Fronteiras do Pensamento terá oito palestrantes
Lista de conferencistas, que se apresentarão na Sala São Paulo, terá a presença do turco Orhan Pamuk
Projeto de conferências de intelectuais, criado em Porto Alegre, incluirá São Paulo em sua sexta edição
Fonte: folha.uol.com.br 30/03
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor de "Amor Líquido", e o filósofo francês Luc Ferry, que escreveu o best-seller "Aprender a Viver", estão entre os conferencistas da sexta edição do projeto Fronteiras do Pensamento.
O ciclo de palestras, que ocorrerá de maio a dezembro em São Paulo e Porto Alegre, teve a a parte paulistana da programação anunciada ontem, na Casa do Saber (ainda resta definir as datas para a capital gaúcha).
No total, serão oito conferências de uma hora e meia, espaçadas ao longo de oito meses, sempre às 20h30, na Sala São Paulo.
A lista de palestrantes ainda conta com o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, referência mundial no estudo de neuropróteses, e o ensaísta suíço Alain de Botton, autor de "A Arquitetura da Felicidade", famoso por popularizar a filosofia em programas de televisão.
Todas as palestras serão mediadas por jornalistas (ver lista completa abaixo).
O professor Fernando Schüler, curador do seminário, comemorou o fato de trazer antigos sonhos de consumo, como o sociólogo Zygmunt Bauman: "Já fazia tempos que tentávamos contar com a presença dele, que finalmente concordou, aos 86 anos. Temos, a nosso favor, o fato de os intelectuais hoje serem mais ativos por mais tempo".
Schüler também destacou a presença de Alain de Botton ("Um filósofo quase da geração Y, que prefere falar de nosso tempo hiperconectado a citar cânones como a Escola de Frankfurt."), e de Luc Ferry que, quando Ministro da Educação da França, entre 2002 e 2004, proibiu o uso de véus e outros símbolos religiosos em escolas públicas do país.
"Além disso, contaremos com a presença de três prêmios Nobel", destacou o curador, referindo-se ao ex-presidente polonês Lech Walesa, à juíza iraniana Shirin Ebadi -ambos laureados com o Nobel da Paz- e ao escritor turco Orhan Pamuk, vencedor do prêmio em Literatura.
"Mas a participação dos palestrantes não se resume aos seminários. Queremos que eles gerem pautas culturais para o ano inteiro", acrescentou.
PASSAPORTE
Criado em 2006, em Porto Alegre, o Fronteiras contou, em edições passadas, com mais de 80 palestras de intelectuais variados, como o jornalista Tom Wolfe, o compositor Philip Glass e o cineasta David Lynch.
No ano passado, o projeto -então dividido entre Porto Alegre e Salvador- recebeu o lendário líder estudantil de Maio de 1968, Daniel Cohn-Bendit, e o prêmio Nobel de literatura, Mario Vargas Llosa. Em 2011, pela primeira vez, as palestras ocorrerão também em São Paulo.
O passaporte para todas as palestras pode ser adquirido no site Ingresso Rápido, por valores que variam de R$ 1.640,00 (mezanino) a R$ 1.960,00 (plateia). (Schüler diz que, à diferença do que ocorre na Flip, a Festa Literária de Paraty, os participantes do Fronteiras são remunerados, o que encarece os bilhetes.)
Não é possível comprar para conferências individuais.
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Pesquisa da UnB aponta fragilidade do celibato na igreja católica
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Edlene Silva conta em livro a conturbada trajetória da abstenção sexual desde a Idade Média à criação do Movimento de Padres Casados Fonte: UnB.br 30/03
Entre a batina e a aliança existem milhares de homens de fé tentados pelo desejo. Só no Brasil, estima-se que pelo menos quatro mil padres deixaram a função sacra para casar e ter uma família. Pesquisa da Universidade de Brasília revela que a dificuldade de se manter casto diante do afloramento da sexualidade sempre existiu entre sacerdotes, desde a Idade Média. “A história mostra que celibato é uma prática insustentável”, afirma Edlene Silva.
A pesquisadora conta a conturbada trajetória do celibato, desde a sua criação pela igreja no século XII à recente fundação do Movimento de Padres Casados, na década de 1970, no livro Entre a Batina e a Aliança: Sexo, Celibato e Padres Casados. A publicação, fruto de uma tese de doutorado defendida em 2008, no Departamento de História, chega às mãos dos leitores às 18h desta quarta-feira, 30 de março, na livraria Sebinho, na Quadra Comercial 406, da Asa Norte.
A professora Edlene investigou a questão da abdicação do celibato entre sacerdotes. Para isso, a professora da UnB investigou a institucionalização do Movimento de Padre Casados no Brasil, fundado em 1979 no Rio de Janeiro. “Na década de 1970, eram 30 casais. Hoje são milhares de padres em todo o país”, observa. “Busquei compreender como esse movimento se formou e quem são essas pessoas que vivenciam o conflito de largar a batina para se casar”, completa a professora.
Antes de chegar aos dias de hoje, a pesquisadora baiana buscou as raízes do celibato, que se tornou obrigatório para o clero latino no século XII. Ela encontrou evidencias de que, desde a sua criação, a abstenção sexual de padres sempre esteve rodeada de conflitos, violência e dramas pessoais. “O concubinato (união entre casais não formalizada pelo casamento civil ou pela igreja) foi o crime mais cometido na igreja tanto na Idade Média como na Modernidade. Uma resposta a uma imposição”, conta.
A pesquisadora avalia a obrigatoriedade do celibato como uma demonstração de força e uma forma de diferenciar o clérigo das pessoas comuns. “Em meados do século XVI, com a Reforma Protestante, o celibato foi radicalizado e reforçado como uma resposta da igreja aos questionamentos de Lutero”, conta. “Foi nesse período de conflitos, em que a Inquisição perseguia fortemente o celibato, que a igreja abriu os primeiros seminários para formação dos chamados homens santos”, observa.
O concubinato só veio a ser debatido pela igreja no início da década de 1960, com o Concílio do Vaticano Segundo. Na época, a pressão social por conta dos crescentes casos de padres casados ilegalmente e ainda em atividade levou a instituição a autorizar a concessão de licença para os sacerdotes que desejassem abdicar da atividade como padre para se casar na igreja. “Houve uma debandada geral de padres em todo mundo, o que revelou um problema escondido pela repressão”, avalia.
CRISE – A perda de padres para o casamento levou o papa João Paulo II a endurecer a postura da igreja diante do celibato. “Apesar de não proibir a prática, a igreja classificava os dissidentes como infelizes, imorais, infiéis e doentes”, relata Edlene. A postura rígida continuou após a morte de João Paulo II, em 2005, e permanece até os dias de hoje na figura do papa Bento XVI. “Ele é um dos mais duros em relação ao celibato”, afirma. “Entraves para a concessão da licença, que chega a levar 15 anos para sair, e críticas ao sexo mesmo no casamento são comuns no Vaticano”.
E é nesse contexto de crise em que se encontra o Movimento dos Padres Casados do Brasil. “A história desses homens revela a necessidade de se debater um tema que ainda é visto como tabu e, sob o meu ponto de vista, se mostra insustentável”, afirma Edlene. Segundo ela, apesar de largar a batina para se casar, a grande maioria deles ainda se considera padre. “O casamento não desfaz os vínculos com a igreja e com a fé”, conta ela, que chegou a encontrar padres que rezavam missas clandestinamente.
Pela falta de material de pesquisa sobre o assunto, Edlene buscou informações em registros encontrados em jornais, revistas, internet e em entrevistas com líderes do movimento. “É um tema muito pouco pesquisado, mas creio que o livro permite ao leitor fazer seu julgamento sobre o olhar que lancei sobre a história”, avalia ela.
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Obra de Drummond será editada pela Cia. das Letras
Publicação dos livros começa em 2012, em versão impressa e eletrônica
Poeta mineiro era antes editado pela Record; mudança buscou novo perfil editorial, afirma agente literária Fonte: folha.uol.com.br 30/03
Os livros do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) passarão a ser editados pela Companhia das Letras.
O anúncio foi feito na manhã de ontem pela editora. A obra do poeta, fora alguns títulos especiais que saíram pelo Instituto Moreira Salles e pela Cosac Naify, era editada antes pela Record.
Matinas Suzuki Jr., diretor executivo da Companhia das Letras, contou que a editora foi procurada pela família do poeta na semana passada.
"Foi tudo muito rápido. A família nos propôs a mudança", diz ele.
O fator decisivo para a troca de editora teria sido o trabalho que a Companhia das Letras vem realizando com a publicação das obras completas de autores como Vinicius de Moraes (1913-1980), Jorge Amado (1912-2001), Lygia Fagundes Telles e Erico Verissimo (1905-1975).
A obra de Drummond começa a sair pela Companhia a partir de 2012, data que marca os 25 anos de morte do poeta. O título de estreia ainda não foi definido.
No total, a obra completa do autor é formada por 44 livros: 23 de poesia, 20 de prosa (crônicas e contos) e um infantil. Além da versão impressa, todos serão lançados simultaneamente em formato eletrônico, os e-books.
Os livros também ganharão um novo projeto gráfico e a inclusão de notas, introduções e prefácios especiais.
Segundo Suzuki Jr., o acordo reforça a tendência da editora de se especializar em grandes autores brasileiros.
"Trata-se de uma obra extremamente valiosa, é um dos maiores poetas e cronistas do país. Nosso catálogo nacional fica agora muito forte", diz ele.
DESPEDIDA AMIGÁVEL
O contato entre os herdeiros de Drummond (os netos Pedro e Luís Maurício) e a Companhia das Letras foi intermediado pela agente literária Lucia Riff, sócia da Agência Riff.
Segundo ela, a Record tinha feito um bom trabalho nos últimos anos e a saída foi "amigável, sem crise".
"A família estava satisfeita, mas queria uma mudança de perfil editorial. A Companhia das Letras representa um trabalho editorial mais refinado e tem uma força de venda maior."
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Domenico se dedica à poesia e à delicadeza em estreia solo
OS ARROUBOS (VOCAIS E SONOROS) ESTÃO MAIS SUTIS E BEM ELABORADOS, COMO NA FAIXA-TÍTULO
Fonte: folha.uol.com.br 30/03
"Sincerely Hot", álbum de Domenico ao lado dos "+2", Kassin e Moreno Veloso, era uma profusão quente e colorida de ritmos, instrumentos, efeitos eletrônicos e participações -da turma que orbita a Orquestra Imperial.
Sua voz, ora doce, ora gritada ou distorcida por vocoder, passava com desenvoltura por rock, pop, jazz, bossa nova, num resultado instigante, no disco mais surpreendente do trio.
Em "Cine Privê", o Domenico solo -mas acompanhado pelos mesmos camaradas- se dedica à delicadeza, à poesia. O desejo de criar imagens cinematográficas por meio de palavras e sons, e um jeito de cantar baixinho, da escola da bossa, estabelecem a linearidade dispensada anteriormente.
Os arroubos (vocais e sonoros) estão agora mais sutis e bem elaborados, como na faixa-título, que segue num ritmo crescente, ditado pelo compasso da bateria -sempre presente-, e acentuado pelo clima espacial dos sintetizadores. Na letra, versos formam belos cenários, como "vejo a paisagem fora/pelo meu visor/ dois olhos nus, anos-luz do meu amor".
Essa sinestesia entre som e letra segue por todo o CD. Na bossa "Os Pinguinhos", a percussão compõe a sensação de que gotas de chuva "molhavam o quintal".
Em "Receita", parceria com Jorge Mautner, a levada jazz é quebrada por efeitos dos sintetizadores e da guitarra de Pedro Sá, que dão a ideia de "quarta dimensão" descrita na música. "Pedra e Areia" é poesia concreta, seca, no baque das congas, que se desfaz com o vocal suingado de Adriana Calcanhotto.
De uma ponta a outra, as referências declaradas de Marcos Valle se mesclam um quê do tropicalismo de Rogério Duprat. Assim, "Cine Prive" é um álbum em que, a cada audição, novos detalhes se destacam; versos são descobertos. Como num bom filme que surpreende. Mesmo visto repetidas vezes.
CINE PRIVÊ
ARTISTA Domenico
LANÇAMENTO Coqueiro Verde
QUANTO R$ 24,90, em média
AVALIAÇÃO ótimo
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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O empresário cordial Fonte: folha.uol.com.br 30/03
SÃO PAULO - José Alencar era um tipo bonachão, sorridente e contador de "causos". Dava a impressão de estar sempre confraternizando com as pessoas. Mesmo durante seu calvário, parecia se comportar de forma amena e otimista. Conquistou a simpatia popular e será lembrado sobretudo por essa teimosia mansa contra a morte.
Em termos políticos, Alencar desempenhou alguns papéis importantes para Lula. A começar pela eleição, em 2002, quando, num ambiente de muita desconfiança contra o petista, funcionou como uma espécie de "sossega-empresário". O vice não era um industrial qualquer. Tinha peso. Sua presença na chapa reforçava, para além da retórica, os compromissos assumidos na famosa "Carta ao Povo Brasileiro", dirigida aos mercados.
Justiça seja feita: o artífice da aliança com o PL e da escolha de Alencar como par do metalúrgico não foi Lula, mas José Dirceu.
Em 2005, quando eclodiu o mensalão, Dirceu caiu e Lula viveu a maior crise de seu governo. A palavra impeachment passou a rondar o noticiário, mas Alencar em nenhum momento se assanhou. Não deu margem para que alguém achasse que poderia contar com ele para desestabilizar o presidente. Dilma, em situação semelhante, poderia ter a mesma confiança?
Alencar foi ainda uma espécie de grilo falante do governo, sempre protestando contra os juros altos. Com o passar do tempo (e o sucesso de Lula), essa ideia fixa o transformou num personagem algo folclórico, meio café com leite.
Ruim -nada folclórico, mas bem típico do patriarcalismo brasileiro- foi seu comportamento diante da filha que se negou a reconhecer e a maneira com que se referiu à mãe, procurando desqualificá-la.
Alencar era, enfim, o próprio empresário cordial -um símbolo da aliança entre capital e trabalho num governo de comunhão nacional. Não há dúvida de que Lula, pai dos pobres, mãe dos ricos, tinha nele uma espécie de cara-metade.
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ANTONIO DELFIM NETTO
Antenado Fonte: folha.uol.com.br 30/03
O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, publicou no último dia 23 (http://tinyurl.com/4gp3gaz) um resumo das conclusões de uma importante conferência ("Repensando a política macroeconômica") patrocinada pelo organismo.
Ela reuniu o que há de mais significativo no mainstream da teoria macroeconômica para uma reflexão sobre a profissão. Quebrou-se o "encanto".
Mesmo os mais renitentes reconhecem que a era da moderação, que antecipou a crise, tinha pouca coisa a ver com as virtudes da política produzida pelos bancos centrais, supostamente apoiados numa "ciência".
Agora que o futuro é passado, sabemos que a crise foi gerada por uma soma de equívocos cometidos sob os olhos dos bancos centrais, portadores da ideologia que os "mercados" eram capazes de controlar os riscos embutidos em inovações financeiras aparentemente benignas, que eles (como confessou Alan Greenspan) nem sequer entendiam.
Vamos destacar três, das nove conclusões/"tentativas" recolhidas por Blanchard:
1ª) Estamos entrando num magnífico mundo novo, muito diferente em termos do exercício da política macroeconômica. Na velha discussão sobre os papéis do mercado e do Estado, o pêndulo avançou -pelo menos um pouco- na direção do Estado;
2ª) A macroeconomia deve ter múltiplos objetivos e muitos instrumentos para implementá-los. O objetivo da política monetária, por exemplo, precisa ir além do controle da inflação. Precisa incluir o crescimento do PIB e a estabilidade financeira e incorporar entre seus instrumentos medidas macroprudenciais. A política fiscal não pode restringir-se aos "gastos" menos a "receita" e os "multiplicadores" que influenciam a economia.
Existem, potencialmente, dezenas de instrumentos, cada um com seus próprios efeitos dinâmicos que dependem do estado da economia e das outras políticas.
3ª) Temos muitos instrumentos e não sabemos como utilizá-los. Em muitos casos, não temos certeza sobre o que eles são, quando e como devem ser utilizados e se vão ou não funcionar.
A conclusão é que os problemas são mais complexos do que pareciam. Como não sabem bem como usar os novos instrumentos, mas sabem que, potencialmente, podem ser mal utilizados, como devem trabalhar os formuladores da política econômica?
O melhor é uma política cuidadosa, paciente e de pequenos avanços: o pragmatismo é essencial! Parece claro que o Banco Central de Alexandre Tombini está mais antenado com as dúvidas do "estado da arte" reveladas na conferência do que os "cientistas financeiros" que o criticam.
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