Le Monde 09/10
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A eleição presidencial no Brasil e a questão das mulheres
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muito provável eleição de Dilma Rousseff à presidência do Brasil está sendo apresentada, pela maior parte da imprensa estrangeira, como um forte símbolo da emancipação feminina. Depois de terem elegido Lula, seu primeiro presidente saído do proletariado, os brasileiros inovariam novamente ao colocar, pela primeira vez, uma mulher em sua liderança. Essa eleição evidentemente seria celebrada no mundo democrático como um exemplo a ser seguido. Além disso, é preciso ressaltar que, entre os três principais candidatos no primeiro turno, duas eram mulheres, com o Partido Verde representado por Marina Silva.
Dilma e Marina obtiveram sozinhas 66% dos votos. Mas esse resultado significa que o Brasil deixou de ser machista? Em um país onde uma mulher negra ganha, em média, quatro vezes menos que um homem branco, a importância simbólica de sua liderança deve ser ponderada. A trajetória dessas líderes é, cada uma à sua maneira, a história de uma emancipação. Marina, vinda de um meio muito pobre e analfabeta até a adolescência, foi ministra do Meio Ambiente. Dilma, por sua vez, é uma “pioneira” da vida política brasileira: após ter se juntado à guerrilha contra a ditadura e passado vários anos na prisão, ela se tornou a primeira mulher a ocupar a função de ministra das Minas e Energia e a de Chefe da Casa Civil, o equivalente a um cargo de primeiro-ministro.
Todavia, a campanha eleitoral difundiu, em parte, uma imagem conservadora da mulher. A rejeição por parte das duas candidatas à legalização do aborto é uma prova tangível disso. Marina se posicionou, desde o início da campanha, como a representante dos evangélicos, cuja aparência e discurso sóbrios e puritanos ela adotou. Quanto a Dilma, sua postura foi surpreendente, vinda de uma ex-militante de extrema esquerda.
Como ela é conhecida por sua personalidade forte, os estrategistas do Partido dos Trabalhadores (PT) preferiram passar a imagem de uma mulher submissa a um homem: o presidente Lula. Diversas razões explicam essa decisão. Primeiramente, Lula escolheu uma novata eleitoral para sucedê-lo. Até então Dilma nunca havia se candidatado a nenhuma eleição e consequentemente não possui nenhum feudo político. Ela deve sua legitimidade e sua popularidade ao presidente que a consagrou. Sem essa figura tutelar, ela nunca teria sido escolhida pelo PT, ao qual só se filiou tardiamente. Na dupla Dilma-Lula popularizada pela propaganda do partido, é certamente o homem que conduz. Ao longo de toda sua campanha, Lula investiu em um papel ofensivo, respondendo aos ataques dos adversários no lugar de Dilma. Essa atitude deu a impressão de que ele teria dificuldade em passar o bastão a sua herdeira.
Um papel antinatural
Além disso, ao se tornar candidata, os assessores de comunicação incentivaram Dilma a se ater ainda mais à imagem tradicional da mulher brasileira para não intimidar uma sociedade que continua marcada pelo machismo. Para “se feminilizar”, ela recorreu à cirurgia plástica e adotou um guarda-roupa sofisticado. Essas transformações, que visam seduzir um eleitorado sensível à aparência, não são adotadas somente pelas mulheres, uma vez que Lula também recorreu aos mesmos artifícios para ser eleito em 2002.
A onipresença do presidente e as transformações físicas de Dilma provocaram o sarcasmo da oposição, que zombou dessa dupla atípica. Plínio de Arruda do PSOL a acusou de ser um produto político “inventado”, ao passo que José Serra do PSDB criticou Lula por “falar em seu lugar”. Dilma é apresentada por seus adversários como uma mulher fraca e incompetente, uma ideia infundada por todos aqueles que a acompanham há anos. Entretanto, ao conter sua personalidade, a candidata do PT pôde transmitir a imagem de uma mulher submissa. Esse papel antinatural e sua falta de espontaneidade certamente desviaram parte de seus votos, o que explica a realização de um segundo turno que parecia improvável alguns dias atrás.
*Raphaël Gutmann, consultor do Terra Cognita e professor afiliado na ESG Management School
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PERNAMBUCO
As cores da liberdade
No centro do Recife, a Casa da Cultura exibe o charmoso artesanato regional nas celas de uma prisão desativada. Espaço ainda conta com livrarias, lanchonetes, teatro e cinema
Fonte: correioweb.com.br 09/10
O passeio no Recife fica bem interessante quando começa no prédio de uma penitenciária construída no centro da cidade. Pode parecer estranho, mas quem conhece o lugar acaba gostando. A prisão(1)está, na verdade, desativada há 37 anos. E os condenados deram espaço à criatividade em uma linda feira de artesanato.
A cadeia, que agora se chama Casa da Cultura de Pernambuco, começou a ser construída em 1850 e funcionou por 118 anos. Muitos detalhes ainda lembram a antiga prisão, como os enormes corredores com o chão de pedra e as grades das celas, que permaneceram intactas. Mas eles servem para dar ainda mais charme às lojas acomodadas em cada quadradinho. O colorido do artesanato em cada canto contrasta com o ambiente.
Apesar de ficar próxima das casas, a cadeia não levava medo à população durante o período em que esteve ativa. Pelo contrário. Os detentos participavam do cotidiano da cidade produzindo, por exemplo, pães e objetos vendidos aos recifenses.
Por conta da superlotação, o presídio foi desativado em 1973. O local foi restaurado e, três anos depois, começou a funcionar a Casa da Cultura. O ambiente conta com 150 lojas de artesanato, além de livrarias, lanchonetes e espaços voltados à arte, como museu, teatro e cinema. O artesanato vem de pelo menos 149 municípios espalhados pelo Pernambuco, do litoral ao sertão.
0Lá, você encontra rendas, couro, redes, quadros, livros, peças em madeira, peças de roupa em algodão natural, imagens sacras, máscaras de carnaval, bonecos de pano, bordados, xilogravuras, bebidas e doces regionais, entre outros itens. Para quem prefere algo mais sofisticado, lojas de joias se misturam às demais.
Como o lugar tem três andares, um elevador precisou ser instalado para que o acesso fosse livre a todos os visitantes. No primeiro piso estão a administração, as lojas e uma lanchonete. No segundo andar, mais lojas, uma lanchonete e um restaurante. No terceiro e último, há o Museu do Frevo, um teatro, um cinema e um local para realização de oficinas. Tudo isso fica aberto ao público, que, mesmo durante a semana, lota os corredores.
Para quem procura comida típica, o restaurante serve pratos como charque, arrumadinho e buchada. Se a opção for um lanche rápido, há pamonha, canjica, tapioca, água de coco e várias outras delícias. Tudo com a cara de Pernambuco.
A jornalista viajou a convite da Secretaria de Turismo do Recife
1 - Modelo francês
Em forma de cruz, a antiga penitenciária, com 8,4 mil m2 de área construída e 6 mil m2 de pátio externo, foi inaugurada em 1855, mas ficou pronta somente em 1867. O projeto seguia um modelo moderno existente na França. Em 1980, o prédio foi tombado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
Aonde ir
Casa da Cultura de Pernambuco
Rua Floriano Peixoto, Santo Antonio; (81) 3224-0557 e (81) 3224-4017
De segunda a sexta-feira, das 9h às 19h; sábado, das 9h às 18h; e domingo, das 9h às 14h. Entrada gratuita.
Centros de atendimento ao turista
São seis espalhados pela cidade. Outro serviço disponível é o Disque-Recife - Turístico: (81) 3355-8409.
Aeroporto Internacional do Recife
(81) 3232-3594 e (81) 3182-8299.
Estação Rodoviária — TIP
BR-232, Km 15; (81) 3182-8298.
Bairro de Boa Viagem
Praça de Boa Viagem; (81) 3182-8297.
Bairro do Recife
Praça do Arsenal; (81) 3232-2942.
Bairro de Santo Antônio
Rua Floriano Peixoto, Casa de Cultura de Pernambuco; (81) 3224-557.
Bairro de São José
Pátio de São Pedro, Casa 4, e Feira de São José; (81) 3232-2319.
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Histórias recifenses
A capital do frevo é também a cidade onde nasceram a primeira sinagoga das Américas, o mangue beat e a obra do sociólogo Gilberto Freyre. Vale a pena desvendar com tempo cada uma dessas tramas Fonte: correioweb.com.br 09/10
O clima de Brasília em nada se parece com Recife. Na capital pernambucana, basta sair do avião para notar a grande diferença: a umidade relativa do ar. Se aqui ela andou faltando, lá sobra, e, mesmo em época de chuva, o calor é intenso. Apesar disso, o casaco é bem-vindo, pois em qualquer ambiente o ar-condicionado parece ser regra.
Quer saber outra coisa que chama a atenção de imediato? A quantidade de andaimes nas ruas. Eles estão por todos os lados, e por uma boa causa. Passado julho, um mês de muita chuva, os monumentos da cidade ganham nova pintura. Além disso, a reforma das calçadas, da iluminação e das placas de trânsito e a instalação de seis pontos de informações turísticas (em vários pontos de Recife)
dão mostra do quanto a capital pernambucana é capaz de se revitalizar continuamente para atrair a curiosidade de viajantes do mundo todo. Prova disso é que, nos meses de baixa temporada, o setor hoteleiro registra uma ocupação média de 70%.
A cidade, com 474 anos e cerca de 1,5 milhão de habitantes, tem história para contar. Muitas delas são vistas a olho nu, na estrutura de cada prédio antigo. Outras exigem um pouco mais de tempo de fruição, como as encontradas na Casa de Cultura de Pernambuco, na sinagoga, no Memorial Chico Science ou no antigo lar de Gilberto Freyre. Conhecer cada uma delas vale a pena. O músico e o sociólogo, aliás, são os autores das frases que ilustram a foto desta página, feita no Marco Zero.
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Filmes e tributos lembram 70 anos de Lennon
Monumento em Liverpool, homenagem de Yoko, guitarras e discos relançados também celebram ex-Beatle, que faria aniversário hoje
Amigos e especialistas especulam o que cantor faria hoje; para Lobão, ele experimentaria com a música eletrônica Fonte: folha.uol.com.br 09/10
John Lennon está morto, mas continua faturando horrores. O ex-Beatle, que completaria hoje 70 anos, será homenageado com incontáveis tributos e lançamentos de produtos com seu nome.
"O Garoto de Liverpool", filme de Sam Taylor-Wood, de 2009, sobre a juventude de Lennon, estreou ontem nos Estados Unidos e está previsto para chegar aos cinemas brasileiros no dia 3 de dezembro.
Hoje, no Central Park, será exibido "LennoNYC", um documentário sobre os anos de Lennon em Nova York.
Em Liverpool, o filho Julian participa da inauguração de um monumento em homenagem a Lennon, enquanto Yoko Ono lidera um tributo na Islândia.
Yoko, aliás, esteve ocupadíssima nos últimos meses: além de supervisionar o relançamento de oito álbuns do marido, assinou contratos para lançamentos de guitarras e até de uma caneta com o nome de Lennon, cravejada de safiras e diamantes, que sai pela bagatela de US$ 27 mil (cerca de R$ 45 mil).
Se o aniversário de John Lennon mereceu essa avalanche de homenagens, o que não acontecerá em 8 de dezembro, 30º aniversário de sua morte?
Enquanto Yoko e outros faturam com os tributos, muitos se perguntam o que Lennon estaria fazendo hoje, não tivesse sido assassinado.
"John era um agitador, estava sempre pensando em coisas novas", diz Roy Cicala, um veterano engenheiro de som e produtor que foi amigo e colaborador de Lennon em sua última década de vida. "Do que ele mais gostava era compor. Acho que ele nunca deixaria a música".
Cicala classifica a morte do amigo como "um desperdício". "Imagine o que John não teria feito nesses anos todos, as músicas incríveis que teria escrito?"
VIDA TRANQUILA
Quando morreu, em 1980, Lennon parecia estar num momento tranquilo da vida. Mostrava-se feliz com o nascimento do filho Sean e com o fim das ameaças de deportação pelo governo norte-americano.
Marcelo Fróes, produtor cultural e autor de um livro sobre os Beatles, diz: "Nos anos 70, Lennon enfrentou o luto pelo fim dos Beatles, as batalhas judiciais de dissolução da banda e por sua deportação. Os anos 80 teriam sido um "starting over" ("recomeço') para ele".
"Não sei se teria continuado casado com Yoko", completa Fróes. "Mas certamente, com Lennon vivo, Bono Vox teria tido outro emprego. E os Beatles teriam se reunido para finalizar um documentário sobre a história da banda."
O cantor e compositor Lobão, fã de Lennon, vai além: "Lennon estaria em plena atividade artística e política. Acho que ele teria flertado com a música eletrônica e deixaria o mundo um pouco melhor com sua simples presença".
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