segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Política cultural. Afinal, que Lei é essa?. Dificuldade de captação pela Lei Rouanet domina reclamações de produtores em reunião da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura O Popular 20.10

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A produtora cultural Viviane Louise reclamou sobre a falta de retorno de grandes empresas, principalmente de estatais como a Petrobras, para proponentes culturais fora dos grandes centros. "O que ela arrecada em nossa região deveria ser proporcionalmente aplicado aqui. Mesmo as filiais de grandes empresas aqui em Goiás, quando usam da Lei Rouanet, utilizam do mecanismo para aplicar em produções culturais do eixo Rio-São Paulo, e não aqui. Sobra muito pouco para a gente", protestou. Henilton reconheceu que realmente este pode ser um "equívoco da lei". "O que pode ser feito é tentar influenciar na formulação dos editais das empresas. Mas um morador da zona leste de São Paulo pode ser tão excluído das políticas culturais como um morador do interior da Amazônia no atual processo. Com o Procultura, vários equívocos podem ser sanados", acredita Henilton.

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LITERATURA. Confissões no gravador

Sexo, política e micagens de Drummond Folha SP 22.10

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RESUMO

Livro de entrevistas concedidas entre 1927 e 1987 compõe perfil divertido e surpreendente de Carlos Drummond de Andrade, que de figura circunspecta se mostra um personagem ferino e atuante na vida do país. Reedições de crônicas permitem estender nexos mais claros entre a prosa e a poesia do autor.

PAULO WERNECK

ilustração PAULO MONTEIRO

O CRÍTICO LITERÁRIO Antonio Candido recordou certa vez uma tipologia, criada talvez em mesa de bar, que dividia os escritores mineiros entre "contidos" e "derramados". Por esse critério, Guimarães Rosa seria um típico escritor "derramado", assim como Pedro Nava e Paulo Mendes Campos. Já Carlos Drummond de Andrade seria um "contido" convicto, ao lado de Otto Lara Resende e talvez do próprio Antonio Candido.

A brincadeira tem lá sua dose de verdade, mas não se ajusta com perfeição a uma personalidade como a de Drummond. As novas gerações, para as quais se fixou a figura algo macambúzia que, nos anos 1980, estampou tristes notas de 50 mil (cruzeiros? cruzados? cruzados novos?), há de se espantar com a franqueza com que falava de clichês da esquerda e da direita, modismos sexuais dos anos 80 ou, ferino, de uma vida literária "ridícula e triste", que "se fizesse em termos de corrida de cavalos".

Muito da faceta "derramada" do poeta pode ser conhecida em "Carlos Drummond de Andrade - Coleção Encontros" [Azougue, org. Larissa Ribeiro, 206 págs., R$ 29,90], que reúne 17 entrevistas concedidas ao longo de seis décadas, entre 1927 -um ano antes de publicar, na "Revista de Antropofagia" seu mais famoso poema, "No Meio do Caminho"- e 1987, ano de sua morte.

MOVIMENTAÇÃO A coletânea, que chega no próximo mês às livrarias, é parte de uma movimentação cultural e mercadológica que se dá neste momento em torno do poeta e que poderá promover um novo ciclo de reedições, rediscussões e releituras.

No próximo dia 31, o Instituto Moreira Salles promove o "Dia D", celebração que pretende instaurar uma versão brasileira do Bloomsday, no qual, todo 16 de junho, ritualiza em cidades do mundo inteiro o dia em que, no romance "Ulysses", de James Joyce, Leopold Bloom vagueia por Dublin.

Estão previstas exibições de filmes, saraus, leituras em escolas, centros culturais, bares e na internet (veja a programação em folha.com/ilustrissima). Aproveitando um vácuo na migração de Drummond da Record para a Companhia das Letras, a Cosac Naify relança dois livros de prosa que há décadas não eram editados fora dos volumes de obra completa: "Confissões de Minas" (1944) e "Passeios na Ilha" (1952).

A mesma editora lançou há pouco "Poesia Traduzida", produção pouco conhecida e pela primeira vez reunida em livro, com organização de Augusto Massi e Julio Castañon Guimarães, e promete para 2012 uma edição crítica dos dez primeiros livros de poesia, sob os cuidados de Castañon Guimarães.

E, por fim, a obra completa começa a ser lançada pela Companhia das Letras no ano que vem, quando Drummond como autor homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

JAZIDA O livro da Azougue mostra uma imagem diferente da de um homem "triste, orgulhoso, de ferro" que cantou num poema, e vem mostrar que sua ironia e seu sarcasmo corroem qualquer tentativa de solenidade.

A leitura traz a certeza de que Drummond não era exatamente "esquivo" ou "avesso a entrevistas" (elas são numerosas) como se costuma dizer: só gostava de evitar os chatos que o atormentaram vida afora e que ele não deixa de mencionar aqui e ali. E sobretudo gostava de uma boa conversa.

Há no livro balanços e recordações dos tempos do modernismo, além de saborosas observações sobre a vida literária ("Ninguém mais hoje pode avaliar o que eram, em burrice e monotonia, as letras brasileiras de 1920. Não havia nem mesmo, como agora, uma burrice variada, de um colorido intenso e perturbador. Era tudo cinzento e chato", diz ele em 1942).

Seu maior valor está em proporcionar contato direto com a personalidade galhofeira do poeta, as anedotas e as "boutades" presentes em cada página (por exemplo, que ele e o escritor Fernando Sabino gostavam de passar trotes telefônicos).

Essas e outras micagens, conhecidas pelos iniciados mas ainda mal notadas pelo público mais amplo, fazem da coletânea um livro que se lê com gosto.

MARIA JULIETA Tem sabor especial a entrevista que Drummond dá à filha Maria Julieta para o jornal "O Globo", em fevereiro de 1984. Naquele período, ele se mostra mais loquaz do que nunca com os jornalistas, depois de quase um voto de silêncio nos anos 70.

Em parte porque, "tendo passado agora para uma editora que tem uma organização empresarial muito eficiente [Record], não podia deixar de atender à necessidade de divulgação do livro", explica a Gilberto Mansur numa entrevista, aliás, concedida à revista "Status" horas depois de tomar conhecimento do suicídio do amigo da vida inteira Pedro Nava (1903-84).

Maria Julieta se vale do posto privilegiado de observadora afetiva e extrai declarações tão prosaicas quanto surpreendentes: "Os objetos sem serventia devem ser destruídos ferozmente. Se uma caneta funciona mal, arrebento-a, logo. Destruo também bonecos, vasos, camisas. Eu precisava disso para não assassinar ninguém e dar vazão aos meus impulsos agressivos. Acho legítimo."

Em outro ponto, Drummond explica sua mania de jogar papéis no lixo fazendo "'embrulhos corretos, com todas as especificações necessárias a um bom pacote', a fim de cumprir as indicações do síndico do edifício". "Estou convencido de que os papéis copulam de noite e de manhã nascem filhotes, resmas de papel datilografado, manuscrito, em branco. Se eu não rasgar, minha mesa vira um caos e já não consigo encontrar mais nada."

SEXO As entrevistas dos anos 80 são marcadas pela curiosidade dos jornalistas em torno de "O Amor Natural", coletânea de poemas eróticos que Drummond guardava na gaveta e que só seriam publicados postumamente, em 1992.

Em vários depoimentos, ele confessa receio em publicar em meio à "fase de pornografia" que o país vivia: "Eu vejo, hoje em dia, as mulheres dizerem, com a maior liberdade: 'Puxa, que tesão eu tenho por ele'; ou: 'Eu tenho um tesão formidável'. [...] Ocorre até que a pessoa fale assim: 'Ah, eu chupava o pau dele'; assim, com a maior calma: 'Se ele deixasse, eu chupava o pau'."

Em seguida, conta que foi procurado por "uma senhora" que "dizia que era jornalista, mas que estava desempregada" e que, ao pedir trabalho a Jaguar na redação do "Pasquim", foi incumbida de conseguir uma entrevista com Drummond. Telefonou para o poeta e disse, sem meias palavras: "Se for preciso, eu chupo o seu pau para você me dar uma entrevista".

"Eu disse: 'Olha, não vale a pena, eu acho isso uma bobagem, uma coisa sem maior importância, não dou mesmo entrevista'." Então pediu explicações a Ziraldo, do "Pasquim", que respondeu: "Ah, é fulana de tal, ela é muito desbocada e, naturalmente, o Jaguar disse isso mesmo para ela, sabendo que você não dava entrevista".

Em 1987, diz a Geneton Moraes Neto: "Quando eu era rapaz, tesão era uma palavra que a gente dizia na roda de chope, na conversa, mas não se considerava uma palavra de bom português. Há um fanzine, uma dessas revistas alternativas de São Paulo, que se chama 'Esperma de Baleia'".

Foi por "coisas desse gênero", explica, que guardou na gaveta os poemas eróticos de "O Amor Natural": "A noção de arte, beleza e estética fica prejudicada por esse conceito vulgar de um uso imoderado da linguagem".

Tamanha soltura não significa que, em plena abertura política e comportamental, o poeta jogasse para uma plateia ávida por liberdade sexual -na cama, na mesa de bar, nas páginas dos jornais. Ele apenas não quer se confundir com aquele "Zeitgest" ("não sou um indivíduo devasso"), ainda que sob risco de soar antiquado.

"No meu livro erótico não há o amor homossexual ou o amor transexual, bissexual", fez questão de esclarecer na entrevista à "Status". "É uma experiência que eu não tive e que hoje, parece, está muito em moda, não é? O receio da gente, na realidade, é passar como heterossexual e ser considerado como um indivíduo careta, não é?"

Ele volta ao assunto em entrevista à revista "IstoÉ", em 1984. Primeiro, esclarece que a seu ver "tudo o que parece antinatural é natural", e que se "um ser humano [...] revelou um desvio, esse desvio é natural". Mas depois diz com uma franqueza ácida:

"Acho que a imagem do homossexualismo tem todo um folclore que eu acho meio desagradável", disse. "Transexualismo, bissexualismo, cultivar a experiência como se fosse uma nova fonte de conhecimento vital -acho tudo isso muito desagradável. [...] Eu me lembro hoje de um slogan da minha mocidade, de água mineral, que acho muito bom: 'Basta de experiências, beba Caxambu.'"

ESQUERDA O receio não era só de ser percebido como "heterossexual careta". Ao criticar a esquerda, Drummond também se recusava a ser associado à direita, esquematismo que ainda hoje viceja no país.

Em 1963, época de grande acirramento ideológico no Brasil, questionado por Pedro Bloch sobre sua posição política, ele preferiu o ambíguo conforto da ironia: "A posição do escritor pode ser de pé, sentada ou deitada, conforme lhe resulte mais cômodo". Vinte anos depois, no ocaso da ditadura militar, não terá receio em contrariar unanimidades culturais.

Exemplo disso é o que declarou sobre sua posição no golpe de 1964: "Não colaborei, mas apoiei a revolução. A minha primeira impressão foi de alívio, de desafogo, porque reinava, realmente, no Rio -e dou testemunho disso- um ambiente de desordem, de bagunça, greves gerais, insultos escritos nas paredes contra tudo. Havia uma indisciplina que afetava a segurança, a vida das pessoas. E, como o presidente João Goulart me parecia incapacitado para exercer uma ação política correta, eu apoiei a revolução, não nego."

Em seguida, ressalta: "Logo depois me desencantei. Quando vi o marechal Costa e Silva dizendo aquelas coisas que dizia... Aí, eu fui servir de testemunha de defesa do jornalista Carlos Heitor Cony, meu companheiro do 'Correio da Manhã', num processo que o ministro Costa e Silva moveu contra ele. E aí eu comecei a sentir que realmente a coisa não dava, não era para o meu paladar".

Outra unanimidade do momento, a campanha da Diretas Já, é vista com pé atrás: "Eu não apoiei com entusiasmo as Diretas: em primeiro lugar, porque não sou militante político; em segundo lugar, porque eu acho que as Diretas constituiriam uma espécie de erro generoso, erro puro".

Questionado se seria de esquerda, posição quase obrigatória, Drummond responde: "Eu não divido as pessoas em pessoas da direita ou da esquerda. Nisso, eu acho, parece que há um preconceito: a esquerda tem sempre razão. Mas a esquerda, até agora, no Brasil, tem sido a parte mais errada da opinião pública, a que mais caiu em erros. Caiu em 1935, caiu em 1964, caiu quando queria que Getúlio fizesse a Constituinte, caiu em todas as partes e ainda está caindo até hoje".

Para ele, a esquerda andava "fundamentalmente errada. Agora, eu acho que a pessoa pode não ser partidária da direita, como eu não sou, eu abomino a direita, e não ser partidária da esquerda e ter um pensamento consequente, que é o pensamento socialista, que não é propriedade da esquerda".

REAVALIAÇÃO Se as entrevistas trazem à tona uma personalidade derramada, duas reedições recuperam material sólido para ajudar a reavaliar a contenção com que constrói sua obra.

Os textos de "Confissões de Minas" [336 págs., R$ 69] e "Passeios na Ilha" [346 págs., R$ 69], até agora disponíveis apenas em volumes de obra completa que os confinaram à confidencialidade dos especialistas, nasceram de sua colaboração com jornais e revistas nos anos 1930, 40 e 50, em especial o "Correio da Manhã". Os dois volumes chegam às livrarias no final deste mês.

Não se trata daquilo que, na entrevista a Maria Julieta, o poeta chama "gênero menor e engraçado, que se enquadra exclusivamente no segundo caderno dos jornais" e que ele praticava três vezes por semana em sua coluna no "Jornal do Brasil" a partir de 1969.

O trabalho no "JB" fixou no grande público a imagem de um cronista à maneira de Fernando Sabino, Rubem Braga ou Paulo Mendes Campos, com quem dividiu volumes da coleção Para Gostar de Ler, da editora Ática.

Esqueça as pequenas narrativas urbanas daquela fase, como "Serás Ministro". Em "Confissões de Minas" e "Passeios na Ilha", a maioria dos textos confina com o ensaio literário, à maneira do que faz Manuel Bandeira em "Crônicas da Província do Brasil" (1937), espécie de ensaísmo confessional que abre as portas da constituição de sua obra poética.

POESIA E PROSA A conversa mais interessante aqui é a que se estabelece entre poesia e prosa. Como assinala o editor Milton Ohata no posfácio a "Confissões de Minas", os dois livros "são o correlato em prosa das inquietações que se configuram em 'Sentimento do Mundo' (1940) e se apaziguam em 'Lição de Coisas' (1962)". Da mesma forma, em "Passeios na Ilha" se adivinha a gestação de "Claro Enigma", lançado um ano antes.

Em 1941, o poeta contabiliza gaiatamente, para "A Gazeta", o conteúdo de sua "bagagem impressa": "Em 15 anos, três pequenos volumes, com um total de 104 poesias, sendo algumas de duas linhas, dão por ano 6,14 poesias".

Em entrevista à "Vamos Lêr", um ano depois, recusa a ideia de que seus livros fossem concebidos como projetos: "Nunca fiz um livro, como os romancistas o fazem, com uma máquina de escrever, um cachimbo e um caderno de notas. Quando possuo trinta, quarenta poesias, passo-as a limpo e levo a uma tipografia. Questão, apenas, de número, como vê".

A exaustiva arqueologia que escarafuncha a origem de cada texto nos volumes da Cosac Naify vem negar esse aparente espontaneísmo. Estão enfatizadas as conexões e as estruturas de um projeto intelectual que se constrói na tensão entre o "rigoroso intelectualismo" de Paul Valéry [1871-1945] e a "contingência e o acidente" que marcam os ensaios de Michel de Montaigne [1533-88], como assinala Sérgio Alcides no posfácio a "Passeios na Ilha".

As edições trazem fortunas críticas e bibliografia. Há também o utilíssimo índice remissivo, lamentável ausência na coletânea de entrevistas da Azougue.

Vê-se ali um Drummond "a passeio", como observa Alcides, que visita Ouro Preto, Sabará e Congonhas do Campo e a partir dessas viagens produz alguns de seus mais belos textos em prosa, como "Contemplação de Ouro Preto" e "Colóquio das Estátuas".

Neste texto, ele põe para conversar os profetas que Aleijadinho fez em pedra-sabão, "mineiros de há 150 anos e de agora, taciturnos, crepusculares, messiânicos e melancólicos" -como Drummond. Mas aos escritores não convém o figurino das estátuas. Prova disso é a avaliação tão bem humorada quanto precisa que faz de Guimarães Rosa, "um louco que pensa que é Guimarães Rosa".

Drummond, aqui, não poderia ser mais derramado.

"Os objetos sem serventia devem ser destruídos ferozmente. Se uma caneta funciona mal, arrebento-a logo. Destruo também bonecos, camisas", declarou o poeta

Drummond conta que foi procurado por uma senhora que se dizia jornalista. Ela disse, sem meias palavras: "Se for preciso, chupo o seu pau para você me dar entrevista"

A campanha da Diretas Já é vista com pé atrás: "Não apoiei com entusiasmo. Não sou militante e acho que as Diretas constituiriam uma espécie de erro generoso, erro puro"

"Nunca fiz um livro como os romancistas, com máquina de escrever, cachimbo e caderno de notas. Quando possuo 30, 40 poesias, passo-as a limpo e levo a uma tipografia">>>

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Comportamento. Solidão na metrópole

Psicólogas dizem que as fobias urbanas acabam provocando o isolamento das pessoas. O Popular 23.10.11

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Coordenadora-adjunta de pesquisa do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo (USP), a psicóloga Nancy Cardia defende que o medo da violência dentro de uma sociedade tem profundo impacto sobre a vida social, cultural, econômica e política de um País. Em seu artigo Medos Urbanos , ela explica que o sentimento reduz a disposição das pessoas para ações coletivas, aumentando a desconfiança entre elas, inibindo o exercício de capital social, porque reduz o diálogo e, portanto, a identificação de que problemas são compartilhados, afetando ainda o exercício da solidariedade.

Em resumo, o medo nos afasta um dos outros porque todo mundo se torna um agressor em potencial. "A solidão pode ser um reflexo de todos os outros medos", completa a psicóloga Neuza Corassa, do Centro de Psicologia Especializado em Medos ( medos.com.br ).

Neuza diz que nessa discussão é muito importante diferenciar o medo da fobia. O primeiro é uma reação de autopreservação, na medida certa, até desejável. É o medo de morrer atropelado, por exemplo, que nos faz olhar para os dois lados da rua antes de atravessar. Já a fobia, segundo a psicóloga, é semelhante ao medo, mas nela existe um nível de ansiedade que interfere na vida cotidiana da pessoa. A fobia paralisa.

Sentimento coletivo

Neuza - autora do livro Vença o Medo de Dirigir (Editora Gente) - acredita que o medo da violência urbana é um sentimento coletivo e que, nos últimos anos, deixou de ser exclusividade de quem vive nas metrópoles. "Quem vive nas pequenas cidades também tem experimentado a mudança de costumes por causa do medo. Você passa a viver de uma forma diferente. É um sentimento que atinge todas as classes sociais e faixas etárias. Você nunca sabe de onde o perigo pode estar vindo", explica.

Para a psicóloga, ser prudente é realmente importante, mas a desesperança e o medo em excesso podem levar a outras doenças, como a depressão e a síndrome do pânico. Refletir sobre o medo urbano é também uma forma de repensar nossas vidas nas cidades.

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Literatura sustentável. O romance brasileiro na era do marketing. Projeto literário que pretende levar 14 escritores a 14 capitais brasileiras para escrever romances traz de volta à pauta os mecanismos heterodoxos de financiamento de obras de ficção. À diferença do pioneiro Amores Expressos, o projeto Redescobrindo o Brasil foi aprovado na Lei Rouanet. FOLHA 23.10

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A NOTA, DISCRETA, saiu no "Diário Oficial da União": desde o último dia 13, uma produtora paulistana está autorizada a captar recursos, via Lei Rouanet, para financiar viagens cujo objetivo é inspirar um grupo de autores a escrever romances.

Em tempos não muito distantes, recorrer ao Ministério da Cultura para financiar um projeto que parecia mais vocacionado para o Ministério do Turismo inflamou tanto os ânimos que o pai da ideia acabou desistindo do pleito e financiou as viagens do próprio bolso.

Era 2007, e o projeto, o Amores Expressos, agitou rancores e protagonizou os dias mais conturbados desde que o meio literário brasileiro descobriu a internet. Um dos questionamentos dizia respeito à legitimidade de uma literatura financiada por fora do esquema tradicional, de contratos de edição, vendas e direitos autorais de livros.

Em outras palavras, quando a feitura de romances se acerta entre escritores, produtoras e ministérios, uma figura pode parecer dispensável ou obsoleta: o leitor.

ISENÇÃO FISCAL O novo projeto, chamado Redescobrindo o Brasil, sai com alguns pés de vantagem. O aval do governo para captação de R$ 672 mil via isenção fiscal já foi dado. Como prevê a Lei Rouanet, o dinheiro ainda não está garantido, já que antes os produtores precisam angariar o interesse de empresas em investir. Isso até pode ser facilitado pelo fato de as viagens serem dentro do país, e não para o exterior, como era no Amores Expressos.

O Redescobrindo o Brasil é uma espécie de filhote mais modesto do Amores Expressos, embora a comparação não seja do agrado da escritora Adriana Lisboa, uma das idealizadoras da iniciativa.

"Pensei no projeto quando a editora americana Whereabouts me convidou a ter contos no livro 'Brazil, a Traveler's Literary Companion', junto com Clarice Lispector, Dalton Trevisan e outros", disse a autora à Folha. "Eles fizeram um mapeamento literário organizado por regiões usando os contos. Imaginei que seria interessante algo do gênero com livros inteiros."

Goste-se ou não da comparação, é inegável que o novo projeto se beneficia da porta aberta pelo projeto de 2007, que tanta dor de cabeça causou ao produtor Rodrigo Teixeira, da RT Features.

A curadoria é dividida entre Adriana e o ficcionista Luiz Ruffato. Ao todo, a coleção deve ter 14 romances escritos por 14 autores convidados a passar 15 dias em 14 diferentes capitais brasileiras. A ideia é que todos estejam publicados e traduzidos para a Feira de Frankfurt de 2013, quando o Brasil será o país homenageado.

INEDITISMO Com o Amores Expressos, Teixeira inaugurou um método de produção de livros no Brasil. "De certa maneira, ele pagou o preço do ineditismo", avalia o ficcionista e jornalista Sérgio Rodrigues. "Era a primeira vez que se fazia um projeto de ativamente produzir livros, com um projeto de marketing mais amplo envolvido."

Na ocasião, Rodrigues fez críticas ao projeto em seu blog, Todoprosa, hoje no portal da "Veja". A caixa de comentários do blog virou, como diz Rodrigues, "uma caixa de ressonância de malucos de todo o Brasil, contra e a favor". "Até agora, o Rodrigo estava correndo meio sozinho nisso. Há certa ousadia, porque é um mercado originalmente de vendas fracas", diz.

A notícia foi dada pela Ilustrada, em março de 2007, em texto não propriamente crítico, mas sob o provocativo título "Bonde das letras". Uma semana depois, a Ilustrada voltou ao tema, desta vez buscando classificar as diferentes irregularidades em que o projeto de Teixeira poderia incorrer, incluindo a acusação de configurar "formação de panelinhas". A "Veja" publicou reportagem ácida com caricaturas dos participantes, entre os quais estão alguns dos autores mais respeitados do país, como Bernardo Carvalho, Sérgio Sant'Anna e o próprio Ruffato.

O valor orçado para o Amores Expressos era de mais de R$ 1 milhão. Uma solicitação chegou a ser feita ao MinC, mas o pedido foi arquivado sem que Teixeira tivesse dado entrada nos documentos. "Era um direito a que eu tinha, o de tentar, mas preferi desistir."

FILMES No fim, tudo ficou em R$ 510 mil, saídos dos bolsos dele e de dois sócios. A estratégia era clara: obter 16 romances que pudessem render filmes -a cessão de direitos cinematográficos fazia parte do contrato. Teixeira diz que, se três dos livros virarem filmes, o projeto "já se paga": "Nunca foi a ideia fazer 16 filmes. Queria pautar para ver o que resultava disso".

Cada viagem saiu por volta de R$ 30 mil, incluindo direitos autorais e custos de viagem, com cachê. No Redescobrindo o Brasil, cada livro sairá por R$ 48 mil, aí incluídos os custos de edição, que não estavam contemplados no projeto de Teixeira.

Os romances da série Amores Expressos vêm saindo pela Companhia das Letras, que não é obrigada a publicar todos e se encarrega dos custos editoriais, como faz com qualquer outro de seus livros.

Já no Redescobrindo o Brasil, a ideia é que a editora carioca Casa da Palavra publique todos os romances, segundo Adriana Lisboa. "Estamos levando fé de que os 14 vão escrever livros dignos disso."

Ela própria não entrou em acordo com a Companhia das Letras e deixou inédito o seu romance do Amores Expressos, ambientado em Paris. O mesmo aconteceu com André de Leones, que lançou pela Rocco o único livro do projeto ambientado no Brasil (São Paulo) -e que está entre os autores do projeto de Adriana e Ruffato.

No Redescobrindo o Brasil, a cláusula audiovisual não está inclusa. "Se os livros despertarem o interesse de cineastas, ótimo", diz Adriana. A terceira ponta é a agente literária Lúcia Riff, que tem autores agenciados entre os convocados: Beatriz Bracher (Belém), Maria Valéria Rezende (Porto Alegre), Lívia Garcia-Roza (Salvador), João Anzanello Carrascoza (Natal), Flávio Carneiro (São Paulo) e a própria Adriana, que não vai escrever.

CENA "O importante é movimentar o mercado. Há gente criticando, outros projetos aparecendo. Mesmo que nenhum dos livros fosse uma obra-prima, o Amores Expressos já teria esse mérito", diz o escritor Ronaldo Bressane, amigo de Rodrigo Teixeira que não entrou em nenhum dos dois projetos.

O Amores Expressos ainda não se pagou. Dois filmes estão em pré-produção: "Cordilheira", baseado no livro de Daniel Galera (Buenos Aires), tem previsão de ser filmado no fim de 2012, por Carolina Jabor. Outro, que ainda demora, é "O Filho da Mãe", adaptação do romance de Bernardo Carvalho ambientado em Moscou. Dirigido por Karim Aïnouz, não terá vínculo com dinheiro nacional, diz Teixeira, já que não há personagens brasileiros.

Além disso, o filme baseado no livro de Ruffato (Lisboa) está sendo realizado por uma produtora portuguesa. Segundo Teixeira, há gente interessada no de Chico Mattoso (Havana) e no de Sérgio Sant'Anna (Praga). O de Joca Reiners Terron (Cairo) e o de Lourenço Mutarelli (Nova York) Teixeira diz querer ele mesmo produzir.

EXTERIOR Criticada no Brasil, a iniciativa foi elogiada no exterior. "Os estrangeiros valorizaram mais. Recebi e-mails de editores e autores enaltecendo a ideia das viagens e o fato de isso ser feito com vista a adaptações cinematográficas", diz Teixeira.

Segundo ele, isso animou o escritor americano Denis Johnson a vender os direitos de "Ninguém se Mexe" (Companhia das Letras) à RT Features. "Além disso, fechamos parcerias com Scott Rudins, produtor de cinema que investe em livros, e com a McSweeney's, editora do Dave Eggers."

O pedido inicial do Redescobrindo o Brasil ao MinC foi de R$ 1 milhão. Como foram aprovados R$ 672 mil, foi preciso pensar em cortes cá e lá. Com isso, da ideia inicial de duas viagens de 15 dias por autor, restou uma. Cada viagem está orçada em R$ 6.000, mais um cachê de R$ 10 mil por escritor.

Se o Amores Expressos foi criticado por focar um tema anacrônico na literatura no século 21, seu correspondente nacional incorre num outro risco -terão os autores coragem de retratar mazelas de locais visitados, tendo em vista que empresas locais patrocinariam os títulos, ou farão relatos para o turismo local gostar?

CRÍTICA Resta saber se o Amores Expressos produziu boa literatura. Para Sérgio Rodrigues, dos sete livros que saíram até agora, o resultado ficou "um pouco abaixo do investimento e do barulho que se fez". "Não me parece que tenha saído nenhum grande livro, fora o do Bernardo Carvalho, que faria um grande livro de qualquer jeito."

O crítico e poeta Alcides Villaça, que leu só o de Ruffato, avalia que "o tema do amor entrou lateralmente. O tema que conta é o do desajuste cultural vivido pelo brasileiro pobre e desenraizado em Lisboa". O colunista da Folha Manuel da Costa Pinto diz que, "se a coisa da história de amor era uma brincadeira que soava anacrônica, os autores souberam lidar com isso de maneira irônica. Foi uma brincadeira que eles transgrediram."

O projeto rendeu também uma resposta galhofeira do pernambucano Marcelino Freire, escritor tão agitador cultural quanto avesso à trabalheira que dá inscrever projetos para captação de recursos pelo MinC. Dele nasceu o "projeto" Que Viagem, pelo qual Marcelino mandou autores desconhecidos a lugares "para onde os escritores realmente vão", como o "Inferno" e a "Casa da Mãe Joana". Os livros saem pela independente Edith, que Marcelino estreou no ano passado e pela qual lançou seu recente "Amar É Crime".

PRODUTORA Se Rodrigo Teixeira queria obter boas histórias para filmar, o que quer a produtora Motirô, do Redescobrindo o Brasil? "É um escritório recente", diz um dos sócios, Osvaldo Alvarenga, "montado em janeiro e focado em teatro e literatura".

Entre os trabalhos da casa, estão uma peça inédita de Ferreira Gullar, "O Homem Como Invenção de Si Mesmo" (2009) e uma série chamada "Aqui Nasceu a Literatura Brasileira", com fotos de Márcia Zoet e textos de Ruffato, sobre as casas onde nasceram e viveram grandes autores brasileiros. Os dois foram aprovados para captação de recursos via Lei Rouanet.

A meta agora é publicar em julho os dois primeiros livros do Redescobrindo -o de Tatiana Salem Levy (São Luís) e o de Flávio Carneiro-, para já serem apresentados a editores internacionais.

A ver se os autores pegam o ritmo. Quando o Amores Expressos foi anunciado, esperava-se que todos os títulos saíssem em quatro anos. Perto do fim do prazo, menos da metade dos livros encomendados chegou às lojas.

Com o Amores Expressos, Teixeira inaugurou um método de produção de livros no Brasil. "De certa maneira, ele pagou o preço do ineditismo", avalia Sérgio Rodrigues

No Redescobrindo o Brasil, a ideia é que a Casa da Palavra lance todos os romances, segundo Adriana. "Estamos levando fé de que os 14 vão escrever livros dignos disso"

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Juizados Especiais

Processos enfrentam lentidão

Criados para agilizar as ações da Justiça, locais não têm estrutura para atender alta demanda

Assim, quem faz opção por eles pode amargar longa espera por justiça. O popular/GO 24.10

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A juventude de um vulcão Para não sofrer ao contar os últimos anos de Glauber Rocha, Nelson Motta decidiu escrever sobre o período de formação do cineasta. A biografia, idealizada há 22 anos, enfim chega às livrarias. Correio 24.10

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Glauber Rocha com a câmera pronta para filmar na Bahia, na foto feita pelo amigo Luiz Carlos Barreto

Que Nelson Motta ama doidões libertários, quase todo mundo sabe. Ele embarca fácil em navios lotados de gente que não se encaixa e adora histórias de jovens artistas crentes no poder da juventude quando se trata de mudar o planeta. Mas Motta também adora final feliz. O problema aparece quando os doidões não encaixam. Por isso, o crítico e escritor resolveu colocar um fim precoce em A primavera do dragão. Os últimos anos de Glauber Rocha foram difíceis e o fim, bastante triste. Motta preferiu então contar a juventude do cineasta.

Ele tentou fazer isso pela primeira vez em 1989, mas foi barrado pelo pudor quando descobriu que Zuenir Ventura embarcara na mesma viagem. Uma fatalidade mudou o projeto dos dois escritores. As anotações de Ventura para a biografia de Glauber foram roubadas (com o carro dele) e o jornalista perdeu todo o material. Anos depois, autorizou Motta a seguir adiante com o livro.

A primavera do dragão é, portanto, produto maturado. O autor precisou de 22 anos e sete livros publicados para deixar a ideia amadurecer e sedimentar. A única coisa de que tinha certeza era de não querer tratar da parte triste da vida de Glauber. “Seus últimos anos e sua morte foram muito duros e sofridos. E, como o amava muito, para mim seria um sofrimento relatá-los, Deus me livre! Gosto de alegria, de leveza, de humor, de poesia (também nas biografias). Por isso, escolhi os anos de sua formação, e floração, contando como ele se tornou Glauber Rocha.”

Nelson Motta conheceu o baiano em março de 1964, durante a pré-estreia de Deus e o diabo na terra do sol. O escritor era louco por cinema, embora estudasse design. “Fomos amigos de toda a vida”, garante. A primavera do dragão começa com o encontro entre os pais do cineasta, Lucinha e Adamastor, no interior da Bahia, e dá especial destaque aos anos de faculdade e à descoberta do cinema. No colégio e na faculdade, a turma de Glauber reunia a nata da intelectualidade baiana. João Ubaldo Ribeiro e Calazans Neto eram constantes nas farras e nas discussões revolucionárias do grupo em Salvador, mais tarde incrementado por Cacá Diegues, Luiz Carlos Barreto e Luiz Carlos Maciel, quando Glauber já morava no Rio de Janeiro.

A primavera do dragão %u2014 A juventude de Glauber Rocha

De Nelson Motta. Objetiva, 400 páginas. R$ 69,90.

Glauber Rocha decidiu fazer cinema após assistir a Rio 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos. Durante uma viagem de férias ao Rio de Janeiro, comprou uma câmera com o dinheiro da venda de dois bois, presente do padrinho por ter passado no vestibular para o curso de direito. Aos 19 anos, fez o primeiro curta-metragem. Sem narrativa, música, histórias ou símbolos, influenciado pela poesia concreta, ele imaginou para Pátio um roteiro destinado a explorar formas geométricas e sombras. Na tela, a então namorada, Helena Ignez, contracenava com um colega da Escola de Teatro da Ufba (a Universidade Federal da Bahia). O desfile de sequências sem enredo era uma experiência. Glauber queria fazer “cinema em estado puro” e uma ode à beleza da namorada.

O filme foi exibido na casa de Ligia Pape, no Rio de Janeiro, e teve como plateia o séquito da arte concreta. Ferreira Gullar, Hélio Oiticica, Amilcar de Castro e o crítico de arte Mário Pedrosa assistiram ao curta e deram início ao falatório em torno do nome de Glauber. Surgia ali o Cinema Novo, que dias depois estaria descrito em manifesto publicado no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, reduto concretista da capital carioca. Três anos depois, o cineasta conceberia o primeiro longa. Barravento, de 1962, seria a estreia internacional de Glauber no mundo do cinema. Dois anos mais tarde, viria o reconhecimento em Cannes, com a seleção de Deus e o diabo na terra do sol. Foi nessa consagração que Motta decidiu encerrar o livro, em clima de happy end assumido e escrachado.

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LANÇAMENTO » O livro aberto de Betty. Ao lado do marido, Luiz Carlos Bettiol, a colecionadora apresenta um recorte da história da arte brasileira nas últimas cinco décadas Correio 24.10

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Betty Bettiol começou a coleção timidamente: hoje tem duas mil peças

Quando decidiram comprar a primeira obra de arte, Betty e Luiz Carlos Bettiol se guiaram pelo gosto. Uma tapeçaria de Genaro de Carvalho conquistou o casal. Capturados, nunca mais pararam. A coleção iniciada naquele 1964 virou um acervo de duas mil peças. Quando Betty passeia pelas obras, a única coisa que ofusca a empolgação com a qual fala dos artistas é a constatação de que só frequentadores da casa podem ter acesso à coleção. Essa verdade martelou a cabeça da artista e colecionadora durante um tempo até que ela avisou ao marido e aos três filhos: não queria festa de 70 anos nem comemorações das cinco décadas de casada e de Brasília. Trocaria tudo por um livro capaz de dar conta das obras de arte da família.

Arte brasileira na coleção Bettiol é uma maneira de Betty abrir as portas de casa. “Empresto muita coisa para exposições, sempre abro a casa para quem quiser ver a coleção, para colégios, estudantes universitários, estrangeiros”, conta. “E para atender também esse público resolvemos fazer o livro. É um livro que mostra Brasília. Não é de arquitetura nem de história, mas conta uma história familiar e mais íntima da cidade, uma história mais humanizada.” Durante um ano e oito meses, a artista fotografou, digitalizou e catalogou cada uma das duas mil peças da coleção. Durante o processo, descobriu obras que precisavam de restauros, dedicatórias carinhosas atrás de quadros e lembranças de toda uma vida envolvida pela arte.

Betty e Luiz Carlos chegaram a Brasília no início da década de 1960. Vieram de São Paulo, recém-casados, para construir vida e família na capital. Começaram a coleção timidamente. Nos anos 1970, encomendaram a Zanine Caldas a casa de madeira que virou referência da obra do arquiteto e então professor da Universidade de Brasília (UnB). Do alto de um colina em frente ao Iate Clube, com vista para o Lago Paranoá, o casal tratou de contar um pouco da história da arte brasileira.

A coleção está dividida em sete vertentes, as mesmas que orientam o livro. Pintura, escultura, mobiliário, gravura, arte indígena, arte popular brasileira e arte sacra constituem os módulos, mas na casa dos Bettiol não há divisões, todas as peças convivem em harmonia. “Essa coleção não foi premeditada”, avisa Betty. “Começou sem sabermos e sem a intenção de ser uma coleção.”

Foram 50 anos percorrendo o Brasil em busca de todo tipo de arte, o que resultou em um amplo panorama da produção artística brasileira das últimas cinco décadas. “É difícil não ter um representante dos grandes movimentos desde os anos 1940”, avisa Luiz Carlos. Obras de pintores do Grupo Santa Helena e dos japoneses radicados em São Paulo constituem o núcleo mais expressivo da coleção com obras de Aldo Bonadei, Fúlvio Penacchi, Francisco Rebolo, Alfredo Volpi, Manabu Mabe e Tomie Othake. Mas há um pouco de tudo distribuído pelos cômodos projetados por Zanine. De Tarsila do Amaral a Galeno, passando pelos anjos (os mesmos da Catedral) e outras esculturas de Alfredo Ceschiatti, pinturas de Arcangelo Ianelli e Burle Marx e desenhos de Athos Bulcão.

Velho Chico

A liberdade com a qual Betty e Luiz Carlos construíram a coleção foi essencial para que pudessem mergulhar no mundo da arte popular e do artesanato. O conjunto tem bons representantes da arte brasileira dos anos 1950 e 1960, mas o destaque está nas peças populares reunidas ao longo de anos de viagens pelo Brasil. Primeiro de carro, e agora no comando de um monomotor, o casal pratica um autêntico garimpo país afora. Nunca compram peças em lojas e preferem adquira-las diretamente do artista ou artesão. “E existem tantos pelo país! Mas nem 10% são conhecidos”, lamenta Betty. “Já cruzamos o Rio São Francisco mais de 100 vezes em busca de peças.”

No livro, a própria casa dos Bettiol figura como item da coleção. “Era um projeto muito querido para o Zanine e por isso a casa sempre esteve aberta aos estudantes da UnB. O livro é uma insistência nessa nota”, garante Luiz Carlos. Três textos acompanham as imagens. Um, assinado pelo jornalista Ricardo Medina, tem valor sentimental e narra a trajetória dos Bettiol de São Paulo a Brasília. Para analisar o valor artístico da coleção, o casal convidou o crítico de arte Enock Sacramento e Carlos Fernando Mathias, professor da UnB, ficou encarregado de contar o envolvimento da família com as artes. O livro terá uma primeira tiragem de 2.000 exemplares e a renda do dia do lançamento será revertida para construir uma sala de música no Hospital do Câncer Infantil de Brasília.

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LITERATURA » Em busca de projeção internacional

Editoras brasileiras e representantes do Governo estiveram presentes na Feira do Livro de Frankfurt 2011, que ocorreu entre os dias 12 e 16 de outubro. Este ano, o estande teve o espaço ampliado e contou com a atuação da Fundação da Biblioteca Nacional (FBN), da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores de Livro (Snel). A participação foi uma espécie de preparativo, pois em 2013 o Brasil será o país homenageado na Feira alemã. Correio 24.10

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As instituições têm criado projetos para movimentar o cenário. Uma dessas iniciativas é o Brazilian Publishers, parceria entre a CBL e a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex). A presidente da Câmara, Karine Pansa, diz que o projeto “tem por objetivo estimular a internacionalização do mercado editorial brasileiro. Partimos da constatação de que os agentes do nosso segmento estavam pouco habituados a vender direitos autorais no exterior, o que nos levou a desenvolver um trabalho de profissionalização do setor”. Outra iniciativa foi acordada com a Snel, com o intuito de promover escritores fora do Brazilian Publishers, para isso foi confeccionado um catálogo com nomes de 39 editoras e 261 livros.

Investimento

Segundo a presidente do Snel e diretora da editora Record, Sônia Machado Jardim, participar de uma feira internacional é sempre algo positivo, no entanto “a venda de direitos não é uma coisa fácil. Há países que têm mais tradição nessa matéria e que conseguem de uma maneira mais fácil colocar seus livros lá fora”. Ela alerta que o trabalho de divulgação deve ser contínuo para alcançar resultados de longo prazo.

Já para a representante da Fundação da Biblioteca Nacional, Moema Salgado, tais recursos de divulgação e políticas de fomento ao livro e à literatura são fundamentais. Ela coordena o programa de internacionalização da literatura brasileira, lançado este ano. O programa prevê a concessão de bolsas de tradução, apoio à reedição de autores nacionais no exterior e intercâmbios de escritores brasileiros para que eles possam lançar seus livros. Apesar dos investimentos, ela diz que há poucos trabalhos na área da tradução e que o Brasil necessita “ de um esforço complementar na parte de divulgação literária, diferente da música e das artes plásticas, que já estão consolidadas”. A previsão orçamentária para o projeto da FBN é de R$ 12 milhões até 2020 e pretende, também, investir em novos escritores, revela Salgado.

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MÚSICA. Violonista Chico Pinheiro grava DVD

O violonista, guitarrista, compositor e arranjador Chico Pinheiro grava um DVD de composições próprias, com participação da cantora Luciana Alves, hoje, às 19h, e amanhã, às 21h, no Nacena Studios (r. Dr. Jesuíno Maciel, 1.859, Campo Belo, tel. 0/xx/11/2495-0877). Os ingressos são gratuitos. Folha 24.10

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Livro reúne histórias longas de Glauco. 'Glauco - Geraldão Espocando a Cilibina!' traz material das revistas publicadas pela Circo Editorial nos anos 1980. Dez gibis do cartunista, que saíram entre maio de 1987 e dezembro de 1988, formam antologia de 304 páginas Folha 24.10

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Trezentas páginas com o melhor do cartunista Glauco Vilas Boas nos anos 1980. É o que promete -e entrega- o livro "Glauco - Geraldão Espocando a Cilibina! Nos Gibis da Circo Editorial".

Pesando quase um quilo e com mais de 300 páginas, a obra reúne todo o material do cartunista que saiu nas dez edições da revista "Geraldão", publicadas pelo editora Circo entre maio de 1987 e dezembro de 1988.

"Esse momento, que é um ápice da carreira dele, nunca havia sido reeditado", diz Toninho Mendes, editor responsável pela revistas originais e também pelo livro que sai em duas semanas.

A grande diferença desse material é que traz um formato diferente do trabalho conhecido de Glauco, publicado na Folha -onde Glauco começou a colaborar em 1977, com charges políticas.

Para as revistas da Circo, Glauco desenhou histórias longas, que aprofundavam personagens como Geraldão, Casal Neuras, Doy Jorge, Dona Marta e tantos outros que haviam sido criados para as tiras da Folha.

As revistas originais não estão republicadas integralmente, porque, além de Glauco, toda edição trazia convidados com Laerte, Angeli e outros. Por outro lado, o material publicado nas outras revistas da editora nos anos 1980, a "Circo" e a "Chiclete com Banana", foi recuperado para o livro.

Toninho Mendes aproveitou para incluir páginas e seções avulsas, que dão uma ideia da temperatura da época: o surgimento da Aids, os saques a supermercados e a inflação, entre outros.

Glauco Vilas Boas e seu filho Raoni foram assassinados em 12 de março de 2010.

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Folha explica conceitos jurídicos para leitores leigos. Site do projeto educacional "Para Entender Direito" utiliza linguagem mais acessível Folha 24.10

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O projeto educacional "Para Entender Direito", que busca explicar conceitos jurídicos e o funcionamento do governo a leigos, em linguagem fácil e acessível, passa a fazer parte da Folha, no endereço direito.folha.com.br.

Voltado ao público em geral, o projeto foi fundado em abril de 2010 por Gustavo Romano, 37, mestre em direito por Harvard. Desde então, já teve meio milhão de visitas.

Segundo ele, o site nasceu da constatação de que a falta de conhecimento torna as opiniões supérfluas e impede o debate cívico no Brasil.

"Nós tentamos dar informação técnica de forma fácil, sem o formalismo e o salto alto normalmente associados ao mundo do direito, e sempre de forma imparcial. Só vamos construir uma democracia de verdade quando as pessoas entenderem do que estão falando."

Romano, também mestre em ciência política pela UFMG e em administração estratégica pela London Business School, é desde 2000 o responsável pelo treinamento jurídico dos jornalistas do Grupo Folha.

O material e a metodologia que utiliza em seu site foram desenvolvidos ao longo de seu trabalho na Folha.

As lições do "Para Entender Direito", baseadas em fatos reais e pertencentes ao dia a dia do leitor, foram adaptadas para o público em geral. "De presidiários a ministros do STJ, já recebemos e-mails de todo mundo", conta.

No site, além de explicações de termos do direito por meio de notícias de jornal e do funcionamento do governo e das leis brasileiras, há vídeos e livros gratuitos.

Com a incorporação do projeto à Folha.com, Romano tem planos de expandir o site e abordar assuntos ligados ao direito e à cidadania.

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