domingo, 10 de outubro de 2010

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Professores reconhecem valor literário da obra de Vargas Llosa

Fonte: UnB.br10/10

Crítica ao sistema de hierarquia e divisões sociais e raciais da América Latina é a principal marca da obra do escritor peruano ganhador do Nobel de Literatura



A Academia Sueca concedeu o prêmio Nobel de Literatura a um homem que trabalhou como revisor de nomes de túmulos em um cemitério. Nascido em março de 1936, em Arequipa, o peruano que teria sua obra reconhecida após 50 anos de carreira, sempre esteve próximo às palavras. O autor também foi redator de notícias na extinta Rádio Central e funcionário de biblioteca. Professores da Universidade de Brasília analisam a obra do escritor e reconhecem o valor literário de Vargas Llosa para a América Latina e o mundo.

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, 74 anos, se formou em Letras e Direito pela Universidade Nacional Maior de São Marcos, em Lima. Em 1959, quando ganhou uma bolsa de estudos em Filosofia e Letras pela Universidade de Madri, começou a se dedicar à literatura. Foi quando se tornou doutor, publicou seu primeiro livro – a coletânea de contos "Os chefes" e escreveu a peça de teatro "La huída del Inca". Até hoje, foram mais de 20 livros, dentre eles “A travessura da menina má”, publicado em 2006, e o “Pantaleão e as visitadoras”, em 1973.

A professora de Literatura Hispânica da UnB Elga Laborde conheceu o escritor em 1967, quando ele recebeu o Prêmio Internacional de Literatura Rômulo Gallegos, em Caracas. “Era um jovem amável e aparentemente reservado”, relembra a professora. Llosa já tinha publicado “Os Chefes” e o romance “A cidade e os cachorros”. “Ele tinha se convertido em uma celebridade, com livros traduzidos em mais de 20 línguas e prêmios acumulados”, conta Elga.

Na ocasião, Llosa foi premiado com o romance “A casa verde”, que já tinha recebido o Prêmio da Crítica no ano anterior. Elga Laborde relembra que durante o discurso, Llosa afirmou que o dinheiro, cerca de US$ 100 mil, seria destinado à causa da revolução cubana. “Esse ato causou estupor na intelectualidade venezuelana e nos participantes estrangeiros, pois a quantia procedia de meios conservadores”, relata.

A crítica constante ao sistema de hierarquia e divisões sociais e raciais presente na América Latina é a principal característica de suas obras. Em 1990, Vargas Llosa disputou no Peru a Presidência da República e perdeu para Alberto Fujimori. “Muita água correu desde então no processo evolutivo político e literário da América Latina e também na vida dele”, avalia a professora.

Elga não poupa elogios sobre o escritor. “A obra dele está acima das contingências humanas”, afirma. Para ela, o nome do escritor é que dá prestígio aos prêmios. “No caso de Vargas Llosa – que tem muitos dos mais importantes prêmios da literatura no mundo, esse princípio se cumpre. O Nobel é um a mais”, afirma.

Rogério da Silva Lima, também professor do Departamento de Teorias Literárias e Literaturas, acredita que o prêmio dado a um escritor latino americano tem um significado especial para o continente. “Esses prêmios são sempre políticos e dependem de interesses. Mas não é só isso. O valor da obra é muito importante”, afirma. “Além disso, os olhos do mundo se viram para cá”, completa. O professor acredita que o prêmio não é tardio. “Um escritor precisa de tempo para consolidar a sua obra”.

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Juizes optam por aborto diante de gravidez indesejada, aponta estudo

Fonte: folha.uol.com.br 10/10

De 207 entrevistados que tiveram parceiras que engravidaram "sem querer", 79,2% abortaram

Pesquisa da Unicamp junto com a AMB é a primeira a retratar a opinião pessoal dos que operam a lei brasileira


Ao se confrontar com uma gravidez indesejada, a maioria dos juízes opta pelo aborto, revela uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em parceria com a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros).
As informações constam de um levantamento maior, que investigou o que pensam os magistrados e promotores sobre a legislação brasileira e as circunstâncias em que o aborto provocado deveria ser permitido no país.
Entre os 1.148 juízes que responderam a questionários enviados pelos Correios, 207 (19,8%) relataram que já tiveram parceiras que engravidaram "sem querer". Nessa situação, 79,2% abortaram.
Das 345 juízas que participaram do estudo, 15% disseram que já tiveram gravidezes indesejadas. Dessas, 74% optaram pelo aborto.
Apesar de não representar a opinião da maioria dos magistrados (só 14% deles participaram da pesquisa), o trabalho é o primeiro a retratar a opinião pessoal daqueles que operam as leis sobre o aborto, tema que ganhou força no debate eleitoral.
Os números refletem o que outras pesquisas populacionais já constataram: diante de uma experiência pessoal com a gravidez indesejada, grande parte das pessoas, mesmo as que seguem alguma religião, entende que a situação justifica o aborto.

MORAL
Na avaliação da antropóloga Debora Diniz, professora da Universidade de Brasília, o dado revela uma questão básica sobre temas moralmente sensíveis: uma coisa é como as pessoas agem e conduzem suas vidas, a outra é o que elas consideram moralmente correto responder sobre o tema.
"Aos 40 anos, uma em cada cinco mulheres já fez aborto no Brasil. Se perguntássemos a essas mesmas mulheres se elas são favoráveis ao aborto, a resposta seria incrivelmente diferente e contrária ao aborto", afirma Diniz, também pesquisadora da Anis (Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero).
Incoerência? Para a antropóloga, não. Ela explica que temas com forte regulação moral, em particular pelas religiões, geram uma expectativa nas pessoas de haver respostas "corretas", que indicariam que elas são "pessoas boas".
"Cria-se uma falsa expectativa de julgamento moral do indivíduo. Por isso, um plebiscito sobre aborto é algo desastroso. As mulheres abortam, seus companheiros as ajudam e as apoiam, mas ambos serão contrários à legalização do aborto."
Hipocrisia? Na opinião do juiz João Ricardo dos Santos Costa, vice-presidente de direitos humanos da AMB, sim. "A sociedade é hipócrita e individualista. Não conseguimos nos colocar na condição do outro."
Ele provoca. "Até padres quando se veem em uma situação em que suas parceiras engravidam optam pelo aborto para manter a sua integridade religiosa [permanecer na igreja]. Os juízes são como todas as pessoas. Têm suas vivências e cargas de preconceitos", diz ele.
A pesquisa com os magistrados e promotores, publicada na "Revista de Saúde Pública", se baseou em questionários enviados a 11.286 juízes e 13.592 promotores, por meio das associações que representam as categorias. A taxa de resposta entre os juízes foi de 14%, e entre os promotores, de 20%.

MÉDICOS
Seis anos atrás, o médico Anibal Faúndes, professor aposentado da Unicamp e coordenador do estudo com os magistrados e promotores, coordenou uma outra pesquisa com seus colegas de profissão, os ginecologistas e obstetras. Um total de 4.261 profissionais responderam a questionários enviados pela federação que representa a categoria (Febrasgo).
Um quarto das médicas e um terço dos médicos relataram já ter enfrentado uma gravidez indesejada.
A maioria (80%) optou pelo aborto. Mesmo entre os profissionais para os quais a religião era muito importante, 70% escolheram interromper a gravidez.
Quando a questão era a gestação indesejada de uma paciente, 40% dos médicos disseram já terem ajudado a mulher (indicando profissionais que faziam o aborto). A taxa subiu para 48% quando se tratava de um familiar e de quase 80% quando se tratava da sua parceira.
"As mais profundas convicções se rendem frente a circunstâncias absolutamente excepcionais. Todos somos contra o aborto, mas há situações em que ele é um mal menor", diz Faúndes.

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