domingo, 5 de dezembro de 2010

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O Titanic da cibercultura

Mídia: Sociólogo propõe uma grande greve tecnológica: abdicar dos e-mails, dos telefones celulares e, sobretudo, das fotografias com aparelhos digitais.

Fonte: valoronline.com.br 06/12

O sociólogo francês Dominique Wolton tem o hábito de nadar contra a corrente. Quando a regra entre teóricos da comunicação, inspirados sobretudo pela célebre Escola de Frankfurt, eram os ataques generalizados à indústria cultural, televisão em particular, Wolton buscou demonstrar que justamente esses veículos de comunicação que marcaram o século XX proporcionavam um meio de interação para as sociedades nacionais. Hoje, porém, a internet e as redes sociais parecem, aos olhos da maioria dos analistas, oferecer o caminho para aperfeiçoar a comunicação tanto ao redor do mundo quanto em pequenas comunidades localizadas. Mas o sociólogo discorda profundamente, enxergando nas tecnologias contemporâneas de comunicação uma ilusão de contato que, na verdade, fecha cada um sobre si mesmo. Para Wolton, em resumo, a internet é "o Titanic da cibercultura".

Especialista em comunicação e fundador do primeiro laboratório dedicado ao tema no Centro Nacional de Pesquisa Científica francês (CNRS) - o Instituto de Ciências da Comunicação -, o sociólogo rejeita a associação imediata das noções de comunicação e informação. A comunicação, para ele, envolve relações entre pessoas, e por isso tem implicações políticas, sociais e culturais que vão muito além da informação.

Seu livro mais recente, "Informar não É Comunicar" (Sulina), trata dessas questões centrais da "era da informação". O problema da internet, na concepção de Wolton, é que se trata de uma ferramenta alvo de uma idolatria até então não verificada em relação a nenhuma tecnologia de comunicação. Enquanto a televisão e o rádio foram sempre encarados como instrumentos nas mãos de grupos poderosos, sejam Estados ou corporações multinacionais, ninguém é capaz de enxergar por trás da internet a atuação dessas mesmas entidades.

"Fizeram da internet uma panaceia. Criou-se essa ilusão de que ela seria portadora de liberdade, criatividade, proximidade para todos. Nunca é dito nada de negativo sobre a internet. Quando alguém ousa lançar uma ressalva, é logo tachado de reacionário, antiquado e assim por diante", afirma Dominique Wolton, durante entrevista concedida em São Paulo.

O que cega as pessoas ao redor do mundo para o aspecto não tão revolucionário da internet - aquilo que Wolton denomina a "não revolução da cibercultura" - é uma "ideologia técnica" que vem ganhando terreno sobretudo nos últimos 30 anos. Por meio dessa ideologia, aflora uma convicção de que a evolução do desempenho dos chips e aparelhos associados, como telefones, celulares, computadores, cartões e quetais, é fonte de ganhos na vida social e na capacidade comunicativa de todos.

Mas essa convicção, argumenta Wolton, é ingênua e equivocada. A potência técnica traz mais dados, mais acessos, mais contatos. Mas os dados não são conhecimentos, os acessos não são entradas e os contatos não são comunicação. Para demonstrar sua tese, o sociólogo propõe uma grande greve tecnológica: abdicar temporariamente dos e-mails, dos telefones celulares e, "sobretudo", das fotografias com aparelhos digitais. Uma volta aos filmes fotográficos, exemplifica Wolton, obrigaria o fotógrafo - principalmente o amador - a enxergar o valor de cada imagem que faça, porque ela tem um preço e a quantidade é bastante limitada. Seria necessário olhar antes de apertar o botão do obturador: o olhar é comunicação, o botão não é.

Nesse sentido, o sociólogo descreve o universo da internet no livro "Internet, e Depois" (Sulina) como ao mesmo tempo o auge e a sepultura dessa ideologia técnica. Por que sepultura? Porque "essa onipotência que se tem enxergado na internet, a partir de um certo ponto, terá de refluir necessariamente. Jamais voltaremos a ter uma ideia tão poderosa da ideologia técnica, ao menos não no campo da tecnologia de comunicação. São os excessos da ideologia tecnológica que a tornam insustentável em seu estado atual de euforia".

A briga de Wolton não é com a internet em si, naturalmente, mas com a concepção de globalização que ela carrega consigo. Em um artigo, ele escreve que "mesmo se a informação dá a volta ao mundo, é em menos de 100 quilômetros que a realidade muda". Com isso, a circulação descontrolada de informações por meio dos cabos e satélites da rede mundial acaba enfraquecendo a possibilidade real que as pessoas têm de agir. E essa possibilidade é a ação local, por meio da comunicação entre gente que se conhece e tem uma base comum de cultura histórica, linguística e social. Confrontado com o mantra da modernidade cibernética, o "pense global, aja local", Wolton deixa abertas as possibilidades. "O que temo é que a visão menos otimista, em que se perde com a globalização a própria ideia de globalizar, impeça que acreditemos na possibilidade de agir localmente."

Trata-se de verificar se a velocidade da globalização, que se manifesta numa enxurrada de dados e informações capaz de soterrar uma pessoa, permite às populações desenvolver uma compreensão própria do mundo ou não. Essa é a vantagem da televisão, aos olhos de Wolton.

No tempo em que as sociedades dependiam dela para se informar, por mais que as notícias fossem manipuladas e influenciadas por interesses econômicos e políticos, havia uma base comum a partir da qual cada um poderia tirar suas conclusões para, em seguida, discutir com os vizinhos. Havia espaço para a unidade cultural, mas também para o dissenso. Na cultura técnica, cujo apogeu é a internet, segundo Wolton, as sociedades abdicaram dessa base comum e cada um guarda suas convicções em isolamento, porque recebe apenas as informações que deseja, quando e como deseja.

Mesmo assim, não se pode dizer que a internet esteja mais livre das influências políticas e econômicas que eram tão claras nos grandes meios de comunicação de massa - jornais, internet, rádio. "A circulação da informação na internet já é também manipulada, como sempre foi, por interesses poderosos, econômicos e políticos. As questões com que vai se confrontar são as mesmas que já enfrentaram a televisão e o rádio."

Wolton ressalta que os lados político e econômico do poder são indissociáveis - "quando agem forças econômicas também agem forças políticas, e quando agem forças políticas também são forças econômicas". Mas observa que um poder econômico absoluto, ou seja, a dominação de um mercado, é concebível, mas um poder político absoluto sobre a comunicação fica, se tanto, no campo do potencial. "Os monopólios não podem fazer tudo o que querem. Eles frequentemente creem que podem controlar o país porque puxam as cordinhas, mas isso não é verdade. As pessoas são cada vez mais independentes do que dizemos a elas. Não basta ter duas rádios, três canais de televisão e uma infinidade de jornais para controlar o público."

Se a cultura da internet é uma das faces da globalização, aponta Wolton, então ela deve estar também sujeita às mesmas forças e aos mesmos problemas da globalização como um todo. O Brasil é um grande exemplo dos conflitos que podem surgir de determinadas tendências da globalização - aquelas que isolam, em vez de aproximar. No mundo todo, é possível observar uma expansão das iniciativas que erguem muros entre a identidade (o "nós") e a diferença ("os outros"). Na própria França de Wolton, o governo Sarkozy endureceu progressivamente a política de imigração, até o ápice que foi a recente expulsão de ciganos do país.

Dois outros exemplos são os muros erguidos nas fronteiras dos Estados Unidos com o México e de Israel com a Palestina, que revelam fisicamente a vontade de marcar um território e um universo de exclusão da alteridade. Finalmente, o ataque de militantes terroristas no Iraque a igrejas cristãs coptas do país revela o nível de violência a que pode chegar uma globalização que sublinha as identidades e, com elas, as diferenças.

O que tem o caso brasileiro de especial? Para Wolton, o país tem a tradição de ser a terra onde pode haver comunicação entre diferentes etnias, diferentes religiões, diferentes classes sociais. Essa comunicação não exclui, naturalmente, a existência dolorosa da dominação, da violência, da segregação e da injustiça. Mas os espaços de encontro, de contato e de confronto sempre existiram e obrigaram a que se estabelecessem formas de comunicação. Por mais desigual que fosse essa comunicação, ela sempre pareceu, aos olhos de Wolton, mais democrática do que a existente na Europa e em quase qualquer outro lugar do mundo.

Mesmo assim, o Brasil não escapa "a essa tendência à segmentação e ao comunitarismo através da segurança, de tal maneira que os ricos fiquem juntos, os pobres também, cada um em seu canto". Essa tendência se manifesta nas grandes cidades do país por meio de carros blindados, cercas elétricas e seguranças armados. O perigo é a formação de uma sociedade "em dois tempos", com duas velocidades. Um país dividido não geograficamente, como se chegou a cogitar depois das últimas eleições, mas socialmente e comunicativamente. Em outras palavras, "o multiculturalismo brasileiro talvez esteja diante de uma 'escola de realidade'. Ou bem o país resiste a essa luta ferrenha pela segurança ou entra numa estrutura de uns contra os outros, e nesse caso é toda a unidade nacional que é posta em risco. Essa unidade é vital, mas muito frágil", adverte o sociólogo.

É preciso achar uma saída para essa globalização que desumaniza e bloqueia toda possibilidade de comunicação verdadeira. Wolton estima, em "É Preciso Salvar a Comunicação" (Paulus, 2006), que os conceitos de informação e comunicação só poderão se reconciliar numa outra onda de globalização, em que as populações se darão conta da necessidade de voltar a comunicar. Há duas maneiras de isso acontecer. A otimista seria uma ação política de regulamentação e, em particular, de desconcentração do poder econômico e político das mídias.

Mas se essa ação política não ocorrer - e Wolton não a vê ocorrendo -, será preciso encontrar uma saída pela arte. "Não dá para aniquilar completamente a criatividade e a comunicação do homem. Um dia, haverá um poeta, um cantor, um filósofo, alguém que diga: 'Chega, basta!' Enfim, qualquer coisa, um homem ou uma mulher perfeitamente comum." Porém, se o grande sofrimento de todos os poetas raramente reverbera, o que se vê atualmente não permite imaginar um tal engajamento. "Por enquanto, as pessoas parecem estar mesmo é fascinadas. Elas não se dão conta de que os simulacros de comunicação não servem para nada."

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Entrevista: Amneres

Fonte: http://www.movimentovivaarte.com.br

Amneres é poeta, jornalista, funcionária pública e uma das novas integrantes do Movimento Viva Arte. Licenciada em Letras Clássicas e Vernáculo com bacharelado em Comunicação Social, ambos pela Universidade de Brasília (UnB). PublicouEmquatro (em parceria com três poetas brasilienses, 1985), Pedro Penseiro(novela, 1980), Humaníssima Trindade (1993), Rubi (1997), Razão do Poema(2000), Entre Elas (2004), Eva (2007) e Diário da Poesia em Combustão e Poesia em Tempo Real (2010). Mantém o site www.poesiaemtemporeal.com.

Que tipo de ações você acha que o Viva Arte pode encabeçar para pressionar o poder público a dar mais atenção para a arte?

Acho uma ótima ideia o monitoramento das ações legislativas e executivas desenvolvidas em favor da arte de Brasília. Essa foi uma ideia que discutimos na última reunião e que tem todo o meu apoio. Precisamos discutir e apresentar propostas de políticas públicas, minutas de projetos, ideias de ações em favor de movimentos que já têm uma história na cidade e que, por absoluta falta de apoio, acabaram desaparecendo ou sendo totalmente desfigurados, como acontece atualmente com a Feira do Livro e como aconteceu com o Concerto Cabeças. Temos que lutar, também, pela revigoração dos vários espaços públicos da cidade destinados à arte e que hoje se encontram abandonados e/ou em estado de franca deterioração, a exemplo do Teatro de Arena e da Concha Acústica. São só algumas ideias que o movimento pode aprimorar e traçar estratégias de ações em favor desses objetivos.

Você acha que atualmente o setor cultural é suficientemente articulado para construir um movimento sólido em prol da arte?

Não. O setor cultural é desarticulado e, embora existam vários centros de discussão como o próprio Viva Arte, não existe uma articulação entre os vários setores que possa desencadear uma pressão legítima e consequente junto aos poderes públicos. Creio que essa pode ser uma das bandeiras de nosso movimento, o de articular essas várias frentes para construir uma proposta de política cultural permanente em favor da arte de Brasília.

Quais as medidas mais emergenciais que devem ser tomadas pelo novo governo para ajudar o setor cultural do DF?

Creio que essas medidas devem ser propostas pelo próprio movimento cultural de Brasília, em suas várias linguagens artísticas, e acredito que a medida mais emergencial é o Poder Público ouvir os diversos setores e, a partir daí, construir uma política permanente e estratégica para cada setor: literatura, música, pintura, escultura, dança, teatro etc.

Como poeta, qual é sua opinião sobre a atual situação da Feira do Livro?

É desoladora. A Feira do Livro não tem uma cara nem uma proposta consistente de atuação. Sequer tem um orçamento garantido e, ano após ano, o que se vê é uma simples exposição do que já está exposto nas prateleiras das grandes livrarias. Não há reflexão, aprofundamento de discussões, manifestos, oficinas, e para completar o público fica cada vez mais distante do que acontece ali. A mudança para o Pavilhão do Parque da Cidade, neste ano, só piorou essa situação.

Você tem usado muito a internet para lançar seus textos, certo? Você acha que esse é o melhor caminho para escritores que não têm apoio financeiro para publicarem suas obras?

A Internet é uma ferramenta fantástica e minha experiência de dois anos demonstrou ser um caminho viável pelo menos para a troca de experiências e para que o trabalho do escritor tenha um pouco mais de leitores. Tenho construído o livro, poema por poema, ou crônica por crônica, primeiro no blog e, depois de pronto, vou em busca de editora. Já são três livros publicados primeiro no espaço virtural. O primeiro, Diário da poesia em combustão, foi uma experiência de 180 dias de textos escritos em tempo real, um por dia, sem interrupção. Foi publicado em papel em setembro último, pelo FAC. O segundo, sob o título 50 crônicas de Brasília, em homenagem ao cinquentenário da cidade, também está concluído e atualmente estou em busca de patrocínio e/ou apoio para publicação. Uma verdadeira via crucis para os poetas em geral. E o terceiro, intitulado Poesia em tempo real, está sendo construído no blog e já tem 75 poemas prontos. Vale ressaltar que o processo de edição e distribuição de livros no Brasil é vergonhoso. O escritor fica isolado, não tem financiamento para publicar seu trabalho, e quando consegue uma brecha - a exemplo do FAC - Fundo de Apoio à Cultura do DF -, não tem garantia de distribuição e não chega às grandes livrarias. A situação da poesia, então, é ainda mais devastadora. As grandes editoras só publicam os autores que já têm um nome nacional, consolidado - com raríssimas e honrosas exceções. As grandes redes de livraria, por sua vez, só expõem os títulos já consagrados das grandes editores e mesmo assim em prateleiras escondidas, de difícil acesso, sem visibilidade. Nossa civilização hoje está doente, porque o espaço outrora reservado à pausa para o aprofundamento da reflexão existencial foi transformado em mercado, abocanhado pelo sistema de produção e trabalho da sociedade contemprânea. Uma lástima. O escritor e psicanalísta André Resende, num texto primoroso que li na Internet, sob o título Silêncios e ruídos, descreve muito bem o que acontece, hoje, com o aprisionamento da reflexão pela indústria do entretenimento: "...Todos os espaços são reservas de formação para o mundo do trabalho e da produção. A existência das pessoas mantém-se inteiramente ligada ao tempo de entretenimento e prazer associados ao não-trabalho, como trabalho. Produzir entretenimento tornou-se trabalho. Todas as contradições do mundo do trabalho e da produção - incluindo meditar, orar e sonhar - estão inseridas no entretenimento, no não-trabalho que é trabalho: competição, comparação, senso do jogo, disputa e vitória, viver, sobreviver, substituir. "...Mesmo que o mundo do trabalho e da produção tenha passado de manual e operoso para intelectual e cognitário, o entretenimento continuou crescendo como resposta às questões da existência. Para o entretenimento não há essência, apenas diferença associada ao mundo do trabalho e da produção. Cada vez mais as essências do entretenimento são sexualidade por perversão e agressividade por transgressão. E, daí, variantes assimiladas como civilização adoecida...". (O texto completo pode ser assessado na página do escritor no Facebook). Cabe a nós, artistas e pensadores, fazermos o movimento de resistência e de insubmissão a essa situação. Como dizia Torquato Neto, é preciso - cada vez com mais urgência - "desafinar o coro dos contentes" e encontrar caminhos que nos libertem dessa prisão.

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Livro relata experiência teatral na extinta Febem

Fonte: folha.uol.com.br 05/12



"Me Leva nos Braços, Me Leva nos Olhos", da atriz Annamaria Dias, conta sua convivência com internos nos anos 80

Histórias lembram as do livro "Estação Carandiru", de Drauzio Varella, só que numa versão "de menor"


O nome Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor já era uma ironia cruel quando a atriz Annamaria Dias foi convidada, em 1986, para iniciar um projeto pioneiro: dar aulas de teatro aos menores infratores do complexo Tatuapé.
A ideia era aproximar os dois grupos em confronto constante -adolescentes e monitores-, embora em um cenário desolador. Pouco tempo antes, a unidade, hoje desativada, fora palco de mais uma rebelião, que havia reduzido a escombros parte das instalações.
"Havia monitores que me ajudavam muito; em geral, eles deveriam ser educadores, mas muitas vezes agiam como carcereiros", lamenta a atriz, que participou de clássicos da teledramaturgia brasileira, como as novelas "O Meu Pé de Laranja Lima" e "A Viagem".
Sua experiência, que duraria dois anos, ela relata agora no livro "Me Leva nos Braços, Me Leva nos Olhos". Na verdade, trata-se quase de um "Estação Carandiru" versão "de menor".
Mas vê alguma semelhança entre seu livro e o do médico Drauzio Varella? "Acho que temos um olhar humanista sobre o problema." E complementa: "Os menores já estão punidos por estarem lá dentro. Por mais que se diga que se trata de uma fundação, aquilo é uma prisão!".

FUGA DO TEATRO
O diagnóstico que faz dos internos é duro: "São muito sem rumo e por isso se apegam aos traficantes. As quadrilhas se tornas suas famílias, é onde se sentem poderosos... São analfabetos, não tem estudo nem profissão".
Mas brincar de faz de conta na Febem -sucedida, desde 2006, pela Fundação Casa- podia ser algo perigoso.
"Em uma das apresentações que fizemos fora da unidade, em Ribeirão Preto (SP), houve fuga de dois menores [depois recapturados], e tivemos que cancelar a peça."
E qual era a função do teatro nesse meio? Ela afirma que sempre trabalhava com psicólogos, porque havia assuntos que os internos só expressavam durante os ensaios. "O teatro é poderoso", afirma Dias, que participou de peças de sucessos como "Trair e Coçar É Só Começar".

VIDA PÓS-FEBEM
A atriz diz ter deixado o trabalho na unidade porque lhe propuseram tornar-se funcionária da instituição, algo que não queria.
Mas manteve contato por certo tempo com alguns dos ex-internos. "Um deles chegou a trabalhar comigo como técnico de luz e áudio. Depois, acho, continuou trabalhando, assim como um ex-interno que era músico.
De outro, que chama no livro de Fabiano (nome fictício, como todos os demais), só foi ter notícia nas páginas policiais, por estar envolvido em um sequestro.
Desde então, perdeu contato com todos.
Sentiu falta deles? "Muita." E se arrepende de algo? "Sim, de não ter adotado um menino, que tinha entre seis e sete anos à época. O tio deixou ele lá por não ter condição de criá-lo, e o pessoal da Febem cuidava dele."
Mas ela lamenta sobretudo que o projeto tenha acabado. "Tudo depende da política. Para fazer um trabalho desses, é preciso dinheiro."
E conclui indignada: "Esse problema já era para ter sido sanado na nossa sociedade. O país é rico, a gente paga muito imposto. E onde isso é aplicado? Não adianta, o indivíduo que não tem formação, que não tem cultura, infringe mesmo, porque é mais fácil. E isso não mudou".

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