domingo, 14 de novembro de 2010

O meu Brasil é com "S"

Fonte: folha.uol.com.br 14/11

JOSÉ SÓCRATES

Lula era o homem certo; sem complexos ou desfalecimentos, o antigo sindicalista esperou e preparou longamente o encontro com o seu povo

Raros são os políticos que dão o seu nome a um tempo. Os "anos Lula" mudaram o Brasil. É outro país: mais desenvolvido economicamente, mais avançado tecnologicamente, mais justo socialmente, mais influente globalmente.
Uma democracia mais consolidada, uma sociedade mais coesa e mais tolerante. Sabemo-lo hoje: no Brasil, o século 21 começou em 1º de janeiro de 2003, o dia inaugural da Presidência de Lula.
Quero ser claro: Lula mostrou que a esquerda brasileira sabe governar. Causas, sim, mas competência também; princípios políticos, mas também eficácia técnica; realismo inspirado por ideais que nunca se perderam.
Este presidente, oriundo do PT, deu à esquerda brasileira credibilidade, modernidade, força e maturidade. A grande oportunidade da sua eleição não foi uma promessa incumprida ou um sonho desfeito.
Ao contrário, com Lula, a esquerda ganhou crédito e consistência; o Brasil, reputação e prestígio.
Sou testemunha das reservas, se não do ceticismo, com que a "intelligentzia" recebeu a eleição de Lula da Silva. Hoje, na hora do balanço, a descrença transmutou-se em aplauso; a expectativa, em admiração. É essa a "alquimia" Lula.
Os números falam por si: crescimento econômico, equilíbrio financeiro, reputação nos mercados, milhões de pessoas arrancadas à extrema pobreza, salto inédito na educação e na formação profissional, melhoria do rendimento que alargou e consolidou a classe média brasileira.
Lula era o homem certo. A sua história pessoal e política permitiu dar à esquerda uma nova atitude e ao Brasil um novo horizonte. Sem complexos e sem desfalecimentos, o antigo sindicalista esperou e preparou longamente o encontro com o seu povo. Se falhasse, não falharia apenas ele: falharia um ideal, um sonho, um projeto, esperança do tamanho de um continente.
Foi também nesses anos vitais que o Brasil se afirmou como o grande país que é. "Potência emergente", como é habitual dizer, assume-se -e vai se assumir cada vez mais- como um dos grandes países que marcam o mundo contemporâneo. Pela sua grandeza e pela sua energia, tem tudo o que é necessário para isso.
Portugal tem orgulho deste grande país, com quem partilha uma língua, uma fraternidade, um passado, um presente e um futuro. Tudo isso queremos valorizar e projetar: aos sentimentos que nos unem, juntamos os interesses que nos são comuns; à memória conjunta associamos visão partilhada do futuro.
Para Portugal e para todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a importância do Brasil no mundo do século 21 é um motivo de alegria e uma riqueza imensa, com potencialidades em todos os planos: econômico, cultural, linguístico, político, geoestratégico.
A vida política de Lula é uma longa corrida feita com ritmo, esforço, persistência. As palavras que ocorrem são tenacidade e temperança, clássicas virtudes da política. Tenacidade para fazer de derrotas passadas vitórias futuras. Temperança que lhe ensinou a moderação, o equilíbrio e a responsabilidade que o tornaram o presidente que foi.
Na hora da despedida, quero prestar-lhe, em meu nome pessoal e em nome do governo português, uma homenagem feita de amizade, reconhecimento e admiração. Lembro os laços que firmamos, os projetos que comungamos, os encontros que tivemos, nos quais se revelou, invariavelmente, um grande amigo de Portugal.
Lembro, em especial, o trabalho que desenvolvemos para que durante a presidência portuguesa da União Europeia fosse possível a realização da primeira cúpula UE-Brasil, um ponto de viragem nas relações entre a Europa e o Brasil.
Na passagem do testemunho à presidente eleita, Dilma Rousseff, que felicito vivamente e a quem desejo as maiores felicidades, renovo a determinação de prosseguirmos juntos e reafirmo, na língua que nos é comum, o nosso afeto e a nossa gratidão. Mais do que nunca, "o meu Brasil é com "S'". "S" de Silva.
Lula da Silva. Saravá!


JOSÉ SÓCRATES é o primeiro-ministro de Portugal.

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QUADRINHOS

Faixa de Gaza no traço

Fonte: correioweb.com.br 14/11

O jornalista e desenhista Joe Sacco lança livro em que narra a tragédia da guerra no Oriente Médio

As histórias sangrentas sobre a Faixa de Gaza, no Oriente Médio, muitas vezes chegam até o ocidente em flashs, quase sem nenhum tipo de contextualização. Joe Sacco, jornalista e quadrinhista norte-americano, sentiu uma necessidade de mostrar a este lado do mundo momentos marcantes na vida atribulada daquele povo. Fez isso no livro Palestina: na faixa de Gaza (lançado no Brasil em 2003), segundo da série sobre o território - o primeiro, Uma nação ocupada (2000), abrange também a Cisjordânia e Jerusalém. Os conteúdos presentes nas obras foram colhidos em viagens à região, no início dos anos 1990. Mas o escritor retornou em 2001 com o desejo de conhecer mais sobre a Crise do Canal de Suez, em 1956, que tirou a vida de vários civis e militares palestinos.

O ótimo Notas sobre Gaza, recém-lançado no Brasil pela editora Quadrinhos na Cia., da Companhia das Letras, é resultado dessa extensa pesquisa. Inicialmente, Joe chegou à Gaza acompanhando um colega da revista Harper's para um artigo - que não chegou a ser publicado. Indignado, o quadrinhista retornou outras vezes para se aprofundar na história da guerra que atingiu Khan Younis, cidade ao sul de Gaza. É inclusive sobre essa "censura" que o autor começa o livro, escrevendo com ironia o que, para os editores, se transformaria apenas em nota de rodapé.

Utilizando o mesmo recurso que marcou as obras anteriores (pesquisa jornalística, perfis de personagens, entrevistas informais e registro de imagens brilhante em forma de quadrinhos), Joe mergulha nos dramas de sobreviventes - crianças, na época dos acontecimentos - e faz um livro envolvente, rico e de fácil leitura. O obscurantismo dos palestinos chega aos leitores como um clarão produzido pelas bombas. "Para mim, a história dos assassinados de Khan Younis não era algo que pudesse ser descartado tão facilmente. Nas pesquisas que fiz, descobri que não havia quase nada escrito em língua inglesa sobre o episódio. Diante disso, tomei a decisão de voltar a Gaza para investigar o que havia de fato acontecido em 1956", conta Joe no prefácio do livro.

Acompanhado do guia local Abed, descrito pelo autor como um homem culto e respeitado, Joe visita mulheres e homens marcados pela tragédia imposta por uma aliança entre França, Grã-Bretanha e Israel. Ao contrário do que o leitor pode pensar, o livro não tem tendência ao didatismo. A estrutura montada por Joe é dinâmica, e o escritor sempre busca referências contemporâneas para contextualizar os fatos.

Cada vez mais envolvido na história da Crise de Suez, Joe descobriu outro fato sombrio em Gaza. Trata-se da morte de vários homens de 15 a 70 anos na cidade de Rafah - apesar de algumas informações desencontradas quanto às idades das vítimas, colocadas na obra por ele próprio. O evento ficou conhecido como o Dia da Escola, em referência ao local onde guerrilheiros palestinos foram levados e executados. Essa é a segunda parte de Notas de Gaza. Mas no registro do artista, os conflitos algumas vezes cedem lugar a festa com os colegas jornalistas em Tel Aviv, ou celebrações nacionais em Gaza. Em ambas as cidades - Khan Younis e Rafah -, o jornalista vive cercado por amigos locais e atrai a curiosidade principalmente das crianças.

Se em termos de pesquisa jornalística Joe Sacco é brilhante, o que dizer sobre os desenhos? Referência no assunto, Joe mostra a riqueza das cidades e seus habitantes em traços perfeitos. Há cenas que são riquíssimas, onde dá para perceber até os mínimos detalhes (bombas, expressões humanas, casas, armas, tempo) dos massacres. Uma fotografia em preto e branco feita à mão. Não à toa, pelos registros anteriores da Palestina, o quadrinhista ganhou o American Book Award. Mais do que uma graphic novel, Notas de Gaza é um registro da história de um povo. Nesse espaço, porém, o sangue dá lugar a uma tinta preta e muita criatividade.

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Jornalistas criticam partidarismo da mídia nas eleições

Fonte: UnB.br 14/11

Em debate realizado na FAC, grandes nomes do jornalismo político comentam cobertura marcada por denúncias e temas pautados por assessorias de imprensa dos candidatos

A polarização da mídia em torno dos presidenciáveis José Serra (PSDB) e Dilma Roussef (PT) foi um dos pontos mais criticados durante o debate “O processo eleitoral de 2010 e o papel da mídia”, realizado nesta sexta-feira, 12 de novembro, na Faculdade de Comunicação (FAC). Os jornalistas Heraldo Pereira, da rede Globo, Leandro Fortes, da revista Carta Capital, Nereide Beirão, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e Lincoln Macário, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), comentaram a onda de denúncias na campanha presidencial, o controle social da imprensa, o papel das novas mídias na cobertura eleitoral e o posicionamento dos jornalistas.

O repórter Leandro Fortes, com experiência de 24 anos na cobertura de eleições, afirma que a divisão partidária na mídia é legítima, desde que expressa claramente para o público. “Não vamos cair no mito da isenção e imparcialidade. Jornalista é gente, tem posições”, diz. “A Carta Capital demonstra seu ponto de vista editorial por meio de posicionamento político e ideológico. O leitor não pode ser enganado”, completa ele, sobre o apoio declarado da publicação à então candidata do governo, Dilma Roussef. O jornalista classificou a cobertura das eleições de 2010 como “pobre, repetitiva e declaratória”. Segundo ele, a mídia ficou dividida em dois lados, cada qual tentando impor suas opiniões como “verdade dos fatos”.

Mas Leandro acredita que as novas mídias modificaram o cenário em relação às eleições de 2006. “Antes, o Brasil vivia uma hegemonia midiática. Tudo o que era divulgado era tido como verdade absoluta”, diz. Segundo ele, a chamada “blogosfera” foi uma das principais responsáveis pela mudança de paradigma. “Quando uma denúncia é publicada, por exemplo, dez minutos depois as pessoas atingidas podem se pronunciar nos blogs ou nas redes sociais”, conta Leandro, que é membro do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itacaré.

Para o repórter e comentarista político Heraldo Pereira, o jornalista não deve ter um posicionamento político. “Atividade jornalística não é atividade política”, diz. Ele explica que o cenário político muda a todo momento, enquanto o jornalista continua a ser cobrado pelo público. Heraldo dá o exemplo das eleições presidenciais de 89, quando o então candidato Fernando Collor usou um depoimento da mãe da filha de outro relacionamento do presidente Lula “falando cobras e lagartos” dele. Nas eleições de 2010, Collor ressaltou a parceria com o governo Lula e a candidata Dilma Roussef em seu jingle de campanha para o governo de Alagoas. “Me parece que os políticos acabam se compondo e nós ficamos no cercadinho”, completa o jornalista.

Heraldo também acredita que a internet foi a grande novidade da campanha deste ano. “A primeira preocupação dos candidatos foi montar a campanha na internet”, lembrou. Para o jornalista, a influência veio da campanha presidencial dos Estados Unidos, com a intensa campanha no meio virtual de Barack Obama. “Na verdade, os EUA venderam um formato para os países da América Latina”, diz. Heraldo recomenda aos alunos que não se deixem levar pela discussão a favor de um ou outro candidato. “Vocês estão num meio intelectual muito fértil. Essa discussão fica muito pequena e modesta aqui dentro”, diz ele, que está terminando o mestrado na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília.

DENÚNCIAS - A jornalista da EBC Nereide Beirão afirma que a rede estatal estabeleceu normas de cobertura e conduta de funcionários durante as eleições. Mas alguns temas acabaram sendo pautados pela equipe de campanha dos candidatos. “A questão do aborto, por exemplo. Não dava para omitir”, diz. Nereide também criticou a onda de denúncias que dominou as campanhas e atingiu a própria Empresa Brasil de Comunicações. A NBR, uma produtora pública que presta serviços ao governo federal, foi acusada de filmar os comícios da candidata do governo Dilma Roussef para a campanha. “Fomos vítimas dessas denúncias. Nós noticiamos tudo e demos nossa resposta”, explica.

Durante a rodada de perguntas, os convidados não escaparam de comentar episódios polêmicos da campanha, como a bolinha de papel jogada por militantes do PT que atingiu o candidato José Serra durante um comício do PSDB. Para Leandro Fortes, o episódio foi fabricado pela campanha tucana para abrir vantagem na disputa. “Aquilo foi uma palhaçada, um exagero”, diz. Já Heraldo Pereira acredita que a militância política deve ser precedida pela civilidade. “Os partidários precisam ter o direito de ir e vir. O Estado brasileiro precisa assegurar isso”, afirmou. A professora da FAC Célia Ladeira, que estava na platéia, comentou que a imprensa perdeu o foco do que realmente importava no episódio. “A questão não é se jogaram ou não a bolinha, e sim, que o PT foi à passeata do PSDB, ferindo a democracia”, diz.

REGULAMENTAÇÃO – Para Nereide Beirão, o Brasil tem uma visão errada da questão do controle social da mídia. “A imprensa aqui é intocável. Os dez países mais democráticos do mundo têm um órgão de regulamentação da mídia”, diz. Ela defende a criação de um Conselho Federal de Jornalismo. “A censura é algo prévio. O Conselho seria acionado após a infração, apenas para punir”, explica. Para o jornalista Leandro Fortes, a regulação como uma ameaça à liberdade de expressão é apenas uma tese propagada pelos donos dos veículos de comunicação. “Eles têm medo é de perderem as concessões”, diz. “Os jornalistas que são contra o Conselho se alinham ao patrão por medo”, completa.

O jornalista Lincoln Macário afirma que toda profissão precisa de um balizamento ético. “A categoria sai fortalecida e o jornalismo volta-se à sua missão de informar, em contraponto à lógica do lucro”, diz. Para ele, a obrigatoriedade do diploma de jornalista é indispensável para o exercício do jornalismo comprometido com a sociedade.

A professora da Faculdade de Comunicação e organizadora do evento, Liziane Guazina, afirma que o objetivo do debate é instigar uma reflexão nos alunos após o resultado das eleições. “Quisemos trazer profissionais que participaram do dia-a-dia da cobertura eleitoral para discutir os dilemas e desafios do trabalho”, diz. “Não buscamos conclusões definitivas, mas levantar perguntas importantes”, afirma o professor Luiz Gonzaga Motta, mediador do debate. A iniciativa é uma ação conjunta do Núcleo de Estudos de Mídia e Política (NEMP) e do SOS Imprensa, ambos da FAC, além do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal.

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O MELHOR DA CULTURA EM 10 INDICAÇÕES

Fonte: folha.uol.com.br 14/11


AVESSO DO AVESSO
Em cerca de 160 trabalhos produzidos entre as décadas de 1950 e 1980, a artista suíça radicada no Brasil Mira Schendel (1919-88) explora potencialidades do papel, como forma, transparência e tridimensionalidade. Destaque para as séries "Bordados" (desenhos geométricos) e "Droguinhas" (folhas de papel-arroz retorcidas e trançadas). Segundo o curador e crítico Cauê Alves, a exposição também visa revelar "um lado menos melancólico e mais solar da artista".
Instituto de Arte Contemporânea | São Paulo De 20/11 a 27/2

AS MELHORES ENTREVISTAS DO RASCUNHO
Processo de criação, relação com a crítica, influências (e, vá lá, política literária) são alguns dos temas abordados nas 15 entrevistas do jornal paranaense "Rascunho" com grandes nomes da ficção e da crítica brasileira, como Bernardo Carvalho, Cristovão Tezza, Mario Sabino, Wilson Martins e João Ubaldo Ribeiro.
Arquipélago | Luís Henrique Pellanda (org.) 288 págs | R$ 39

ENSAIOS FUNDAMENTAIS - ARTES PLÁSTICAS
Organizado pelo editor Sergio Cohn, o livro reúne textos de ensaístas (Gilda de Mello e Souza, Ronaldo Brito, Mário Pedrosa, Mario Schenberg, entre outros) e artistas (Tarsila do Amaral, Hélio Oiticica e José Resende, entre outros), cobrindo mais de cem anos de produção artística no Brasil.
Azougue | 232 págs. R$ 48

RETRATOS DO BRASIL NEGRO
Coordenada pela pesquisadora Vera Lúcia Benedito, a coleção perfila, em seis volumes, nomes referenciais da cultura negra no Brasil, como o abolicionista Luiz Gama, o líder da Revolta da Chibata João Cândido, o ativista Abdias Nascimento e o sambista Nei Lopes.
Selo Negro | De R$ 19,90 a R$ 21

O LADO DE LÁ
O ensaio fotográfico de Ricardo Teles registra em cerca de 30 imagens, captadas entre 2005 e 2010, o cotidiano de regiões africanas de onde partiram populações negras para o Brasil: Angola, República Democrática do Congo (antigo Zaire) e Benin.
Pinacoteca do Estado de SP De 20/11 a 9/1

A MÃO AFRO-BRASILEIRA
A presença negra na cultura brasileira, do barroco à arte contemporânea, é o objeto da obra, organizada pelo ilustríssimo Emanoel Araujo, diretor-curador do Museu Afro Brasil, em São Paulo. A reedição traz textos de apresentação dos ex-presidentes Mario Soares (de Portugal) e FHC.
Imprensa Oficial de SP 868 págs. | Preço a definir

OS ENSAIOS
Feita a partir da nova edição da Bibliothèque de la Pléiade, que recupera texto da edição póstuma de 1595, a seleção de ensaios de Michel de Montaigne (1533-92) tem tradução fluente e inédita, pela premiada Rosa Freire d'Aguiar, e introdução do filólogo Erich Auerbach, que ressalta a ética individual de um autor "só, em si e consigo mesmo, no meio do mundo -e em perfeita solidão".
Penguin-Companhia | M.A. Screech (org.) | 616 págs. | R$ 34

RAZÃO SANGRENTA
O sociólogo alemão Robert Kurz faz a crítica do conceito de esclarecimento a partir da análise da modernidade. Kurz fará conferência em São Paulo (no auditório da Aliança Francesa, na quarta-feira, às 18h30) sobre a atualidade de Adorno e Horkheimer.
Hedra | Trad. Fernando de Moraes Barros 298 págs. | R$ 49

TÁS A VER?
As cerca de 40 fotografias produzidas pelo coletivo paulistano Tás a Ver? revelam uma imagem plural e urbana do continente africano.
Galeria Matilha Cultural | São Paulo De 16 a 27/11

MANDELA, 92
Izabela Moi

A cada novo livro, o que se afirma é o objetivo de desmitificar Nelson Mandela, mostrando seus erros e fragilidades. A cada livro, o que se promete é humanizar "Madiba". Mas, toda tentativa parece realimentar o mito do ex-guerrilheiro que pôs fim ao apartheid na África do Sul. Aos 92 anos, Mandela presencia tudo de longe, como alerta o organizador Verne Harris na introdução de "Conversas que Tive Comigo", e faz o que nunca pôde fazer: viver sua vida privada. O livro reúne documentos pessoais -calendários, cartas e imagens- guardados desde o final dos anos 60, quando foi preso, até os anos de Presidência. Há anotações simples, como o pedido (atendido!) de receber creme de barbear na cela, e impressões de seu encontro com Fidel Castro, no curto capítulo de viagens. Difícil ver ali, na humanidade, a ausência do herói.
Rocco | Trad. Ângela de Andrade, Nivaldo Montingelli Jr. e Ana Deiró 416 págs. | R$ 39,50

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A vez da comunidade

Fonte: correioweb.com.br 14/11

Escolas parques abrem as portas para grupos de teatro, de dança, corais num esforço de interagir com moradores da vizinhança

De manhã, os pátios e as salas de aula das cinco unidades de escolas parques são dominadas pela algazarra e pelas brincadeiras infantis, sempre que começam os intervalos das aulas de artes. À noite, no entanto, descansam as carteiras e os quadro-negros. Mas quando a turma de uniforme vai embora, essas escolas recebem um público vasto: toda a comunidade interessada em praticar esportes, cantar, dançar, se arriscar no palco, dar as primeiras pinceladas em uma tela. Além de espaço para diversos professores dividirem seus conhecimentos com pupilos, as unidades da escola parque abrigam, cada vez mais, grupos de artistas que precisam de espaço para ensaiar e produzir novas obras.

A intenção dessas instituições, além de facilitar a vida de quem faz arte na cidade, é trazer novidades e melhorias para o ambiente escolar. “É importante que a comunidade perceba que a escola é pública e, quando ela entra neste espaço, tudo muda. A gestão compartilhada só funciona quanto todos se aproximam e participam. Até as crianças que estudam aqui veem o ambiente com mais carinho”, reflete a coordenadora da escola parque localizada na entrequadra 210/211 Norte, Luciana Duarte.

Assim como as outras unidades, a escola coordenada por Luciana recebe inúmeros pedidos de grupos de teatro e dança, em busca de um lugar para seus encontros. Quem ganha espaço deve contribuir com a qualidade de vida das crianças que frequentam o local. Há quem doe objetos, como ventiladores. Há quem ajude nas reformas. Os grupos de teatro costumam se apresentar para os alunos, em datas especiais.

Parceria
A atriz e diretora de teatro Áurea Liz é uma das parceiras regulares da escola. Atualmente, ela ensaia no espaço a peça História de algum lugar, com elenco de 19 atores, entre eles o ator de teatro e cinema Gê Martú. Ele, por sinal, é celebridade e pessoa mais que bem vinda por aquelas bandas. Afinal, já ensaiou cinco trabalhos diferentes em várias unidades da escola. A admiração dos professores e alunos ganhou tons de homenagem. Desde março, o auditório da escola, com 400 lugares e atualmente em reforma, ganhou o nome do ator. “Ele é um artista da cidade, é nosso vizinho”, explica a diretora da escola, Leda Ladeira. “A homenagem foi linda. Chorei muito, o coração bateu forte. Ainda bem que tenho marca-passo”, brinca Gê Martú.

Para ele, a decisão das escolas parques de abrir portas aos artistas é uma via de mão dupla. “Essas escolas têm autonomia para ceder espaços e atores sempre precisam de lugar para ensaiar. É bom para elas e para a comunidade”, destaca o ator, que marca presença em festas no colégio e mantém contato direto com a meninada. Além do elenco da peça estrelada por Gê Martú, a oficina de dança Cacuriá e a escola de teatro Bazáridas também ensaiam com regularidade nas salas de aula.

A mais antiga e conhecida unidade da rede, localizada na 307/308 Sul, é também a que mantém a mais tradicional parceria entre atores e ambiente estudantil. Há 11 anos, o teatro que funciona dentro da unidade é casa da Companhia Teatral Néia e Nando. “No verão, fazemos temporadas com nossas peças no Rio de Janeiro e o elenco que passa dois meses lá sempre comenta que sente saudades da escola”, relata Nando Villardo, diretor da companhia.

Ao lado da direção e da equipe de professores, a companhia batalha para manter o colégio vivo e atuante. Todos se ajudam na hora de substituir as cadeiras quebradas e lâmpadas queimadas. Além de destinar 15% de toda atividade remunerada aos cofres da escola, a trupe se apresenta para os alunos com frequência, concede bolsas de estudo na oficina de teatro que realiza aos sábados e ainda empresta cenários e figurinos para os professores dos cursos regulares. “É uma oportunidade de a comunidade ver o que acontece dentro da escola. Muitos pais se emocionam ao trazerem os filhos para o teatro, têm lembranças de infância É uma oportunidade linda, lúdica, interativa”, emenda Villardo.

PARA SABER MAIS
Uma ideia de Anísio Teixeira

A tradição das Escolas Parque em Brasília começou no ano da inauguração da capital, 1960. A primeira unidade foi erguida na entrequadra da 307/308, seguindo a base da educação integral proposta pelo educador Anísio Teixeira. Com o tempo, a proposta escolar foi mudando e a escola parque passou a ser um complemento curricular de alunos das escolas classes do Plano Piloto. Nas cinco unidades (307/308 Sul, 210/211 Norte, 210/211 Sul, 303/304 Norte, 313/314 Sul), os alunos frequentam aulas de música, teatro, literatura, artes visuais e educação física.

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O dia do juízo

Fonte: folha.uol.com.br 14/11

A política dos prêmios literários

RESUMO
Controvérsia em torno do Jabuti 2010 expõe as fragilidades dos prêmios literários brasileiros, que buscam firmar-se num país sem tradição na área. Na confluência de mercado editorial, leitores e crítica, exemplos americanos e europeus fornecem possíveis modelos para conferir credibilidade aos equivalentes nacionais.

JOSÉLIA AGUIAR

QUANDO CONCLUIU "Leite Derramado", o escritor Chico Buarque pensou que enfim estava livre dos tormentos de Eulálio, o narrador moribundo que àquela altura já se transformara num encosto para seu criador. Mas há duas semanas, ao ser chamado ao palco da Sala São Paulo para receber o Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção do ano, o bafafá irrompeu. Seria coisa de Eulálio?
Aos comentários galhofeiros sobre sua fecundidade (já são três os quelônios em sua prole) seguiram-se críticas mais duras -não ao livro, mas à entidade que o cobriu de louros. Segundo colocado na categoria romance, Chico acabou levando para casa o grande prêmio da noite -o de livro do ano de ficção, no valor de R$ 30 mil.
Na última quinta-feira, o presidente do Grupo Editorial Record, Sérgio Machado, divulgou uma carta endereçada à promotora do cinquentenário prêmio, a Câmara Brasileira do Livro (CBL). Editor do primeiro colocado na categoria romance, o estreante Edney Silvestre, Machado indignou-se com a situação "esdrúxula". O Jabuti, diz a carta, seria uma "comédia de erros" da qual o Grupo Record -o maior do país no setor de obras gerais, isto é, não especializado em obras técnicas ou didáticas- não mais iria participar.
Não é a primeira vez que Chico Buarque vê seu talento ser questionado ao amealhar um Jabuti. Em 2004, "Budapeste", o terceiro lugar na categoria romance, também foi escolhido como livro do ano de ficção, para indignação dos que não aceitam ver um compositor ser alçado à glória literária.

REGULAMENTO A polêmica não está na discussão sobre a qualidade da prosa de Chico ou de Edney, mas no abstruso regulamento do prêmio, que reúne uma infinidade de categorias -em 2010, foram 21- e uma confusa segunda etapa, na qual os três primeiros colocados nas principais categorias concorrem ao título de livro do ano de ficção e de não ficção.
Em vez do júri especializado da primeira fase, quem escolhe os vencedores da segunda são os representantes da CBL (livreiros, editores, agentes, distribuidores e demais representantes do setor editorial), em geral pouco afeitos ao exercício da crítica literária.
Quem inventou essa regra insólita, entre as outras que há no Jabuti, certamente não pensou na celeuma que podia causar. Por causa delas, autores de qualidade e premiáveis são muitas vezes colocados sob suspeição. Uma vitória merecida ganha ares de "tapetão", mesmo cumprindo as exigências do regulamento.
A Folha consultou a CBL sobre o comunicado da Record. A entidade divulgou uma nota afirmando que "no ato da inscrição das obras que concorreram este ano, que teve recorde de inscritos, todos os participantes declararam conhecer o regulamento da premiação" (veja a íntegra da nota em folha.com/ilustrissima).

INCONGRUÊNCIAS Não é de hoje que editores reclamam do funcionamento do Jabuti. Mas as queixas costumam ser em off, pois há um misto de simpatia pelo prêmio e receio de se indispor com a entidade que representa o setor. Os rugidos da Record são uma ameaça à harmonia no mais tradicional prêmio das letras brasileiras.
Não faltam incongruências que contribuem para lançar suspeitas sobre a legitimidade do prêmio. Uma das queixas recorrentes: a cada ano, há sempre livros encaixados em categorias diferentes daquelas em que são registrados na ficha catalográfica, feita pela própria CBL. Há ensaios que ganham como se biografia fossem; há autores clássicos, já mortos, que competem com autores iniciantes.
Não há dúvida de que "O Leitor Apaixonado", coletânea de ensaios em que Ruy Castro recolhe suas reminiscências de leitura, merece ser premiado; mas na categoria reportagem? As crônicas inéditas de Manuel Bandeira, que ficaram em terceiro lugar e levaram o prêmio "in memoriam", não deveriam estar numa categoria à parte, reservada aos clássicos? E Nelson Rodrigues, que, uma vez inscrito, nem entre os três primeiros ficou? Quem pode julgar uma tradução do grego antigo, sânscrito, russo ou húngaro, as línguas difíceis que volta e meia dão aos tradutores o Jabuti da categoria?

PRESTÍGIO "Antes os escritores eram prestigiados pelos prêmios, agora são os prêmios que precisam dos escritores para ter prestígio", resume o editor José Mário Pereira, da carioca Topbooks. "Com a sociedade do espetáculo, já sabemos em janeiro quem vai ser premiado em dezembro. O premiado é fabricado antes, pela mídia."
Júlio Pimentel Pinto, professor de história na USP, que fez ressalvas a "Leite Derramado" em seu blog (paisagensdacritica.wordpress.com), defende o autor: "O problema não é o Chico, que é sério e escreveu um livro decente. O problema são os aduladores".
O curioso é que, entre as 21 categorias, nenhuma tem como objetivo revelar autores estreantes, umas das vocações de um prêmio literário. "A tradição do Jabuti é escolher os melhores", explica o curador do Jabuti, José Luiz Goldfarb. "Consagrado ou estreante não é critério. Há muitos consagrados premiados, mas a cada ano temos também novidades."
De fato, há novidades em 2010. Uma delas é o prêmio de melhor romance para Edney Silvestre, por "Se Eu Fechar os Olhos Agora", que fez dele o favorito para o livro do ano de ficção. Três meses antes, o autor recebera outro prêmio, o São Paulo de Literatura, mas na categoria primeiro romance.
No Prêmio São Paulo, o vencedor na categoria romance foi Raimundo Carrero -que, aliás, não estava entre os dez finalistas do Jabuti. Chico também estava entre os dez finalistas do São Paulo.
Em tempo: nem Silvestre, nem Carrero ficaram entre os dez finalistas de outro prêmio importante, o Portugal Telecom, que Chico Buarque também faturou.

GONCOURT O terceiro lugar para as crônicas de Manuel Bandeira levou a Folha a perguntar: inéditos de Paul Valéry ou Georges Bataille teriam chance hoje de estar entre os finalistas para o Prêmio Goncourt? A pergunta deve ter parecido bem esquisita, pois Marie Dabadie, a administradora da Academia Goncourt, interrompeu subitamente a troca de mensagens com a reportagem. Insisti. "Por favor, consulte o regulamento no site", ela respondeu. Disse-lhe que o havia lido, mas queria ter certeza. No novo e-mail, a frase que ela recortou e colou assinalava que a distinção se destina estritamente "às novas e ousadas experiências do pensamento e da forma", segundo o testamento de Edmond de Goncourt.
Apenas livros novos, de autores vivos, podem competir, confirmaram representantes do britânico Man Booker Prize e do americano National Book Award. A pesquisa não foi exaustiva. Passa de 300 o número de láureas de grande porte nos EUA e na Europa, informa um dos catálogos que mapeiam prêmios literários do exterior.
Goncourt, Booker Prize e National Book Award têm respeito da crítica, prestígio entre leitores, atenção de editores e livreiros e ajudam a lançar nomes ou a consagrar autores já conhecidos.
Na França, os prêmios são uma mania nacional comparável às greves do metrô: há para todos os gostos, inclusive um indicado pelos alunos do ensino médio, o Goncourt des Lycéens, e um que dá ao vencedor uma taça de vinho por dia, durante um ano, no Café de Flore, ícone dos intelectuais de Saint-Germain-des-Prés.
Com a votação popular pela internet, implantada em 2010 -o que o aproxima de prêmios de cinema, nos quais a plateia dá seu voto na saída-, o Jabuti mais uma vez causou espécie entre os entrevistados do Goncourt, do National Book Award e do Man Booker Prize.
"Surpreender" o público, segundo responderam, está entre os atrativos. "Como assim 'se refletimos o gosto do mercado'?", perguntou Marie Dabadie, irritada.

VALORES O que ajuda um prêmio a ter mais prestígio que outro? Ser o mais antigo ou o pioneiro são alguns dos valores em jogo. Uma grande soma como premiação é outro fator. A reputação dos jurados é essencial. Além, é claro, de ter acertos no currículo, explica James F. English, Ph.D. em literatura inglesa, autor de "The Economy of Prestige -Prizes, Awards and the Circulation of Cultural Value" (Harvard University Press).
O livro de English, que combina análise sociológica e econômica para compreender prêmios de cinema e literatura, conta uma história que começa na Grécia antiga, com festivais em honra a Dioniso (competia-se com poesia, música e dança), e chega ao século 20, com sua profusão de láureas -a mais famosa delas, o Nobel, que em 1901 inaugurou a era moderna dos prêmios (leia mais em folha.com/ilustrissima).
English acrescenta: "Certa medida de escândalo e controvérsia pode dar enorme vantagem a um prêmio, na comparação com outros mais 'discretos'". Alguns prêmios têm valor simbólico, e outros, de tão polpudos, garantem a subsistência por um bom tempo. O principal é que, ao receber na capa uma etiqueta que diz "vencedor do Goncourt", uma obra pode mudar a trajetória de um autor.
Mas, para dar certo, a controvérsia deve ser de natureza literária ou crítica -o que não é o caso da polêmica do Jabuti, que tem a difícil tarefa de satisfazer os gregos e troianos associados da CBL.
Quando questões de mercado se misturam a critérios críticos, a chance de algo dar errado é grande, como ocorreu com o romancista argentino Ricardo Piglia, que "venceu" o concurso de sua própria editora, a Planeta.
Na atrapalhada operação, que visava mais promover o romance "Dinheiro Queimado" do que premiar novos ou antigos talentos, a editora tentou abater com o valor do prêmio parte dos US$ 100 mil que pagara ao escritor como adiantamento dando-lhe um prêmio que, por tabela, alavancaria as decepcionantes vendas do livro.
Descoberta a picaretagem, editora e autor foram processados por um concorrente preterido no certame, que venceu a contenda judicial. Intelectuais se manifestaram em defesa de Piglia, , um dos autores mais respeitados do país, que estaria sofrendo uma campanha de difamação.

POLÍTICA Na carta à CBL, a Record afirma que "a premiação foi pautada por critérios políticos, sejam da grande política nacional, sejam da pequena política do setor livreiro-editorial". Quem esteve na Sala São Paulo afirma que Chico Buarque subiu ao palco sob gritos de "Dilma, Dilma!".
De fato, num debate estético, é difícil evitar julgamentos políticos, que podem ser de dois tipos: internos -quer dizer, ligados ao círculo literário- ou externos. Não é um autor magoado, sem prêmios, quem diz isso. É Harold Augenbraum, diretor-executivo do National Book Award. A saída, explica, é misturar, num júri, vozes e perspectivas estéticas diferentes.
"Sempre enfatizamos com os jurados que devem olhar para fora de sua 'zona de conforto', ou seja, observar obras bem realizadas que sejam diferentes deles mesmos", afirma Augenbraum. Diz algo parecido Ion Trewin, diretor literário do Man Booker Prize: "Os jurados são escolhidos para refletir uma grande variedade de formações e gostos. Podem ser de qualquer área, desde que sejam apaixonados por ficção".
O National Book Award foi alvo de críticas, durante décadas, bem como outros prêmios de porte nos EUA, por supostamente ceder à pressão de grandes editoras. O que levou ao surgimento de iniciativas como o Pushcart Prize, criado em 1976 para premiar apenas autores publicados pelas editoras pequenas, independentes.

REPERCUSSÃO Mesmo recentes, o Portugal Telecom e o São Paulo de Literatura têm grande repercussão, sobretudo pelo valor concedido aos vencedores. Ajudar bons escritores a constituir um pé de meia que lhes permita viver de escrever, afinal, é um dos propósitos de um prêmio literário. O fenômeno póstumo Roberto Bolaño, chileno que virou best-seller mundial, passou boa parte da vida no anonimato, faturando pequenos concursos de prefeituras espanholas.
Criado em 2003, o Portugal Telecom se constituiu, de certa modo, procurando evitar as fragilidades do Jabuti: de saída, reivindicou o posto de prêmio mais polpudo e preocupou-se em formar um júri final com críticos de renome na imprensa ou na universidade. São dez finalistas e três premiados -primeiro, segundo e terceiro lugares- em prosa e poesia. Outra diferença em relação ao prêmio da CBL é que os jurados do Portugal Telecom se reúnem para debater.
Pelo regulamento, há cotas para autores portugueses e de países africanos de língua portuguesa. Há uma auditoria independente, que acompanha as diversas fases, quando a decisão sobre os semifinalistas é feita por meio de consulta a uma lista de jurados com algumas centenas de nomes.
No Prêmio São Paulo, organizado pelo governo paulista há três anos, o júri tem profissionais de perfil misto -são ligados ao mundo do livro- e apenas duas categorias: melhor romance e melhor romance estreante.
A premiação que oferece é muito superior à do Jabuti. Andrea Matarazzo, secretário de Cultura, lembra que o Prêmio São Paulo de Literatura tem o mérito de, nas duas últimas edições, ter premiado autores com carreira significativa -este ano, Carrero, ano passado, Ronaldo Correia de Brito-, mas que ainda não haviam recebido o devido reconhecimento.

CONVERGÊNCIAS Ano a ano, a comparação entre os finalistas do Jabuti, do Portugal Telecom e do São Paulo mostra que há mais convergências que divergências. Até porque muitos dos curadores e jurados se repetem e se revezam.
"Julgar é uma grande responsabilidade, hoje mais do que no passado, quando os critérios de valor eram mais definidos", afirma Leyla Perrone-Moisés, crítica literária que participou de mais de um júri do Portugal Telecom, entre eles o de 2010. "Apesar disso, quando os críticos se reúnem não há grandes divergências, e muitas vezes há consenso, o que prova que os valores, embora mais fluidos, continuam existindo."
Outro crítico, Alcir Pécora, avesso a prêmios, ressalta que literatura de qualidade depende não do apoio isolado dos prêmios, mas do nível de educação da população. "Dado o quadro conhecido e lastimável da educação brasileira, toda a prática cultural do país está comprometida. Sofrem todas as artes, sofre tudo o que demande e dependa do cultivo intelectual. Claro que um ou outro milagre pode ocorrer, sempre, mas será um milagre, não uma situação sobre a qual se possa descrever pela razão". As ações culturais de peso, argumenta Pécora, são sempre relativas à educação e não à promoção de eventos culturais isolados, sejam quais forem os agentes envolvidos: críticos, editoras, prêmios, jornais ou revistas.
Ele diz que são mais felizes os prêmios literários de países que os tomam apenas como prêmios literários, em vez de tomá-los como responsáveis decisivos pela melhora da situação cultural e literária do país. "Tanto menos se dependa deles como salvação da lavoura, ou, dito de outro modo, tanto mais saibam que são fundamentalmente dispensáveis, tanto mais podem ser interessantes", diz.

Não é de hoje que editores reclamam do funcionamento do Jabuti. Mas as queixas costumam ser em off, pois há um misto de simpatia pelo prêmio e receio de se indispor com a CBL.

Ano a ano, a comparação entre os finalistas do Jabuti, do Portugal Telecom e do São Paulo mostra que há mais convergências que divergências.

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