CRÍTICA INSTRUMENTAL
Disco póstumo inédito expressa lirismo e leveza do estilo do clarinetista Paulo Moura
Fonte: folha.uol.com.br 02/03
Um projeto iniciado por Paulo Moura (1932-2010) há mais de cinco anos acaba de ganhar vida.
Primeiro disco póstumo do mais talentoso clarinetista brasileiro, "Alento" surge com faixas inéditas realizadas em algumas das últimas sessões conduzidas pelo músico, morto em julho do ano passado.
Era 2005 quando Moura convidou o flautista Paulo Martins para realizar algo com ele, nada formal, sem planejamentos prévios.
Até 2009, os músicos se encontraram diversas vezes para experimentar e testar novos sons. E foram nessas reuniões esparsas e descompromissadas que brotaram as faixas de "Alento".
Moura mantinha-se em boa forma destilando uma clarineta macia, reconfortante, sensual até, como pode ser comprovado em "Mulatas e etc.", um dos temas do músico resgatados no álbum.
Das nove composições presentes no trabalho, cinco trazem sua assinatura. "Abertura 3D" inicia o disco com lirismo. Após a entrada conduzida por violoncelo e violino, uma sutil camada percussiva forma a delicada base rítmica sobre a qual sopros e cordas deslizam.
O esquema se mantém em "Road Movie", na qual a clarineta de Moura dialoga mais vivamente com o violino de Daniel Guedes, em uma fluidez discursiva sem espaços para arroubos virtuosísticos ou exibições supérfluas.
Martins, antigo aluno de Moura, agregou ao projeto o pessoal do Teatro do Som, grupo que fundou na década de 1980.
A diversidade instrumental que marca a passagem de um tema a outro, que vai do trio de "Oju Obá" ao septeto de "Abertura 3D", não compromete, contudo, a unidade deste trabalho.
À clarineta e à flauta juntam-se diferentes instrumentos de corda (baixo, violão, violoncelo e violino), percussão, teclado e até uma gaita, trazendo um colorido dinâmico ao disco.
É apenas no final que o tom escorrega um pouco. "Troca de Olhares" e "De Volta a Alexandria" fecham a obra em um nível abaixo do verificado no restante de "Alento". Com seus teclados e sintetizadores, acabam por exalar certo aroma "smooth jazz" desnecessário.
ALENTO
ARTISTA Paulo Moura e Teatro do Som
LANÇAMENTO Biscoito Fino
QUANTO R$ 34, em média
AVALIAÇÃO bom
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Atraso em pagamentos a Pontos de Cultura é de cerca de R$ 60 mi
Fonte: folha.uol.com.br 02/03
O Ministério da Cultura acumula cerca de R$ 60 milhões de pagamentos em atraso para Pontos de Cultura no país. Na cifra estão incluídos atrasos no pagamento de prêmios e editais, todos relacionados ao projeto.
Os pontos são locais selecionados pelo Ministério da Cultura para articular e impulsionar ações que já acontecem nas comunidades.
A estimativa foi informada ontem à Folha pelo secretário executivo do MinC, Vitor Ortiz. Ele adiantou também que a programação de como será o pagamento dos valores em atraso será definida até meados de março.
O levantamento sobre os pagamentos atrasados do governo Lula ainda não foi concluído. "Os Pontos de Cultura são uma prioridade da gestão da ministra Ana de Hollanda", disse Ortiz.
Do total, ao menos R$ 12 milhões se referem a SP. O MinC atrasou o pagamento de 200 Pontos no Estado.
Cada um deles deveria ter recebido, em dezembro, R$ 60 mil. Esses locais fazem parte de um convênio que reúne 300 Pontos de Cultura.
O atraso gerou protestos. Na semana passada, um grupo de 50 coordenadores de Pontos de Cultura foi a Brasília reclamar. O secretário executivo disse que o ministério tenta uma renegociação com produtores culturais.
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ORÇAMENTO
Tesourada atinge o combate ao crime
Fonte: correioweb.com.br 02/03
Técnicos dos ministérios da Justiça e do Meio Ambiente avaliam que o corte de gastos em viagens e diárias prejudicará operações da Polícia Federal e a atuação do Ibama na prevenção dos delitos ambientais
Um Estado com menos poder de fiscalização e de polícia. Essa é apenas uma parte dos efeitos mais práticos dos cortes de R$ 50 bilhões no Orçamento da União, cujo detalhamento pela equipe econômica do governo de Dilma Rousseff já desencadeou uma mobilização nos ministérios: os gestores ainda decidem onde cortar (veja quadro ao lado). Ao longo do ano, em razão da diminuição dos gastos com diárias e passagens, o governo federal vai perder capacidade de fiscalização dos crimes ambientais — principalmente em áreas mais isoladas, como a Amazônia — e de combate à corrupção, já que haverá um menor deslocamento de agentes da Polícia Federal.
Dentro dos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Justiça, os cortes primordiais serão os relacionados a viagens dos servidores. Técnicos das duas pastas ouvidos pelo Correio ressaltam a consequência dessa tesourada específica: a diminuição de operações da PF e de combate a crimes ambientais, empreendidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O corte no MMA será de R$ 398,1 milhões, o equivalente a 37% do orçamento inicialmente previsto para este ano. No Ministério da Justiça, pasta a qual a PF está subordinada, a tesourada é ainda mais expressiva: será R$ 1,52 bilhão a menos, ou 64% de todo o montante aprovado para 2011. Nos dois ministérios, a constatação é de que a diminuição das viagens prejudicará as operações de combate ao crime. Isso porque o deslocamento de agentes, principalmente na repressão a crimes ambientais, é necessário na maioria das operações desenvolvidas.
As tentativas de reforço de pessoal também serão em vão, pelo menos para este ano. As chances de os 200 novos analistas do MMA — selecionados por concurso no início deste ano — serem convocados são remotas. Já o concurso para 1.000 agentes da PF, antes previsto, não deve ocorrer.
Reflexos
No MMA, além dos cortes em passagens, diárias e contratações de concursados, a tesoura deve atingir servidores terceirizados, inclusive os que estão lotados em órgãos como o Ibama, o Instituto Chico Mendes (responsável pelas unidades de conservação federais) e a Agência Nacional de Águas (ANA). Há dois anos, quando o ministério precisou cortar gastos, foi necessário adiar a instalação de unidades do Instituto Chico Mendes e do Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Agora, comunidades tradicionais poderão sentir a escassez de convênios por parte do MMA.
Os cortes anunciados pelo governo Dilma podem reduzir as ações da PF, que muitas vezes utilizam grandes contigentes de agentes que se deslocam de outras regiões. “As nossas operações terão de ser redimensionadas”, afirma o vice-presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, Flávio Werneck. “A partir do momento em que os efetivos usados diminuem, existem reflexos.”
O temor dentro da PF é de que haja uma diminuição das operações especiais, que são aquelas que reúnem maior número de efetivo, originadas de apurações de longo prazo (veja ao lado algumas das operações desenvolvidas nos últimos anos). A avaliação é que as investigações em si não sofrerão abalos, já que muitas vezes dependem de poucos agentes. O problema será no momento em que a ação for desencadeada. “Todo o planejamento operacional terá de ser revisto”, observa Werneck, ressaltando que os problemas podem aparecer já a partir do segundo semestre deste ano.
Quando tomou posse, em 14 de janeiro, o diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, disse que sua prioridade será dar continuidade às grandes operações. No Ministério da Justiça, o temor é que o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci) seja afetado, atingindo também outros projetos, como de capacitação das polícias. O ministério informou que ainda não sabe quais áreas serão atingidas, mas ressaltou que não haverá paralisação das atividades de qualquer setor ou programas, que serão apenas “readequados”. “Vamos tentar fazer mais com aquilo que temos. Estamos buscando todos os mecanismos de gestão”, disse ontem o ministro José Eduardo Cardozo. Ele afirmou que o Pronasci, um dos carros-chefes de sua pasta, não sofrerá alterações. “O Pronasci continua intocável.”
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