Novela não ajuda a formar povo, diz Abujamra
Fonte: folha.uol.com.br 10/10
"Provocações" não seria o que é se diante das câmeras não estivesse Antonio Abujamra. Em três frases selecionadas pelo próprio, uma tentativa de apreender sua maneira de enxergar as coisas: A primeira: "Tudo é movimento irregular e contínuo, sem direção e sem objeto", de Michel de Montaigne (1533-1592).
A segunda: "Toda enfermidade pode chamar-se enfermidade da alma", de Novalis (1772-1801).
E: "Ninguém encontrou, nem encontrará jamais", de Voltaire (1694-1778).
De acordo com uma pessoa próxima, Abujamra "é um mestre em driblar tudo e todos. Um jogador: em cavalos e na vida em geral. Capaz das maiores generosidades e das maiores perversidades".
Conhecido por atuações em novelas como "Que Rei Sou Eu?", da Globo (1989), onde fez o inesquecível bruxo Ravengar, atualmente ele grava "Corações Feridos", do SBT. Leia trechos da entrevista à Folha a seguir. (MK)
Folha - O que pensa da televisão brasileira? Antonio Abujamra - O que todos pensam: falta muito ainda para que se acredite no veículo como um poder para melhorar o povo.
E as telenovelas, ajudam na formação de um povo?
Não. Principalmente porque agora as emissoras estão fazendo só a estética da pobreza, a estética da violência e o divertimento pelo divertimento.
Quando faz novela o que você pensa exatamente de quem assiste?
Penso em fazer bem o meu papel.
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Ponto a ponto - Amos Gitai
Fonte: correioweb.com.br 10/10
Diretor israelense não gosta do jeito hollywoodiano de fazer filmes e defende o modelo francês. Do Brasil, adora Glauber
Rio de Janeiro — O cineasta israelense Amos Gitai ganhou uma retrospectiva no Festival do Rio, encerrado na última quinta-feira. Sua obra provoca reflexões sobre questões como a guerra (Kippur — O dia do perdão), a opressão da mulher pela religião tradicional (Kadosh — Laços sagrados), a política ideológica (Berlim-Jerusalém e Kedma) e o embate da relação do indivíduo entre a família e o estado (Alila), entre outros assuntos ligados a Israel. O cineasta é um defensor dos conceitos da política de esquerda e, fora dessa conjuntura, seus filmes abordam as relações humanas dentro de um contexto sociológico. Gitai conversou com o Correio Braziliense e não se furtou em abordar vários assuntos de maneira contundente sobre cinema, atores, festivais e a internet, chegando a criticar o modo de se fazer filmes em Hollywood, contrastando com os elogios aos objetivos dos franceses. Uma de suas certezas é seu amor pelo Brasil.
Arquitetura
Eu acredito que ter estudado outro tema (sua formação profissional é arquiteto) que não seja cinema, ajuda na realização de um filme. É uma maneira de expandir sua visão. Assim você pode inserir a sua experiência em um outro campo profissional.
Holocausto
Infelizmente existem pessoas e presidentes de outras nações que duvidam do holocausto. É um absurdo. Se você legitima esse tipo de discurso, é legitimar um discurso fascista. Não tem como negar essa imensa tragédia mundial.
Prêmio
Acho o prêmio Leopardo de Honra no Festival de Locarno em 2008 um objeto bastante bonito e gosto de colocá-lo em meu colo enquanto o acaricio (risos). Festivais são importantes, pois é uma forma de distribuição. Fiquei muito feliz com as retrospectivas no Brasil. É uma maneira do público assistir algo diferente dos típicos blockbusters. Os festivais são necessários e uma forma do público conhecer algo diferente em relação ao cinema comercial.
Influências
Minha formação é na arquitetura e quando jovem minha família não ia muito ao cinema. Éramos mais adeptos a música e exposições. O cinema nunca foi muito popular na minha casa. Já na faculdade assisti aos mestres europeus como Federico Fellini, Ingmar Bergman e Roberto Rossellini, entre outros. E quando comecei a fazer filmes, comecei a descobrir outras escolas de pensamento. É interessante que não estudei cinema em uma universidade. Quando me convidam para dar uma aula ou uma palestra em uma escola de cinema, ao ser perguntado qual a melhor maneira de fazer cinema, aconselhei estudar arquitetura (risos). Acho que todas as escolas de cinema repetem as mesmas coisas. E o cinema deve fugir das mesmices.
Cinema brasileiro
Eu adoro o Cinema Novo. Os filmes do Glauber Rocha e do Nelson Pereira dos Santos. Sou muito amigo do Walter Salles e também gosto de seus filmes. O resto sou um total ignorante (risos). Muitos cineastas assistem a vários filmes. Eu não sou adepto a essa prática.
Ficção ou
documentário?
Eu adoro ambos. Depende do material que origina o projeto.
Site na internet
Não gosto dessas mídias sociais. Eu luto contra essa invasão de informação decorrente da internet. Acho preocupante as pessoas terem a necessidade de sempre estarem conectadas a algo. Eu gosto de olhar as pessoas nos olhos quando converso. Tenho pessoas que cuidam do meu site e dos meus emails. Quando acham que é algo interessante, me repassam.
França
A França é o único país no mundo que não está preocupada em desenvolver seu próprio cinema, mas também o cinema feito em outros países. Isso é muito raro. Existem países que defendem exclusivamente seu próprio cinema. Israel e a Itália são exemplos. Os franceses são excepcionais, pois defendem os cinema de outras partes do mundo. Um outro modelo é dos americanos: “Venha para a Los Angeles fazer filmes americanos”. Alguns profissionais acreditam que isso é uma forma de se chegar ao topo. Eu não partilho desse pensamento. Existem ótimos filmes americanos, mas para mim isso não é chegar ao topo. Por sinal, cada vez mais tem menos filmes americanos interessantes. A proposta dos franceses é divulgar a cultura de outros povos.
Brasil
Eu amo o Brasil. É um país muito interessante e poderoso em um sentido moderno. E a modernidade que me refiro é sobre a formação da nação sem um sentimento racista. Pessoas oriundas da África, Portugal, Alemanha, Líbano, entre outras dezenas de nações, fora os nativos e os judeus. Isso é um conceito de modernidade em que o elemento humano é o que importa. Uma característica muito difícil, que no Brasil é comum.
Pesquisas
Sim, sempre pesquiso para meus projetos. Posso citar Terra prometida, na qual conversamos muito sobre os direitos humanos. É importante ter conhecimento sobre o assunto que vai ser retratado.
Crítica
Isso é legitimo. Não é uma questão de se importar, mas é ótimo quando um crítico o auxilia a entender aquilo que você fez. Quando eles articulam seu trabalho, é interessante. É estimulante receber cumprimentos como também as vaias. Mas isso não é o assunto principal de um filme.
DVDs
Eu não gosto de participar dos DVDs dos meus filmes, na faixa de comentários. Acho que o filme deve ser o seu único comentário.
Improvisação
Eu não gosto de improvisações, mas deixo meus atores contribuirem. Eu entrego o roteiro e debatemos, antes de iniciar as filmagens.
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LIVRO
Na terra dos deuses
Fonte: correioweb.com.br 10/10
Obra de Arthur Veríssimo mistura diário de viagens e jornalismo fotográfico e revela um pouco da riqueza cultural da Índia
Viajante, andarilho, aventureiro. Nomes que aderem à personalidade inquieta de Arthur Veríssimo. Mas talvez ele prefira ser chamado de peregrino. E o lugar sagrado por onde o fotógrafo perambula curioso, com câmera, caneta e gravador em punho, é a Índia. De 1994 pra cá, ele acumula 17 viagens e um arquivo com cerca de 40 mil imagens — na última jornada, no atual ano, ele saiu do país com quatro mil negativos. “A curiosidade permanece a mesma, latente”, ele confessa. Com tanta história para contar e tantas fotos exóticas para mostrar, ele decidiu verter todas as suas viagens — ou pelo menos parte delas — em livro. Em Karma Pop, o jornalista teve ajuda de Richard Kovács e Rui Mendes para acompanhá-lo na difícil tarefa de editar textos e imagens, e selecionar alguns dos temas mais relevantes para a publicação.
Veríssimo relata, num diário pictórico divertido e informativo, o deslumbramento com o gigantesco festival religioso Khumba Mela, os passeios a bordo do festival Ganesh, o deus mais popular do país, pela cidade de Mumbai, e a rota de peregrinação dos hindus no Himalaia, o Char Dam. E não faltou espaço para registro do grafismo peculiar de placas de trânsito e da publicidade local.
No prefácio, o autor revela que o interesse pela cultura hindu vem do berço. A mãe, Zezé Tavares, era entusiasta de ioga, e, por consequência, desde pequeno ele sempre teve um interesse estético e espiritual pela Índia. Ainda assim, os conhecimentos adquiridos a distância se provaram pouco importantes quando o viajante chegou ao solo indiano. “As informações que a gente tem de livros, de fotografias, de filmes, tudo isso fica impregnado na gente. Quando fiz a primeira viagem, tudo desmoronou. Desde a preparação, você já fica completamente magnetizado pelo local. No momento que pisei no aeroporto de Nova Délhi, me recordo claramente, entrei realmente num tsunami da cultura indiana”, compartilha.
O festival Khumba Mela foi, para ele, algo extasiante. No início de 2001, Veríssimo acompanhou uma grande massa de 70 milhões de pessoas, vindas de todos os cantos do país e do planeta. Celebrado a cada 12 anos, em quatro cidades diferentes, a “megarrave”, como define o autor, reúne gente em busca de purificação nas águas dos rios Ganges, Yamuna e Saraswati, e é digna de menção no Guinness World Records (o livro dos recordes), como a maior aglomeração religiosa do mundo. As cidades Allahabad, Ujjain, Hardiwar e Nassik, são os lugares em que caíram as quatro gotas do néctar da imortalidade, disputado por deuses e demônios. O mito que origina o Khumba Mela ganhou a população indiana, que, em Mumbai, estende as narrativas míticas para o terreno urbano, com as festividades para o deus Ganesh.
E mesmo gente anônima, que anda pelo caos organizado das ruas das cidades indianas, não deixa de exibir uma riqueza de cores, indumentárias e elementos de um temperamento e de uma expressão cultural pouco familiar aos ocidentais. Veríssimo faz questão de compartilhar um pouco do que viu, ouviu e sentiu em Karma Pop. “Você mergulha num ambiente de milhares de deuses, manifestações nas árvores, entre cruzamento de rios, numa colina, numa caverna, centenas de milhares de templos. Você desenvolve faro para diferenciar coques de cabelo, as pinturas, os tipos de robe. E é evidente no Brasil, a tal da globalização com a sua espiritualidade. Os coqueiros, a juventude com brincos, o ganesh nas tatuagens. O meu entender da fé em similar em qualquer parte. A festa do Juazeiro do Norte, de Padre Cícero, representa o Khumba Mela no Brasil. A mesma magnitude. Existe uma conexão orgânica dessas manifestações”, filosofa.
Karma Pop
De Arthur Veríssimo. Editora Master Books,
138 páginas. R$ 120.
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