quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

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Europa investigará se Google privilegia seus serviços em buscas

Fonte: folha.uol.com.br 01/12

Queixa partiu de empresas de comparação de preço; comissão diz não ter prova de violações

A principal agência antitruste da Europa iniciou ontem uma investigação sobre o Google, a fim de examinar alegações de que o gigante da internet havia abusado de sua posição dominante no mercado de buscas on-line.
A decisão se segue a queixas de companhias especializadas do ramo de buscas sobre "tratamento desfavorável de seus serviços nos resultados de busca não pagos e patrocinados do Google", informou a Comissão Europeia em comunicado.
A comissão anunciou que averiguaria se o Google pode ter dado aos seus serviços "colocação preferencial" nos resultados de busca.
Além desse serviço, o Google opera número crescente de outros negócios on-line, como mapas, tradução, vídeo e comércio, muitos dos quais, como o de buscas, são bancados por publicidade.
Os EUA já examinam aquisições e atividades do Google em busca de indicações de que abuso de poder de mercado, mas não abriram processos formais. O Google também enfrenta ações antitruste em Itália, Alemanha e França. E recebeu críticas em outras frentes, como a de proteção a direitos autorais, em diversos países europeus.
Em seu comunicado, a Comissão Europeia afirmou que não tinha "prova de violações". A investigação surgiu das queixas de três empresas: Foundem, um serviço britânico de comparação de preços; Ciao, um serviço alemão de comparação de preços controlado pela Microsoft; e eJustice, um serviço francês de buscas jurídicas.

OUTRO LADO
Em nota, o Google afirmou que havia se esforçado para fazer "o certo" para seus usuários e para o setor, como "garantir que os anúncios estejam sempre claramente identificados, facilitar que usuários e anunciantes possam levar seus dados com eles quando trocam de serviços, e investir pesadamente em projetos de fonte aberta".
"Mas sempre haverá como melhorar, e por isso trabalharemos com a comissão para resolver quaisquer preocupações", acrescentou.

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visuais: Esforço educativo dá certo: todo dia, milhares de alunos e professores interagem com as obras da 29ª Bienal.

Fonte: valoronline.com.br 30/11

A pedagogia da arte

Omenino de calça vermelha, chapéu redondo e gingado de Michael Jackson corre até o primeiro adulto que parece saber a verdade e pergunta: "Aqueles homens são escravos?" Tem os olhos arregalados, as mãos paradas sobre o chapéu e aguarda estático pela resposta. A jornalista Simone Castro, assessora de comunicação da Fundação Bienal, sorri e o tranquiliza: "Não, são atores". "Ah bom, que susto!", relaxa o garoto da 4ª série da escola municipal da Vila Prudente, na zona leste de São Paulo, para retomar no segundo seguinte: "E eles ganham para fazer isso?" Vários colegas estão rodeando sua professora, uma dúzia de crianças igualmente surpresas com a visão de quatro homens girando e empurrando um dínamo que produz energia e ilumina um painel no qual se vê o mar e um navio. A expressão dura dos homens acende a imaginação das crianças muito mais que a proeza tecnológica. Falam todas ao mesmo tempo sobre escravos em filmes da Roma Antiga ou remando nas galés. Tudo isso porque eles acabam de ver o "Abajur", do carioca Cildo Meireles, na 29ª Bienal de São Paulo, e querem saber que diabos é aquilo.

A reação da garotada é o resultado palpável de um esforço de grandes proporções que a Fundação Bienal realizou nesta edição. O projeto educativo começou antes, continua durante e prosseguirá depois do dia 12, quando termina esta bienal. Da abertura, em 25 de setembro, até o fim de outubro, mais de 300 mil pessoas passaram por aqui. Diariamente são 6 mil crianças nas visitações escolares. Só de professores, foram 30 mil. Eles fizeram cursos presenciais ou a distância, receberam material educativo para trabalhar em classe, ouviram palestras, foram convidados a falar sobre suas experiências. "Nossa ênfase foi nos professores, comunicadores, educadores e líderes comunitários", conta Stela Barbieri, curadora educacional da 29ª Bienal.

Educadores e supervisores foram selecionados em um longo e rigoroso processo e depois treinados durante três meses

O trabalho tem números impressionantes: visitaram 27 cidades do interior, 196 ONGs que atuam em comunidades, 661 escolas municipais e 485 estaduais, além de 242 particulares. "Queríamos trabalhar com as pessoas responsáveis pela educação das crianças e dos jovens, eles mesmos profissionais que também estão em formação constante e podem irradiar as ideias que estão nestes corredores", continua Stela.

São 10h30 de uma quarta-feira de novembro e os meninos da Vila Prudente estão em plena excursão pelo mundo da arte contemporânea. Prosseguem com sua algazarra alegre pelo prédio de Oscar Niemeyer enquanto vão vendo algumas das obras expostas e encontrando outros grupos como os deles. Entram em uma sala escura para olhar formações de tornados e tempestades de areia registradas em vídeo. "Ele é bobo?", surpreende-se a menina de cabelo encaracolado ao escutar que o autor do trabalho, o belga Francis Alÿs, tinha ido ao deserto do México perseguir furacões. "Ele é doente?", fala o garoto de franja sobre os olhos. "Caramba! O furacão tá desfazendo!", observa o miniclone de Michael Jackson.

É a senha para que o educador chame os meninos e sigam todos rumo aos túneis da instalação de Henrique Oliveira, em "A Origem do Terceiro Mundo". A professora Mônica Bloise explica que é a primeira vez que seus meninos saem este ano e é por isso que estão agitados - conversa interrompida para que ela chame a dupla que se desgarrou do restante. A excitação dessa turma é tanta que fazem comentários até sobre o extintor de incêndio.

A reação deles dentro do túnel de restos de madeira é a de crianças em um parque de diversões. "Que da hora!", vão gritando, enquanto escolhem o caminho na bifurcação. Alguns percebem que está escrito "Portugal" em uma parede arredondada, outros ecoam "Eu vou de novo!" No fim, o educador pede que eles observem por onde saíram - a porta da obra tem formato de vagina. "Vocês sabem? Se não sabem, perguntem para algum amigo... Vocês nasceram de novo", diz o educador Diermany D'ar, de 18 anos, estudante de artes visuais. "Olha, é uma bunda!", grita, convicto, o menorzinho do grupo.

Das 9 h até esse instante entraram 14 escolas pelos portões da exposição e 918 estudantes estavam inscritos nas visitas pré-agendadas, mais os que chegam de improviso e os que não marcam visitas guiadas com antecedência. Se tudo ocorrer como previsto, ao fim do dia a bienal terá sido percorrida por 6.985 alunos de escolas públicas e privadas, universitários e atores, amantes da arte e curiosos, antenados e idosos, gente em cadeira de rodas, adolescentes de boné, grupos de cegos, crianças de 5 anos, estrangeiros, visitantes de outros Estados, turmas de núcleos habitacionais e de centros culturais da "melhor idade", funcionários públicos, empresários - um mundaréu de gente tão diversa quanto os 159 artistas que estão com seus trabalhos expostos. Mas fica evidente que a maioria das pessoas transitando por aqui durante a semana é estudante.

O dia começa cedo por aqui. Às 8h30, em frente da parede que tem as bússolas de rolha e agulha que são o pôster desta edição, jovens de camisetas verde e azul vão se juntando. São os educadores e supervisores que foram selecionados em um longo e rigoroso processo e depois treinados durante três meses. Todos são universitários, muitos de artes plásticas.

Foram analisados 2 mil currículos. A primeira triagem chegou a 700 pessoas, que, depois de outra seleção, resultaram em 500. Esses jovens fizeram cursos de 198 horas, aproveitando a parceria da bienal com 22 instituições culturais da cidade, da Pinacoteca ao Masp, do Museu Lasar Segall ao da Casa Brasileira. Conheceram o trabalho dos educadores desses institutos, a elaboração de roteiros, como explorar os sentimentos do público diante das obras de arte, qual percurso pode ser mais adequado para crianças e o que dizer para adolescentes. Finalmente, os 500 jovens viraram 300 e tiveram quase dois meses de imersão nos artistas da 29ª Bienal.

Silvia Costanti/Valor

O terreiro de Ernesto Neto

"Quando as pessoas chegam à bienal achando que o artista é aquele exímio artesão, tentamos descobrir quais são suas expectativas frente à arte contemporânea. Tentamos abrir essa perspectiva, mostrar que a arte diz respeito à vida contemporânea, que diz respeito a todos nós", explica Stela.

O complicador (e o estímulo), na bienal, é a escala onde tudo acontece. "Em uma experiência como essa, tudo é 'muito': é muito bombeiro, muito segurança, muito público", diz Stela, que há nove anos trabalha na área educativa do Instituto Tomie Ohtake. "Este era o nosso desafio: atender um grande número de pessoas, mas falar com cada um." Da abertura até agora, as visitas atendidas pelo setor educativo bateram em 210 mil e podem alcançar 300 mil até o encerramento da exposição.

Os estudantes se aglomeram diante dos portões pouco antes das 9 h. Adolescentes vêm em pequenos grupos; crianças menores, em fila indiana. Alguns estão uniformizados, os mais velhos vestem camisetas de surfe, bermudas e bonés. São recebidos pelos educadores, que logo conversam com os professores, organizam o pessoal, dividem o povo em grupos e se apresentam. Durante 1h30 eles serão guias por um mundo que não é óbvio nem lógico. "O que é arte para vocês?", começa uma educadora sentada no centro de um círculo que seu grupo formou. "Este prédio, de quem é?" pergunta o educador da outra roda. A porta de vidro se abre e, aos poucos, os estudantes entram na exposição, deixando o pátio livre para as novas turmas que vêm caminhando pelo parque do Ibirapuera.

Os olhares avançam pela cerca de viveiro de pássaros no meio do caminho. Não há ave nenhuma, mas alguns sabem que quando a bienal abriu tinha três urubus lá dentro, onde agora só se veem blocos cinza e se ouve a voz de Maria Bethânia cantando "Carcará". É "Bandeira Branca", de Nuno Ramos, uma das grandes polêmicas deste ano, que culminou com a decisão do Ibama de tirar os urubus de lá. Atentos à educadora está um grupo de jovens de 16 e 17 anos da International School, de Curitiba. Oito deles não falam português. São indianos, suecos, espanhóis, japoneses, italianos, chilenos, colombianos e americanos, filhos de empresários de multinacionais. Dois chegaram há três meses. A visita é realizada em inglês. O grupo se encanta com o labirinto de panos coloridos de Amélia Toledo e suas garrafas de vidro "Glu-Glu".

Depois de ver as obras, a professora Vali Grabovski comenta que seus alunos adoraram o passeio e, embora tenham ido a outros museus na cidade, a bienal foi o ponto alto. "Eles não estavam compreendendo aquilo como obra de arte e de repente se depararam com outra maneira de ver a arte", conta. "Como estão acostumados a visitar museus no mundo todo, disseram que estavam surpresos com o que tinham encontrado."

Silvia Costanti/Valor

Faz parte do DNA da bienal não ser consenso nem agradar a todos. "Na Zona Leste, as pessoas têm a percepção da bienal como algo elitizado", diz Flavia de Moraes Vicenti, do Centro Educacional Unificado (CEU) Lageado. "Não se apropriam da arte contemporânea. Se elas veem uma chaleira diferente, perguntam: 'Por que isso é arte e a de casa não é?'" Dizendo-se uma "apaixonada pela bienal" depois do treinamento que recebeu, Sheila Alice Gomes da Silva e seu grupo do CEU resolveram "'bienalizar' a periferia", como ela diz. As duas estão contando a experiência dentro do terreiro "Eu Sou a Rua". Trata-se de uma instalação toda branca, iluminada por neons coloridos e arquibancadas irregulares. Ali, duas vezes por semana, professores contam como aproveitaram a bienal em sala de aula.

"Resolvemos fazer um pedacinho da bienal no CEU", prossegue Flavia. Usaram o material educativo que receberam da fundação e começaram a jogar as provocações da 29ª Bienal para o seu público: "Como a arte pode mudar sua vida?", "O que permanece invisível no nosso dia a dia?", "Como começar uma cidade?", "Por que calar?". "Antes tínhamos criado um espaço de reflexão, mas percebemos que ninguém estava refletindo nada", comenta Sheila. Depois do esforço, da exibição de materiais artísticos, de introduzir elementos de arte contemporânea, começaram a colher resultados. "As pessoas começaram a deixar suas reflexões na mesa. Alguém escreveu 'Não deixe de existir', outra nos jogou outra questão: 'Por que é tão difícil pensar?'"

As moças estimularam a curiosidade sobre a bienal e foram recolhendo dúvidas - muitas não sabiam que o evento é gratuito, algumas perguntavam se podiam ir com mais alguém, várias perguntavam que roupa deveriam usar ou ficavam espantadas ao saber que a mostra ocorre em lugar conhecido, no parque do Ibirapuera.

À frente do trabalho da mineira Rosângela Rennó está a senadora eleita Marta Suplicy. Ela parece ter pressa. "Eu volto depois, vim ver essa obra porque gosto muito", fala, enquanto caminha rápido. Alguns estudantes a reconhecem, se aproximam, estão quase pedindo um autógrafo. Ela para e pergunta se eles estão gostando. Quando se afasta, um deles grita: "Da próxima vez, voto em você!"

A poucos metros dali, pequenas crianças de uniforme vermelho estão sentadas em círculo. A orientadora as chama e elas seguem para ver o trabalho de Tatiana Trouvé, um jogo de 350 pêndulos esticados e a poucos centímetros do chão. A moça avisa: "Olha, aqui não pode encostar mesmo! Tem que ficar sentadinho até a faixa branca". Depois, pergunta: "O que vocês acham que é isso?" Eles têm 5 ou 6 anos e estudam em Cotia, município da Grande São Paulo. "Parece lápis", diz uma menina de rabo de cavalo. "Parece peão", sugere o ruivo. "Parece que está chovendo", diz um pequeno poeta. "Parecem pessoinhas", fala a garota do laço vermelho. A educadora explica que o trabalho funciona com ímã, mas eles desconfiam. "Não é, não. Ímã fica grudado", contesta o poeta, vendo as peças suspensas no ar. Até que o menino ruivo solta uma frase espantosa: "O pêndulo jogou o poder para o homem". Provavelmente, Tatiana Trouvé nunca imaginou que despertaria tudo isso em gente tão pequena e mais acostumada a desenhos na TV e jogos de computador do que a circular pela Bienal de São Paulo.

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