quinta-feira, 10 de março de 2011

Autos judiciais são arquivos culturais

Fonte: folha.uol.com.br 10/03



JUCA FERREIRA

São legítimas as preocupações com custos de armazenamento de autos judiciais concluídos, mas sua destruição é danosa para a preservação da cultura


Entre as inúmeras medidas propostas no projeto do novo Código de Processo Civil, há uma que tem sido recorrente e que, além das interpretações jurídicas e administrativas, destaca-se quando analisada sob uma perspectiva cultural.
São bem-vindas quaisquer medidas que agilizem a Justiça, e são legítimas as preocupações com o custo de armazenamento de autos judiciais concluídos, mas sua destruição é monstruosamente danosa para a preservação da cultura. Não se aprende sem memória.
"Incinerar" ou "reciclar" autos judiciais concluídos significa eliminar fonte substancial de nossa história. Alio-me àqueles que se mobilizam para garantir a perpetuidade desses arquivos.
Lamentavelmente, nossa história registra momentos em que medidas legais ampararam a destruição de autos judiciais. Como seria mais rico o conhecimento da nossa história se tivéssemos em mãos milhões de registros de nossa vida social, política e econômica que acabaram se perdendo, pelas razões mais variadas!
A avaliação histórica atribuída a um documento está historicamente determinada. Não bastasse ser a história um processo de reinterpretações contínuas.
As correntes contemporâneas da historiografia recuperaram a importância da história cotidiana, da vida das pessoas comuns, dos pequenos fatos sociais, culturais e econômicos que talvez não pareçam relevantes vistos isoladamente, mas que, estudados em seu conjunto, podem indicar a direção e a força dos processos sociais que fazem a história.
Tudo isso espantosamente acontece quando as novas tecnologias de registro, preservação e multiplicação de textos nos colocam, pela primeira vez, diante da possibilidade de criar arquivos gigantescos de informação em um pequeno espaço, e com instrumentos que permitem, em pouco tempo, levantar e interpretar uma quantidade assombrosa de dados.
O pesadelo burocrático dos séculos 19 e 20, que se traduzia em cordilheiras de documentos ilegíveis e desordenados, deixa de existir nos tempos da cultura digital.
Nunca foi tão fácil e tão rápido rastrear dados, reuni-los, quantificá-los, compará-los, extrair hipóteses e conclusões. Seria uma enorme contradição se, justamente na hora em que a tecnologia nos fornece tais ferramentas, destruíssemos nossos arquivos baseados em receios e princípios de um tempo que está em vias de desaparecer.
Esse é um passo atrás no esforço que fazemos. Nunca se investiu tanto em ações de valorização do acervo documental.
O Ministério da Cultura, por meio de instituições a ele vinculadas, tem um trabalho de referência na preservação de documentos, como a Biblioteca Nacional, a Fundação Casa de Rui Barbosa, e, especialmente no campo do audiovisual, o CTAV - Centro Técnico Audiovisual, no Rio de Janeiro, e a Cinemateca de São Paulo.
Em associação com o Projeto Brasiliana, da USP, o MinC está gerando um modelo de biblioteca digital que pode ser compartilhado e servir de plataforma para outras iniciativas na preservação de acervos, por meio da sua digitalização.
Paralelamente, também investimos na recuperação de acervo documental. A documentação deve ser preservada também fisicamente, além de reproduzida em bancos de dados digitalizados, segundo norma arquivística internacional.
Do contrário, nunca saberemos quem somos - e o que somos nos pegará sempre de surpresa e despreparados. História e cultura são aspectos indissociáveis da memória de um povo. Um país que não pode recuperar a própria memória é um país com uma visão limitada de si mesmo.


JUCA FERREIRA é sociólogo. Foi ministro da Cultura (governo Lula).

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CLÓVIS ROSSI

Fonte: folha.uol.com.br 10/03



Liberais só com a vida alheia

SÃO PAULO - Elio Gaspari, com o brilho habitual, já esculhambou nesta Folha a promiscuidade entre a London School of Economics, quando era dirigida por Howard Davies, e a ditadura Gaddafi.
Logo depois, Luciana Coelho, outra joia do jornal, mostrou que também Anthony Giddens tinha contatos com o ditador.
Ajuda-memória: Giddens é mais conhecido no Brasil por ter sido o inventor da "Terceira Via", caminho intermediário entre o viés estatizante da velha social-democracia e o liberalismo puro e duro.
O conceito fascinou Fernando Henrique Cardoso e, bem menos, Luiz Inácio Lula da Silva. Participaram, como presidentes, de reuniões da "Terceira Via", rebatizada para "Progressive Governance".
Giddens, portanto, queria menos intervenção do Estado na economia, o que se tornou, de resto, o pensamento hegemônico no planeta. Mas tolerava, ao dialogar com Gaddafi, a pior forma de intervenção do Estado, que é a de decidir quem vive e quem morre, quem é torturado e quem é banido.
Davies é um caso ainda mais extremado de ojeriza à intervenção estatal. Tanto que, como primeiro presidente da Autoridade Britânica de Serviços Financeiros (1997- 2003) ajudou no processo de desregulação do sistema financeiro que, anos depois, conduziria ao colapso da economia mundial, evitado apenas pela intervenção do Estado que os liberais abominam.
Pelos negócios feitos com a Líbia de Gaddafi, já como diretor da LSE, vê-se que Davies não parece, a exemplo de Giddens, abominar também o poder do Estado (no caso, o líbio) de matar, prender, torturar, exilar etc.
É bom acrescentar que, no Brasil, uma penca de liberais tem o mesmo tipo de comportamento: ficam horrorizados se o Estado avança na economia, mas estavam ao lado da ditadura quando ela avançou sobre a vida dos brasileiros.

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Guia exibe história da arte em imagens

Fonte: folha.uol.com.br 10/03



"Arte: O Guia Visual Definitivo", elaborado com consultoria do crítico inglês Andrew Graham-Dixon, traz 2.500 obras

Livro faz um tour pelas principais pinturas e esculturas de todas as épocas e escolas, perfilando 700 artistas

Quando quatro crianças francesas encontraram uma caverna em Lascaux, em 1940, não faziam ideia de que os touros pintados nas paredes de onde brincavam eram de 15 mil a.C. É lá que começa a jornada do livro "Arte: O Guia Visual Definitivo", lançado pela Publifolha.
A obra é um guia ilustrado completo sobre a história da arte, que abrange os períodos da Pré-História ao século 21. E foi elaborado por uma equipe de especialistas em importantes escolas e movimentos artísticos, com consultoria do escritor, crítico de arte e apresentador de TV inglês Andrew Graham-Dixon.
Em seu prefácio, Graham diz que "Arte" é mais que uma enciclopédia visual sobre os grandes mestres da pintura e da escultura, com mais de 2.500 obras reproduzidas em detalhes e exibidas de forma cronológica.
Segundo ele, o objetivo do livro é "tornar o mundo dos museus e das galerias, das igrejas e dos claustros, dos templos e das mesquitas mais acessível e prazeroso".
A publicação, de capa dura e design que privilegia as fotos, traz análises minuciosas sobre trabalhos e artistas, de Renoir a Damien Hirst. E abre páginas inteiras para dissecar uma obra, como "O Beijo", de Gustav Klint, ou "Estudo do Retrato do Papa Inocêncio 10º de Velázquez", de Francis Bacon.
Além disso, "Arte" orienta o leitor na viagem de interpretação e compreensão dos trabalhos. Aborda temas como cor, luz, composição, perspectiva e técnicas, construindo uma cartilha do vocabulário dos artistas visuais ao longo dos séculos.
A leitura é permeada por frases de mestres, que desnudam o universo misterioso dos artistas, como a declaração de Miró sobre uma de suas obras mais famosas: "Estou vivendo de uns poucos figos secos por dia. "Carnaval de Arlequim" foi produto de alucinações causadas pela fome".


ARTE: O GUIA VISUAL DEFINITIVO
EDITORA Publifolha
QUANTO R$ 129,90 (612 págs.)

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