terça-feira, 11 de outubro de 2011

O velho Marcelo Nova. O líder da banda de rock mais cáustica dos anos 1980 — o Camisa de Vênus — completou 60 anos em agosto, mas o tempo não mudou Marcelo Nova. Correio Bsb 11/10

O coiote solitário, como ele mesmo se define, continua, na essência, Marcelo Nova: irreverente, língua solta, boca suja e sem o cacoete de querer agradar ninguém. “Não quero um milhão de amigos; bastam meus cinco atuais”, diz, às gargalhadas, o velho roqueiro baiano, que sobe hoje no palco do O’Rilley Irish Pub, na 409 Sul, para divulgar o álbum Hoje, às 23h.

Essa é a terceira vez de Marcelo no pub de inspiração irlandesa somente este ano. “Gosto de tocar pra plateias pequenas. O que adianta tocar pra 100 mil pessoas e o sujeito ter de te ver pelo telão? Pra mim, isso não faz o menor sentido”, comenta.

Segundo Nova, no início deste ano chegou a ser convidado para participar do Rock in Rio homenageando outro baiano: Raul Seixas, morto em 1989. Mas a ideia de reunir artistas do rock brasileiro no palco secundário (Sunset) soou mal para Marcelo Nova, amigo e parceiro de Raul. “Todos reconhecem a importância dele no rock e nunca chamaram ele pra nada disso quando estava vivo. E outra: gringos com metade do tempo de carreira e de qualidade duvidosa iriam se apresentar no palco principal. Tô completamente fora desse troço! Não preciso disso”, foi a reação do senhor rebelde. O tributo acabou não acontecendo.

No show de lançamento do álbum Marcelo Nova, canções da fase solo, das parcerias com Raul Seixas, do Camisa de Vênus e também duas inéditas. O CD foi gravado durante um show na casa noturna Bolshoi, em Goiânia, em comemoração aos 30 anos de carreira, mas quem for ao O’Rilley não deve se prender a rótulos. O artista diz não se sentir atrelado ao passado.

“Não faço um set (lista de músicas do show) com base nos meus 16 sucessos. Toco as músicas dos meus discos de platina, dos de ouro e principalmente dos discos de couro, aqueles que não venderam nada. Meu critério é pessoal, não me baseio em vendagem ou parada. Gosto de surpreender o público e a mim mesmo”, diz.

“Envelhecer não significa perder a qualidade. Tem artistas que estão envelhecendo e estão melhores do que nunca. Veja Lou Reed ou Bob Dylan, o tempo não lhes tirou o talento”, cita o roqueiro quando questionado sobre os shows de velhas lendas. No entanto, pondera, há aqueles que se tornaram caricaturas de si próprios.

Ele destaca o show de Axl Rose, no Rock in Rio, como um desses exemplos. “O show dele foi tão deprimente que não me fez sequer rir. A banda dele era ruim, o show foi fraco; ele é um arremedo do que foi. Isso é um exemplo pra gente. Jamais quero me tornar uma caricatura de Marcelo Nova”, diz.

LANÇAMENTO DO DVD HOJE

Hoje, às 23h, no O’Rilley Irish Pub (409 Sul Bl. C ). Ingressos: 1º lote (venda antecipada), mulheres, R$ 15 (meia) e homens, R$ 25 (meia). Informações: 3244-0222. Não recomendado para menores de 18 anos.

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MEMÓRIA » Nem foi tempo perdido. Quinze anos depois da morte de Renato Russo e do fim da Legião Urbana, a banda brasiliense continua como uma das mais populares do Brasil. Homenagens e filmes ajudam a manter o legado do grupo Correio Bsb 11/10

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As temáticas de algumas letras do derradeiro disco de estúdio da Legião Urbana, A tempestade — Ou o livro dos dias, refletiam, com melancolia e tristeza, muito dos últimos dias do vocalista Renato Russo. O álbum foi lançado pouco menos de um mês antes da morte do cantor e compositor. Em 11 de outubro de 1996, há 15 anos, Renato Manfredini Júnior nos deixou.

Sem Renato, o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá encerraram as atividades da Legião Urbana. O fim da banda e a morte de Renato, no entanto, não diminuíram o interesse e o fascínio que eles causam no público.

Dono de uma personalidade forte e carismática, Renato Russo escrevia letras que tocavam tanto o íntimo das pessoas quanto o coletivo, falando de amor e também de mazelas sociais. Sonoramente, a Legião conseguiu um feito difícil de ser realizado em meados dos anos 1980: levou para o mainstream um rock de influências contemporâneas, com ecos do pós-punk inglês.

No Rock in Rio

Ao longo dos últimos 15 anos, não foram poucas as homenagens a Renato e à Legião. Uma das mais recentes foi em 29 de setembro, no Rock in Rio 2011, quando a Orquestra Sinfônica Brasileira, com Dado, Bonfá e os convidados Pitty, Dinho Ouro Preto (Capital Inicial), Rogério Flausino (Jota Quest), Herbert Viana (Paralamas do Sucesso) e Toni Platão interpretaram sucesso da banda brasiliense.

Depois da calorosa recepção nos festivais de Paulínia e de Brasília, o documentário Rock Brasília — Era do ouro, de Vladimir Carvalho, teve concorrida pré-estreia na semana passada em São Paulo, no Espaço Unibanco, na Rua Augusta. O Capital Inicial animou o evento com um pocket show. Hoje, Rock Brasília será apresentado para convidados no Festival do Rio.

O documentário, que reúne entrevistas antigas e recentes da chamada “turma da Colina”, entra em cartaz dia 21. Os depoimentos de dona Carmem Manfredini no filme Rock Brasília apresentam, para quem não conhecia, a simpática mãe de Renato Russo. “Estive em Paulínia e torci muito pelo documentário do Vladimir. Fiquei muito feliz com o filme dele”, ela conta. Dona Carmem diz que os aniversários de morte do filho são lembrados pela família em reuniões íntimas. “Normalmente, celebramos uma missa, a nossa missa.”

Mais um filme levará para a tela grande as histórias do grupo de amigos do qual saíram Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. A ficção Somos tão jovens, de Antonio Carlos da Fontoura, mostrará os anos de formação da turma, antes do sucesso. O longa-metragem, filmado este ano, deve estrear em 2012. Também previsto para o ano que vem, Faroeste caboclo, de Renê Sampaio, é adaptação da música homônima de Legião Urbana, que apresenta a saga do personagem João de Santo Cristo.

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DE GRAÇA » Enfim, na tela

Filmes que não entraram no circuito por falta de salas de "cinema alternativo" ganham espaço no Cine Brasília, até o dia 30. Correio Bsb 11/10

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Premiada com a Palma de Ouro de melhor atriz este ano, Kirsten Dunst estrela Melancolia, o aguardado longa-metragem sobre o fim dos tempos

Datas de celebração e festejos nem sempre combinam com alegria, quando a gente leva em conta títulos marcantes da cinematografia dinamarquesa como Festa de família, de Thomas Vinterberg, e Ondas do destino, de Lars von Trier. Curioso, daí, que — na comemoração dos 11 anos do Centro Cultural Banco do Brasil local — ambos os diretores apareçam, com tons pesarosos (na ordem, em Submarino e Melancolia), para a satisfação dos cinéfilos mais exigentes. A partir de hoje, ao longo de 18 dias, o Cine Brasília (106/107 Sul) apresenta um pacote de filmes muito esperados, que não encontravam espaço no restrito mercado exibidor da cidade. Às vésperas da abertura da rede de cinema alternativo do CasaPark, soa mais do que alento a parceria entre o Cine Brasília e o CCBB.

Entre os 15 filmes da mostra CCBB em Cartaz, com traquejo autoral e exibição gratuita, Melancolia é o mais vistoso. Instiga os futuros espectadores não apenas pelo enredo — numa mansão de família, depois do casamento, Justine (Kirsten Dunst, premiada no Festival de Cannes) tende à inércia, frente à possibilidade do fim do mundo —, mas também pela repercussão das perturbadoras declarações de Lars von Trier sobre tópicos nazistas (ainda na festa em Cannes).

Compatriota de Von Trier, Thomas Vinterberg, por sua vez, conduziu o longa Submarino — concorrente ao Urso de Ouro no Festival de Berlim e ao prêmio de melhor ator (para o sueco Jacob Cedergren) no European Film Awards — concentrado num drama entre irmãos que se encontram para enterrar a mãe viciada e alcoólatra.

Com predicados densos e atento a complexos jogos em torno de sexualidade, Bertrand Bonello (dos carregados Tirésia e O pornógrafo) comparece na mostra com L’Apollonide — Os amores da casa de tolerância, outro que concorreu ao Festival de Cannes em 2011. Ambientado na França do começo do século passado, o filme traz no elenco Esther Garrel (irmã do astro Louis e filha do diretor Philippe Garrel) e o ator e diretor Xavier Beauvois (vencedor em Cannes do Grande Prêmio do Júri, em 2010, por Homens e deuses).

Já Claude Lelouch, mestre da inventividade (haja vista a narrativa dos recentes A coragem de amar e Crimes de autor), comparece na mostra com Esses amores, filme detido na volatilidade do amor para uma francesa que vive a Segunda Guerra e coroado por Anouk Aimée (Um homem, uma mulher) no elenco.

Outro renovador, o cineasta filipino Brillante Menddoza (melhor diretor, há dois anos, em Cannes) tem o mais novo título, Lola (que competiu no Festival de Veneza), escalado. No filme, duas avós se encontram em lados opostos de dores relacionadas a um possível crime. Já o chileno Ilusões óticas, de Cristián Jiménez, mostra um inverno diferente para os moradores de Valdivia — com direito a cego que passa a enxergar.

Sem graça

Interrogado pela polícia da região norte da Dinamarca por causa das declarações com teor bombástico acerca do Holocausto, feitas em maio, durante o Festival de Cannes, o cineasta Lars von Trier — que foi classificado como persona non grata pela diretoria do evento — se diz, atualmente, incapaz de dar, “de modo inequívoco”, tanto declarações públicas quanto entrevistas. Promotores franceses entraram com processos contra o diretor, que buscou se retratar do que ficou a meio caminho entre “brincadeira” e provocação oca, quando ele disse ter “certa empatia” por Hitler, além de ter exaltado a alegria da origem alemã. “Sabemos que ele não é antissemita ou nazista”, confirmou o diretor de Cannes, Thierry Frémaux, que, entretanto, não pôde aliviar na punição contra o cineasta.

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ESPAÇO CHATÔ » Pintura com luz à flor da pele. Quadro de Vânia Ferro: gosto pela figura humana e clima de celebração Correio Bsb 11/10

A exposição que Vânia Ferro, goiana de Paraúna, inaugura no Espaço Chatô (sede do Correio) representa uma virada artística e pessoal na vida da artista plástica. “Eu estava num momento muito difícil e resolvi recorrer às cores. Para sair dessa situação, busquei meu lado otimista, alegre, risonho, e consegui colorir os trabalhos”, ela diz, sobre a mostra Iridescente, com quadros e duas esculturas, inspiradas na forma da mão humana. A visitação está aberta a partir de hoje e termina dia 28.

Mesmo presa numa década de tons acinzentados e entristecidos, segundo ela própria define, ela nunca parou de produzir. “Foi um momento diferente, por causa da morte dos meus pais. Nessa época, comecei a fazer muito em preto e branco. Fui para a Espanha e lá comecei uma série inspirada em Pablo Picasso. Embarquei no cinza. Foi um longo período”, ela revela, sobre os dez anos (2000-2010) em que sua mente era povoada de muitas dúvidas e poucas respostas.

A solução foi se voltar para seu verdadeiro eu. “Acontecem coisas na vida da gente, e algumas pessoas são mais resistentes do que outras. De repente, a nossa autoestima cai muito. Mas sempre fui muito alegre, otimista. Gosto de ser assim. E acho que consegui colorir os trabalhos, falar de celebrações, sempre com muitas cores”, explica a também presidente da Associação Goiana de Artes Visuais. Suas representações preferidas, ela diz, são detalhes do corpo humano, como mãos, seios, bocas e pés. “A maior parte do meu trabalho gira em torno do figurativismo, da figura humana”, completa.

Quase brasiliense

Vânia conhece bem Brasília. Viaja para o Planalto Central a cada 15 dias, especialmente para visitar Taynara, filha caçula. A cena cultural da cidade também é um atrativo. “Minha filha é arquiteta, é o lugar dela mesmo. Sempre vou aos espaços, como a Caixa Econômica, o Banco do Brasil e o Museu da República. Como tem muito goiano, a gente se sente muito em casa. Talvez até morarei aí”, confessa. Ela lamenta que, na capital do estado em que vive, a cena tenha enfraquecido ultimamente. “Goiânia é menos acelerada, as coisas não acontecem com a mesma velocidade. As artes plásticas estão um pouco devagar. As pessoas quase não vão mais a museus e galerias”, analisa.

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SAMBA » Cidade de bambas. George Lacerda adianta faixas do segundo CD em show no Sesc Garagem Correio Bsb 11/10

Para resgatar uma prática comum nos estúdios das décadas de 1960 e 1970, o cantor brasiliense George Lacerda optou por um recurso pouco convencional atualmente: a gravação ao vivo. “Assim, os microfones captam a emoção do momento. Claro que existe uma demanda maior de pré-produção, mas a sonoridade é outra. É como se a gravação fosse uma fotografia da música que está sendo tocada”, explica ele, sobre o segundo CD, Eu vou pro samba, com lançamento previsto para o início de 2012.

Produzido e gravado pelo bandolinista Dudu Maia (estúdio Casa do Som), o álbum traz várias parcerias com compositores brasilienses e é a base do show homônimo que George faz hoje, no Teatro Garagem do Sesc. “A apresentação surgiu a partir do novo repertório, criado durante as aulas de percussão que dou. Alguns alunos foram se empolgando com a questão do samba e aí propus a eles não só aprender a tocar o instrumento, mas também compor. As letras fluíram bem, revelaram uma veia poética que muitos desconheciam”, ele conta.

No palco, Choro blues e É só ilusão, ambas com Tatá Gonçalves; Bate mão, bate pé, com Ivanildo Garrincha; A vida em si, com Garrincha e Danu Gontijo; Chapéu de um homem simples e Consolação, de Wilson Bebel; e Mais sujo que lixão, de Alex Souza. As duas últimas são canções do disco George Lacerda e Marambaia, lançado em 2009.

Sucessos de mestres como Wilson Batista (Sistema nervoso e Bonde de São Januário), Monarco (Triste desventura) e Chico Buarque (Não sonho mais) completam a apresentação de George, que terá a companhia de Dudu 7 Cordas, Nelsinho Serra (cavaco), Juninho Ferreira (acordeon), Leander Motta (bateria), Tiago Viegas (percussão) e Juninho Viegas (percussão).

“Fiz uma mistura da nova com a velha guarda do samba brasiliense. Não que eles sejam velhos, mas pelo tempo que toco com cada um. Dudu e Leander vêm desde o tempo do Plano B, no Arena. Nelsinho, Tiago e Juninho são de uma nova geração que está despontando por aí”, comenta o cantor, sobre os músicos de Eu vou pro samba.

Intérprete, compositor e percussionista, George Lacerda começou aos 10 anos com violão e pandeiro. Frequentador assíduo das rodas de samba e de choro da cidade, cursou música na Universidade de Brasília e, nesses 11 anos de carreira, acompanhou nomes como Jair Rodrigues, Hamilton de Holanda e Walter Alfaiate. “O samba foi o estilo que inaugurou minha carreira profissional, mas depois um tempo, passei a cantar forró. Meus pais são nordestinos, então, isso está na minha veia”, conta o músico, que também comanda os vocais do grupo Lorota Boa.

Inspirado no baião de Luiz Gonzaga, o grupo brasiliense Lorota Boa surgiu há seis anos com uma característica peculiar: substituiu instrumentos tradicionais do forró, como a sanfona e a zabumba, pelo bandolim, gaita, flauta, baixo, bateria e viola caipira. Apesar da transformação, a banda — formada por George Lacerda, Cacai Nunes, Juninho Ferreira, Vavá Afiouni e Rafael dos Santos — mantém a tradição no repertório e toca sucessos de Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Marinês e Dominguinhos.

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DECORAçãO » Sustentabilidade no ambiente

Pelo quinto ano, Morar Mais por Menos apresenta sugestões ao público brasiliense, que quer ter casa bonita sem gastar muito. No próximo dia 26, começa mais uma edição da mostra na Casa do Candango, que vai até 4 de dezembro. São esperados 20 mil visitantes Correio Bsb 11/10

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Diferentemente do ano passado, a mostra de 2011 traz uma proposta de peças produzidas a partir da reciclagem na confecção de móveis e painéis

Em pouco mais de duas semanas, Brasília receberá a quinta edição do Morar Mais por Menos, correalizado pelo Correio Braziliense. Este ano, a mostra impressionará pelo tamanho: cerca de 60 arquitetos vão transformar quase 4 mil m2 da Casa do Candango em 35 ambientes, dispostos em três andares. O evento abre as portas para o público em 26 de outubro e segue até 4 de dezembro. Pelo menos 20 mil pessoas são esperadas pela organização.

Os brasilienses terão a oportunidade de ficar ainda mais por dentro das novidades do mercado de arquitetura, paisagismo e decoração. Entre os ambientes preparados, há uma casa completa, com sala de estar, de cinema, cozinha, quarto de casal, do bebê e jardim. Quem quiser ter em casa os produtos expostos poderá fazer reservas durante a visita. Em 2010, a mostra movimentou mais de R$ 3 milhões, valor que deve ser superado este ano.

A ideia do Morar Mais, “o chique que cabe no bolso”, chegou à capital do país em 2007. A mostra nasceu três anos antes no Rio de Janeiro, aliando conforto e economia. O conceito também se espalhou por cidades como Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia, Salvador, Recife e Natal. O objetivo do evento é possibilitar aos visitantes a decoração de ambientes de maneira caprichada, sem a necessidade de desembolsar quantias estrondosas.

Brasília virou referência desde o primeiro ano. Chamou atenção por conta do público ávido por projetos inteligentes e criativos. “Além de ser um mercado em franco crescimento, Brasília possui consumidores que já entenderam a importância de investir no trabalho do arquiteto e do designer de interiores”, comenta o organizador da quinta edição do Morar Mais por Menos, Willian Brandão, artista de formação multidisciplinar e fundador da Agência Fato.

O tema brasilidade será explorado este ano na maioria dos 35 ambientes, dispostos em quase 4 mil m2

A mostra apresentará projetos levando em conta o atual cenário econômico. Em palestras com todos os profissionais envolvidos na elaboração dos ambientes, Brandão deixou clara a necessidade de pensar em clientes em ascensão social e profissional, interessados em arte e design, dispostos a investir, mas que não querem gastar toda a reserva de dinheiro em decoração. “O cliente de hoje não abre mão de outras despesas. Ele deseja a casa bonita, mas quer também viajar”, diz Brandão.

Para baixar os custos, arquitetos apostaram na sustentabilidade. Transformaram caixas de madeira em painéis e móveis, por exemplo. “O que iria para o lixo está sendo reutilizado e poderá ser conferido na mostra”, adianta o organizador. Luminárias antigas foram aproveitadas na composição de um painel moderno, dando ao Morar Mais um toque retrô. “A ideia de reciclagem está bem consolidada na Europa e nos Estados Unidos. Por aqui, ainda persiste essa história de destruir tudo para reconstruir.”

O Morar Mais por Menos serve de vitrine para profissionais da cidade. A arquiteta Tânia Franco, com mais de 20 anos de experiência no mercado, estreará na mostra em Brasília com a responsabilidade de projetar a entrada e a bilheteria do evento. O tema brasilidade será bastante explorado, com cores quentes e a presença de marionetes. “É uma oportunidade e tanta de a gente mostrar a nossa personalidade”, comenta Tânia.

Restauração

Arquitetos e design de interiores estão restaurando todo o prédio da Casa do Candango, que tem 30 anos de existência. Todas as melhorias serão mantidas e parte da bilheteria arrecadada ao longo dos 40 dias de evento será doada para a entidade.

Consumo

O mercado de decoração em Brasília superou em 2009, em faturamento, o do Rio de Janeiro, perdendo apenas para São Paulo, segundo empresários do segmento. O brasiliense nunca foi tão caprichoso e nunca gastou tanto para enfeitar a casa. Nos últimos três anos, todas as grandes marcas de design se instalaram no Distrito Federal.

Orientação

Confira os cinco pilares do conceito Morar Mais:

» Sustentabilidade: investimento em soluções e materiais alternativos, recicláveis, reaproveitáveis e certificados, além de foco na economia de energia e água

» Inclusão social: valorização de trabalhos artesanais de ONGs e cooperativas

» Brasilidade: prioridade para produtos nacionais na composição dos ambientes

» Tecnologia e inovação: uso de trabalhos inéditos e tecnologia de ponta nos projetos

» Conceito de vendas: interação entre visitantes, profissionais e as marcas envolvidas na mostra

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Festival É Tudo Verdade abre inscrições para 2012. DE SÃO PAULO - Estão abertas as inscrições de documentários brasileiros para a 17ª edição do festival É Tudo Verdade, que acontece entre 23/3 e 1º/4, em São Paulo e no Rio. Folha SP - 11/10

Para os longas e médias-metragens que quiserem concorrer, é exigido ineditismo absoluto no país. O prêmio é de R$ 110 mil.

Não há exigência de ineditismo para a competição de curtas-metragens brasileiros, mas a seleção dará preferência a produções inéditas. O mesmo vale para as mostras informativas, como "O Estado das Coisas" e "Foco Latino-Americano".

As inscrições vão até o dia 17 de dezembro. O regulamento e a ficha de inscrição podem ser encontrados no site www.etuoverdade.com.br. Para mais informações, o telefone de contato é 0/xx/11/3064-7485.

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Direitos humanos e combate à tortura. O Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura dará transparência a instituições fechadas, o que não acontece em ditaduras MARIA DO ROSÁRIO é ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Folha SP - 11/10

O governo da presidenta Dilma Rousseff deu mais um grande passo rumo à consolidação dos direitos humanos no Brasil.

Enviamos ao Congresso Nacional o projeto que cria o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, compromisso assumido há quatro anos pelas principais democracias do mundo com a Organização das Nações Unidas.

Depois que tal projeto for aprovado pelo Congresso Nacional, o país terá, pela primeira vez, um instrumento dedicado exclusivamente ao enfrentamento dessa grave violação dos direitos humanos.

Esse sistema será composto por duas instâncias básicas: o Comitê de Prevenção e Combate à Tortura, composto por 23 pessoas indicadas pela presidenta, sendo a maioria da sociedade civil organizada, e o Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura, que terá 11 peritos indicados por esse Comitê.

A estrutura está de acordo com os Princípios de Paris, conjunto de requisitos básicos das Nações Unidas para o funcionamento das organizações de direitos humanos.

Os peritos terão acesso livre, sem necessidade de aviso prévio, a toda e qualquer instituição fechada -centros de detenção, estabelecimentos penais, hospitais psiquiátricos, instituições de longa permanência para idosos, instituições socioeducativas para adolescentes em conflito com a lei e centros militares de detenção disciplinar.

Quando constatadas violações, os peritos irão elaborar relatórios com recomendações aos diretores dessas instituições, que terão um prazo determinado para adotar as devidas providências.

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, órgão do governo federal que deverá coordenar o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, incentiva desde já as unidades federativas a criar os sistemas estaduais equivalentes, a exemplo do que fez o Rio de Janeiro.

A parceria com os Estados será fundamental para erradicarmos essa grave violação dos direitos humanos no Brasil. Também é importante a mobilização da sociedade, denunciando situações de tortura por meio do Disque Direitos Humanos -Disque 100.

Quando estiver em plano funcionamento, esse sistema permitirá a constituição de uma base de dados com informações pormenorizadas a respeito das instituições fechadas em funcionamento no país.

Isso facilitará não só o monitoramento de tais instituições mas também a elaboração e a implementação de políticas públicas que contribuam para garantir os direitos básicos nesses estabelecimentos.

Ao evocar sua condição de mulher e ex-presa política torturada na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, a presidenta Dilma reafirmou o compromisso do Brasil com os direitos humanos.

O Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura dará transparência às instituições fechadas, justamente o que não acontece em épocas de ditadura.

O concreto e o cimento darão lugar a paredes de vidro, para que a população conheça e fiscalize a realidade intramuros.

Certa vez Carl Jung, discípulo de Freud, disse que a morte de cada homem o diminuía, pois ele estava englobado na humanidade.

A tortura é um crime contra a humanidade e, portanto, imprescritível e inaceitável.

Por isso, o governo brasileiro trabalha com determinação para enfrentar todas as violações de direitos humanos e garantir uma vida plena de cidadania para todos os brasileiros e brasileiras.

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Para pais, a publicidade infantil influencia só o filho dos outros. Pesquisa da UnB mostra que entrevistados acreditam ser imunes à propaganda para crianças . Levantamento também analisou comerciais -um deles mostrava criança sendo excluída por não ter brinquedo Folha SP - 11/10

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Pais e mães acreditam que seus filhos são menos influenciados por publicidade infantil do que os filhos de amigos e conhecidos. É o que mostra uma pesquisa inédita feita entre fevereiro e março por pesquisadores da Universidade de Brasília. O levantamento traz informações sobre quase 700 pais e mães, em 19 capitais e no DF.

Eles tiveram de responder à seguinte pergunta: "Quanto a publicidade influencia no que o seu filho consome?". Numa escala que vai da nota 1 (não influencia) até a nota 10 (influencia totalmente), os pais deram notas entre 5 e 6 para seus filhos, em média.

Quando a pergunta se referiu aos filhos de amigos, atribuíram pontuação entre 7 e 8. Considerando as crianças em geral, entre 8 e 9. A pesquisa foi feita como trabalho de conclusão de curso pelo psicólogo Lucas Caldas, que teve bolsa da Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância).

Para o coordenador da pesquisa e professor do departamento de psicologia da UnB, Fabio Iglesias, o dado preocupa. "Quanto mais um indivíduo se considera imune, mais risco ele pode estar correndo."

Ele diz que há evidências do chamado efeito da terceira pessoa. "É quando o indivíduo acha que os outros são influenciados, enquanto ele se considera mais crítico."

A empresária Fabiola Lacerda Abdala, 30, conta que tenta reduzir o tempo que Luísa, 5, fica na frente da TV. "Quando ela vê mais TV, acaba pedindo mais brinquedos."

O pai de Luísa, Ricardo Abdala, discorda. "Ela não liga tanto para as propagandas como outras crianças", diz. A pesquisa também analisou comerciais do programa TV Globinho, da Rede Globo, durante 15 dias antes do Dia das Crianças em 2010. A análise mostrou que 73% recorriam ao "consenso social" -ao mostrar crianças com um produto, cria-se a impressão de que todos já o têm.

Iglesias diz que só uma peça apelou para a tática do medo -mostra criança que não tem o produto sendo excluída. Nos últimos meses, o Congresso discute o projeto que objetiva proibir a publicidade infantil. Defensores da medida alegam que a propaganda estimula o consumismo; quem é contra, que já há controle.

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State Grid quer o linhão de Belo Monte. State Grid planeja disputar transmissão de Belo Monte. Valor Econômico - 11/10/2011

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Maior empresa de energia elétrica do mundo, a estatal chinesa State Grid fez uma nova aquisição no país - comprou por R$ 205 milhões um prédio inteiro no Rio. É mais um passo para a instalação da companhia, que já investiu quase R$ 3,5 bilhões no país desde o ano passado. Cai Hongxian, presidente da State Grid no Brasil, disse ao Valor que o apetite da companhia pelo país não é passageiro. Vai disputar a concessão para construir o linhão 11.223 MW de Belo Monte e tem interesse em sociedade para projetos de geração de qualquer fonte.

Maior empresa de energia elétrica do mundo e sétima maior companhia listada entre as 500 maiores da Fortune, a estatal chinesa State Grid Brazil Holdings fez nova aquisição no país. Acaba de comprar, por R$ 205 milhões, um prédio inteiro e novo na avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. É mais um passo para a instalação da companhia que já investiu quase R$ 3,5 bilhões no país desde o ano passado. Os valores foram gastos na aquisição de sete empresas de transmissão de energia controlada pela Plena Transmissoras, das espanholas Elecnor, Isolux, Cobra e Abengoa por R$ 1,89 bilhão e a quitação de um empréstimo de R$ 1,338 bilhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Com a aquisição do prédio, do qual serão usados inicialmente apenas os cinco últimos andares, o investimento da State Grid chega a R$ 3,433 bilhões. Mas isso pode ser só o começo. Cai (pronuncia-se Tchai) Hongxian, presidente executivo e do conselho de administração no Brasil, disse que o apetite pelo país não é passageiro.

O executivo, que deixou a China em 2010 para morar no Rio, tem interesse em disputar a concessão para construir o linhão que vai transmitir os 11.223 megawatts (MW) de energia que serão gerados pela hidrelétrica Belo Monte para o resto do Brasil, mas não é só. Enquanto o mercado aguarda definição da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sobre o desenho e outros detalhes técnicos dessa linha - que será leiloada em 2012 e ainda está em fase de projeto -, a State Grid busca parcerias. Ela tem interesse em sociedades com brasileiras (estatais e privadas) e internacionais para projetos de geração de qualquer fonte, seja hidrelétricas, eólicas, biomassa e solar. A busca por parceiros envolve projetos tanto no Brasil como em outros países da América Latina. Entre as empresas que já tiveram conversas com a chinesa, Hongxian mencionou a Copel, AES, Cemig, Alupar, Eletronorte e o grupo Rede. Com a Eletrobras foi assinado memorando de entendimento para desenvolver projetos em conjunto. Com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) um memorando prevê troca de tecnologia e da filosofia de trabalho da State Grid.

A aquisição do prédio é citado pelo presidente como uma demonstração de que o país está nos planos de longo prazo. "O Brasil está vivendo um boom econômico, vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas e, mais importante, é um grande mercado. Foi isso que atraiu nossa atenção. É um dos Brics", responde Hongxian quando questionado sobre o porquê de o Brasil ser alvo da segunda incursão da State Grid ao exterior desde que foi criada pelo governo chinês, em 2002. O primeiro foi as Filipinas, onde tem participação de 40% na empresa que opera a rede de transmissão no país, a National Grid Corporation of Philippines.

Na entrevista, a primeira desde a chegada ao país, o executivo disse que são infundados os temores de desnacionalização da indústria de equipamentos com a entrada chinesa, e também se adianta dizendo que a empresa não tem planos de importar mão de obra barata da China. "Isso não existe. Sairia muito caro trazer pessoas e suas famílias para trabalhar aqui. Queremos brasileiros", disse Hongxian. "Nós não viemos para arruinar a indústria de energia do Brasil. Queremos atuar com parceiros locais e trocar experiências. Ninguém precisa ficar preocupado."

Ele parece conhecer bem as preocupações que cercam a chegada de uma empresa integrada de energia controlada pelo governo chinês e que atende 80% da população do seu país com o espantoso número de 1 bilhão de consumidores (80% da população da China, incluindo o Tibet). A State Grid tem números superlativos: emprega 1,5 milhão de trabalhadores, receitas de US$ 240,6 bilhões em 2010 e atua em 88% da China.

A capacidade de geração em dezembro de 2010 era de 962,19 gigawatts (GW) - oito vezes a capacidade brasileira, de 113,32 GW - e que desde 2002 cresce a espantosa taxa de 12,39% ao ano. Mas não é só. A State Grid Corporation of China (SGCC) opera 618,8 mil quilômetros de linhas de transmissão, sendo que a maior delas, de 1.900 Km em linhas de 800 Kv de corrente contínua, não tem similar no Brasil. Em comparação com esses números, a Eletrobras é uma empresa de médio porte.

Não são poucas as preocupações da concorrência por ter esse poderio chinês. Quando ela adquiriu a Plena, em maio de 2010, alguns executivos ouvidos pelo Valor se disseram preocupados dada a facilidade de acesso da chinesa a capital de baixo custo e a equipamentos muito baratos fabricados em seu próprio país, sem falar no baixíssimo custo da mão de obra.

Hongxian conhece os temores. E fez questão de ressaltar durante as três horas de entrevista que não há o que temer. "Viemos para atuar com parcerias. A State Grid é gigante na China mas no Brasil é uma novata. Não há o que temer."

E fez questão de explicar dois pontos que, a seu ver, precisam ser melhor entendidos sobre a empresa. "Não temos qualquer subsídio. O governo chinês não subsidia empresas no exterior. E ainda que subsidiárias de estatais, elas vão para os países para atuar de acordo com a legislação local e serem competitivas como qualquer outra, de igual para igual", disse.

Quanto à aquisição de equipamentos no país de origem, Hongxian afirma que a conta não é tão simples. "Na China (o equipamento) é mais barato que no Brasil. Mas em função de frete, tarifas alfandegárias e impostos, esses produtos se tornam não tão competitivos quanto seriam se estivessem em território chinês. Isso tudo está sendo estudado. Dependendo do produto, existem tarifas de 70% a 80% que eventualmente inviabilizam esse tipo de estratégia."

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Meio ambiente, política e soberania . Almirante de Esquadra (reformado) O Estado de S. Paulo - 11/10/2011

Meio ambiente, recursos naturais (água doce...) e clima são temas indutores potenciais de contenciosos que perturbarão a tranquilidade internacional (e interna em muitos países) no século 21. Esses contenciosos já se manifestam em duas "frentes", aqui referidas ao Brasil. Interna: a atuação humana dissonante do conveniente à natureza, pressionada por demandas do homem, inexoravelmente inserido nos ecossistemas - demandas que, ao menos as racionais, não podem ser ignoradas. E supranacional: as atividades no Brasil vistas, com ou sem razão, como prejudiciais à natureza em escala transnacional; e na mão contrária, os reflexos no Brasil de atividades fora do País danosas à natureza global.

Em ambas as frentes a solução depende da conciliação do interesse humano de curto prazo, quando não das necessidades humanas essenciais, com a sustentabilidade ambiental no longo prazo. Essa conciliação passa pela ciência, pela conscientização do povo e formulação e pelo cumprimento de regulação sensata. A ciência e a conscientização estão avançando - a conscientização, lentamente. Já a regulação e seu cumprimento andam aos tropeços (no Brasil e no mundo...), num quadro em que demandas infladas pelo crescimento demográfico, associado ao consumismo paranoico, tendem a menoscabar o alerta da ciência e a retardar a conscientização. E tendem também a ameaçar a continuidade do potencial da natureza.

Nesse quadro dúbio, que inclui o Brasil, é natural que a conciliação seja tumultuada por um complicador inerente à democracia: o reflexo político-eleitoral da dinâmica do homem no ecossistema, com seus interesses e/ou necessidades - o que explica, por exemplo, por que o político do Mato Grosso é mais tolerante com o desmatamento na fronteira agropecuária do que o do Rio de Janeiro, que, por sua vez, é complacente com a favelização descontrolada de áreas protegidas. Explica ainda por que o político dos EUA resiste ao Protocolo de Kyoto... No fundo, a associação do interesse ou da necessidade humana com a lógica eleitoral no curto prazo, hierarquizada acima da natureza e do próprio interesse humano, no longo prazo - uma conduta de risco, se deixada livre.

Estamos a caminho de saber razoavelmente o que pode ou deve ser ou não ser feito. Difícil é estruturar esse "pode ou deve" sem que o dissenso entre o sugerido pela ciência e o desejado pelo homem - ou exigido por sua sobrevivência - provoque turbulência política. Esse dilema esteve refletido na votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados, em maio: a par da baixa política manifesta no escambo "cargos e recursos por votos", a pressão do homem ator econômico e social no ecossistema também foi influente. Foi, sempre será e é natural que seja, mas há que procurar o equilíbrio entre as demandas do homem e a sustentabilidade ambiental, de que aquelas demandas dependerão no futuro.

Enfim, no Brasil - e no mundo em geral, sobretudo no democrático - as dificuldades da conciliação são maiores na política, influenciada pelos interesses do homem, eventualmente até imperativos e comumente modulados por peculiaridades locais, que sugerem soluções distintas, não raro em dissonância com a natureza. O malogro na solução desse desafio acaba desembocando numa destas hipóteses: se prevalecer o fundamentalismo ecológico irrazoável (pouco provável), viveremos entraves ao desenvolvimento e insatisfação sociopolítica; se prevalecer a pressão humana, em desafio à ciência no tocante à natureza, comprometer-se-á o desenvolvimento no longo prazo e se sujeitará o País a embargos, cotas e certificações restritivas, a pretexto de que o Brasil não responde à sua responsabilidade; no extremo, a pressões impudentes sobre a soberania nacional. Mais dia, menos dia, impor-se-ão medidas salvacionistas até radicais. Risco de erosão da democracia em ambas as hipóteses.

Embora nossos vários biomas sejam todos importantes, a Amazônia é hoje objeto de particular atenção interna e internacional. Por mais que ainda seja preciso estudá-la - o que vem sendo feito no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e em outras instituições -, já existe forte suscetibilidade quanto aos reais ou supostos reflexos suprarregionais do que nela ocorre, indutora de manifestações críticas ao exercício da soberania brasileira na região, vista como de singular interesse da humanidade (exemplo insólito, a manifestação do presidente Mitterrand anos atrás). Independentemente do seu grau de correção, em aferição pela ciência, a suscetibilidade alerta para a necessidade de controle adequado da reação às irregularidades antropogênicas e às catástrofes naturais, o qual, se bem exercido, além de seu valor ambiental intrínseco, deslegitimará atitudes prejudiciais ao País e/ou atentatórias ao sentido rigoroso da soberania.

Esta é a realidade: nossa virtude ambiental carece de adequada moldura legal que concilie homem e natureza e, complementarmente, de rigoroso controle do seu cumprimento. Nessa equação intervêm o Congresso e seus congêneres estaduais, na flexibilidade admitida pela lei federal, naturalmente sujeitos às pressões do processo político com suas peculiaridades regionais, e os Executivos federal e estaduais, em realce o Ministério do Meio Ambiente e órgãos estaduais correlatos. Se à sombra do Tratado de Cooperação Amazônica o tema se estender aos nossos vizinhos - hipótese razoável, já que o ecossistema não respeita fronteira política -, também o Ministério das Relações Exteriores.

Saberemos resolver o desafio da compatibilização das demandas do homem, incidentes nos ecossistemas, com as da sustentabilidade ambiental, ou viveremos décadas tumultuadas por contenciosos nacionais e internacionais? Não será fácil atingir o equilíbrio ideal entre a prudência ecológica e a pressão socioeconômica - ao menos enquanto a conscientização do povo não for capaz de se contrapor ao interesse imediatista, no processo político-eleitoral.

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