Príncipe do afrobeat injeta suingue em canções políticas
Fonte: folha.uol.com.br 15/12
Filho de Fela Kuti toca em SP disco que ataca governo nigeriano
Quando o músico nigeriano Femi Kuti entrou no antigo estúdio da Decca, em Lagos, para gravar seu novo álbum, "Africa for Africa", o cenário era decadente. A energia elétrica falhava, não havia ar condicionado e a mesa de som estava com defeito.
"Isso teve um impacto direto na maneira como tocamos. Em alguns momentos fiquei com raiva; em outros, deprimido. Mas houve também instantes de felicidade, e todos esses sentimentos podem ser percebidos nas músicas", diz o cantor, saxofonista, trompetista e tecladista por telefone à Folha.
Serão essas faixas, altamente dançantes e com letras políticas, a base do repertório dos dois shows que o artista faz acompanhado de uma big band no Sesc Santo André, na Grande São Paulo, sábado, e domingo, como atração principal do evento Batuque Conexão ÁfricaBrasil, que se propõe a reunir artistas com foco na percussão.
Não é à toa que Femi, 48, ganhou a alcunha de "príncipe do afrobeat". Filho mais velho de Fela Kuti, que criou o gênero nos anos 60 a partir da fusão de música africana com elementos de funk e jazz, ele começou a carreira tocando na banda de seu pai, Egypt 80, até que decidiu formar seu próprio grupo, o Positive Force, em 1986.
Depois da morte de Fela por Aids, em 1997, ele se tornou um dos principais porta-vozes da resistência ao governo na Nigéria. Sua luta contra as desigualdades foi registrada no documentário "Suffering and Smiling" (2006), em que aparece distribuindo dinheiro.
"Às vezes chego a temer pela minha vida", diz o músico, admitindo que, assim como o seu pai, é considerado uma ameaça ao poder vigente. Seu descontentamento é retratado em canções como "Politics in Africa" e "Bad Government", incluídas em seu recém-lançado álbum.
Focado no público dos Estados Unidos e da Europa, "onde o interesse pelo afrobeat tem crescido", Femi Kuti já fez parcerias com os rappers americanos Mos Def e Common. Eles aparecem no disco "Fight to Win", lançado em 2001 um ano após Femi vir pela primeira vez ao Brasil para se apresentar no extinto Free Jazz Festival. "O hip hop deveria ter o mesmo papel nos EUA que o afrobeat na África", diz o artista, que também é fã de Gilberto Gil.
"Quando eu o encontrei pela primeira vez, fiquei muito impressionado. Ele se parece demais com o meu pai! Conversamos por horas e eu abri alguns shows dele pelo mundo."
FEMI KUTI
QUANDO sáb. (com Kiko Dinucci e Elo da Corrente), das 17h às 22h30; e dom., (com Maquinado e M.Takara 3), das 17h às 22h30
ONDE Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302, tel. 0/xx/11/4469-1200)
QUANTO R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
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CRÍTICA INSTRUMENTAL
Fonte: folha.uol.com.br 15/12
Naná Vasconcelos batuca na água e provoca visão musical
"Sinfonia & Batuques" é o novo CD de 13 faixas do percussionista pernambucano Juvenal de Holanda Vasconcelos, ou Naná Vasconcelos, 66, que estava há quatro sem lançar um disco.
De "Africadeus" (1971), seu primeiro álbum, até o mais recente -gravado neste ano em Recife-, o músico amealhou mais de 30 discos, participações em gravações e respeito mundial. Tornou-se um mestre em realizar música produzindo sons por meio de instrumentos convencionais ou não de percussão, como a água.
Na piscina de sua casa, Naná criou sons com as mãos, gravou-os e os levou para o estúdio registrando-os em "Batuque nas Águas - Aquela do Milton", faixa 2.
Além da experiência de fazer da água percussão, a música é uma homenagem a Milton Nascimento. Enquanto tocava com o mineiro, na década de 60, o percussionista aprendeu vários instrumentos indígenas, além do berimbau que abre graciosamente "Santa Maria", faixa 10. A faixa 13 (multimídia) traz a imagem do músico tocando nas águas do litoral pernambucano.
FUSÃO ORQUESTRAL
Aqui fica clara sua semelhança com o jogador de futebol Paulo César Caju e mostra que Naná também é mestre em "jogadas". Entre elas, a de induzir o ouvinte a imaginar cenários. Confira na faixa 5, homônima do CD, como é fácil "ver" uma orquestra ensaiando, enquanto grupos de batuques (maracatu e frevo) passam por ela e ninguém para de tocar.
Na fusão, confunde-se se é a orquestra que funciona como pano de fundo para o batuque ou vice-versa. Certeza é a de que é uma música bonita de se "ver". Em "Chorrindo", faixa 8, você "verá" Naná sorrindo e chorando "percussivamente" nos remetendo aos sons dos Barbatuques, Cyro Baptista ou Meredith Monk.
Todo cuidado é pouco ao se ouvir "Pra Elas", faixa 4.
Música, letra e arranjo do próprio Naná, que em cima de um genuíno e elegante batuque ensina :"Aê rapaziada... não bata no instrumento, toque." Entram os cavacos de Maíra e Moema Macedo, acompanhados pelo trombone suingado de Deco, seguidos pelas costuras do violão de sete cordas de Alex Sobreira, que arma a cama para o pernambucano cantar: " Requebra, requebra, requebra que eu quero ver...".
Tarde demais.
Você estará deliciosamente contaminado por este "mantra-chiclete", que não sairá de sua mente por dias, além de uma tremenda vontade de requebrar. Duvida?
Então deixe rolar "Pó de Chinelo", faixa 9, um xaxado do excelente flautista César Micheles que fará você definitivamente arrastar o pé. Ambas, jogadas de mestres.
SINFONIAS & BATUQUES
ARTISTA Naná Vasconcelos
LANÇAMENTO independente
QUANTO R$ 25, em média
AVALIAÇÃO bom
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WIKILEAKS OS PAPÉIS BRASILEIROS
Bolsa Família ajuda, mas distorce sistema político, diz d. Odilo
Fonte: folha.uol.com.br 14/12
Segundo telegrama, avaliação foi feita a Thomas White, cônsul-geral dos EUA em SP
Para dom Odilo Pedro cardeal Scherer, arcebispo de São Paulo, o Bolsa Família ajuda as famílias pobres, mas transformou-se numa ferramenta eleitoral que distorce o sistema político.
Essa avaliação, feita em outubro de 2007 ao então cônsul-geral dos EUA em São Paulo, Thomas White, consta de telegrama diplomático obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch).
A organização teve acesso a milhares de despachos. A Folhae outras seis publicações têm acesso antecipado à divulgação no WikiLeaks.
Quando questionado sobre o Bolsa Família, d. Odilo afirmou que o programa tem efeitos contraditórios.
Do lado positivo, ajuda concretamente os pobres e faz com que mais dinheiro circule nas comunidades. Se as famílias observarem as regras, mantendo as crianças na escola e as vacinando, o programa pode trazer benefícios de longo prazo.
Do lado negativo, o cardeal ressalta o risco de os beneficiários desenvolverem dependência da bolsa e diz que a associação do programa com o governo federal e o PT o transformou num instrumento eleitoral que distorce o sistema político.
Na mesma conversa, d. Odilo afirma que a Teologia da Libertação perdeu força nos últimos anos, deixando de ser um "problema sério".
Ao referir-se à perda de fiéis para evangélicos, dom Odilo diz que a Igreja Católica falhou em sua missão de aprofundar a fé das pessoas.
O desafio agora é fazer com que a igreja seja ouvida, mas, segundo ele, isso é difícil, pois a mídia tradicional não dá muita atenção a mensagens de caráter moral.
Elas não vendem, diz o cardeal, que aproveitou para fazer críticas à Record, do líder evangélico Edir Macedo.
Para d. Odilo, a TV opera como empresa, mas também serve aos interesses dos evangélicos pentecostais.
Num outro despacho, este de março de 2006, o então cônsul-geral em São Paulo, Christopher McMullen, relata a conversa que teve com o então arcebispo da região metropolitana, dom Cláudio cardeal Hummes.
Nela, o religioso avalia a gestão de Lula, a quem conhece desde a ditadura.
Dom Cláudio diz que o governo foi bem na macroeconomia. Ele vê o Bolsa Família com mais simpatia do que dom Odilo. Para ele, porém, o que faltava até 2006 era crescimento econômico.
Em relação ao escândalo do mensalão, d. Cláudio diz que Lula "não o merecia". Para o religioso, o presidente foi mal servido por pessoas de seu entorno. Nomeia especificamente o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
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