quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

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OEA pode levar STF a rever decisão sobre anistia, diz Vanucchi

Fonte: folha.uol.com.br 16/12

Uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, culpando o Estado brasileiro pela violação de direitos fundamentais de 62 pessoas desaparecidas durante a ditadura militar pôs em xeque o Supremo Tribunal Federal (STF), que, em abril, rejeitou os pedidos de revisão da Lei da Anistia para punir funcionários públicos envolvidos na tortura e desaparecimento de pessoas acusadas de ligação com a guerrilha contra o regime militar. Para o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, a decisão da Corte Internacional deve levar à revisão do que foi decidido pelo STF. Ministros do Supremo contestam a interpretação.

Em nota divulgada ontem à tarde, o ministério de Relações Exteriores informou, sem dar detalhes, que o Brasil "envidará esforços para encontrar meios de cumprir as determinações" da Corte Internacional que não estejam já sendo obedecidas pelo governo brasileiro. Para a Corte Internacional, o país está obrigado, pela Convenção Americana dos Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos, a investigar e punir os responsáveis pela tortura, morte e ocultação de cadáveres de 62 pessoas desaparecidas durante o combate da ditadura militar à Guerrilha do Araguaia. O governo, segundo a defesa apresentada à Corte, entende que a Lei de Anistia e a decisão do STF sobre o tema impedem investigações sobre agentes do Estado envolvidos no caso.

A nota do Itamaraty reconhece que o caso julgado pela Corte Internacional, a pedido de organizações não-governamentais de direitos humanos, tratou do "desaparecimento forçado, a tortura e a execução sumária de pessoas" no combate à Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 74. A sentença, além de determinar apuração, julgamento e punição dos responsáveis pelas torturas e mortes, trata de outros aspectos relacionados com os direitos humanos das vítimas e familiares, como a divulgação de informações sobre o caso e indenizações - a maioria dos quais alvo de medidas do governo brasileiro. O Itamaraty cita essas medidas na defesa apresentada à Corte.

Segundo a nota, as medidas, "nos planos legal e político", levaram ao reconhecimento da "responsabilidade do Estado pela morte e pelo desaparecimento de pessoas durante o regime militar; e ao pagamento de indenizações a familiares das vítimas". A nota cita, ainda, o julgamento sobre a Lei da Anistia no Supremo e "os esforços, ainda em curso, de localização e identificação de restos mortais; de compilação, digitalização e difusão de documentos sobre o período do regime militar; e de preservação, divulgação e valorização da memória histórica associada àquele período".

A decisão da Corte, anunciada na terça-feira, coloca o Brasil em situação delicada junto ao órgão de defesa dos direitos humanos da OEA. Na prática, a Corte Internacional julgou que a Lei de Anistia não protege de punição civis e agentes públicos que participaram das violações de direitos humanos, como tortura, assassinatos e desaparecimento durante a ditadura. Já o Supremo não só reafirmou que a Lei de Anistia foi um "pacto social" que fez prescrever a punição a esses crimes como princípios constitucionais impediriam a persecução de agentes públicos. Além disso, no entendimento do Supremo, apresentado como defesa do Brasil na Corte da OEA, a decisão do STF não admitiria recurso, nem a tribunais internacionais.

Esse impasse levou ontem ministros como o próprio presidente do Supremo, Cezar Peluso, e Marco Aurélio Mello a garantir que não haveria mudanças na decisão que garantiu contra punições os responsáveis por violações a direitos humanos durante a ditadura. Para Peluzo, o Supremo mantém o direito de rejeitar qualquer ação contra essas pessoas. Marco Aurélio Mello afirmou que a decisão da corte internacional teria apenas efeito apenas "político", não prático.

Dos sete países da América do Sul com casos em análise na comissão da OEA, entre eles Bolívia e Paraguai, o Brasil foi o único onde não houve julgamento penal dos responsáveis por violações de direitos humanos durante regimes de exceção da década de 70. O Brasil tem, ainda, noventa dias para consultar a corte sobre possíveis divergências de interpretação da sentença e, caso não cumpra alguma das determinações dos juízes, será alvo de relatório, com sugestões de sanções, a ser apresentado pelo tribunal à Assembleia Geral da OEA.

O ministério da Defesa, que coordena os comandos militares, onde estão as maiores reações contra investigação de casos de abuso nos direitos humanos durante a ditadura, informou ontem que não se pronunciaria sobre a decisão da Corte. Os integrantes do gabinete de transição da presidente eleita Dilma Roussef, que terá de decidir sobre os "esforços" de cumprimento da sentença, também preferiram não se manifestar sobre o assunto.

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CONJUNTURA

Empurrão no investimento

Fonte: correioweb.com.br 16/12

Governo anuncia medidas de estímulo às grandes obras, com melhoria das regras dos financiamentos de longo prazo. Mas o pacote exigirá uma renúncia fiscal de R$ 605 milhões

A escassez de recursos para viabilizar grandes obras e diminuir a carência de infraestrutura no país levou o governo a anunciar um pacote de medidas financeiras destinadas a estimular o mercado de crédito de longo prazo. Com as soluções propostas, a equipe econômica quer estimular, principalmente, a participação do setor privado — barateando os custos de captação — e desafogar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que se tornou, nos últimos anos, a principal, senão a única, fonte de recursos para os megaprojetos no país. No conjunto, as propostas exigirá do governo uma renúncia fiscal de R$ 605 milhões.

“Sempre tivemos pouco recurso de longo prazo, mas como antes não se investia, não fazia diferença. Os poucos projetos eram bancados pelo BNDES. O ciclo de crescimento que vivemos aumentou a necessidade de financiamento”, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao anunciar o pacote. As medidas são ainda uma garantia para a realização dos empreendimentos contidos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). As perdas fiscais com as medidas foram informadas pelo secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa. Mas, segundo ele, a recuperação dos créditos poderá gerar um efeito positivo na arrecadação futuramente.

O pacote começa pela isenção da cobrança de Imposto de Renda sobre os rendimentos de pessoas físicas interessadas em adquirir debêntures (títulos financeiros) emitidos por Sociedades de Propósito Específico (SPEs) — empresas formadas por grandes consórcios responsáveis pelas obras de infraestrutura, como portos, rodovias e hidrelétricas. As pessoas que pagavam de 15% a 22,5% sobre os ganhos agora estão isentas. A meta é estimular a compra desses papéis e, consequentemente, a capitalização dos empreendedores, que, por sua vez, ganham fôlego para tocar as obras. As empresas, que atualmente recolhem 34% de IR nessas aplicações, pagarão 15%. O investimento estrangeiro de longo prazo também foi beneficiado. Os não residentes que comprarem títulos privados de empresas brasileiras também estarão isentos do Imposto de Renda sobre os ganhos.

Condições
Para garantir que esses papéis não se transformem em títulos de curto prazo ou se desviem do objetivo proposto, o governo estabeleceu algumas condições. As debêntures das SPEs terão que ter duração total de 6 anos, aproximadamente, e será proibida a negociação, entre os compradores, antes de 4 anos. Não poderá ser recomprada pela SPE antes de 2 anos, terá pagamento de rendimento semestral e a emissão total não poderá ultrapassar o valor do projeto.

Será criado um fundo de liquidez para os títulos privados a fim de evitar o medo dos investidores de ficar com os papéis encalhados nas mãos. O fundo terá, inicialmente, recursos de cerca de R$ 2,2 bilhões e vai atuar comprando e vendendo, de forma a garantir ao aplicador, quando houver o desejo de desfazer dos papéis, maior facilidade de encontrar um comprador. O pacote também traz a eliminação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de até 30 dias nas operações de compra e venda de títulos privados e a regulamentação de ofertas públicas de Letras Financeiras pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os papéis só podiam ser lançados por instituições financeiras privadas e agora o BNDES também poderá emiti-los.

O presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Construção de Base (Abdib), Paulo Godoy, elogiou as medidas. “Vamos criar um círculo virtuoso para a movimentação desses títulos, que vai gerar uma poupança de longo prazo. Tiramos das costas do BNDES o ônus de financiar toda a infraestrutura”, observou. O presidente da instituição, Luciano Coutinho, prometeu que o banco de fomento vai complementar as medidas do pacote. Entre as ações, criará um programa de compra de debêntures de R$ 10 bilhões e atuará na formação de liquidez desses títulos.


DESCONFORTO
Apressado para deixar as dependências do Palácio do Planalto
e embarcar para São Paulo na comitiva do presidente Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acabou constrangendo o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Após anunciar medidas para estimular os financiamentos de longo prazo, Mantega concedeu a palavra ao colega, mas pediu celeridade na apresentação. Impaciente, interrompeu Coutinho e comunicou que o deixaria só. “Preciso ir. O carro do presidente é mais rápido que o meu e, se eu não sair, ele me deixa aqui, a pé”, disse. Apesar do desconforto, o titular do BNDES prosseguiu no detalhamento das propostas.



Gás na infraestrutura

Confira as medidas anunciadas pelo governo para incentivar o crédito aos megaprojetos

» Desoneração de Imposto de Renda sobre o rendimento de papéis emitidos por Sociedades de Propósito Específico (SPEs) — empresas criadas para grandes projetos da área de infraestrutura: atualmente, os interessados na compra desses papéis pagam de 15% a 22,5% de imposto. A partir de agora, eles serão isentos. O objetivo é estimular o crescimento desse mercado.

» Desoneração de Imposto de Renda sobre o rendimento que estrangeiros obtêm na compra de títulos financeiros de qualquer empresa brasileira: a medida estimula a entrada de capital externo, o que aumenta a poupança de recursos vindos do exterior, que permanecem por mais tempo no país.

» Criação de um fundo financeiro que terá o papel de estimular um mercado secundário de títulos privados: a intenção é dar ao investidor a segurança de que, quando quiser ou precisar vender os papéis adquiridos, haverá compradores dispostos. É a mesma função já feita pelo Tesouro, no programa Tesouro Direto, no qual todas as quartas-feiras há um leilão de recompra dos papéis.

» Eliminação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de até 30 dias sobre a compra e venda de títulos privados: com isso, o custo dessas operações ficará menor.

» Regulamentação de ofertas públicas de Letras Financeiras (mecanismo recentemente criado pelo governo) pela Comissão de Valores Mobiliários: com negociações feitas publicamente, a expectativa é de que haja mais transparência e, consequentemente, maior procura dos investidores.

» Recuperação facilitada de créditos bancários, desobrigando as empresas a pagarem imposto de renda sobre as renegociações de antigas dívidas de uma só vez: o objetivo é diluir o ônus pelo período do financiamento.

» Redução do IOF sobre a entrada de capital estrangeiro de 6% para 2% para fundos de investimento em participações e de fundos mútuos de investimento em empresas emergentes, tradicionalmente de longo prazo: essa medida procura corrigir uma distorção da elevação da tarifa para o ingresso de recursos externos, que tinha como objetivo barrar apenas o capital de curto prazo.

Fonte: Ministério da Fazenda

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Constitucional: Supremo muda de entendimento e proíbe acesso a informações bancárias de empresa

Quebra de sigilo sem autorização é vedada

Fonte: valoronline.com.br 16/12

Uma reviravolta no Supremo Tribunal Federal (STF), ontem à noite, mudou o entendimento da Corte sobre a constitucionalidade da quebra de sigilo bancário pelo Fisco sem autorização judicial. Por cinco votos a quatro, ao julgar o recurso extraordinário da GVA Indústria e Comércio contra a União, o Supremo foi contrário à quebra de sigilo sem decisão judicial que autorize a prática. Em novembro, ao julgar pedido de liminar no processo - que definiu o que valeria enquanto o mérito do recurso não fosse definitivamente analisado -, os ministros haviam liberado o acesso do Fisco às informações bancárias da empresa.

A decisão foi surpreendente porque, dessa vez, o ministro Joaquim Barbosa não participou do julgamento e o ministro Gilmar Mendes mudou seu voto. Ao julgar o recurso, posicionou-se favoravelmente aos contribuintes.

O princípio da dignidade humana e a necessidade de assegurar a privacidade foram os principais argumentos do ministro relator, Marco Aurélio, a favor da empresa. Ele declarou que a vida em sociedade pressupõe segurança e estabilidade, e não a surpresa. Para garantir isso, segundo ele, é preciso respeitar a inviolabilidade das informações do cidadão. O ministro Gilmar Mendes foi um dos que acompanhou a argumentação do relator.

Os dados eventualmente acessados pelo Fisco entre o julgamento da liminar e o do mérito não poderão ser usados pela Receita, segundo o advogado Plínio Marafon, do Braga & Marafon. Em relação aos demais contribuintes, segundo o tributarista, agora a alegação de quebra de sigilo por não haver autorização judicial ganha mais força com a decisão do Supremo. "Como não se trata de repercussão geral, os tribunais podem até deixar processos sobre o tema subirem para o Supremo, mas o mais comum será considerar a decisão da Corte. Assim, o Fisco terá que cancelar quaisquer autos originados por meio de quebra de sigilo sem autorização judicial", explica.

Porém, como faltou um ministro e ainda há uma vaga aberta na Corte, se outro recurso extraordinário sobre o tema chegar ao Supremo, pode haver uma nova reviravolta. "Essa é mais uma das saias justas que resultam da falta de um ministro na Corte", diz o advogado Saul Touinho Leal, do Pinheiro Neto Advogados. "Situação parecida ocorreu no julgamento da Lei da Ficha Limpa, recentemente", lembra Leal. O advogado afirma que o entendimento de ontem só poderá ter efeito vinculante se o Supremo aprovar uma súmula nesse sentido, ou se vier a julgar a quebra de sigilo em uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin).

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Menos reforma, mais inteligência

Fonte: folha.uol.com.br 16/12



GUSTAVO ROMANO

O primeiro passo para que fortaleçamos a democracia não é criar mais projetos, mas enxugar os já moribundos em nosso Poder Legislativo



Encerradas as eleições, o grande vencedor foi o clamor por reformas.
Tributárias, eleitorais, trabalhistas, e assim vai. Estando descontentes com nosso mundo, queremos mudanças. Ou melhor: queremos escapar de nossa realidade. E qualquer promessa nos basta. Pior do que está não pode ficar, certo? Nem tanto.
Foi usando o refrão das reformas, no caso, para a criação de um imposto único, que criamos mais um tributo: o IPMF, que depois virou CPMF e que amanhã será CSS (e lá se foi o "P" de provisório).
Modificamos a lei dos crimes hediondos em 94, e hoje vivemos a violência resultante de lei que não incentivava a recuperação do criminoso, que em breve voltaria às ruas. Fundimos os crimes de atentado violento ao pudor e estupro em um só, em 2009, e passamos a liberar centenas de criminosos antes apenados pelos dois crimes, pois "esquecemos" de regulamentar o que aconteceria com eles.
E criamos neste ano a Lei da Ficha Limpa, modificada depois de apagadas as luzes, que transformou o processo eleitoral em uma roleta-russa que nem o STF conseguiu resolver.
Durante as eleições, vimos propostas de pequenos partidos para conseguir mais tempo de propaganda gratuita, mas sem que percebessem que o que propunham geraria resultado oposto ao desejado.
Há pouco, ouvimos uma campeã de votos defendendo o voto distrital sem sequer saber diferenciá-lo do voto em lista fechada, que dirá entender seus prós e contras.
Quando finalmente entendê-los, proporá o distrital misto, esse mantra da política brasileira. Aprovado, não resolverá um problema e criará um ainda maior, diluindo a representatividade das minorias sem aumentar a dos distritos.
Reformas são essenciais. Mas reformas inteligentes, pensadas.
Poucas e que gerem os efeitos desejados. Precisamos de legisladores que compreendam suas próprias propostas e suas consequências (inclusive as negativas, que sempre existem). De boas intenções, o Congresso está cheio.
E mais: precisamos de projetos íntegros, e não arremedos feitos com os retalhos de propostas antagônicas apresentadas ao longo dos anos, apenas para que finalmente saiam do papel.
Por fim, precisamos entender e acompanhar tais projetos. Propostas precisam ser analisadas e entendidas antes de serem aprovadas, e não remediadas pelos tribunais e criticadas por todos depois de se tornarem fatos consumados.
Mas, com milhares de projetos circulando em cada Casa, isso é impossível. Ninguém consegue analisar tantas leis.
Não há democracia com Legislativos nas três esferas aprovando dezenas de projetos em uma tarde.
O primeiro passo para fortalecer nossa democracia não é criar mais projetos, mas enxugar os já moribundos em nosso Legislativo.
Só assim legisladores e cidadãos poderão acompanhar, entender e debater os projetos antes que eles sejam aprovados.
Países como o Reino Unido encontraram solução simples para focar o debate: todo projeto não aprovado até o fim do ano legislativo é automaticamente arquivado.
Talvez esteja aí uma boa reforma.


GUSTAVO ROMANO, 36, professor de direito da Folha há 11 anos e fundador do projeto Para Entender Direito (www.ParaEntenderDireito.org), é mestre em direito por Harvard (EUA), em ciências políticas pela UFMG e em administração pela London Business School.

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Aumento imoral

Fonte: folha.uol.com.br 16/12



Congressistas aprovam reajuste exorbitante dos próprios salários e mais uma vez dão mostras de sua desconexão com a sociedade

É sinal revelador de desconexão com a sociedade e de desconsideração pelo contribuinte o aumento salarial exorbitante que a Câmara e o Senado aprovaram ontem, beneficiando os próprios congressistas e parcela substancial da classe política.
Pelo projeto -um decreto legislativo, que não precisa da sanção presidencial para ser validado-, deputados, senadores, presidente da República, vice-presidente e ministros de Estados passarão a receber mensalmente R$ 26,7 mil, teto salarial do Poder Judiciário.
No caso do presidente e do vice, o reajuste será de 133,9%, uma vez que recebem hoje R$ 11,4 mil. O aumento para os ministros será ainda maior -o salário atual deles é de R$ 10,7 mil. São índices de reajuste extremamente elevados. Sugerem, ou reforçam, a imagem da elite política do país alheia, ou muito distante, da realidade.
Sem demagogia, não se deve ignorar que o salário do chefe do Poder Executivo e dos ministros estavam, de fato, depreciados, desde logo à luz das atribuições e responsabilidades que tais funções envolvem. Desde a década de 90, é sabido que muitos quadros qualificados deixaram a vida pública precocemente, atraídos pelas remunerações do setor privado.
Deveria haver, no entanto, uma maneira menos lesiva para a sociedade de corrigir tais distorções -por meio, por exemplo, de reajustes escalonados, menos estratosféricos e mais compatíveis com as circunstâncias do país.
Isso vale, e com muito mais razão, para o Legislativo. Os congressistas se autoconcederam ontem um aumento de 61,8%, contra uma inflação acumulada de 20% desde abril de 2007, quando houve o último reajuste. Só isso seria suficiente para provocar justa indignação. Ocorre que os R$ 16,5 mil que cada deputado ou senador recebe atualmente como salário correspondem a uma parte relativamente pequena do que custam, de fato, para o contribuinte.
Cada um dos 513 deputados tem à sua disposição, mensalmente, R$ 60 mil de "verba de gabinete", destinada à contratação de assessores (no máximo 25), em Brasília ou em seus Estados de origem. Recebem, também, o chamado "cotão", para gastos com passagens aéreas, correio, telefone. O valor do "cotão" varia, entre R$ 23 mil e R$ 34,3 mil, a depender da distância da residência do parlamentar. E há, ainda, R$ 3.000 de auxílio-moradia, inclusive para os que são do Distrito Federal.
O aumento, escandaloso em si mesmo, vem se somar a uma cultura corporativa de penduricalhos, regalias e flagrante descaso pelo dinheiro público. Considere-se, ainda, que tal reajuste, a ser concedido a partir de fevereiro de 2011, provocará, no caso do Legislativo, um efeito cascata para assembleias e câmaras municipais, estimado em pelo menos R$ 1,8 bilhão por ano. Não é algo que tenha grande impacto fiscal nas contas brasileiras -pode-se argumentar.
Trata-se porém, antes de mais nada, do impacto moral, da sinalização de descaso pela sociedade, do exemplo de desfaçatez que tal medida traduz.

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Obesidade crônica

Fonte: folha.uol.com.br 16/12



É oportuno que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, pretenda entregar à presidente eleita, Dilma Rousseff, um plano de combate à obesidade.
O país tem colhido alguns sucessos na redução de mortes por doenças crônicas. De acordo com os números apresentados nesta semana pela pasta, entre 1996 e 2007 registrou-se uma diminuição de 17% nessa categoria de óbitos, que inclui males cardiovasculares, respiratórios e cânceres.
Grande parte do êxito, vale mencioná-lo, se deve ao impressionante decréscimo no percentual de fumantes, que, nos últimos 20 anos, caiu de 35% para 16% da população adulta.
A notável exceção no grupo é o diabetes tipo 2, doença visceralmente associada à obesidade. Houve um incremento de 10% ao longo da última década.
Para tornar a situação ainda mais difícil, a medicina vai se tornando cada vez mais cética em relação ao controle da obesidade. Pesquisas mostram que emagrecer é relativamente fácil, mas a maioria dos pacientes que se submetem a um tratamento para perder peso o recupera -muitas vezes com juros- em até um ano após o relaxamento do regime.
A principal dificuldade parece ter origem na evolução, cuja memória reside na estrutura genética que herdamos de nossos ancestrais. Devido às adversidades enfrentadas pela humanidade na maior parte de sua história, sobreviviam melhor e geravam prole maior os indivíduos com genes mais propícios para armazenar energia na forma de gordura.
As condições de vida mudaram radicalmente nos últimos séculos, mas o organismo, não. Ele está programado para poupar o máximo possível de energia, e isso num contexto de farta oferta de calorias e num ritmo de vida em que as gastamos cada vez menos.
O caminho para remediar a situação está em ações educativas que estimulem a atividade física, alertem para os riscos da obesidade e difundam noções de alimentação saudável -ainda que seja difícil evitar os imperativos de uma predisposição biológica.

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WIKILEAKS OS PAPÉIS BRASILEIROS

Bolsa Família ajuda, mas distorce sistema político, diz d. Odilo

Fonte: folha.uol.com.br 14/12


Segundo telegrama, avaliação foi feita a Thomas White, cônsul-geral dos EUA em SP


Para dom Odilo Pedro cardeal Scherer, arcebispo de São Paulo, o Bolsa Família ajuda as famílias pobres, mas transformou-se numa ferramenta eleitoral que distorce o sistema político.
Essa avaliação, feita em outubro de 2007 ao então cônsul-geral dos EUA em São Paulo, Thomas White, consta de telegrama diplomático obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch).
A organização teve acesso a milhares de despachos. A Folhae outras seis publicações têm acesso antecipado à divulgação no WikiLeaks.
Quando questionado sobre o Bolsa Família, d. Odilo afirmou que o programa tem efeitos contraditórios.
Do lado positivo, ajuda concretamente os pobres e faz com que mais dinheiro circule nas comunidades. Se as famílias observarem as regras, mantendo as crianças na escola e as vacinando, o programa pode trazer benefícios de longo prazo.
Do lado negativo, o cardeal ressalta o risco de os beneficiários desenvolverem dependência da bolsa e diz que a associação do programa com o governo federal e o PT o transformou num instrumento eleitoral que distorce o sistema político.
Na mesma conversa, d. Odilo afirma que a Teologia da Libertação perdeu força nos últimos anos, deixando de ser um "problema sério".
Ao referir-se à perda de fiéis para evangélicos, dom Odilo diz que a Igreja Católica falhou em sua missão de aprofundar a fé das pessoas.
O desafio agora é fazer com que a igreja seja ouvida, mas, segundo ele, isso é difícil, pois a mídia tradicional não dá muita atenção a mensagens de caráter moral.
Elas não vendem, diz o cardeal, que aproveitou para fazer críticas à Record, do líder evangélico Edir Macedo.
Para d. Odilo, a TV opera como empresa, mas também serve aos interesses dos evangélicos pentecostais.
Num outro despacho, este de março de 2006, o então cônsul-geral em São Paulo, Christopher McMullen, relata a conversa que teve com o então arcebispo da região metropolitana, dom Cláudio cardeal Hummes.
Nela, o religioso avalia a gestão de Lula, a quem conhece desde a ditadura.
Dom Cláudio diz que o governo foi bem na macroeconomia. Ele vê o Bolsa Família com mais simpatia do que dom Odilo. Para ele, porém, o que faltava até 2006 era crescimento econômico.
Em relação ao escândalo do mensalão, d. Cláudio diz que Lula "não o merecia". Para o religioso, o presidente foi mal servido por pessoas de seu entorno. Nomeia especificamente o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

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