sábado, 8 de outubro de 2011

Tecnologia

Carro elétrico pode ser oportunidade para criação de montadora brasileira, diz professor

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O desenvolvimento do carro elétrico pode ser a oportunidade ideal para o Brasil criar uma empresa de fabricação de veículos, segundo o professor de engenharia de produção da Universidade de São Paulo (USP) Roberto Marx. O especialista ressalta, entretanto, que é necessária uma articulação para unir pesquisadores e investidores para consolidar um projeto como esse.

“O que está faltando é uma articulação entre empresas fabricantes de motores elétricos, autopeças, baterias, que eventualmente tenham esse interesse. Existe uma série de inciativas pouco articuladas”, destacou o especialista, que também coordena o Laboratório de Estratégias para a Indústria da Mobilidade (Mobilab) da USP.

Os veículos elétricos poderiam, na avaliação de Marx, ser incorporados à matriz brasileira de transportes de forma complementar aos movidos a etanol e bicombustíveis. “É um produto para um nicho, não vai substituir totalmente as demais formas de combustível. Mas ele pode ser interessante para algumas utilidades”, disse em entrevista à Agência Brasil.

O uso desse tipo de carro estaria associado, em um dos cenários traçados pelo professor, aos transportes públicos. “Um carro elétrico de baixo custo [deve ser usado] como forma de locomoção do indivíduo até o ponto em que ele possa usar algum transporte coletivo.”

O fato de o Brasil não deter a tecnologia para a fabricação dos carros não é, para Marx, um obstáculo intransponível. “A princípio, o Brasil não tem essa tecnologia, mas isso não é um impedimento”. Ele acredita que esse problema poderia ser solucionado, caso houvesse a disposição do governo em incentivar esse modelo.

Nesse caso, o país estaria apto, de acordo com ele, a “desenhar um carro elétrico mais barato, que tenha uma penetração e apelo para um certo tipo de mercado. E que seja desenvolvido por um consórcio de empresas interessadas em vender esse carro aqui”.

A viabilidade da inclusão dos carros elétricos na matriz brasileira de transportes está em estudo pelo governo. De acordo com o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, é possível que o país tenha um projeto piloto para o desenvolvimento desse tipo de veículo.

Especialista na área de energia, o físico da USP, José Goldemberg ressalta que a eletricidade traria benefícios ambientais porque, com a substituição, derivados do petróleo deixariam de ser queimados, como gasolina e óleo diesel.

No entanto, Goldemberg acredita que o Brasil pode conseguir melhores resultados investindo no etanol, combustível para qual a tecnologia de uso já está desenvolvida. “Com os automóveis elétricos você ainda tem um problemas tecnológico que são as baterias”, destacou.

A autonomia das baterias dos carros elétricos apresentados até o momento não excedem 200 quilômetros, o que é, na avaliação dele, é um grande inconveniente. “Você anda 200 quilômetros, o carro para. Aí você precisa de uma estação para recarregar as baterias e leva duas horas para recarregar. Ninguém vai querer um automóvel desse jeito.” AGENCIA BRASIL 08/10

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afasta de mim esse CALE-SE

Desacordo entre editora e Chico Buarque deixa livro de entrevistas do cantor na gaveta Folha 08.10

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Ia ser bonita a festa, pá. Mas não há acordo entre a voz do dono e o dono da voz, e por ora o destino de um livro de entrevistas com Chico Buarque é a gaveta.

Em maio de 2010, o editor da Azougue, Sérgio Cohn, propôs a Chico e Eric Nepomuceno um volume da coleção Encontros.

A série reúne livros de conversas com artistas e intelectuais. Lá estão o escritor Jorge Luis Borges e parceiros de Chico, como Vinicius de Moraes e Gilberto Gil.

Após a assinatura dos contratos com a Marola, escritório que cuida dos interesses de Chico, Nepomuceno, tijolo por tijolo, fez a pesquisa e mostrou ao amigo. Foi surpreendido pela negativa: Chico não queria mais que o livro saísse. Nepomuceno comunicou a decisão ao editor.

Qual o quê. De posse dos contratos, Cohn prosseguiu o trabalho. Embora não fosse obrigado, pelo acordo firmado, a submeter as provas finais ao entrevistado, enviou o material à Marola em setembro deste ano, pedindo o OK.

Márcia Leitão, secretária de Chico, afirmou que o contrato autorizava a impressão do livro: "Se tem o contrato assinado é tocar para frente". Em outra ocasião, escreveu: "Ele está se preparando para show e está muito ocupado. Libera para a gráfica".

O editor deu a Nepomuceno a "excelente notícia". O organizador disse achar "estranho" e falou em "mal-entendido". Ao final, foi taxativo: Chico "efetivamente não quer o livro. Portanto, não temos livro. Lamento".

Então veio o que, no entender do editor, é um "veto dissimulado": "Solicito que seja mantida a vontade do Chico e que o livro não seja editado", escreveu Márcia.

Para seu assessor de imprensa, Chico "não está vetando nada". "Se quiser, ele [Cohn] que publique", afirmou à Folha. Cohn diz que "o que a editora tem em mãos é o veto. Chico que mande explicitamente a autorização".

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07/10/2011 - 07h00

Justiça manda escola matricular no ensino fundamental aluno abaixo da idade "autorizada". Uol Educação 08.10

Uma decisão da Vara da Infância e Juventude de São Paulo obrigou uma escola particular da capital paulista a matricular no ensino fundamental uma criança que, pelas recomendações do CNE (Conselho Nacional de Educação, um órgão vinculado ao ministério), não teria a idade correta para frequentar a primeira série.

De acordo com uma resolução do CNE, somente as crianças que completarem seis anos antes do dia 31 de março podem ser matriculadas no primeiro nível do fundamental. A decisão, que, como toda resolução do órgão, não tem força de lei, serviria para uniformizar a data entre os Estados. No entanto, eles têm liberdade para alterá-la: em São Paulo, neste ano, esse prazo foi estendido até o dia 30 de junho.

As crianças, então, que não completam seis anos até 31 de março de 2012 (ou 30 de junho, no caso de SP) e concluem o ensino infantil agora em 2011 caem em uma espécie de “limbo”: impedidas de entrarem no fundamental, podem ser obrigadas a fazer uma série “intermediária” ou, simplesmente, perderem um ano de estudos.

Quando a resolução nacional foi publicada abriu-se uma exceção para 2010. Meses depois, o conselho abriu outra para 2011. No entanto, não houve decisão relativa a 2012.

São Paulo

No caso do mandado de segurança, impetrado pela advogada Claudia Hakim e deferido no dia 23 de setembro, o Colégio Beit Yaacov, de São Paulo, foi obrigado a matricular a criança (e os colegas que estejam em situação semelhante) no primeiro ano do ensino fundamental. Procurada pelo UOL Educação, a instituição afirmou que a medida está sendo analisada pelo departamento jurídico. No entanto, diz a escola, a decisão sobre em qual turma será feita a matrícula é “pedagógica”.

A liminar, segundo o presidente da Comissão de Direitos Infanto-Juvenis da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo), Ricardo Cabezón, não pode ser usada como jurisprudência, mas abre um “precedente”. Ou seja: caso outros pais estejam enfrentando o mesmo problema, devem entrar com pedidos na Justiça.

"Bom senso"

A secretária de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação), Maria do Pilar Lacerda, afirma que os casos da matrícula para 2012 são isolados, mas pede que as escolas tenham “bom senso”.

“Primeiro, a gente tem que ter a clareza de que criança não é mercadoria. Não é cliente, é aluna. É usuária de direito constitucional. É necessário bom senso. Se as crianças frequentaram dois anos da escola, se a escola consegue entender que o processo de amadurecimento cognitivo está bem resolvido, ela usou o bom senso”, afirma.

Ela diz, no entanto, que especialistas não recomendam a matrícula da criança em uma série com idades muito diferentes. “Às vezes, a criança sabe ler, mas não sabe amarrar o sapato. Colocam-na com crianças maiores e ela pode se tornar alvo de brincadeiras porque não tem desenvolvimento motor.” UOL notícias 07/10

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Assessor diz que Chico achou livro 'deprimente'. Cinco das dez entrevistas da edição são da época do regime militar

Mario Canivello nega veto de compositor, que teria julgado obra como "muito ruim" e "desnecessária" Folha 08.10

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Questionado sobre o desacordo entre a editora Azougue e Chico Buarque quanto à publicação de livro com suas entrevistas, o assessor de imprensa de Chico, Mario Canivello, disse que o compositor "não está vetando nada".

"Se Chico não tivesse de fato autorizado a publicação, teria sido apenas quebra de contrato. Querer forçar a barra para parecer veto é, no mínimo, má-fé." Para o assessor de imprensa, ao falar em veto, o editor da Azougue busca apenas publicidade.

Organizador do livro e amigo de Chico há "mais de quatro décadas", Nepomuceno diz o caso não é de veto, mas de uma "desistência".

"Ou esse livro é feito com a concordância dos dois envolvidos, ou é feito de uma forma que me pareceria truculenta. É um direito do Chico, meu e de qualquer autor desistir de um projeto."

Na opinião de Nepomuceno, "a assessoria de imprensa do Chico tem razão: se o editor quiser fazer valer o contrato, faz valer e pronto. Eu ficaria profundamente incomodado, porque a relação com o Sérgio Cohn [dono da editora] sempre foi cordial".

Ele diz que, se Chico "desistir da desistência", o livro sairá pela Azougue.

Para Sérgio Cohn, a editora teve sua reputação "sujada": criou expectativa ao anunciar o lançamento e alterou sua programação para focar no projeto. "Agora, ficaremos como mentirosos", escreveu a Márcia Leitão. "Esperava mais respeito."

O editor crê que Chico não quer assumir o ônus do veto.

Mas quais seriam as razões para Chico não querer o livro?

Mario Canivello disse à Folha que Chico achou o livro "deprimente", "muito ruim", "desnecessário" e que o material já estaria disponível no site de Chico Buarque.

Segundo ele, o compositor avalia que as entrevistas selecionadas estão "descontextualizadas" e que não faria sentido publicá-las agora, já que foram concedidas "no momento da ditadura".

Das dez entrevistas da edição, cinco são da época do regime militar.

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Trio de mulheres vence o Nobel da Paz. US$ 1,5 mi serão entregues às liberianas Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee e à iemenita Tawakkul Karman

Sirleaf, presidente da Libéria, concorre à reeleição; candidato da oposição afirma que o prêmio é "inaceitável" Folha 08.10

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O Nobel da Paz 2011 foi concedido, ontem, a três mulheres vindas de nações periféricas. Em comum, as três combateram pacificamente a opressão em seus países.

A presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, e sua conterrânea ativista Leymah Gbowee irão dividir em três partes iguais o prêmio de US$ 1,5 milhão (R$ 2,7 milhões) com a ativista iemenita Tawakkul Karman.

"Não podemos alcançar democracia e paz duradoura no mundo, a não ser que as mulheres tenham as mesmas oportunidades que os homens", afirmou ontem o norueguês Thorbjoern Jagland, presidente do prêmio.

A comunidade internacional reagiu com elogios ao anúncio das vencedoras. Nassir Abdulaziz al Nasser, presidente da Assembleia-Geral da ONU, disse que as três são "heroínas que se sacrificaram, trabalharam duro e mostraram verdadeira liderança para melhorar as condições de milhões de pessoas". Angela Merkel, chanceler alemã, disse esperar que o prêmio "encoraje muitas mulheres ao redor do mundo, e também homens, a fazer campanha por liberdade e democracia e contra injustiças".

Sirleaf é apontada como uma das responsáveis pelo fim da guerra civil na Libéria, que durou de 1989 a 2003.

Outra figura-chave nesse processo é Gbowee, também premiada ontem. Ela ficou famosa ao organizar greves de sexo -tal qual na peça grega clássica "Lisístrata", de Aristófanes- enquanto perdurasse o confronto armado.

POLÍTICA

Apesar dos elogios recebidos ontem, Sirleaf foi também alvo de críticas. Presidente da Libéria, ela concorre à reeleição na próxima terça. Wiston Tubman, considerado o principal oponente de Sirleaf, afirma que o prêmio é "inaceitável e não merecido", além de "uma provocação", por ser atribuído durante a campanha eleitoral.

A organização do Nobel reagiu dizendo que a escolha dos vencedores não leva em conta a política interna, mas a relevância do contemplado.

Em relação ao prêmio da iemenita Karman, no entanto, Jagland afirmou que se trata de um sinal aos ditadores para que protejam os direitos das mulheres na região.

A prisão dela, em janeiro deste ano, intensificou os protestos no Iêmen.

"A não ser que [os líderes] incluam mulheres no desenvolvimento [desses países], eles irão falhar", afirmou.

Nos 110 anos de entrega do Nobel, 15 mulheres receberam o prêmio pela Paz, incluindo as três deste ano. O número de homens é 85.

É a primeira vez em que três mulheres recebem, juntas, o Nobel da Paz.

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"Prêmio reconhece papel das mulheres na revolução", diz ativista Folha 08.10

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Protagonista das revoltas árabes que também havia sido indicada ao Nobel da Paz, a egípcia Asmaa Mahfouz diz não ter se decepcionado com a concessão do prêmio à iemenita Tawakkul Karman.

"É muito bom para todas nós, porque reconhece o papel das mulheres na revolução", disse à Folha.

Asmaa, 26, está entre os fundadores, em 2008, do Movimento 6 de Abril, criado inicialmente para apoiar greves de trabalhadores têxteis e que teve papel fundamental nos protestos contra o regime de Hosni Mubarak, deposto em fevereiro passado.

Ela ficou famosa ao divulgar um vídeo em que denunciava a tortura de ativistas e convocava a primeira manifestação na praça Tahrir, no Cairo, em 25 de janeiro.

Folha - Você estava entre os candidatos, mas o Nobel foi para outras. É uma decepção?

Asmaa Mahfouz - Não. Estou muito feliz e orgulhosa. Tawakkul é corajosa, representante da revolução árabe, e isso é muito bom para todas nós, pois reconhece o papel das mulheres na revolução. O movimento significou que não somos fracas, que temos poder para lutar não só pelos direitos das mulheres, mas de todo o povo.

Por que o prêmio não foi para pessoas da Tunísia e do Egito, onde tudo começou?

Não sei, mas pode ser porque não há um só herói da nossa revolução. Todos os egípcios são heróis.

Você chegou a ser processada num tribunal militar. Como está a situação agora no Egito?

Estou numa grande batalha contra o SCAF (Conselho Supremo das Forças Armadas, a junta provisória), que age como uma extensão do regime de Mubarak. Vou continuar nessa batalha até conseguirmos a liberdade.

Estamos perto das eleições para a Assembleia Nacional, e o processo é muito ruim. Não temos uma imprensa completamente livre, não há observadores internacionais, e o tempo é muito pequeno para a campanha. Nossa revolução não acabou.

O Movimento 6 de Abril vai participar das eleições?

Eles vão participar da fiscalização e da convocação dos eleitores. Estou pensando em me candidatar como independente, mas estamos pressionando o SCAF a mudar o sistema eleitoral.

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'Todo romancista se acha um pouco deus'. Na primeira obra literária desde o Booker Prize, em 2005, John Banville coloca deuses do Olimpo entre humanos

Assim como no premiado 'O Mar', o autor irlandês parte da morte para falar da vida em 'Os Infinitos' Folha 08.10

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Em 2005, não bastou derrotar nomes como Julian Barnes e Kazuo Ishiguro na corrida pelo cobiçado Booker Prize. Ao ter seu romance "O Mar" anunciado vencedor, o irlandês John Banville disparou: "É bom ver uma obra de arte ganhar [para variar]".

A provocação obrigou o autor de 65 anos, que cedo se resignou à fama de elitista, a se explicar incansáveis vezes em entrevistas -o que não se pode dizer que tenha abalado sua autoestima.

Ao falar à Folha por telefone, de Dublin, sobre seu novo livro, "Os Infinitos", Banville compara o próprio esforço ao de ninguém menos que seu mais célebre conterrâneo.

"Quis fazer neste romance algo como James Joyce fez com a 'Odisseia', de Homero, em 'Ulisses'", afirma.

Se Joyce homenageou em sua obra-prima o fundador da literatura ocidental, Banville dedicou sua reverência a nome menos conhecido. O trabalho que buscou emular em "Os Infinitos" foi a peça "Amphitryon", do alemão Heinrich von Kleist (1777-1811).

"A versão de Kleist para o mito grego é uma das maiores obras da literatura europeia, e o que me assusta é que ele não é tão conhecido, ao menos na língua inglesa. Eu o tive em mente por toda a minha vida como escritor."

Mas Banville afirma que a peça, que ele próprio chegou a levar para os palcos na Irlanda, acabou se tornando apenas um esqueleto do romance, que ganhou autonomia ao longo do processo.

"Os Infinitos" parte da reunião de uma família em torno do leito de morte de um premiado matemático, Adam Godley. Mas os humanos são só parte da história, narrada por Hermes, filho de Zeus.

"Nunca nos afastamos -vocês simplesmente pararam de nos parecer divertidos", explica o deus narrador, antes de revelar as brincadeiras dele, de seu pai e de outros habitantes do Olimpo na insuspeita rotina dos Godley -o que inclui a sedução de Helen, nora do matemático, por Zeus, durante o que ela pensa que é um sonho.

O deus narrador é também um pouco o deus escritor, admite Banville. "Todo romancista se acha um pouco deus, e até certo ponto nós somos, ao inventar mundo e personagens para habitá-los e brincar com seus destinos."

A morte, tema central também em "O Mar", é mote para meditações sobre a vida. "Rex, o cão de 'Os Infinitos', passa o tempo tentando entender qual o problema dos humanos, e o problema é que eles sabem que vão morrer. É nossa glória e nossa tragédia."

Lançado em 2009, "Os Infinitos" é o primeiro trabalho literário de Banville desde a provocação aos colegas escritores. No ínterim, quem produziu mais foi Benjamin Black, pseudônimo com que o autor assina romances policiais.

OS INFINITOS

AUTOR John Banville

EDITORA Nova Fronteira

TRADUÇÃO Maria Helena Rouanet

QUANTO R$ 39,90 (276 págs.)

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Ex-muçulmana diz que islã encoraja a prática da violência. Escritora de "Nômade", a somali Ayaan Hirsi Ali afirma que o véu islâmico é uma forma de "escravidão mental"

Novo livro reúne fortes depoimentos sobre mutilações genitais e relata sua rotina de repressão sexual Folha 08.10

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"A atitude acrítica dos muçulmanos em relação ao Alcorão precisa mudar, pois representa uma ameaça direta à paz mundial."

Esta é a visão de Ayaan Hirsi Ali no livro "Nômade". Para ela, "o islã não é apenas uma crença, é um modo violento de viver. Está embebido na violência e encoraja a prática da violência".

Ayaan foi criada como muçulmana. Nasceu na Somália, morou na Arábia Saudita, na Etiópia e no Quênia. Fugiu para a Holanda para, segundo ela, escapar de um casamento arranjado.

Lá virou parlamentar e votou a favor da guerra ao Iraque. Em 2007, escreveu o best-seller "Infiel". Hoje, aos 41 anos, vive nos EUA. Ameaçada de morte, anda com guarda-costas.

Seu novo livro é um misto de memórias e manifesto político. Relatando histórias de sua família, fala de violência doméstica, de rigores impostos pela religião, de opressão às mulheres. Diz que os muçulmanos sofrem "uma lavagem cerebral".

Mais do que isso, enxerga um "estágio inicial da radicalização dos jovens muçulmanos nos EUA", identificando "sintomas de desordem". Radical, opina que "ser complacente com o islã na América é um grave erro".

História e relações de poder políticas e econômicas estão fora do radar de Ayaan, que centra sua obra no confronto religioso.

Não por acaso, Samuel Huntington (1927-2008), de "O Choque de Civilizações", é um dos seus autores referidos, afirma ela à Folha, ao elogiar também os conservadores Francis Fukuyama e Friedrich Hayek (1899-1992).

Para a autora, "o conflito entre israelenses e palestinos não envolve mais as questões territoriais" -é "religioso, não racional".

Perguntada sobre a discussão na ONU, declara apoiar Barack Obama. Diz que a Palestina "não é um Estado viável" e que se transformou num "bode expiatório para Estados autoritários". É cética a respeito das rebeliões árabes e teme o avanço dos muçulmanos na região.

Defende que o véu muçulmano é uma forma de "escravidão mental" e advoga que a França tem o direito de impor restrições ao seu uso por "razões de segurança, cultura e história".

O relato da opressão feminina no mundo muçulmano é o ponto forte de "Nômade". A escritora traz depoimentos contundentes sobre mutilações genitais e descreve com minúcias a rotina de repressão sexual que vivenciou.

Escancarando traumas e obstinada em atacar o islã, Ayaan defende, num texto ginasiano, que a cultura ocidental é melhor. Para ela, é preciso "deixar de lado o éthos do respeito relativista pelas religiões e culturas não ocidentais se o respeito não passa de um eufemismo para o apaziguamento".

Na sua singular trajetória, narra com incontido deslumbramento suas viagens pelos EUA, uma visita a Las Vegas e a emoção que sentiu ao assistir a um casamento.

"A América é uma grande família da qual todos podem fazer parte, desde que aceitem seus valores", afirma.

Ela acredita que se diferencia de seus parentes porque "abriu sua mente".

NÔMADE

AUTORA Ayaan Hirsi Ali

EDITORA Companhia das Letras

TRADUÇÃO Augusto Pacheco Calil

QUANTO R$ 46 (392 págs.)

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"Memória tem mais a ver com criatividade", diz Foer. Jornalista Joshua Foer conta em livro como se tornou ás da memorização. Campeão americano em 2006, autor explica suas técnicas em "A Arte e a Ciência de Memorizar Tudo" Folha 08.10

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No crachá lia-se "Joshua Foer, Atleta Mental".

Era uma manhã de 2006 e Foer, então com 24 anos, disputava a final do Campeonato Americano de Memória.

Se sagraria campeão após decorar a ordem de 52 cartas, 87 dígitos e 107 nomes.

Para um virtuose da mnemônica, seria feito notável. Para o novato Foer -um jornalista de ciência-, beirava o milagroso.

Até então, era um especialista em esquecer onde deixara o carro, por que abrira a geladeira e -pecado mortal- o aniversário da namorada.

Irmão do autor Jonathan Safran Foer, Joshua publicou "A Arte e a Ciência de Memorizar Tudo" (Nova Fronteira).

Além de explicar típicas falhas de memória ("por que me lembro da música de Britney Spears, embora esqueça o nome do autor que admiro?"), o livro, recém-traduzido, conta como Foer se tornou um especialista em decorar informações absurdas.

O autor remonta, primeiro, a 1928 para explicar o caso real de "S" (na literatura médica, nomes de pacientes jamais são citados). Dotado de uma memória extraordinária, "S" costumava, também, atribuir cor, textura e sabor aos sons que ouvia. Assim, a voz de um psicólogo lhe era "fragilmente amarela"; a do cineasta Sergei Eisenstein se assemelhava a "uma chama".

"S" sofria de sinestesia, desordem neurológica em que sentidos como olfato e audição se entrelaçam.

Para se tornar um especialista em memória, coube a Foer "forjar" uma sinestesia em si mesmo. A técnica consiste em juntar imagens contraditórias para formar, como escreve, uma "memória sem concorrência".

Por exemplo: instigado a decorar uma lista que incluía os itens "queijo cottage", "meias" e "seis garrafas de vinho", Foer imaginou a top-model Claudia Schiffer nadando em uma piscina de cottage, as garrafas de vinho sentadas no sofá de sua casa, conversando entre si (isso mesmo), e as meias -daquelas velhas- penduradas no lustre do teto. Foi batata.

Por telefone, Foer contou que uma memória prodigiosa "tem mais a ver com a capacidade de inventar cenas do que de reter informações". "Se há uma característica comum entre os competidores, é a criatividade", disse.

Finda a conquista, Foer nunca mais competiu. Sua memória voltou ao estágio inicial. "É um esporte; você precisa de treinamento", diz.

Hoje, quando apura uma matéria (está escrevendo para a revista "New Yorker"), anota as informações em um bloquinho.

E voltou a esquecer por que abriu a porta da geladeira.

A ARTE E A CIÊNCIA DE MEMORIZAR TUDO

AUTOR Joshua Foer

EDITORA Nova Fronteira

TRADUÇÃO Mônica Friaça

QUANTO R$ 39,90 (310 pág.)

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Sonhos renovados. Os 40 anos do Clube da Esquina são lembrados com uma série de lançamentos, de gibis a disco instrumental para crianças. Um museu também está nos planos de Márcio Borges, autor do livro de memórias que sai agora em edição de luxo e deve virar filme Correioweb 08.10

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“Nos anos setenta, um grupo de mineiros se afirmou no cenário da música popular brasileira com profundas consequências para sua história, tanto no âmbito doméstico quanto no internacional. Eles traziam o que só Minas pode trazer: os frutos de um paciente amadurecimento de impulsos culturais do povo brasileiro, o esboço (ainda que bem acabado) de uma síntese possível.” Dessa forma, Caetano Veloso abre o prefácio de Os sonhos não envelhecem — Histórias do Clube da Esquina, livro de memórias de Márcio Borges, um dos mais atuantes participantes do movimento, que neste ano completa quatro décadas.

Poeta, letrista, pesquisador, escritor e tido como porta-voz do Clube da Esquina, Márcio atua em diversas frentes. Um dos projetos a que ele tem se dedicado com afinco é a materialização do Museu do Clube da Esquina — limitado, por enquanto, ao ambiente virtual (www.museuclubedaesquina.org.br). Há projeto para a edificação da sede do memorial, atrás do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, no local onde funciona atualmente o Serviço Voluntário de Assistência Social. A construção depende de um convênio com o Ministério da Cultura (leia texto abaixo).

Dia desses, o músico, arranjador e produtor Yuri Popoff disse em tom de brincadeira: “Você é f…! Criou a coisa, batizou a turma, escreveu o livro, ressuscitou o troço e agora ainda dá manutenção”. Modesto, Márcio vê a declaração como um exagero, classificando-a de “estímulo de amigo”. Mas não esconde que tem grande orgulho do que ele e seus companheiros fazem hoje.

Sentimento semelhante Márcio deve ter do livro-memória do clube, que teve mais 30 mil exemplares vendidos desde o lançamento, em 1996. Este ano, Os sonhos não envelhecem ganhou edição de luxo da Geração Editorial (viabilizada pela Lei Rouanet), com tiragem de 5 mil cópias (vendidas a R$ 29,90). Além do novo formato (23cm x 21cm), a edição traz fotos coloridas e, encartado, um CD com 10 canções, escolhidas entre as mais representativas do movimento.

Márcio, porém, não se considera “dono dessa história” e dedica o livro a Milton Nascimento, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, ao irmão Lô Borges e à mulher, Claudinha, “primeira leitora, maior incentivadora, meu amor para sempre”. Autor do posfácio da obra, Milton afirma: “Penso que o clube não pertencia a uma esquina, a uma turma, a uma cidade, mas sim a quem, no pedaço mais distante do mundo, ouvisse nossas vozes e se juntasse a nós”.

Outros produtos editoriais têm sido lançados com o intuito de manter viva a memória do Clube da Esquina. O mais recente é um álbum instrumental voltado para o público infantil, o 13º CD da coleção MPBaby. O responsável pelas novas versões e adaptações de Paisagem na janela, Cravo e canela, Trem azul, Clube da Esquina 2 e demais pérolas é o pianista, arranjador e compositor fluminense André Mehmari.

Quem curte histórias em quadrinhos pode apreciar Histórias do Clube da Esquina, um livro-gibi de Laudo Ferreira e Osmar Viñole. E o movimento será levado também para o cinema. “Tem uma turma aqui de Belo Horizonte, jovens superorganizados e profissionais, que aprovaram na lei de incentivo o projeto do filme deles, baseado em meu livro”, revela Márcio Borges. “Eles estão agora na fase de captação de recursos. Achei o projeto legal demais e estou a fim de dar uma força extra. Não no roteiro, mas na captação.”

OS SONHOS NÃO ENVELHECEM — HISTÓRIAS DO CLUBE DA ESQUINA

Edição de luxo do livro de Márcio Borges, com caderno de fotos coloridas e CD com 10 músicas de Márcio Borges, Lô Borges, Milton Nascimento e Beto Guedes. Geração Editorial, 376 páginas. Preço: R$ 29,90 (os primeiros 5 mil exemplares; esgotada essa tiragem, o preço será R$ 49,90).

HISTÓRIAS DO CLUBE DA ESQUINA

De Laudo Ferreira e Omar Viñole. Livraria Devir, 48 páginas. R$ 19,50.

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Setor público faz terceirização falsa, afirma Ipea

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), professor Márcio Pochmann, afirmou que os gestores do Estado, em todas as esferas, praticam a chamada “terceirização falsa” ao substituir postos de trabalho ocupados por servidores efetivos (especialmente em áreas como administração,vigilância, asseio e conservação, alimentação, e transporte), por empregados terceirizados sem garantia da estabilidade. Ele foi um dos participantes da primeira audiência pública promovida pelo Tribunal Superior do Trabalho, que teve seu início na manhã desta terça-feira (4/10) e termina no fim da tarde desta quarta (5/10).

No setor público, dados indicam que o custo da subcontratação de um trabalhador é no mínimo três vezes maior do que o da contratação direta e, em alguns casos, até dez vezes, observou o professor. Já no setor privado, as características negativas do processo são a competitividade espúria, as atividades simples exercidas em função da baixa escolaridade e qualificação profissional e, por fim, a terceirização falsa para os trabalhadores sem condições de contribuir por 12 meses, num ano, para a Previdência Social.

O professor Márcio Pochmann ainda equiparou a terceirização de mão de obra a uma “quase reforma trabalhista” por possibilitar uma alteração significativa na forma de funcionamento do mercado de trabalho brasileiro. Segundo Pochmann, essa discussão nos anos 90 seria quase impossível ante o predomínio do pensamento único que pregou “falsas verdades” — que o Brasil não criaria mais empregos assalariados, que o futuro seria somente do empreendedorismo, que a CLT era arcaica, e que a indústria não geraria mais postos de trabalho.

Previdência

De acordo com dados do Ipea, entre os trabalhadores terceirizados demitidos, somente um terço consegue reempregar-se novamente num período de 12 meses, ou seja, dois terços deles levam mais de um ano para conseguir um posto de trabalho novamente. Isso dificulta a contribuição para a Previdência Social, pois eles dificilmente terão condições de se aposentar em 35 anos de trabalho, por não terem 35 anos de contribuição. “Tornar a terceirização regulada, civilizadamente, ajuda a fortalecer a subcontratação sadia, simultânea ao método de extirpar as ervas daninhas”, defendeu. “Essa é a expectativa de todos que acreditam que o Brasil inova e se moderniza toda vez que a justiça se faz presente. Não se espera algo diferente da Justiça do Trabalho do Brasil”, concluiu Márcio Pochmann Fonte: Sindjus DF 06/10

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