Editores sugerem novo Jabuti em 2011
Fonte: folha.uol.com.br 27/11
Mudanças foram sugeridas após polêmica envolvendo Chico Buarque e Edney Silvestre na edição deste ano
Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, e Sergio Machado, da Record, concordam com novas regras
Com seu característico passo de tartaruga, o cágado jabuti se encaminha para mudanças em 2011. Todos reclamam das atuais regras, e o primeiro a admitir estranheza é o próprio curador do prêmio, mas só no ano que vem começam as discussões oficiais de possíveis transformações no regulamento.
Criado em 1958, o Jabuti ganhou mais relevância nas duas últimas décadas, quando José Luiz Goldfarb assumiu a curadoria e instaurou pagamentos para os jurados e premiações em dinheiro para os vencedores. Apesar de hoje não distribuir tanto dinheiro quanto outros eventos (R$ 30 mil para o Livro do Ano, contra R$ 100 mil do prêmio Portugal Telecom e R$ 200 mil do prêmio São Paulo), o Jabuti ainda é o mais conhecido e prestigiado prêmio literário do país.
É por isso que dois dos editores mais poderosos do país, Sergio Machado, presidente da grupo editorial Record, e Luiz Schwarcz, diretor da Companhia das Letras, vieram trocar farpas em público este mês para defender seus autores finalistas. Nenhum deles confirma que a venda dos premiados cresce nas livrarias, mas concordaram em sugerir mudanças para a próxima edição do Jabuti.
Schwarcz aponta três possibilidades mudanças:
1) Maior investimento no julgamento - Segundo o editor da Companhia, os jurados deveriam receber mais para poderem se dedicar melhor ao julgamento das obras. O aumento de inscrições no Jabuti (de 300 para 3.000 livros nos últimos 20 anos) exige uma dedicação enorme para leitura. Além disso, mais dinheiro significa melhores jurados disponíveis.
"Prêmio literário é a qualidade do julgamento. Se não houver investimento em júri, que os livreiros e editores continuem escolhendo o Livro do Ano", diz Schwarcz.
2) Menos categorias - Vinte e uma categorias é muito, segundo o editor. O curador do prêmio, José Luiz Goldfarb, no entanto, afirma que quem pressiona por mais categorias são os próprios editores. "Porque assim eles têm mais possibilidades de ganhar", diz o curador.
3) Mudar para o modelo de "short list" (lista curta) - Para Schwarcz, um prêmio literário não deveria ser encarado como uma competição tão acirrada. "Prêmio com primeiro, segundo e terceiro lugares só existe no Brasil. O National Book Awards, o Goncourt, o Booker Prize, não têm segundos lugares. Anunciam uma "short list", com umas cinco obras, e depois o vencedor."
FALTA DE LEITURA
Apesar de se colocar contrário a Schwarcz na atual discussão, o dono da Record, Sergio Machado, aponta sugestões parecidas às do colega. Duas são as mesmas:
1) Menos categorias -"Realmente é muita coisa. Ganhar uma delas acaba tendo pouca significação", diz Machado.
2) Mudar para o modelo de "short list"
E sugere outras duas:
3) Um livro do ano, seja ficção ou não. "Acho que não deveria ser dividido. Um único livro, aquele que foi o mais importante, seria mais interessante".
4) Os 500 associados deveriam ler o livros que julgam -"Quando você coloca 63 livros (3 de cada categoria) para ser escolhido como livro do ano, tenho certeza que os 500 associados não leram todos. Se esse número diminuir bastante, poderíamos exigir uma declaração dos votantes de que leram todos os concorrentes antes de votar", sugere Machado.
José Luiz Goldfarb diz que as discussões da comissão começam em janeiro. "Em março ou abril, lançaremos as regras oficiais."
Para ele, apesar de toda a polêmica, a premiação do Jabuti foi coerente. "Prova disso é que tanto Chico quanto Edney venceram outros prêmios neste ano. OK, podem estar todos errados. Mas por trás da subjetividade do júri, existe uma coerência."
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Politização da polêmica lembra clima ideológico dos anos 60
Fonte: folha.uol.com.br 27/11
A polêmica do Jabuti é o novo e radicalizado capítulo da rivalidade entre Record e Companhia das Letras, que remonta a antigas contendas editoriais. Ambas já se enfrentaram na disputa sobre o melhor modelo de divulgação do livro no país: Flip ou Bienal? Agora, o único ponto pacífico é a necessidade de reformar o Jabuti.
Não estão em jogo, porém, apenas questões comerciais de um mercado em expansão, mas também o "prestígio" (moeda com alto valor de face nas editoras) e sobretudo a recente politização da cultura no país, travada pela militância na internet.
A polarização, afinal de contas, se dá entre a editora que abriga em seu catálogo Reinaldo Azevedo, Merval Pereira, Demétrio Magnoli, Ferreira Gullar e Mario Sabino, autores de perfil crítico ao governo Lula, e a casa editorial de Chico Buarque, José Miguel Wisnik, Marilena Chaui, Roberto Schwarz e outros símbolos da esquerda.
Não se via clima parecido desde os anos 60, quando os editores brasileiros eram sobretudo missionários ideológicos como Ênio Silveira ou Carlos Lacerda. As claques e vaias dos blogs lembram a sede de unanimidades dos festivais de música popular.
Não deixa de ser curioso que a "direita" lance mão de um expediente "esquerdista", uma petição on-line, na tentativa de "bullying" literário de Chico Buarque. Embora não seja unanimidade, Chico passou pelo crivo do público e da crítica. Estreante premiado, Edney Silvestre ainda precisa encontrar defensores além de seu editor.
A guerra nos blogs mostra que a rede não é boa conselheira quando se trata de crítica literária. Em outras palavras, quem quiser ler um bom romance nas férias de verão e estiver indeciso entre o de Edney e o de Chico dificilmente verá critério crítico na polêmica do Jabuti.
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Herdeiros levam DNA de Glauber ao Festival de Brasília
Fonte: folha.uol.com.br 27/11
Filhos do cineasta demonstram a verve do pai ao apresentar longa de ficção e filme inédito do diretor
Enquanto Eryk exibiu "Transeunte", montado pela irmã Ava, Paloma levou restauração de "Leão de Sete Cabeças"
Sempre se diz, no cinema brasileiro, que são muitos os filhos de Glauber Rocha (1939-1981). É que o cineasta, que morreu aos 42 anos e produziu freneticamente, serviu de farol a seguidas gerações. Mas, no caso do Festival de Brasília, a referência não tem nada de metafórica. São, de fato, muitos os filhos de Glauber aqui presentes.
Anteontem à noite, Eryk Rocha subiu ao palco do Cine Brasília com a emoção à flor da pele. Dedicou sua primeira ficção, "Transeunte", à mãe, a também cineasta Paula Gaitán, presente à plateia, e ao pai, Glauber.
Ao apresentar a equipe do longa, fez com que descobríssemos que estava ali também sua irmã Ava Rocha, montadora do filme.
E na segunda outra integrante do clã, Paloma Rocha, espalhará o DNA glauberiano pelo palco. Ela apresentará a cópia restaurada de "Leão de Sete Cabeças", feito em 1969, no Congo-Brazzaville. O porta-voz do cinema novo foi para a África após ganhar o prêmio de direção em Cannes com "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro".
O filme africano de Glauber, o primeiro do exílio, não só não tinha uma cópia nacional como jamais fora lançado aqui. Graças a uma parceria entre as cinematecas brasileira, a de Roma e a Secretaria da Cultura da Bahia, uma nova versão, com legendas em português, fará com que o filme possa ser descoberto pelo público.
ESTÉTICA ÍNTIMA
Além do gosto pelo cinema, Paloma e Eryk herdaram do pai a verve. Ambos falam como se estivessem discursando e, tamanho o entusiasmo, acabam por entusiasmar também o interlocutor.
É assim que Paloma define a importância do renascimento de "Leão". Foi assim que Eryk apresentou seu filme ao público.
Em entrevista à Folha, o diretor, autor dos documentários "Rocha que Voa" e "Pachamama", definiu o seu novo trabalho como uma ficção amalgamada ao documentário.
"O centro do Rio é um personagem. A gente não fechou nem uma rua nem um bar. O acaso foi transformando a história", diz Eryk, 32.
"Transeunte", filmado em Super-16, com belas imagens em preto e branco, segue pela rua o aposentado Expedito (Fernando Bezerra), um entre mil solitários que a cidade anonimamente acolhe.
O tempo do filme é o tempo da vida que passa lenta, esgarçada pelas pessoas que morreram e pela rotina de poucos afazeres. A estética perseguida pelo diretor é aquela que, como pregava seu pai, não mimetiza o cinema bilionário. Ao contrário.
"Transeunte", que traz canções de amor a alinhavar a narrativa de poucas falas, estabelece, com o espectador, uma preciosa relação de intimidade.
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