Luiz achou a juventude “muito conservadora”. “Lá no museu se viu coisas absolutamente ridículas, mas é bom passarem. O cara tem que experimentar e, ano que vem, chega com um filme melhor. O espaço das pessoas sentadas no chão, no museus, era mais importante do que o do Cine Brasília. Lá pode vir a ser um templo do cinema jovem”, comemorou.

Outra queixa de cineastas e entidades de cinema foi uma suposta redução de diálogo com a Secretaria de Cultura. A impressão de desgaste foi notada por Maria do Rosário. “É preciso reconciliar o cinema brasiliense com o festival. A Mostra Brasília tem que voltar a ser exibida às 17h, no Cine Brasília”, opina. Sobre isso, Rodrigues pondera que encontros precedentes ao festival foram realizados. “O secretário Hamilton Pereira recebeu representantes do setor acadêmico e da produção cinematográfica. Eles efetivaram uma série de sugestões. O secretário tem sido democrático e discutido sempre. Agora, o diálogo tem de ser de mão dupla. Os produtores e realizadores devem entender isso senão não sairemos do microcorporativismo. O Festival de Brasília é referência para o Brasil inteiro e não só para o Distrito Federal”, afirmou.

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ELEIÇÕES / » Dinheiro de associações na mira do TSE

Ministros vão decidir se entidades de classe podem continuar fazendo contribuições financeiras a partidos. A falta de atividade econômica nesses grupos leva juízes a questionarem se eles facilitam o encobrimento de doadores CorreioBsB 03/10

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A decisão tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral valerá para as eleições do próximo ano

Para driblar os limites de doação impostos pela legislação eleitoral, setores econômicos organizados criaram, nos últimos cinco anos, associações de classe com o objetivo de despejar milhões de reais nas contas de partidos políticos e candidatos. Até o fim deste ano, os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vão decidir se essas entidades podem fazer doações ou devem ser equiparadas aos sindicatos, impedidos de fazer esse tipo de contribuição. Um dos casos que está sob análise é o de uma associação que congrega fabricantes de armas e munições. Em 2010, a associação doou R$ 1,7 milhão para candidatos de 11 partidos. Isso significa que, se fosse uma empresa, teria de ter faturado R$ 85 milhões no ano passado. Explica-se: a lei eleitoral permite que pessoas jurídicas doem no máximo 2% do seu faturamento bruto no ano anterior ao da eleição. No caso de pessoas físicas, o teto de doações sobe para 10% da renda declarada.

Os tribunais eleitorais não criaram uma jurisprudência nesses casos, pois há entendimentos diversos nos estados. Alguns plenários aceitam as doações dessas entidades argumentando que, ao contrário dos sindicatos, eles não têm filiação compulsória. Mas há juízes e procuradores da República que discordam. O argumento daqueles que combatem os repasses feitos por essas associações é o de que elas criam uma nova modalidade de doações ocultas, ou seja, as empresas alimentam os cofres das entidades, que repassam para os candidatos. Dessa forma, quem faz a doação não aparece nos registros públicos.

Outro ponto polêmico diz respeito à receita dessas entidades, já que elas não têm atividade econômica específica. Por esse motivo, fica impossível calcular o teto de doações. Em 2006, o TSE aprovou as contas do comitê financeiro do PT, que havia recebido uma doação do instituto das empresas de siderurgia. O relator do processo, ministro Gerardo Grossi, entendeu que a vedação se dirigia apenas a entidades de classe ou sindicais e que o instituto em questão não estaria enquadrado.

Preocupada com o aumento das doações dessas entidades, a Procuradoria Eleitoral vai questionar a influência dessas associações nas eleições. O posicionamento do TSE vai regular as eleições de 2012. Partidos e empresas acompanham de perto esse debate.

Cassação

O caso mais famoso foi o da Associação Imobiliária Brasileira (AIB), que doou R$ 6,1 milhões, na eleição de 2008, para financiar campanhas de candidatos do DEM, do PSDB, do PT, do PV e do PSC. O Ministério Público de São Paulo acusou a entidade de funcionar como entidade de fachada para ocultar doações de sindicatos do mercado imobiliário. Entre os beneficiados pelas doações estava o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. A Justiça Eleitoral de primeira instância chegou a cassar o mandato de Kassab e de 13 vereadores paulistanos. A decisão, no entanto, foi anulada pela segunda instância.

OAB aciona STF

Os problemas gerados pelo favorecimento do poder econômico em campanhas eleitorais por meio de doações privadas levaram a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a entrar com ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo o banimento da legislação eleitoral de dispositivos que permitem doações por parte de empresas (pessoas jurídicas) às campanhas políticas. O relator da ação no Supremo é o ministro Luiz Fux. De acordo com o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, a medida colocaria um ponto final “à dinâmica do processo eleitoral que torna a política extremamente dependente do poder econômico, o que é nefasto para o funcionamento da democracia”.

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IMPRENSA » Emoção e saudade em reunião de jornalistas CorreioBsB 03/10

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A velha guarda do jornalismo candango relembrou momentos marcantes da época em que exercia a profissão na redação do Correio Braziliense, durante encontro realizado no Clube da Imprensa. O evento contou com a presença de alguns dos primeiros jornalistas da década de 1960 a trabalhar no jornal, além de reunir um grupo de 20 ex-repórteres, editores, fotógrafos e artistas gráficos na tarde de sábado. Quem participou teve a chance de assistir à exibição de um curta sobre a fundação do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal.

Mentor da confraternização, o cearense Luís Joca havia organizado outros dois encontros anteriores, em 1998 e em 2008. O jornalista trabalhou nos cadernos de Cidades e de Política do Correio por seis anos, entre 1978 e 1984. Saudoso, ele admitiu sentir falta da reportagem. “Fico lembrando dos velhos amigos e do jornalismo que se fazia naqueles tempos. Éramos mais unidos do que os profissionais de hoje”, avaliou.

Entre os que compareceram ao evento estava o potiguar Tarcísio Cavalcanti, que trabalhou como repórter, chefe de reportagem e editor do caderno de Cidades, entre 1973 e 1978. Ele voltou a morar em Natal (RN), mas fez questão de matar a saudade dos colegas e amigos e retornou a Brasília para participar do encontro. “É importante para mim estar aqui, porque eu quero muito bem aos meus companheiros. Temos uma relação muito boa e sinto falta da união que tínhamos na época”, afirmou.

Ao lado de Cavalcanti, estava o vice-presidente Institucional do Correio, o cearense Ari Cunha, que marcou presença e relembrou episódios notáveis. “Eu lembro que íamos até a Cidade Livre para ver a chegada dos candangos para noticiar. Acompanhei isso diversas vezes”, contou. Ele assina a coluna Visto, Lido e Ouvido desde 1960 e (re)publica trechos de episódios que fizeram parte da história de Brasília.

As conversas foram inúmeras. Muitos não se viam há anos. As marcas da experiência presentes no corpo de cada um e o avanço da idade fizeram com que alguns demorassem a reconhecer os amigos do passado. “Racsow? Ah, sim, eu lembro de você na época em que eras ainda um menino. Você está mudado”, recordou Ari Cunha, ao ser abraçado pelo chargista Francisco Oscar Morais de Souza, o Racsow. “Acho muito legal esse reencontro, porque antes éramos garotos. Agora, envelhecemos”, concluiu o chargista.

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O CNJ faz de cada cidadão um fiscal. MARCELO NOBRE, BRUNO DANTAS, WELLINGTON SARAIVA, GILBERTO VALENTE MARTINS, JORGE HÉLIO CHAVES E JEFFERSON KRAVCHYCHYN. Uma das principais razões para a criação do conselho foi o deficit de atuação das corregedorias dos tribunais locais; é preciso fortalecê-las FSP 02/09

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Nos 23 anos da jovem, porém sólida democracia brasileira, poucas notícias foram recebidas com tanto entusiasmo pela população como a criação, em 2004, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituição que recebeu dupla missão: democratizar o Poder Judiciário por meio de políticas de gestão, modernização e transparência, e fiscalizar os deveres funcionais dos juízes, punindo aqueles que se desviassem da pauta ética e das obrigações previstas na Constituição e nas leis.

Dificilmente haverá no Brasil um cidadão informado que não saiba o que é e o que faz o CNJ. Colecionamos mais acertos do que erros: proibimos o nepotismo, regulamentamos o teto salarial, demos transparência aos gastos dos tribunais, divulgamos os números da estrutura do Judiciário, investimos em informatização dos processos, limitamos obras e contratações desnecessárias, denunciamos e combatemos o descalabro do sistema prisional, fixamos metas de produtividade e cortamos na carne, suspendendo e banindo juízes ímprobos.

Nesse contexto, a Corregedoria do CNJ vem desempenhando papel crucial no aperfeiçoamento da magistratura brasileira, o que estimula a enorme maioria de juízes honestos e trabalhadores. É inegável o protagonismo do CNJ na construção da credibilidade da Justiça.

A previsibilidade, a celeridade e a intolerância com a corrupção são fundamentais na busca da segurança jurídica como estratégia do Estado para firmar-se no cenário internacional. Aspectos como tempo de duração do processo, grau de respeitabilidade dos contratos, percepção da corrupção e previsibilidade da decisão judicial entram na análise dos investidores internacionais.

O CNJ está atento e atuante a essa preocupação. A maior contribuição do CNJ, contudo, foi dar à população sedenta de justiça a esperança de ver o país se afastar gradualmente de um passado de privilégios, impunidade e corporativismo. O Brasil de hoje, estimulado pelo ambiente democrático e pela imprensa livre, já não suporta desmandos e exige fiscalização permanente dos Poderes e das instituições.

Mais do que fiscalizar o Judiciário, o CNJ tem criado as condições e fornecido os instrumentos para que a sociedade civil também cumpra esse papel. Temos estimulado o surgimento de uma cultura de zelo pela coisa pública, que permitirá a cada brasileiro ser fiscal.

É justamente nesse contexto que se encaixa o atual debate sobre a competência concorrente ou subsidiária do CNJ para processar e punir desvios funcionais.

Para além da interpretação que se possa dar ao texto constitucional acerca da autoridade do CNJ em matéria disciplinar -o STF o fará da maneira sábia e equilibrada que o caracteriza-, há uma finalidade a informar o microssistema de controle administrativo do Judiciário introduzido pela emenda constitucional 45, que criou o CNJ: o direito atribuído ao cidadão de denunciar e obter julgamento célere e efetivo de eventuais desvios funcionais.

É notório que uma das principais razões para a criação do CNJ foi o histórico deficit de atuação das corregedorias dos tribunais. Elas, porém, não devem ser extintas, mas fortalecidas. Não se iniciariam as mudanças desejadas no Poder Judiciário sem as firmes e necessárias decisões tomadas pelo CNJ. O único "dono" do CNJ é a sociedade brasileira. As pessoas passam!

Nesse sentido, parece-nos que a questão em debate está fora de foco. Não se trata propriamente de recusar ou afirmar a competência originária do CNJ em matéria disciplinar, pois ela é inegável a nosso ver, embora respeitemos qualquer decisão do STF. O que se deve discutir são formas procedimentais para que o funcionamento do conselho represente também o fortalecimento das corregedorias dos tribunais.

MARCELO NOBRE, da Câmara dos Deputados, BRUNO DANTAS, do Senado Federal, WELLINGTON SARAIVA, do Ministério Público Federal, GILBERTO VALENTE MARTINS, do Ministério Público Estadual, JORGE HÉLIO CHAVES , da OAB, e JEFFERSON KRAVCHYCHYN, da OAB, são membros do CNJ.

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Cursos profissionalizam sucessão familiar. Por até R$ 6.700, consultorias e instituições de ensino prometem formar herdeiros competitivos para o mercado. Pesquisa da PwC aponta que 45% das empresas familiares no Brasil não têm plano de sucessão para cargos executivos FSP 02/09

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Teotônio Brandão Vilela Neto, 23, percorre todo mês 2.382 km de Maceió (AL) a Ribeirão Preto (SP) para frequentar as aulas de um curso que promete formar sucessores de empresas familiares.

Neto do ex-senador Teotônio Vilela e sobrinho do atual governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), ele procurou a especialização após herdar a fazenda de gado de corte da família.

"Já consegui aumentar a criação de gado de 600 para 900 cabeças, tudo isso sem aumentar a área de produção e apenas usando as técnicas que estou aprendendo no curso de sucessão", disse.

Pesquisa da PricewaterHouseCoopers (PwC) aponta que 57% das empresas no Brasil devem passar para a mão da próxima geração familiar, mas 45% delas ainda não têm um plano de sucessão para altos cargos.

De olho nesse mercado, inclusive, tem sido cada vez mais comum instituições e consultorias montarem cursos de formação de sucessores nas áreas agropecuária, comercial e industrial.

O curso frequentado por Vilela Neto, por exemplo, é inédito na área de gado de corte. Oferecido pela Coan Consultoria, ele tem 200 horas de aula (práticas e teóricas) e custa R$ 6.700.

No curso de formação de sucessores da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), o custo chega a R$ 2.000 por aluno. Os associados têm subvenção de 50% do valor dos cinco módulos.

Já na FGV (Fundação Getulio Vargas), o curso de gestão de empresa familiar oferecido em São Paulo tem 60 horas de aula e custa R$ 3.600 à vista ou R$ 3.800 parcelado em cinco vezes.

"Com tantas mudanças, investidores estrangeiros, 'tradings', as empresas familiares precisam se especializar para manter-se competitivas. Por isso, cada vez mais, os sucessores têm que se profissionalizar", disse a sócia da PwC, Ana Malvestio.

A administradora Renata Stein, 45, assumiu a fazenda de gado da família após a morte do pai. Antes, porém, se inscreveu no curso de formação e fechou a escola de gastronomia que mantinha em Goiânia (GO).

Para o presidente da Famasul, Eduardo Riedel, os cursos de formação de sucessores dão embasamento para o herdeiro não receber apenas o patrimônio, mas o negócio.

"Antes, a sucessão era patrimonial e agora precisa ser a sucessão de um negócio. As empresas familiares são maioria no Brasil e não têm que ser diferente. Tem que haver profissionalização."

"Sucesso passado não garante sucesso futuro. Por isso os cursos de formação de sucessores estão crescendo", disse Rogério Coan, diretor da Coan Consultoria.

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Comércio eletrônico é prática ainda pouco regulada FSP 02/09

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A China tornou-se um "trader" tão dinâmico e astuto que, em muitas ocasiões, surpreende seus parceiros comerciais com práticas informais de negócio.

O comércio eletrônico está nesse grupo, de práticas ainda pouco reguladas e muito maleáveis e manipuladas por seus usuários, gerando uma euforia no consumidor final e um sinal de alerta nas empresas concorrentes diretas ou nas importadoras oficiais.

Os ganhos aparentes ao consumidor final são sempre relacionados com o custo-benefício e o acesso.

Ao consumidor interessa a possibilidade de comprar uma maior variedade de produtos a um baixo preço.

No momento da compra ele não está muito preocupado nem com a legalidade do ato nem com o impacto que isso tem nas empresas do setor ou com a qualidade real do produto adquirido.

O consumidor quer produtos de última tecnologia, muitas vezes não produzidos pela indústria local.

Os contras dessas compras on-line estão no fato de elas entrarem com mais vantagens do que aquelas presentes na concorrência local, pagadora de tributos.

Se para os entes responsáveis é difícil fiscalizar, para o consumidor final fica a tentação de consumir algo muito mais barato.

É apenas com um amadurecimento da base de consumidores que teremos menos consumo de produtos piratas ou ilegais.

Por outro lado, sendo a China o nosso maior importador e o nosso segundo maior fornecedor de produtos, existem muitos bons negócios com a China, e não apenas "negócios da China".

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PREFEITURAS SUSPEITAS. Mais da metade dos prefeitos mineiros é investigada Revista Consultor Jurídico, 2 de outubro de 2011

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Dos 853 prefeitos de Minas Gerais, 443 são investigados em pelo menos um processo pela Procuradoria de Justiça de Combate aos Crimes Cometidos por Agentes Políticos Municipais, do Ministério Público do estado. O órgão é responsável por investigar tanto denúncias de crimes comuns - como acidentes de trânsito, homicídios e lesão corporal - quanto os atos que lesam a administração pública, como fraudes em licitações, desvios de verba e contratações irregulares de servidores. A reportagem é do jornal O Tempo.

De acordo com o Ministério Público de Minas, os crimes mais comuns cometidos por prefeitos são fraude em licitação, desvio de verba, crime ambiental e contratação irregular de servidores.

O MP conta que, atualmente, 692 denúncias contra prefeitos mineiros estão em fase inicial de investigação na Procuradoria, conhecida popularmente como Procuradoria de Crimes de Prefeitos. Destes, 79 foram originados de inquéritos policiais. O órgão contabiliza ainda outras 239 investigações que deram origem a ações penais na Justiça. Para o procurador Elias Paulo Cordeiro, a corrupção não está aumentando nem diminuindo. "É a mesma coisa, mas tem aparecido mais", afirma.

Apesar de as investigações correrem sob sigilo, algumas se tornaram públicas. É o caso do prefeito de Lagoa da Prata, no Centro-Oeste mineiro, Antônio Divino de Miranda (PPS). No fim do ano passado, o Tribunal de Justiça de Minas recebeu denúncia da Procuradoria contra o político por irregularidades em processo licitatório. Antônio Divino teria contratado uma empresa de consultoria sem concorrência pública em troca de propina. O esquema também envolveria outras prefeituras e foi revelado pela operação Pasárgada da Polícia Federal. Ao todo, os contratos custaram R$ 536 mil aos cofres de Lagoa da Prata.

Também denunciado por fraude em licitação, o prefeito de Pirapora, no Norte de Minas, Warmillon Fonseca Braga (DEM), ganhou as páginas dos jornais ao ser investigado por supostamente beneficiar, com verbas públicas, uma rádio de propriedade de sua irmã. Mas, segundo o MP, o veículo de comunicação pertence a Warmillon. De acordo com as investigações da Procuradoria de Crimes de Prefeitos, ele teria fraudado duas licitações para destinar à rádio recursos da ordem de R$ 1,4 milhão.

Outra investigação que começou no MP e chegou à Justiça pesa sobre o prefeito de Matias Cardoso, região Norte, João Cordoval de Barros (PT). João Pescador, como é mais conhecido, é acusado de contratar irregularmente 196 servidores em detrimento de candidatos aprovados em dois concursos públicos. Nos três casos, os suspeitos alegam inocência enquanto ainda preparam suas defesas.

De acordo com o procurador de Justiça Elias Cordeiro, parte das denúncias é feita por inimigos políticos dos prefeitos. Cordeiro explica que, nesses casos, os denunciantes costumam apresentar informações desconexas tentando encontrar uma forma de processar os rivais. "Isso aumenta muito a nossa demanda. Temos que fazer um trabalho de triagem muito grande. Por isso, ao mesmo tempo em que propomos ações, arquivamos muito", conta.

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TCU aponta alta de 23% nos contratos irregulares. Transporte reúne 23 obras com suspeita de irregularidade grave. O Estado de S. Paulo - 03/10/2011

Das obras com indícios de problemas, 15 são do Dnit e 8 são da Valec, órgãos que acabaram de ser denunciados por corrupção

Na área de transportes, que representa um dos maiores gargalos do País, há 23 obras com indícios de irregularidades graves. Desse total, 15 são do Dnit e 8, da Valec (estatal que desenvolve projetos ferroviários). As duas estruturas foram bombardeadas em meados do ano por denúncias de corrupção que derrubaram seus comandantes: Luiz Antônio Pagot (Dnit) e José Francisco das Neves (Valec).

Na estatal, a construção das ferrovias Norte-Sul e Integração Oeste-Leste (Fiol) estão no radar do TCU. No início do mês, quatro lotes da Fiol foram paralisados entre Caetité e Barreiras, na Bahia. Um dos problemas detectados foi a "deficiência e desatualização do projeto básico" do empreendimento e a ausência de critérios objetivos para escolher as propostas de empresas que participaram da licitação. Junta-se a isso o pagamento adiantado por 230 mil grampos elásticos no valor de R$ 2 milhões.

Segundo a Valec, todas as medidas estão sendo tomadas para liberar as obras o mais rápido possível. O orçamento inicial da Fiol prevê investimentos de R$ 661 milhões na primeira fase. De acordo com o relatório do PAC, o orçamento para os próximos anos está sendo revisto. No Dnit, a ordem também é acelerar as explicações para retirar as obras da lista de irregularidades graves até novembro. A partir daí, o TCU entrega o relatório ao Congresso Nacional para retenção (ou não) das verbas do orçamento.

"Há uma ação preventiva em relação a algumas obras. Mas, se não estiver calcada em uma base sólida, apenas em cima de suposições, poderá provocar muito desgaste e questionamentos", afirma o advogado Fernando Henrique Cunha, do escritório FH Cunha, que percebeu uma atuação mais ativa do TCU nos últimos meses.

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No ensino técnico, expansão é desafio. Na expansão do ensino técnico, maior desafio é manter qualidade. Autor(es): agência o globo:Alessandra Duarte, Carolina Benevides e Odilon Rios. O Globo - 03/10/2011

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Até 2014, rede federal terá 562 unidades; especialistas alertam para formação dos professores

MACEIÓ e RIO. Em expansão no Brasil depois de décadas de atraso, o ensino profissionalizante vive entre extremos: tem desde centros de excelência, disputados em seus estados, até problemas tão básicos quanto falta de professores e laboratórios.

Em 93 anos, de 1909 a 2002, o país construiu apenas 140 escolas profissionalizantes. O projeto de expansão começou, ainda timidamente, segundo especialistas, no governo Lula, quando 214 unidades foram inauguradas. Agora, na gestão de Dilma Rousseff, a meta é chegar a 2014 com 562 unidades, apenas da rede federal, espalhadas pelo país, além dos 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Esse aumento na oferta de vagas permitirá, segundo a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do Ministério da Educação (MEC), matricular 600 mil alunos na rede técnica e profissionalizante.

A expansão faz parte do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), criado para democratizar a oferta dos cursos e ampliar também a oferta nas redes públicas - estaduais e municipais - e no Sistema S (Sesi, Senai, Sesc e Senac). Segundo Francisco Cordão, educador há mais de 40 anos e presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), "o país precisa urgentemente dessa mão de obra":

- A educação técnica no Brasil nunca foi valorizada. Mas, hoje, o ensino médio não atende à aspiração de grande parte da juventude, que não está voltada para a vida universitária. No Brasil, o ensino médio está cada vez mais ligado ao vestibular, ao Enem, e isso não atinge 20% da população que frequenta o curso. Existe uma grande parte que quer ser preparada para o mercado de trabalho.

País tem atraso de 50

anos, diz especialista

No entanto, de acordo com Cordão, não basta expandir a oferta oferecendo mais cursos, é preciso criar escolas com laboratórios específicos e fazer com que os estudantes dominem "conhecimentos e valores culturais de maneira integrada":

- O CNE define agora as diretrizes para a formar a educação profissionalizante. O professor, por exemplo, não basta que seja licenciado, tem que dominar a prática. Esse é um grande desafio, e hoje não temos número suficiente de professores, não nos preparamos. Calculo que se dobrarmos o número, ainda assim será insuficiente.

- O país descuidou do ensino técnico, e hoje temos pelo menos 50 anos de atraso. Essa expansão acelerada da escola técnica e tecnológica de ensino médio, de pós-médio e universitário é importante. O país não pode mais ficar esperando as condições ideais, tem que correr atrás da formação docente, que ainda recebe atenção aquém do que deveria. E educação, acredito, se resolve com formação docente qualificada - diz Fernando Becker, professor da Faculdade de Educação da UFRS, lembrando que, para que a expansão dê certo, é preciso ainda boa infraestrutura: - As escolas devem ter laboratórios e menos aulas expositivas, com alunos decorando teoria. Devem fazer com que os estudantes possam participar de oficinas, de projetos, devem habilitar para uma profissão.

Aprovado em 2009 para o curso de Farmácia do campus Realengo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Gustavo Simão já teve que ir para a unidade de Nilópolis para ter aula. Isso porque, em Realengo, não tinha sala suficiente. Segundo o MEC, a construção de uma escola técnica custa R$7,2 milhões.

- Às vezes, a aula tem que ser no campus do Maracanã. Além disso, não há laboratório de Farmácia em funcionamento atualmente - conta Simão.

Mas falta de laboratório não é privilégio de quem cursa Farmácia. O problema, segundo as alunas Nathalia Oliveira e Élida Miranda, se repete no curso de Fisioterapia.

- Todos os laboratórios estão sendo usados como sala de aula, pois desde 2009 nenhuma turma se formou. Só entram alunos - diz Nathalia. - A gente já teve que ter aula do lado de fora, no sol, e no refeitório. A biblioteca também é improvisada numa sala de aula.

Além da falta de laboratórios, os alunos enfrentaram a infraestrutura precária da unidade.

- Quando entrei, em 2009, as salas não tinham cortina, persiana, ventilador ou aparelho de ar-condicionado. O teto é de telhas, e o que mais tinha era aluno passando mal por conta do calor - lembra Eric Borges, aluno de Farmácia.

Na unidade, a sala de informática também serve como sala de aula. Mas o pior, segundo os alunos, é a aula inaugural. Para todos os cursos, ela acontece no pátio da Igreja Nossa Senhora da Conceição, próxima ao campus. O auditório, no qual as aulas inaugurais deveriam ocorrer, ainda não foi construído.

Fincado na periferia de Maceió, o centro profissionalizante Aurélio Buarque de Holanda Ferreira foi construído para funcionar no conjunto Medeiros Neto. No entanto, a unidade, com capacidade para receber dois mil alunos em cursos como o técnico de informática, está abandonada há dois anos, por problemas burocráticos.

O prédio já foi arrombado várias vezes, e os ladrões levaram parte dos computadores.

- Esse lugar é um perigo. Mesmo que ele seja inaugurado, quem vai estudar aí à noite? O pessoal tem medo - diz Pedro dos Santos, de 19 anos, que gostaria de ter aulas de informática.

Segundo a assessoria de imprensa, o secretário de Educação e Esportes, Adriano Soares, nega o abandono e diz que o centro deve ser inaugurado ainda este mês. Aberto, ele será o segundo centro profissionalizante de Alagoas, mantido pelo governo estadual. Hoje, o único que funciona fica em Coruripe, no litoral Sul do estado.

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