quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Transmita aos magistrados a minha avaliação (...) quanto à total inadequação da iniciativa, que (...) certamente trará impactos negativos à magistratura". CEZAR PELUSO, presidente do STF Folha SP 20.10

>>

Renato Borghi atua em peça de Nelson Rodrigues pela 1ª vez. Ator faz o homossexual enrustido Aprígio

POLÍTICA CIENTÍFICA. Finatec convida pesquisadores a apresentarem projetos. eitor e diretores de unidades acadêmicas foram recebidos em café da manhã promovido pela fundação. unb.br

>>>

PATRIMÔNIO. Museu Virtual abre exposição sobre Pilar de Goiás

Cidade goiana com mais de 200 anos guarda relíquias arquitetônicas únicas, ameaçadas por uma nova corrida do ouro. unb.br

>>

“O respeito aos direitos humanos exige mudança radical na concepção de política criminal.” Alexandre Prudente Marques, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-GO . O Popular 20.10

>>>

Política cultural. Afinal, que Lei é essa?. Dificuldade de captação pela Lei Rouanet domina reclamações de produtores em reunião da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura O Popular 20.10

-

Henilton: é difícil benefícios chegarem a lugares onde empresas não tenham visibilidade

Polêmicas, esperanças e cobranças marcaram a reunião da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) com produtores culturais de Goiás. Com a participação de representantes de vários segmentos da cultura e de diferentes Estados, a reunião realizada em Goiânia teve em comum temas como a falta de condições em captar recursos via Lei Rouanet fora da Região Sudeste e a burocracia que emperra vários projetos.

As reuniões da CNIC, que antes eram restritas a Brasília, passaram a ser itinerantes em um Estado de cada região do País. O objetivo é aproximar a entidade dos agentes culturais locais, além da promover a discussão de projetos e ações voltados à área cultural. Da reunião de Goiânia, estiveram presente o secretário de Fomento do Ministério da Cultura (MinC), Henilton Menezes, e o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, além do presidente da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel), Gilvane Felipe.

Pronac em reformulação

Aos participantes, o secretário Henilton Menezes ponderou que a Lei Rouanet faz parte do Programa Nacional de Cultura (Pronac), que completa 20 anos e passa por uma tentativa de reformulação, conforme projeto que tramita no Congresso Nacional. "Infelizmente, o Pronac ficou muito centrado só na lei de incentivo baseada na isenção de impostos. Por isso, é difícil que os benefícios do projeto cheguem a lugares onde os empresários não tenham visibilidade para a sua marca. O ideal é que, com a Lei do Procultura, que está no Congresso, possa haver maior diálogo entre governo, investidores e proponentes, corrigindo também as distorções regionais", apontou o secretário.

Também foi questionada pela plateia a implantação do Vale-Cultura, projeto que, guardadas as devidas proporções, funcionaria nos moldes do Vale-Refeição, hoje comum. "Ele poderá colocar no mercado da cultura cerca de R$ 7 bilhões. É claro que tudo será fiscalizado o máximo possível, mas o MinC não vai determinar que tipo de produto cultural o trabalhador vai consumir, se um filme de arte ou um blockbuster", disse Henilton, para quem tal sistema estará em pleno funcionamento em no máximo cinco anos.

A produtora cultural Viviane Louise reclamou sobre a falta de retorno de grandes empresas, principalmente de estatais como a Petrobras, para proponentes culturais fora dos grandes centros. "O que ela arrecada em nossa região deveria ser proporcionalmente aplicado aqui. Mesmo as filiais de grandes empresas aqui em Goiás, quando usam da Lei Rouanet, utilizam do mecanismo para aplicar em produções culturais do eixo Rio-São Paulo, e não aqui. Sobra muito pouco para a gente", protestou. Henilton reconheceu que realmente este pode ser um "equívoco da lei". "O que pode ser feito é tentar influenciar na formulação dos editais das empresas. Mas um morador da zona leste de São Paulo pode ser tão excluído das políticas culturais como um morador do interior da Amazônia no atual processo. Com o Procultura, vários equívocos podem ser sanados", acredita Henilton.

O também produtor cultural Léo Pereira contou que já teve três projetos aprovados pela Lei Rouanet, mas que nunca conseguiu captar os recursos para os projetos. "O artista não é para ser oprimido. É preciso investir para que ele e o público possam se encontrar. Eu pergunto, quanto de toda essa verba e de todos esses recursos estão sendo gastos realmente para sustentar o trabalhador da arte?"

Parceria com Itaú Cultural

Um pouco antes de ter início a reunião da CNIC, o presidente da Agepel, Gilvane Felipe, e o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, assinaram termo de parceria entre as duas instituições. A assinatura firma a comunhão de esforços para desenvolver atividades culturais tanto em Goiás quanto em São Paulo.

Dentre as ações, estão previstas apresentações culturais de Goiás em São Paulo e a realização de diversos cursos e mostras do Itaú Cultural em Goiás, em diferentes segmentos culturais. A parceria vale até janeiro de 2013 e pode ser prorrogada por comum interesse. O cronograma das atividades será definido posteriormente pelo Itaú Cultural e Agepel.

>>>>

46% aceitam pena de morte e 51%, prisão perpétua. Pesquisa CNI/Ibope mostra que 80% dos entrevistados mudaram hábitos por causa da violência no último ano e 75% querem redução da maioridade O Estado de S. Paulo - 20/10/2011

Nos últimos 12 meses, quatro em cada cinco brasileiros mudaram de hábitos por causa da violência. Como resultado direto, também é cada vez maior o número de pessoas a favor de punições maiores, incluindo pena de morte, prisão perpétua e diminuição da maioridade penal. Em alguns casos, defende-se até a violência policial. É o que mostra pesquisa CNI/Ibope sobre segurança, feita em julho, com 2.002 pessoas em 141 cidades.

Mesmo concordando com o uso de penas alternativas em casos de delitos leves, 83% dos entrevistados acredita que penas mais severas reduziriam a criminalidade. A maioria reclama que a impunidade vem aumentando. Mais da metade (51%) apoia totalmente a prisão perpétua, inexistente no Brasil. Um porcentual significativo - 31% - defende a adoção da pena de morte e outros 15% acham que pode ser justificada em alguns casos.

"Há um paradoxo nessa situação. As pessoas acreditam nas políticas sociais, mas há uma vontade de aumentar o rigor. Acredito que tenha a ver com a urgência de uma sociedade que está sofrendo com a violência", afirmou o gerente executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.

O levantamento informa, ainda, que 80% dos brasileiros mudaram seus hábitos no último ano, por causa da violência. A maior parte dos entrevistados pela CNI prefere não andar com dinheiro, preocupa-se mais ao chegar ou sair de casa e do trabalho, evita sair à noite e até mesmo deixou de circular por determinadas ruas ou bairros como medida de segurança. O mesmo número de pessoas diz ter assistido, nos últimos 12 meses, algum ato de violência ou algum crime; 30% foi ou teve um parente próximo vítima de um crime.

De acordo com Renato da Fonseca, a pesquisa retrata uma sociedade que está sofrendo com a violência, mas não é violenta em si. "Fica muito claro que as pessoas não estão podendo circular livremente pela cidade. Claramente a violência traz impactos à vida e aos hábitos das pessoas."

Apesar dessa visão, a pesquisa mostra que um quarto dos entrevistados, mesmo sem ter confiança na polícia, acredita que a violência oficial pode ser justificada pela violência dos criminosos. Outros 25% concordam em parte com essa afirmação.

Outra contradição envolve a proibição da venda de armas, derrotada no plebiscito de 2005: 54% dos entrevistados hoje se declararam contrários ao porte de arma pela população.

Maioridade. O constante envolvimento de menores em crimes tem um reflexo claro na pesquisa. Essa é uma das questões em que há maior unanimidade nas respostas: 75% dos entrevistados defendem a redução da maioridade para 16 anos e o mesmo número acredita que adolescentes que cometem crimes violentos deveriam ser punidos como adultos.

>>>

A internet não é meio de comunicação. O Estado de S. Paulo - 20/10/2011

No início do mês (dia 3 de outubro) a Suprema Corte, nos Estados Unidos, decidiu que baixar uma música da internet não equivale a exibir essa mesma música em público. Portanto, ao copiar o arquivo de uma canção no seu computador, o consumidor não deve ser tratado como alguém que toca essa mesma canção para uma grande audiência, no rádio ou num show.

Ora, dirá o leitor, nada mais óbvio. Baixar uma faixa de CD é mais ou menos como copiar no gravador de casa uma canção que a gente sintoniza na FM. Trata-se de um ato doméstico, que não se confunde com executar uma obra musical para uma plateia de 5 mil espectadores. No entanto, até hoje, o pensamento oficial sobre a internet - em especial o pensamento das Cortes de Justiça - carrega uma tendência de equipará-la aos meios de comunicação de massa. Um erro grosseiro e desastroso. Além de obtusa, essa visão traz consequências perversas, como a que levou parlamentares brasileiros, há coisa de dois anos, a tentarem aprovar uma lei que impedia os cidadãos de manifestarem suas opiniões sobre as eleições em sites e blogs durante o período eleitoral, como se a rede mundial de computadores fosse da mesma família que as redes de televisão e de rádio, que funcionam sob concessão pública.

O furor censório dos parlamentares acabou não vingando, para alívio da Nação, mas o conceito equivocado em que ele plantou seu alicerce continua aí. Por isso a recente decisão da Suprema Corte, negando as pretensões econômicas e intimidatórias da American Society of Composers, Authors and Publishers (Ascap), interessa especialmente a nós, brasileiros. Ela constitui um argumento a mais para que expliquemos aos retardatários (autoritários) que nem tudo o que vai pela internet é comunicação de massa. Aliás, quase nada na internet é comunicação de massa. Para as relações políticas e jurídicas entre os seres humanos essa distinção elementar faz uma diferença gigantesca.

A internet não é televisão, não é rádio, não é jornal, nem revista, assim como não é correio ou telefone. Ela contém tudo isso ao mesmo tempo - mas contém muito mais que isso. Existem canais de TV e de rádio na internet, é bem verdade. Os jornais estão quase todos online, bem como as revistas, sem falar no correio eletrônico: as pessoas trocam mensagens, como trocavam cartas. O Skype e outros programas vieram para baratear e melhorar os velhos telefonemas, com a vantagem de mostrar aos interlocutores a cara um do outro. Logo, dirá a autoridade pública, a rede mundial de computadores internet é uma Torre de Babel em que todos os meios de comunicação se encontram e se confundem, certo?

Errado. A humanidade comunica-se pela internet - só no Brasil já são quase 80 milhões de usuários -, mas isso não significa que ela seja, como gostam de dizer, uma "mídia" que promove a convergência de todas as outras "mídias". Ela é capaz de fornecer ferramentas para que um conteúdo atinja grandes audiências de um só golpe, ao vivo, assim como permite que duas pessoas falem entre si, reservadamente. Acima disso, porém, ela abre outras portas, muitas outras. Pensá-la simplesmente pelo paradigma da comunicação é estreitá-la, amofiná-la - e, principalmente, ameaçar a liberdade que ela encerra.

A internet também é comércio: os consumidores fazem compras virtualmente - mas isso não nos autoriza a dizer que ela possa ser regulada como se fosse um shopping center. Vendem-se passagens aéreas e pacotes turísticos pela rede, mas ela não cabe na definição de agência de viagens. Correntistas acessam suas contas bancárias e pagam contas sem sair de casa, mas a internet não é banco, e, embora quitemos nossos impostos pelo computador, ninguém há de afirmar que a web é uma extensão da Receita Federal. Ela é tão ampla como são amplas as atividades humanas: aceita declarações de amor, assim como aceita lances ousados da especulação imobiliária. Nela a vida social alcança plenamente outro nível, que não é físico, mas é real, tão real que afeta diretamente o mundo físico, sendo capaz de transformá-lo. Mais que meio de comunicação, a internet é, antes, a sociedade num segundo grau de abstração. Se quiserem comparações, ela tem mais semelhança com a rede de energia elétrica do que com um aparelho de TV ou com o alto-falante na praça do coreto.

Para efeitos da regulamentação e da regulação, a internet não cabe num regime. Ela é capaz de abrigar tantos regimes quanto a própria vida em sociedade - e, assim como a vida em sociedade, é maior que o direito positivo. Ela, sim, pode conter e processar decisões judiciais e trâmites processuais, mas estes não podem contê-la, explicá-la ou discipliná-la por inteiro. Pretender controlá-la, taxá-la, pretender instalar pedágios em cada nó seria equivalente a começarmos a cobrar direitos autorais de quem empresta um livro de papel à namorada, ou, pior ainda, seria como sujeitar as conversas de botequim à legislação do horário eleitoral na televisão e no rádio.

A rede de computadores trouxe uma expansão sem precedentes a uma categoria que, nos estudos de sociologia e de comunicação, ganhou o nome de "mundo da vida". Trata-se de um conceito contíguo a outro, mais conhecido, o de "esfera pública". Nesta se encontram os temas de interesse geral dos cidadãos. No "mundo da vida" moram as práticas sociais mais arraigadas, a rotina mais prosaica, os nossos modos de amar, de velar os mortos ou, se quiserem, de conversar no botequim. Não por acaso, daí, desse mundo da vida, é que brota a esfera pública democrática; a própria imprensa nasceu dos saraus e das tabernas, quando aí se começou a criticar o poder.

Por isso, enfim, as formas de livre expressão na internet precisam estar a salvo do poder do Estado e da voracidade dos grupos econômicos. Por isso a decisão da Suprema Corte é bem-vinda.

>>>

Verdade. O projeto da Comissão da Verdade foi aprovado por unanimidade na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. Relator do projeto, o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) manteve a proposta de formação de um colegiado de notáveis ligado à defesa dos direitos humanos e apartidária, sem qualquer caráter punitivo, para investigar, entre outras ocorrências, os casos dos “desaparecidos” do regime militar. Correio BsB 20.10

>>>

VISãO DO CORREIO » Competência não tem preço Correio BsB 20.10

-

Qual o efetivo papel do Estado no auxílio à saciedade da necessidade mais básica do ser humano, a saúde? Mais do que teses e dissertações acadêmicas, o assunto, naturalmente polêmico e com intenso teor de idiossincrasias, rende de intrigas políticas a bate-bocas em mesas de bar: cabe a governos, por exemplo, prover transporte para doentes ou pessoas com necessidades especiais, ou trabalhar na prevenção de doenças provocadas por tabagistas, como o câncer? Na campanha que a levou à Presidência da República, Dilma Rousseff deixou claro que teria como meta cuidar do cidadão, principalmente do mais pobre, a partir de programas com ênfase na prevenção (centrados no reforço da vigilância sanitária e em campanhas de vacinação) e voltados para o combate ao fumo e ao consumo de álcool.

Pois um desses projetos, que lhe parecia caro, demonstra excessiva fragilidade: o Saúde não tem preço. O programa se propunha a ofertar, de graça, medicamentos essenciais para manter sadios os diabéticos e hipertensos — no Brasil, há até 15 milhões de pessoas no primeiro grupo e 33 milhões no segundo. No entanto, basta um desses doentes visitar alguma das 20 mil farmácias populares para constatar que apenas os remédios mais básicos, com eficiência de ação às vezes limitada, estão disponíveis. Os portadores desses silenciosos e perigosos males querem, por razões óbvias, substâncias mais modernas e comprovadamente eficazes. Esse pleito — é importante o registro — tem o apoio formal de médicos endocrinologistas e cardiologistas. Os primeiros chegaram a pedir ao governo para incluir no programa a gliclazida, droga que provoca menos efeitos colaterais.

É fato que o programa, louvável por si só, resulta em benefícios importantes. Mesmo com os problemas relatados, já ampliou o acesso ao tratamento em 239% de fevereiro a setembro, segundo informou ao Correio o próprio Ministério da Saúde. No entanto, frise-se: como não há estabelecimento de metas e o nível de cobrança administrativa costuma ser pouco enérgico, a burocracia estatal costuma ser lenta — às vezes, relapsa, como nesse caso. Dessa forma, exige-se agora do Estado e da sociedade uma fiscalização constante, rígida, com movimentações concretas, punitivas. Afinal, a falha prejudica pelo menos 45 milhões de brasileiros.

Além do mais, não se pode esquecer a má-fé, a incompetência, a desídia criminosa: segundo reportagem publicada esta semana por este jornal, as fraudes já consumiram mais de R$ 4 milhões do programa Aqui tem Farmácia Popular, que desde 2008 oferece remédios à população com subsídio governamental — que, nesse caso específico, tem agido ao ponto de descredenciar quase 300 farmácias e aplicado igual número de multas.

>>>

Cordas e muitas possibilidades. Projeto que começa hoje na Sala Cássia Eller, com violeiros, guitarristas e outros instrumentistas, promove o encontro entre a tradição e a modernidade Correio BsB 20.10

-

O músico mineiro Pereira da Viola está em Brasília desde o começo da semana. Na segunda e na terça, ele participou do espetáculo Brasil clássico caipira, que ocupou a Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Hoje, Pereira é atração (com o guitarrista Dillo Daraujo) na primeira noite do projeto Violas, guitarras e outras modernidades, na Sala Cássia Eller.

O primeiro evento promoveu o encontro entre a música caipira e a sinfônica. O segundo, que será realizado hoje e amanhã e continua na quinta e na sexta da semana que vem, sempre às 20h, tem como proposta mostrar diversas possibilidades da música de viola e promover um diálogo entre a tradição e, como o nome do projeto sugere, a modernidade.

“Há quem diga que, atualmente, a canção chegou a um limite. Até por isso, a música de viola, em todas as suas vertentes, é o que de mais novo vem sendo feito. Hoje a violeirada está tocando de tudo: clássico, erudito, popular brasileiro, chorinho, música indiana, flamenca…”, observa José Rodrigues Pereira, o Pereira da Viola, 49 anos.

Dillo Daraujo

Curador do Violas, guitarras e outras modernidades, o pesquisador musical e violeiro brasiliense Cacai Nunes comenta que o objetivo do projeto é colocar no mesmo palco violeiros e outros músicos que toquem instrumentos de corda, caso do bandolinista Hamilton de Holanda, dos guitarristas Pedro Martins e Dillo Daraujo e do violinista francês radicado no Brasil Nicolas Krassik. “Fazer o casamento de universos musicais distintos”, resume Cacai.

Os violeiros convidados, explica o curador, também possuem perfis variados. “Teremos dois violeiros de Belo Horizonte, o Pereira e o Fernando Sodré, mas eles vêm de tradições diferentes. O Pereira é muito mais voltado para a tradição, com uma rica pesquisa da cultura da região do Vale do Jequitinhonha, enquanto o Sodré está mais ligado ao jazz, ao choro. O Caçapa já mostra um outra possibilidade de viola, a viola dinâmica, próxima da dos repentistas”. Cacai, assim como Caçapa, tem nas tradições nordestinas um ingrediente de destaque em suas músicas.

Pereira da Viola

Acústico e elétrico

Pereira da Viola tem seis discos no currículo, Terra boa (1993), Tawanará (1996), Viola cósmica (1998), Viola ética (2001), Akpalô (2007) e Pote — a melodia do chão (2010), parceria com Wilson Dias. “No meu trabalho, faço um diálogo com as culturas afro e indígena, então as músicas têm um ritmo acentuado. Mas também tenho outras influências, o que pode ser percebido, por exemplo, quando toco Bolero, de Ravel”.

O guitarrista brasiliense Dillo Daraujo passeia com desenvoltura por várias praias, do blues ao baião, do rock ao afrobeat — ecletismo que pode ser percebido no DVD Música roqueira popular brasileira. “A gente está num movimento de fusão. É impossível ficar só nos clássicos, você acaba engolido por outras tendências. O mais importante é trazer no seu som a personalidade do instrumentista. E acho que, nessa, todos que participam desse projeto estão bem”, comenta Dillo, 35 anos, que pretende abrir seu show com o aboio A morte do surubim em versão “ablueseirada”.

Sobre o encontro com Dillo, Pereira conta que ainda não sabe o que os dois poderão tocar juntos, mas se diz animado com a jam: “Será uma surpresa, um momento especial”.

O dinâmico Caçapa

Amanhã, Rodrigo Caçapa dividirá o palco da Sal a Cássia Eller com Hamilton de Holanda. Na ocasião, o violeiro pernambucano lançará seu primeiro disco solo, Elefantes na Rua Nova. Definir sua música em poucas palavras, ele afirma, não é fácil. “É um trabalho autoral e instrumental. Muita gente acha que é música de viola. Na verdade, é música feita na viola. E não é um trabalho de virtuosismo, mas que preza mais os arranjos”, explica Caçapa, 36 anos.

Hamilton de Holanda

Caçapa utiliza a chamada viola dinâmica, a mesma usada pelos repentistas. Sua música bebe de tradições como coco e samba de roda, mas busca outros caminhos. Para as faixas de Elefantes na Rua Nova, Caçapa e banda usaram três violas dinâmicas (plugadas e com efeitos), baixolão e percussão.

O resultado tem um pé na tradição e a cabeça na modernidade. “Acho que o disco reflete minhas inspirações, que passam por música tradicional de rua do nordeste, rock, erudito, tropicália…” Com composições de melodias e texturas bastante ricas, Caçapa acena para os mestres que o influenciaram e, mais do que isso, reforça sua personalidade autoral.

Violas, guitarras e outras modernidades

Hoje, amanhã e em 27 e 28 de outubro, às 20h, na Sala Cássia Eller (Funarte, Eixo Monumental, atrás da Torre de TV). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia). Classificação indicativa livre.

Programação

Hoje

» Pereira da Viola (MG) e Dillo Daraujo

Amanhã

» Rodrigo Caçapa e Hamilton de Holanda

» Às 22h, bate-papo com Cacai Nunes, Pereira da Viola e Roberto Correa sobre causos e histórias de violeiros na criação artística

Dia 27

» Fernando Sodré e Pedro Martins

Dia 28

» Cacai Nunes e Nicolas Krassik

-

CRíTICA//MELANCOLIA **** Intensidade e impotência

Melancolia, de Von Trier: cineasta envolvido em polêmica sobre Hitler Correio BsB 20.10

-

A lotação completa do Cine Brasília para a sessão do filme Melancolia na noite do último dia 14, como parte da programação da mostra CCBB em Cartaz, foi a prova da carência de cinéfilos brasilienses em relação aos títulos que perderam espaço na programação da cidade desde que o circuito de arte foi interrompido. O grande número de espectadores que precisaram se acomodar no chão do espaço lembrava as sessões mais disputadas do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Por completo desinteresse dos exibidores daqui, o filme que estreou em agosto no resto do país não foi apresentado regularmente na cidade. A sessão da última sexta-feira provou que os distribuidores estavam errados.

Ao lado de A árvore da vida, de Terrence Malick, o novo filme do dinamarquês Lars von Trier foi um dos mais comentados deste ano no circuito mundial. Talvez pelos motivos errados. Trier foi banindo do último Festival de Cannes ao se declarar admirador do ditador Adolf Hitler. Saiu perdedor da competição sem a Palma de Ouro justamente para o filme de Malick. Na vida pública Trier pode até causar desconforto, mas na tela o diretor está cada vez mais seguro da persona artística que construiu desde o lançamento dos filmes do movimento dinamarquês chamado Dogma 95. A assinatura de autor é evidente e, nesse caso, carregada de autoreferências.

Assim como Dançando no escuro (2000), Dogville (2003)e Manderlay (2005), ele adota o ponto de vista de personagens femininas. Neste caso, duas irmãs Justine (Kirsten Dunst, eleita melhor atriz em Cannes) e Claire (Charlotte Gainsbourg). Dividida em dois capítulos, a narrativa dedica-se primeiro ao desenrolar dos acontecimentos no dia do casamento de Justine. A insatisfação da noiva é apenas o começo do desmoronar do castelo de aparências, quase um aquecimento para a colisão que o espectador sabe que vai acontecer desde a introdução do filme. Para os personagens, a razão do mal-estar está na dúvida sobre as consequências da aproximação do planeta Melancolia avançando na rota de translação da Terra.

Justine sente-se de alguma forma atraída pela força gravitacional do corpo celeste, enquanto Claire (que dá nome ao segundo e último capítulo do filme) coloca-se em oposição ao ceticismo do marido milionário e astrônomo, John (Kiefer Sutherland). O estado de impotência ante o desenrolar dos acontecimentos é o mesmo experimentado no filme anterior, Anticristo (2009). O fim do mundo é vivenciado aqui sem a histeria ou o corre-corre próprios do cinema hollywoodiano. Apesar de manter a forma inconfudível, o efeito do estilo Trier perde um pouco da intensidade neste Melancolia, incômodo o suficiente apenas para ser um dos filmes mais comentados do ano. A fita será exibida em mais duas sessões na mostra CCBB em cartaz.

CCBB EM CARTAZ

Próximas sessões de Melancolia, de Lars von Trier, no Cine Brasília (106/107 Sul; 3244-1660): sábado, dia 22, às 21h, e 30 de outubro, às 20h50. Entrada franca. As senhas são distribuídas uma hora antes da sessão. Não recomendado para menores de 14 anos

>>>

MÚSICA » O melhor do instrumental Correio BsB 20.10

-

Na primeira metade da década de 1960, tornaram-se famosos no Rio de Janeiro os bailes comandados por um músico cearense chamado Eduardo Lincoln Barbosa Saboia, que inscreveu seu nome na história da música popular brasileira como Ed Lincoln. Reverenciado recentemente por Emílio Santiago no CD Só danço samba, o pianista e organista será homenageado amanhã, no CopaFest, evento que chega à quarta edição e entra para o calendário cultural da antiga capital brasileira.

Como nos anos anteriores, o festival, no Copacabana Palace, reunirá nomes exponenciais da música instrumental do país — alguns deles com carreira no exterior. Hoje, às 21h30, na abertura, o flautista e saxofonista Mauro Senise e o pianista Gilson Peranzzetta (que estiveram recentemente no Clube do Choro) receberão ninguém menos que Edu Lobo, um dos maiores talentos da geração sessentista, vencedor do Festival da Record de 1967, com Ponteio.

Senise e Peranzzetta, tendo ao lado Zeca Assumpção (contrabaixo), Rafael Barata (bateria), Bernardo Bessler (violino), José Alves (violino), Christine Springuel (viola) e Yura Ranesky (violoncelo), celebram a obra do cantor, compositor, arranjador e pianista pernambucano, tocando o repertório do álbum clássico Casa Forte — A música de Edu Lobo. Ao participar do show, Edu, pela primeira vez, fará uso da voz como instrumento.

Idealizadores e curadores do CopaFest, o poeta, compositor, pesquisador e produtor Bernardo Vilhena e a produtora Carol Rosman criaram para esta edição uma programação em que predomina a universal linguagem jazzística, mas com o tempero brasileiro. Amanhã, a primeira atração, às 21h, é o paulistano Clube do Balanço, um grupo de nove músicos que têm em comum a paixão pelo samba rock. Liderados pelo guitarrista Marco Mattoli, eles fazem um baile nos moldes dos que ocorriam na periferia de São Paulo nos anos 1970. O som do conjunto tem o samba na base, mas não faltam toques de jazz, soul, boogie woogie, funk e, claro, rock.

Logo em seguida, às 23h, entra em ação Lincoln Olivetti, instrumentista que botava todo mundo para dançar no subúrbio do Rio nas décadas de 1970 e 1980, época em que, como produtor e arranjador, criou embalagem pop para discos de estrelas da MPB, como Tim Maia, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Rita Lee, quando ficou conhecido como “feiticeiro dos estúdios”. Na homenagem a Ed Lincoln, Olivetti terá a companhia de uma superbanda, na qual destacam-se o guitarrista Davi Moraes e o tecladista Donatinho.

No sábado, o compositor e arranjador Arthur Verocai (gravado por Elis Regina, Ivan Lins, Leny Andrade e MPB-4) é o responsável pelo primeiro show, às 21h. Redescoberto no exterior por DJs e rappers, Verocai apresentará Timeless. Esse concerto — que ele fez em 2009, em Los Angeles, à frente de uma orquestra de 30 músicos, incluindo Airto Moreira e sua filha (com Flora Purim), Diana Booker — foi registrado em filme homônimo.

O encerramento do festival, às 23h, é com o aguardadíssimo show de Airto Moreira, que integrou o mítico Quarteto Novo, ao lado de Hermeto Pascoal, Théo de Barros e Heraldo do Monte, considerado fundador da moderna música instrumental brasileira. Aos 70 anos, o percussionista, radicado em Los Angeles, integrou as bandas de Miles Davis, Keith Jarret, Chick Corea, Wayne Shorter, Stanley Clark, Ron Carter, Herbie Hancock e Santana. Também tocou com Milton Nascimento, Egberto Gismonti, Eumir Deodato e, claro, a mulher Flora Purim. No show, Airto será acompanhado pelo coletivo Eyedentity, do qual faz parte a filha Diana Booker.

>>

JUDICIáRIO » Supremo critica protesto de juízes. O presidente do STF repreende magistrados federais, que anunciaram paralisação nacional e adiamento da análise de ações em que a União é parte. AGU também condena mobilização Correio BsB 20.10

-

Cezar Peluso afirma que a atitude dos juízes federais prejudica a imagem da magistratura

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, classificou de “inadequada” a iniciativa de juízes federais de fazer uma operação-padrão com as ações em que a União é parte. Na última segunda-feira, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) anunciou paralisação geral da categoria em 30 de novembro e o represamento de processos de interesse da União como forma de protestar por reajuste salarial de 15%, conforme antecipou o Correio. Na terça, entidades ligadas à advocacia pública reagiram e criticaram as declarações do presidente da Ajufe, Gabriel Wedy.

Em ofício enviado ontem aos presidentes e corregedores dos tribunais federais, Peluso criticou a Ajufe e afirmou que a medida “trará impactos negativos à imagem da magistratura como prestadora de serviço público essencial”.

O Conselho da Justiça Federal (CJF) também reagiu. Em nota, o presidente do órgão, Ari Pargendler, destacou que abrirá processo administrativo para apurar se há abuso por parte dos juízes federais. “À vista da notícia de que juízes federais represarão intimações e citações da União, concentrando-as no próximo dia 29 para dificultar-lhe a atuação processual, o presidente do CJF determinou a autuação de processo administrativo e sua inclusão na pauta da próxima sessão do colegiado, em 24 de outubro”, diz o texto.

O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, afirmou ao Correio que a atitude da Ajufe é equivocada. “A função jurisdicional é relevantíssima para a sociedade brasileira. Não é aceitável que uma categoria prejudique as partes para angariar benefícios próprios. Não é isso que a sociedade brasileira espera do Judiciário.”

O presidente da Ajufe observou que o direito de greve é assegurado pela Constituição e ressaltou que os processos de interesse do cidadão, como ações previdenciárias e de direito à saúde, vão tramitar normalmente na Justiça Federal.

>>>>

em 'O Beijo no Asfalto', em cartaz no Teatro de Arena . Próximos trabalhos de Borghi incluem papéis em 'Os Sete Gatinhos' e na adaptação do romance 'O Casamento' Folha SP 20.10

-

Foram precisos 53 anos de carreira para Renato Borghi, 72, aventurar-se em cena pelas paixões e desejos de Nelson Rodrigues (1912-1980).

O ator vive o homossexual enrustido Aprígio de "O Beijo no Asfalto", peça dirigida por Marco Antônio Braz que marca o início de uma ocupação dedicada a Nelson, no Teatro de Arena (veja quadro), antecipando seu centenário.

Em dezembro, ele protagoniza "Os Sete Gatinhos", do mesmo diretor, e, no ano que vem, "O Casamento", romance homônimo do autor adaptado e dirigido por Johana Albuquerque (Bendita Trupe).

O ator também está em cena em "Que Rei Sou Eu?", musical criado por Elias Andreato a partir de Oswald Andrade, especialmente para o ator. "Borghi é uma referência do teatro brasileiro", justifica Andreato.

O ator parece ter se preparado a vida toda para viver as criações de Nelson Rodrigues: sua galeria de personagens é povoada por tipos irreverentes, como o Abelardo de "O Rei da Vela", de Oswald.

A primeira lembrança que Borghi tem de Nelson vem da infância: ele recorda o frisson causado pela estreia de "Vestido de Noiva" no fim de 1943. "Foi uma revolução", define.

"Nelson é um profundo conhecedor da alma humana. Leva à cena sua vivência do subúrbio carioca e as neuroses das famílias reprimidas." Em 2010, ao lado de Elcio Nogueira Seixas, seu parceiro na companhia Teatro Promíscuo, cruzou a América Latina apresentando (sem encenação) a dramaturgia de Nelson Rodrigues.

Também idealizou a publicação das obras teatrais completas do autor em edição bilíngue espanhol/português. O trabalho deve ser lançado em 2012.

>>

Livro da Coleção Folha traz obras de arquiteto francês. Obras de Jean Nouvel, arquiteto vencedor do Pritzker, compõem oitavo livro da série Folha SP 20.10

-

Chega às bancas no domingo (23) o oitavo livro da Coleção Folha Grandes Arquitetos ,sobre a obra do francês Jean Nouvel, 66. Vencedor do Pritzker -prêmio considerado o Nobel da arquitetura- em 2008, formado pela École des Beaux-Arts de Paris (França) e membro fundador do movimento de arquitetos Mars 1976 e do Syndicat de l'Architecture, seus projetos fogem dos lugares comuns.

A cobertura tecnológica do Teatro da Ópera de Lyon (1986-1993) -referência na arquitetura contemporânea-, por exemplo, remete a uma linhagem arquitetônica que vai do renascimento, com os palácios hoje em ruínas da região de Vicenza, até os arcos metálicos neoclássicos do Palácio de Cristal, de Joseph Paxton (1803-1865).

A torre Agbar (1999-2005), em Barcelona (Espanha), com 142 metros de altura, evoca uma massa de água suave e contínua, mas também vibrante e transparente de diferentes profundidades.

Outra obra famosa e não convencional é a sequência de diafragmas que recobre a fachada do Instituto do Mundo Árabe (1981-1987). O exterior do edifício em Paris (França) recorda um tapete persa, gerando, de acordo com a abertura das peças que regulam a entrada do sol, uma sucessão de figuras que vão do quadrado ao círculo e até à estrela de Davi. Também são de autoria do francês os projetos da nova sede do MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova York), nos EUA, e da filial do Louvre em Abu Dhabi (Emirados Árabes).

Uma das inovações dos projetos de Jean Nouvel, do ponto de vista técnico, consiste na exploração do uso de materiais vegetais, como plantas que podem crescer na ausência de terra, enraizando-se em feltros especiais e umidificados. Assim, as janelas aparecem como molduras de quadros, rodeadas de material vegetal, que se modifica com o passar do tempo, conferindo à arquitetura uma singular inclusão no mundo dos homens.

No Museu do Quai Branly (1999-2006), em Paris, por exemplo, a natureza se faz presente em símbolos da floresta e do rio. Para chegar a esse resultado, Nouvel usou técnicas avançadas: os vidros são amplos, claros, às vezes impressos com imensas fotografias; os pilares estão dispostos de modo aleatório e as suas dimensões remetem a árvores ou totens; nos brises-soleil (quebra-sóis) em madeira entalhada ou pintada estão instaladas células fotovoltaicas.

Na Fundação Cartier (1991-1994), também em Paris, as árvores do terreno ficam visíveis atrás da alta barreira envidraçada de oito metros de altura que tomou o lugar do muro opaco originalmente construído. Cada livro avulso da coleção, com 80 páginas, custa R$ 16,90; a coleção completa, R$ 287,30. Assinantes Folha, Edição Digital e UOL têm descontos nos lotes.

>>

Rainha do rádio, Sade toca hoje em SP músicas de 1980. Ainda há ingressos para show no ginásio do Ibirapuera e para plateias de Rio, no sábado, e Brasília, na terça. Radialistas se dizem obrigados a tocar Sade uma vez por dia; "DJ de motel" diz que música "vale por preliminar" Folha SP 20.10

-

"Se eu tivesse esta resposta, certamente não te daria", diz Eduardo Leite, diretor artístico da Alpha FM. "Usaria as respostas para fazer a próxima Sade e com ela fundar uma rádio só minha!"

Leite não respondeu à seguinte pergunta: como uma cantora cujos sucessos têm mais de 20 anos segue entre as mais pedidas do rádio? E cobra de R$ 150 a R$ 850 por ingresso de um show?

Em 2011, "Smooth Operator", maior sucesso de Sade, já tocou seus solos de saxofone 202 vezes no rádio, contra 13 de "Soldier of Love", música que dá nome ao mais recente álbum dela (de 2010).

É a mostra de que Sade ainda vive dos louros de "Diamond Life" (1984) e "Promise" (1985). O primeiro álbum revelou seu soul-jazz chique, com "Smooth Operator". O segundo cimentou o potencial de diva da anglo-nigeriana com "Sweetest Taboo". Essas faixas encimam o top 20 das mais tocadas de Sade, feito a pedido da Folha pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).

"É quase obrigação tocar essas duas canções uma vez ao dia", afirma Silvia Morello, locutora da rádio Antena1. "As músicas envelheceram bem. Tão bem que não precisam de versões, são contemporâneas", diz Morello.

Envelheceram tão bem como Sade Abu, a vocalista de 52 anos cujo apelido se lê "chadê" e significa "a honra será sua coroa" em iorubá. Com cara de garota e ainda exibindo o estômago no figurino de palco, a cinquentona deixa entrever pouco da sua vida pessoal. Quase não dá entrevistas e diz não se apressar para lançar música.

"É por isso que ela é sexy", diz Augusto Bucalon, "porque é misteriosa e isso passa para a voz". Bucalon produz trilhas para ambientes que vão de elevador de multinacional a quarto de motel.

Usa Sade em todas. "A música dela vale tanto para esperar dentista quanto para uma preliminar. É como se a gente nascesse ouvindo."

>>>

CONTARDO CALLIGARIS. Fundamentos da moral

Você quer uma moral laica, inspirada pela razão? Pois bem, seus fundamentos serão frágeis (e engraçados) Folha SP 20.10

-

Num belo dia de 1760 ou por aí, Denis Diderot recebe a notícia de que Jean-Jacques Rousseau desistiu de escrever o verbete "Moral" da grande Enciclopédia, da qual Diderot é um dos editores-chefes. A impressão do décimo volume da obra está parada na espera do texto. A solução é Diderot escrevê-lo, na hora, ao longo de uma tarde durante a qual várias circunstâncias colocam à prova, justamente, a moralidade do filósofo.

Essa é a situação apresentada na peça "O Libertino", de Eric-Emmanuel Schmitt, em cartaz até 27 de novembro no teatro Cultura Artística Itaim, em São Paulo. A peça foi adaptada e é dirigida por Jô Soares, com o brio alegre de uma farsa de Feydeau ou de uma comédia de Goldoni, e com um elenco particularmente feliz (a começar por Cassio Scapin, que é Diderot). Um provérbio latim diz que, rindo, a comédia critica os costumes. "O Libertino" nos leva não só a criticar nossos costumes, mas a examinar os frágeis fundamentos de nossas normas morais. Vamos com calma.

O evento apresentado na peça é uma ficção. O verbete "Moral", como quase um terço da Enciclopédia de Diderot e D'Alembert, foi escrito pelo cavalheiro Jaucourt, que redigiu sozinho mais de 17.000 verbetes, até merecer o apelido de "escravo da Enciclopédia". O cavalheiro era culto e sem brilho: o verbete "Moral" é um texto chato, com uma ou outra afirmação ousada -por exemplo, Jaucourt escreve que a moral é um investimento mais seguro do que a fé, porque um ateu virtuoso pode se salvar, enquanto não há salvação para um crente vicioso. Mas o que é virtuoso e o que é vicioso?

É fácil responder, se acreditarmos numa revelação divina. Mais complicado é fundar uma moral laica, inspirada pela razão. Jaucourt sugere apostar no número, notando que os povos civilizados concordam quanto aos pontos essenciais da moral, ao passo que podem discordar totalmente em matéria de fé religiosa. Talvez o aprimoramento mais recente do argumento de Jaucourt seja o de John Rawls. Em "Justiça como Equidade" (Martins Ed.), Rawls propõe que a gente aceite como normas sociais morais aquelas que aprovaríamos por unanimidade, caso todos nos esquecêssemos completamente de nossa etnia, de nosso status, de nosso gênero e de nossa concepção do bem. Essa amnésia fundaria nossa moral, pois, graças a ela, seriam aprovadas só as normas que servissem ao bem de todos. Laborioso, hein? Seja como for, as sugestões de Jaucourt e de Rawls valem sobretudo para a moral pública. Mas como se fundamenta a moral privada, que nos orienta na escolha do bem e do mal no dia a dia? Essa é a questão com a qual "O Libertino" nos faz rir e pensar. Na peça, Diderot está hospedado na casa do barão d'Holbach, por cuja filha (ótima Luiza Lemmertz) ele é seriamente tentado. D'Holbach era ele mesmo um contribuidor da Enciclopédia.

No seu "Sistema da Natureza", o barão avançava a ideia de que a virtude moral deveria estar ao serviço de nossa felicidade. Na peça, Diderot, escrevendo seu verbete, tenta adotar esse argumento, que d'Holbach desenvolvera até ao paradoxo: se um homem for feliz no vício (e não na virtude), de repente, o vício seria legitimamente sua moral. Problema.

O barão d'Holbach era ateu e materialista. Questão: se o homem é uma máquina sem alma, ele não tem liberdade de escolha, e, se ele não é livre, a própria ideia de moral perde seu sentido. Mais um problema.

Enfim, se você puder, assista à peça e se divirta. Se não puder, divirta-se imaginando como você escreveria o verbete "Moral" de sua enciclopédia pessoal -e lembre-se: você não tem o conforto de acreditar numa revelação divina e nem está convencido de que saibamos resistir livremente a nossos impulsos e desejos.

Lembre-se também de escrever seu verbete numa tarde em que, como Diderot, 1) você é tentado pelo adultério, embora ame sua mulher, 2) você gostaria de seduzir a filha de um amigo, a qual tem a idade de sua filha, 3) você professa opiniões "avançadas", mas não quer que elas valham no caso de sua filha, 4) você é seduzido pelo charme de uma criminosa, a ponto de se perguntar se, no fundo, os valores estéticos não deveriam ser mais importantes que os valores morais (não se escandalize: há românticos e modernos para pensar exatamente isso).

Mais uma coisa: se você for mulher ou tiver preferências diferentes das de Diderot, apenas mude o gênero no parágrafo acima.

ccalligari@uol.com.br

>>>>

STJ julga processo que pode reconhecer casamento gay. Decisões de 1ª instância têm sido divergentes em relação aos pedidos de casais. Em maio, STF igualou a relação homoafetiva à união estável, que tem diferenças práticas do casamento civil Folha SP 20.10

-

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) marcou para hoje o julgamento da ação que pode responder se um casal gay pode se casar. A resposta vai além da decisão de maio do STF (Supremo Tribunal Federal), que igualou a relação homoafetiva à união estável. Como o Supremo não decidiu sobre a possibilidade de casamento, as decisões de primeira instância estão desencontradas.

Desde então, juízes já autorizaram a conversão da união estável em casamento civil, permitiram o casamento direto (pelo processo de habilitação para casamento), ou simplesmente negaram o pedido feito pelo casal. Há diferenças práticas entre casamento e união estável.

Apenas com o casamento, por exemplo, muda-se o estado civil e se garante o direito à herança. OSTJ pode diminuir a confusão ao julgar hoje o processo de duas gaúchas, juntas há cinco anos. Kátia Ozório, 38, e Letícia Perez, 37, entraram com ação para o casamento direto antes da decisão do STF.

Tiveram o pedido negado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Elas recorreram ao STJ com dois objetivos: garantir a maior segurança jurídica proporcionada pelo casamento e o direito à igualdade. "Se minhas irmãs, heterossexuais, pagam os mesmos impostos e podem fazer as escolhas delas, por que o Estado não me dá o direito de escolha?", questiona Perez.

A defesa do casal argumenta que não há impedimento na lei ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Alega que a Justiça já reconhece uniões estáveis, que podem ser convertidas em casamento, segundo a Constituição. Os argumentos foram rejeitados pelo relator da ação no TJ-RS, José Conrado Kurtz de Souza. Ele sustenta que o tribunal não tinha à época, e continua não tendo, competência para fazer a interpretação desejada pelo casal.

O caso é relatado no STJ pelo ministro Luís Felipe Salomão- que, também com o relator, foi favorável à adoção de crianças por casais gays, no ano passado. Historicamente, o STJ decide em favor de casais homossexuais, argumentando que a discussão envolve diretos humanos, igualdade perante a lei e o bem comum.

A decisão que vier a ser tomada, se não houver pedido de vista ou outro adiamento, só vale para o caso. Representará, no entanto, a jurisprudência do STJ e uma importante orientação aos juízes. Qualquer que seja a decisão, cabe recurso ao STF. Caso o STJ decida favoravelmente ao casamento homoafetivo, a opção de recorrer será do Ministério Público.

>>>

Brasil cai para 126º em ranking de ambiente de negócio. Relatório do Banco Mundial avalia desde facilidade para abrir empresa à inadimplência em 183 países. Chile, México e Argentina superam país; asiáticos, como Cingapura e China, lideram a lista Folha SP 20.10

-

Apenas 57 países têm ambiente para negócios pior do que o Brasil, afirma estudo anual do Banco Mundial lançado hoje. O país é o 126º dos 183 avaliados no relatório "Doing Business 2012" (Fazendo negócios em 2012) - queda de seis posições.

O relatório elogia o país por ter "melhorado o sistema de informação sobre crédito ao permitir que agências privadas coletem e divulguem dados positivos", o cadastro positivo, lei que cria uma lista de bons pagadores que ajuda empresas e instituições financeiras a decidirem a quem emprestar dinheiro.

Ainda assim, o Brasil tem um dos piores ambientes da América Latina: enquanto o Chile ficou em 39º, o México, em 53º, e a Argentina, em 113º, superamos apenas vizinhos politicamente instáveis, como Honduras, Equador, Bolívia e Venezuela (o país de Hugo Chávez é o 177º).

Na conta do Banco Mundial, estão na Ásia os países com melhor ambiente para negócios hoje: Cingapura lidera o ranking, seguida por Hong Kong e a ex-comunista China (Nova Zelândia, EUA e Dinamarca vêm em seguida).

O índice é calculado com base em dez indicadores, como facilidade em abrir um novo negócio e índices de inadimplência, além de questões práticas, como obter uma conexão elétrica.

>>>

Deficiente é a inclusão social. EDUARDO DE ALMEIDA CARNEIRO. Como as crianças deficientes podem ser educadas de modo adequado se há lacuna de educadores que respondam a suas necessidades específicas? Folha SP 20.10

-

De acordo com o Censo 2000, 14,5% da população apresenta algum tipo de incapacidade ou deficiência física. Visto assim, como simples estatística, estamos diante de um número curto e frio.

Tão frio quanto ignorar que, na prática, estamos falando de um contingente de mais de 27 milhões de brasileiros! É como se a todos os cidadãos de toda a Grande São Paulo estivesse faltando um braço, uma perna. Ou os dois. Ou os quatro.

Como se nós vivêssemos em uma metrópole literalmente movida à cadeira de rodas. Mas ainda assim cidadãos, com todos os direitos -e deveres- iguais aos de qualquer pessoa que esteja lendo este artigo neste momento.

O Brasil é signatário da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Mas nós, brasileiros, infelizmente ainda somos preconceituosos e hipócritas ao julgar (quem pode julgar?) o deficiente não pelo valor humano do seu olhar, mas pelas formas físicas que os diferem da média.

No "país do futuro", com uma das economias mais vibrantes e crescentes da atualidade, perde-se uma oportunidade astronômica de vencer barreiras e promover a inclusão social de gente com enorme vontade e capacidade de trabalhar, sustentar famílias, gerar renda, estudar e ser respeitada.

Ou seja, simplesmente participar e usufruir da sociedade. Sem dúvida os empregadores da iniciativa pública e privada estão se preocupando cada vez mais em promover ambientes de trabalho adaptados. Mas é o suficiente? Não.

Os olhares indiscretos dos colegas de escritório são muros de concreto intransponíveis.

E como elas chegam ao trabalho com tantas calçadas esburacadas, motoristas que não respeitam faixas de trânsito, transporte público adaptado incrivelmente escasso e passageiros sem a menor paciência para esperar o cadeirante se acomodar no ônibus ou no metrô?

Como as crianças deficientes podem ser educadas adequadamente com uma preocupante lacuna de educadores, despreparados para responder às suas necessidades específicas? Aliás, o que os engenheiros dos estádios da Copa de 2014 e das demais obras deste canteiro chamado Brasil estão preparando para os 27 milhões de torcedores?

Há 61 anos, a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), entidade sem fins lucrativos, com seus profissionais e voluntários, vem lutando para tratar, reabilitar e promover a inclusão social de pessoas com deficiência física.

Em 2010, conseguiu realizar 1.348.799 atendimentos, entre cirurgias, consultas, aulas e terapias.

Foram mais de 5.800 atendimentos diários, 6.451 cirurgias e 60.655 aparelhos ortopédicos fabricados e comercializados, que contribuíram para melhorar a qualidade de vida de milhares de deficientes físicos.

Graças à gestão profissionalizada e, principalmente, às doações do Teleton (campanha televisiva que será levada ao ar nos dias 21 e 22 de outubro pelo SBT e pela TV Cultura), mantém 12 unidades no Brasil.

Vitórias diárias, sabemos. Mas cujas medalhas da inclusão social e do fim do preconceito ainda esperamos receber.

EDUARDO DE ALMEIDA CARNEIRO é presidente voluntário da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).

Nenhum comentário: