quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

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Abuso de autoridade

Fonte: valoronline.com.br 09/12

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado aprovou ontem mudanças na lei de abuso de autoridade - Lei nº 4.898, de 1965 - para aumentar a proteção aos profissionais contra atos que violem direitos e garantias legais indispensáveis ao ofício que exercem. A matéria seguirá ao Plenário em regime de urgência. O substitutivo do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) ao projeto de lei complementar da Câmara (PLC nº 83, de 2008) estende aos conselhos de classe e à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o direito de formular, em nome dos profissionais, representação judicial contra uma autoridade que comete abuso - essa prerrogativa atualmente é reservada ao Ministério Público. O projeto também aumenta a pena para crimes de abuso contra o exercício profissional: de detenção de dez dias a seis meses, ela foi elevada para dois a quatro anos e multa. Originalmente, o PLC 83 alterava apenas o Estatuto da Advocacia - Lei nº 8.906, de 1994 - para garantir prerrogativas dessa categoria, como a inviolabilidade do escritório profissional. Foi rejeitado pelo relator porque, para Demóstenes, ao contemplar apenas os advogados a proposta feria o princípio constitucional da isonomia. Ao reexaminar o projeto, contudo, o senador resolveu alterar a lei de crimes de responsabilidade, e não o Estatuto da Advocacia, no intuito de universalizar a proteção de prerrogativas para todas as profissões.

Liberdade de chimpanzé

Somente na próxima quinta-feira será julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio o habeas corpus do chimpanzé Jimmy, de 27 anos. A ação foi movida por um grupo de advogados e entidades de defesa dos animais sob alegação que ele estaria sofrendo maus-tratos no zoo de Niterói (RJ), onde vive. Eles pedem sua remoção para um santuário de animais em Osasco (SP). O julgamento de Jimmy é polêmico pois, por lei, animais são considerados objetos de posse e, assim, não teriam direito a habeas corpus. Os autores defendem a extensão desse direito a primatas superiores, que têm DNA próximo ao do humano. No meio da polêmica, Jimmy inaugura amanhã uma exposição com suas pinturas em galeria de Niterói. Serão exibidos dez quadros. O zoo diz que o chimpanzé pinta como terapia. A diretora do Zoológico de Niterói, Giselda D'Amelio Candiotto, nega que o chimpanzé sofra maus tratos. "Mudar ele daqui para Osasco seria apenas trocar um cativeiro pelo outro"', diz. (Folhapress)

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Professor é demitido no PI após prova com texto contra gays

Fonte: folha.uol.com.br 09/12

Exame dizia que sexo homossexual é feito "no mais puro estilo animal'; para docente, texto não é homofóbico


Uma faculdade particular de Teresina (PI) anunciou a demissão de um professor substituto depois que ele aplicou uma prova com artigo ofensivo a homossexuais.
Cerca de 30 estudantes de serviço social da Faculdade Adelmar Rosado deixaram a sala por causa do conteúdo do texto, na segunda-feira.
O artigo, sem assinatura, é contrário à aprovação de projeto sobre a união civil homoafetiva. Um trecho diz que a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo "contraria a ordem das coisas".
Na prova, os alunos precisavam, por exemplo, identificar o tema e resumi-lo. Não havia espaço para opinarem.
O professor Raimundo Leôncio Fortes, de metodologia de trabalho científico, assumiu a autoria do texto.
A aluna homossexual Narailka Yasmin Soares e Silva, 20, disse que ficou chocada, principalmente ao ler o último parágrafo -onde se justifica que homossexuais não podem expressar o amor, pois a relação sexual é feita "no mais puro estilo animal".
Alguns alunos pediram a anulação da prova, conforme Liana Santanna, colega de turma de Narailka. Mas Fortes mandou a turma se calar, segundo Liana.
Narailka disse que começou a tremer, passou mal e saiu da sala. Foi então acompanhada por outros colegas.
Segundo a coordenadora do curso, Iris Neiva de Carvalho, a posição do professor não condiz com a do quadro docente da instituição e a turma terá uma nova prova.
À Folha o professor reconheceu que não deveria ter aplicado o texto, mas disse não considerá-lo homofóbico, pois não estimula a discriminação. Para ele, o artigo tem argumentações filosóficas e a estrutura era compatível com as questões.
Já o psicólogo Antonio Carlos Egypto, do GTPOS (Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual), afirma que o texto é homofóbico por adotar argumentos que validam o preconceito. Um deles seria considerar que só a relação heterossexual é natural.
Para ele, uma prova sobre o assunto deveria adotar ao menos um texto divergente.

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LITERATURA

Fonte: correioweb.com.br 09/12

Premiadas com poesias sobre Brasília

Entre rimas, versos e estrofes, Beatriz Oliveira de Silva, 12 anos, e Kimberly Rodrigues Amorin, 11, descobriram o poder mágico das palavras. As jovens escritoras são alunas do 6º ano do Centro de Ensino Fundamental 312 de Samambaia e receberam o reconhecimento de dois importantes concursos de literatura pelas obras que retratam, com a ajuda da poesia, as curvas e belezas de Brasília.

Finalista da etapa regional da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, Beatriz recebeu medalha de bronze na competição, que teve sua final realizada em Brasília no último dia 30. Beatriz foi a única brasiliense a representar o Distrito Federal nas semifinais na categoria Poemas. Enquanto isso, a expectativa na escola de Samambaia era grande para o resultado do 19º Concurso Literário Infaltil e Juvenil. Na final da competição, promovida pela Biblioteca Demonstrativa de Brasília e pela Fundação Biblioteca Nacional, realizada em 25 de novembro, o poema de Kimberly ficou em segundo lugar na categoria 10 a 12 anos.

Iniciantes na arte da escrita, as duas poetisas nunca participaram de premiações do gênero. “Eu nunca imaginei que fosse capaz de escrever um poema. Eu acreditava que a poesia era um dom para poucos, apenas escritores famosos e muito vividos poderiam escrever tão bem”, lembra Beatriz. “Foi emocionante ver que eu estava enganada. Ver nosso trabalho reconhecido, nossa dedicação e suor, impressos no papel, vistos por todo mundo, foi incrível.”

Ávidas pela leitura, as duas colegas de sala acreditam que a paixão pelos livros foi o primeiro passo para o sucesso ao escrever. “Todos os meses eu ganho pelo menos dois livros da minha mãe e sempre frequento nossa biblioteca na escola”, conta Kimberly. “E quanto mais eu leio, mais quero escrever.” Para Beatriz, a relação com as palavras se tornou verdadeira mania. “Para todos é apenas uma medalha de prata, mas, para mim, esse prêmio mudou tudo na minha vida. Agora me pego no intervalo das aulas e cada tempinho livre inventando rimas, desenhos, ideias. Quando vejo, um poema novo nasceu.”

Para Mary Teixeira, professora de português da escola em Samambaia e orientadora das alunas nos concursos, a dedicação das meninas é resultado de anos de empenho. “É uma vitória pessoal ver que o exemplo dessas meninas vai fazer com que outros colegas busquem nos estudos a realização que elas alcançaram hoje”, afirma Mary Teixeira.

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Cresce risco de homicídio no país entre jovens negros

Fonte: folha.uol.com.br 09/12



Probabilidade é 3,7 vezes maior em relação a um jovem branco no Brasil

Em 2005, o risco era 3 vezes maior em relação a jovem branco, revela estudo da secretaria de Direitos Humanos



O risco de um jovem negro ser assassinado cresceu entre 2005 e 2007 no país, chegando a uma probabilidade 3,7 vezes maior em relação a um jovem branco.
Esse índice é maior que o verificado em 2005, quando o risco era três vezes maior em relação a jovens brancos.
As informações fazem parte do (IHA) Índice de Homicídios na Adolescência, que também cresceu, divulgado ontem pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
O chamado IHA estima o número de adolescentes de 12 anos, num grupo de 1.000, que será assassinado antes dos 19 anos.
O IHA nacional em 2007 ficou em 2,67, considerando-se os 266 municípios com mais de 100 mil habitantes. O valor é maior que o de 2006 (2,39) e 2005 (2,51).
Valores acima de um indicam "risco inaceitável de violência letal contra adolescentes", diz a pesquisa.
Estima-se que 32.912 adolescentes serão assassinados entre 2007 e 2013.

ARMAS DE FOGO
O estudo também aponta aumento no risco de homicídio de jovens por arma de fogo e no Nordeste do país.
Em 2005, o risco de assassinato por arma de fogo era 5,47 maior que por outros meios. Em 2007, 5,97.
No Nordeste, as preocupações se concentram sobretudo nos centros metropolitanas de Recife e Maceió.
A capital paulista se manteve abaixo da média nacional (1,7 em 2005 e 1,26 em 2007), assim como boa parte dos municípios de São Paulo. Apenas Votorantim teve índice acima de 3 no Estado.
O maior IHA do país foi novamente registrado em Foz do Iguaçu (PR), explicado por fatores como tráfico de drogas e exploração sexual de crianças e adolescentes.

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Os ecos de Nabuco

Fonte: opopular.com.br 09/12

Encerrando os eventos em torno do centenário da morte de Joaquim Nabuco, seminário salienta sua importância, suas contradições e sua inserção na atualidade

Um dos maiores abolicionistas do País, primeiro diplomata brasileiro, autor de ideias que estavam na vanguarda do pensamento de sua época. São muitos os predicados possíveis de ser atribuídos a Joaquim Nabuco, cujo centenário de morte foi completado em janeiro e que teve em 2010 um ano repleto de homenagens no Brasil e no exterior. Político cuja honestidade é celebrada como modelo, sua atualidade foi debatida em Pernambuco, sua terra natal, no ciclo de palestras Joaquim Nabuco e a Modernidade, realizado no Recife no início desta semana.

O encontro, que reuniu especialistas em Nabuco, diplomatas e escritores, serviu como fechamento das atividades em torno do nome do autor de O Abolicionismo, que incluiu seminários na Academia Brasileira de Letras, no Itamaraty e em grandes universidades dos Estados Unidos. Nos debates, a figura de Nabuco foi celebrada, mas também ganhou outras nuances que ajudaram a contextualizar melhor seu tempo e sua atuação política.

Membro da Academia Brasileira de Letras, o escritor Arnaldo Niskier, um dos coordenadores do evento, abriu o dia enfatizando que as ideias defendidas por Nabuco e seu método de fazer a leitura da sociedade exerceram influência sobre trabalhos de Euclides da Cunha, Sérgio Buarque de Hollanda e Caio Prado Jr., entre outros. Niskier também contou que Nabuco era um homem vaidoso, que não admitia ser derrotado nas contendas em que se envolvia (ver texto nesta página).

O Brasil do final do século 19 e início do 20 era uma nação em efervescência, e Joaquim Nabuco não só protagonizou parte daqueles acontecimentos, como também deixou para a posteridade registros importantes da época. O cônsul do Brasil em Chicago e também escritor João Almino mostrou que Nabuco tinha uma visão mais ampliada daqueles acontecimentos, fazendo uma análise aprofundada de que forma eventos como a Abolição e a Proclamação da República reverberavam na sociedade nacional.

"Nabuco dizia que era antes o observador de um século que de um país", lembrou o cônsul. "Ele acreditava que a Europa era o centro do processo civilizatório e que o Velho Continente e os Estados Unidos não rivalizavam na construção do humanismo." Segundo Almino, Nabuco defendia que as nações passam por períodos de progresso e o que produzem nesse tempo e a forma como resolvem suas questões e formatam suas culturas mostram se são ou não imprescindíveis.

Embaixador do Brasil em Washington na primeira década do século 20, Nabuco tinha um conceito menos abonador dos EUA no final do século 19. "Para Nabuco, os Estados Unidos não haviam dado um galho civilizatório tão importante que pudesse ser comparado com a matriz das nações europeias. Ele dizia que, se os Estados Unidos desaparecessem, o prejuízo para a cultura universal não seria o mesmo se o mesmo ocorresse com Inglaterra, França, Itália ou Espanha."Essa visão passaria por uma mudança profunda nos anos seguintes. "No final da vida, ele reconhecia que não era mais prematuro estudar as contribuições da civilização dos Estados Unidos para o mundo", destaca o cônsul Almino. "Para ele, os Estados Unidos já produziam novas formas de concepção social, estilos de vida e uma modernidade civilizatória." Ele também destacava o fortalecimento da democracia na América do Norte, o conceito de igualdade no país - partindo, neste ponto, das ideias de Tocqueville - e um sistema educacional eficiente.

Originalidade

O que todas essas opiniões têm a ver com o Brasil? Tudo, de acordo com o pensador. Aí está a originalidade de Nabuco para aquela época. Sua imagem de nação passava pela observação do mundo exterior, mas sempre levando em conta as características peculiares de seu povo, de sua história, de suas demandas próprias. Ele acreditava que, no caso do Brasil, o ritmo para essas transformações era distinto.

Num momento em que os Estados Unidos ascendiam a grande potência, talvez num momento que guarda semelhanças com o que o Brasil vive hoje, Nabuco fez uma análise que, em muitos pontos, parece profética. Ele dizia que aquele país ainda tinha uma vocação de harmonia, mas que era necessário cuidar para que isso não se perdesse em razão de uma previsível predominância científica, política e até no campo das artes para a qual o país se encaminhava. A história mostrou que eles não passaram no teste da paz.

A analogia com o Brasil e os cuidados que temos de tomar no decorrer de um processo de ascensão é algo interessante. A questão da educação pública, do reforço das convicções de igualdade social e da valorização dos bens culturais pontua considerações de Nabuco para o futuro e é um debate mais que atual no Brasil de hoje. É claro que são pensamentos marcados por uma cultura específica de cem anos atrás que precisam ser calibrados para os dias de hoje, mas não deixam de suscitar reflexões, principalmente quanto a nossa mania de nunca resolver os problemas de fato importantes.

Homem vaidoso, que odiava perder

"Ele ficou muito acabrunhado quando não obteve um acordo que considerava favorável para o Brasil." Com essa frase, o escritor Arnaldo Niskier descreve o sentimento de Joaquim Nabuco após a decisão de, numa contenda entre Brasil e Reino Unido, dar a maior porção do atual território da Guiana para os britânicos. Nabuco havia sido o representante brasileiro nas negociações sobre essa fronteira do norte do Brasil e acreditava que o País tinha o legítimo direito de ocupar uma vasta e rica região da Amazônia em detrimento da ocupação inglesa.

O árbitro da questão foi a realeza italiana que, temerosa do enorme poder naval inglês no Mar Mediterrâneo, optou por conceder ao Reino Unido uma área de 19 mil km², enquanto o Brasil ficou com 12 mil km². Ainda que muitos argumentem que Nabuco ainda conseguiu muito diante das circunstâncias, ele não pensava assim. Demonstração de que o abolicionista era muito cioso de sua reputação de diplomata e patriota. Vaidoso, sabia do encanto pessoal que exercia sobre as pessoas.

Nabuco não teve problemas em assimilar o apelido de Quincas, O Belo. Em suas correspondências, consta até uma queixa de que as mulheres norte-americanas seriam muito refratárias a galanteios. Quando morou em Washington, desfrutando da amizade próxima do presidente norte-americano Theodore Roosevelt, sua casa chegou a ser conhecida como "a residência do homem mais bonito da cidade". A morte de Nabuco também atesta esse traço de sua personalidade. Ele envelheceu precocemente e ficou surdo, o que o jogou em uma intensa melancolia.

O surgimento da figura pública de Nabuco também está ligada ao desejo de ter seus talentos reconhecidos. Aos 19 anos de idade, filho de uma família oligarca pernambucana, proprietária de engenhos de cana-de-açúcar, o jovem advogado se lança à defesa de um escravo que havia cometido dois homicídios. Humberto França, secretário-geral da Fundação Joaquim Nabuco, acaba de terminar um amplo trabalho de pesquisa sobre o episódio e está à procura de um selo que queira editar a obra. "Comecei a coletar os dados em 2004", conta ele.

Humberto teve acesso ao processo original dos crimes relacionados àquele que ficou conhecido como negro Thomás, um escravo que tinha grande habilidade com foguetes e que, por isso, gozava de alguma respeitabilidade na Olinda do final dos anos 1860. Um dia, porém, ele foi sentenciado a levar chibatadas em praça pública por uma acusação falsa. Amarrado às grades da Casa de Detenção de Olinda, Thomás foi barbaramente torturado e preso. Ele, porém, conseguiu escapar, descobriu que o subdelegado de Olinda o havia denunciado e o matou. Preso, conseguiu fugir uma vez, mas foi recapturado. Julgado, foi condenado à morte.

Em mais uma fuga da cadeia, Thomás matou um dos guardas que faziam a vigilância e protagonizou uma cena cinematográfica em sua tentativa de fuga pelas ruas de Olinda e Recife. As tropas inteiras das duas cidades foram mobilizadas para a captura e o povo entrou em pânico. A imprensa da época fez grande estardalhaço e Thomás foi novamente preso. Em seu segundo julgamento sumário, Nabuco tomou sua defesa, para escândalo da tradicional sociedade pernambucana da época.

Lutas públicas

Os argumentos usados por Nabuco para pedir a revogação das penas de Thomás já sinalizavam suas futuras lutas públicas. Ele disse que os grandes culpados pela situação eram a escravidão, que o condenou a um castigo injusto, levando-o à vingança, e a pena de morte, que o obrigou a uma fuga desesperada em que acabou matando a segunda pessoa. A verve do jovem Nabuco impressionou tanto os juízes que a segunda pena de morte de Thomás foi comutada para prisão perpétua, algo inédito em se tratando de um réu escravo, cujos direitos eram geralmente ignorados.

Toda a celeuma projetou o nome de Nabuco e esse caso sempre era citado como prova de sua habilidade em negociações. Uma fama que não o impediu, entretanto, de ser preterido em prol de Ruy Barbosa para a representação brasileira no tribunal de Haia, na Holanda, onde o baiano se consagr ou como um dos personagens principais.

Á Águia de Haia não foi Nabuco. Ele, porém, arrancou do papa Leão XIII uma encíclica em que o Vaticano condena a escravidão no Brasil e teve grande influência sobre a própria princesa Isabel, sua amiga, o que teria, de alguma forma, antecipado a promulgação da Lei Áurea, sem a previsão de compensações financeiras para os senhores de escravos.

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LITERATURA

Palavras sedutoras

Fonte: correioweb.com.br 09/12

Décimo romance do angolano Agualusa revela uma síntese entre o escritor, a língua portuguesa e seus territórios

O escritor angolano José Eduardo Agualusa coleciona milagres. Anota os acontecimentos do dia num diário para depois reler e se dar conta que, surpreendentemente, milagres acontecem todos os dias. As crianças costumam perceber com mais facilidade essa sucessão diária de fatos fantásticos. Adultos são um tanto ceguetas para a questão. Mas o narrador de Milagrário pessoal tem consciência da quantidade de milagres que podem acontecer em um dia e, com ele, Agualusa foi aprendendo a perceber.

O 10º romance do escritor nasceu quando o milagrário virou o ponto de partida para a invenção de uma nova língua, e é para falar sobre isso que o escritor desembarca hoje na cidade. Às 9h, ele conversa com alunos da Universidade de Brasília (UnB) no encontro Literatura hoje, do qual participam também Luiz Ruffato, Ronaldo Correa de Brito, Maria Esther Maciel e Claudio Daniel. Às 20h, lança o livro no Rayuela.

Milagrário pessoal é uma homenagem à língua portuguesa. É também uma história de amor em vários sentidos. Um velho professor atiça a curiosidade de uma caçadora de neologismos ao sugerir a existência de uma língua secreta falada pelos pássaros e passível de ser aprendida pelo homem. Viagens e mistérios cercam a busca pelo manual do tal idioma e a palavra vira instrumento de sedução nas mãos do professor. “A palavra sempre esteve presente na sedução e o livro mostra isso: é uma história de amor que passa por aí. Se tivesse que resumir o livro diria que é a história de um homem que, para seduzir uma mulher, lhe oferece uma língua nova”, diz o autor.

O resumo de Agualusa evita os detalhes que fazem de Milagrário pessoal uma espécie de síntese da relação do escritor com a língua portuguesa e seus territórios. Brasil, Portugal e Angola também são personagens do livro. Estão lá em forma de referências culturais exploradas à exaustão numa confusa mescla de fatos históricos com situações contemporâneas. Em todas elas, a língua é protagonista e rende narrativas cheias de graça. É o caso do professor timorense que recita Camões em sessões secretas para resistir à invasão das tropas indonésias. Ou do sujeito cujo avô conhecera Richard Burton, um explorador inglês capaz de falar 29 línguas com sotaque próprio de cada uma e que desceu o Rio São Francisco em meados do século 19.

Há um capítulo inteiro no qual Agualusa discorre sobre a suposta correspondência do escritor Camilo Castelo Branco. Angola merece um capítulo à parte, assim como episódios das trajetórias brasileira e portuguesa. “É impossível escrever um livro sobre a língua portuguesa sem falar do Brasil. Noventa e cinco por cento dos falantes são brasileiros. (O livro) é uma homenagem à língua portuguesa.”

Busca
Caetano Veloso é citado diversas vezes e sempre funciona como uma lembrança de que os personagens circulam pelos tempos atuais. Os neologismos que motivam a busca pela nova língua são apenas um pretexto. Agualusa nem gosta deles. Prefere os arcaísmos. “Neologismo é uma metáfora, já que o livro é uma alegoria sobre a criação de uma língua. Mas neologismos não me interessam muito”, garante.

O contraste entre as pausas para citações históricas e as pesquisas na internet sugere um trânsito temporal que pode ser herança de hábito bastante angolano. Agualusa sempre faz questão de ressaltar que é um contador de histórias. É que alguns escritores não são, ele diz, mas ele é. E esse detalhe tem algo a ver com a tradição oral do país natal. “Em Angola, ainda existe a arte de contar histórias. As pessoas se reúnem em grandes almoços no sábado para contar histórias. Isso é importante para mim, cresci ouvindo histórias”, destaca.

Filho de angolanos, neto de um carioca e com um tanto de sangue português correndo na veia, o escritor deixou Luanda há pouco mais de um ano. Vem ao Brasil com frequência e fixou residência em Lisboa. Não dá mais conta de Angola, onde a democracia anda a dar tropeços cada vez maiores. Da capital portuguesa, pelo telefone, Agualusa conversou com o Correio sobre o Milagrário pessoal, o país natal e a língua portuguesa.

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CORDEL

Poesia de cabo a rabo

Fonte: correioweb.com.br 09/12

Poemas populares, originalmente orais e depois impressos em folhetos rústicos pendurados em cordas. Assim se define a literatura de cordel, carro-chefe do trabalho do poeta Ruiter Lima e do músico Carlinhos Piauí. Sertão de cabo a rabo é o segundo CD com produção independente da dupla e também é dividido em duas partes; poesia matuta e músicas de raiz.

Outro item importante do costume nordestino, além de pendurar livros em barbante, é a preocupação com a ilustração dessas publicações. Xilogravura é uma técnica chinesa em que imagens são entalhadas na madeira, com a ajuda de uma matriz e logo após é passado tinta em cima e colocado um papel, no qual só as partes elevadas da imagem saem impressas, como um carimbo. Na dupla, Ruiter Lima executa a ilustração dos livros, inspirado nos folhetos do artista brasileiro de fama internacional J. Borges.

Carlinhos Piauí carrega no apelido o nome do estado onde nasceu. Com 47 anos de idade, coleciona com esse disco o quinto CD de sua carreira. Três álbuns solos antecederam à parceria. Todos, sem exceção, falam sobre o folclore e ritmos nordestinos, mas sem esquecer, é claro, do romantismo. Carlinhos explica de onde vem sua composições: “A nostalgia e o saudosismo são o ponto de partida para o surgimento da poesia em minha mente e coração”.

Nascido em Rialma (GO), Ruiter Lima, filho de maranhese com baiana desenvolveu a paixão pelo Nordeste dentro de casa. Figura marcada em Brasília pela realização de saraus, o poeta cultiva o amor pela cultura de rua desde que chegou à cidade, em 1960. “Comecei minha peregrinação pela literatura de cordel no mercado livre, no Núcleo Bandeirante, memorizando textos. Ainda adolescente já sabia A chegada do lampião ao inferno, um livreto de José Pacheco, de cor”, conta o goiano, hoje com 60 anos.

Há cinco anos em um bar na cidade de Água Lindas, em Goiás, a voz do declamador Ruiter se uniu ao violão de Carlinhos. “Ficamos até de manhã cantando músicas e poesias. Desde então o trabalho só evoluiu.” Inspirados por grandes mestres da poesia nordestina como José Pacheco e Zé da Luz — eternizado pelo grupo Cordel do Fogo Encantado — , o objetivo dos artistas é retratar a situação do povo sertanejo e resgatar a cultura popular.

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De Adolf a Hitler

Fonte: folha.uol.com.br 09/12


Chega ao Brasil "Hitler", estudo rigoroso e obsessivo do historiador britânico Ian Kershaw

O homem que imortalizou o bordão "o trabalho liberta" -sinistro sobre o portão principal do campo de extermínio de Auschwitz- não gostava de trabalhar. Também se orgulhava de suas temíveis Forças Armadas, que estiveram a ponto de submeter toda a Europa, mas fugiu o quanto pôde do alistamento militar em sua juventude.
"Hitler", que consumiu dez anos de trabalho do inglês Ian Kershaw, 67, apanha essas e outras contradições que o ajudam a desmontar o mito que o próprio Führer se esforçou em construir.
Na entrevista abaixo, ele também fala da habilidade inata para lidar com as massas, as estratégias eleitorais inovadoras, o uso político do antissemitismo e a relação "anormal" com as mulheres.
Obsessivo, Kershaw não larga sua presa, sobretudo em seus anos de formação: a infância entre o pai frio que o atemorizava e a mãe que o mimava, os anos de penúria vividos em um albergue em Viena, a relação ciumenta com a sobrinha -que acabaria por se matar no apartamento do tio, em Munique- ou as manobras políticas para tornar o inexpressivo e já corrupto Partido Nazista em legenda nacional.
O resto da história é mais ou menos conhecido e formaria um capítulo tétrico do século 20.
No entanto, as mais de mil páginas desta versão "abreviada" (Kershaw fundiu aqui seus "Hubris" e "Nemesis") são muito bem escritas e boas de ler. Combinam com maestria pesquisa de fontes, fotos reveladoras e o aporte interpretativo da psicanálise.
Em que pese o personagem, um dos Anticristos do imaginário popular, "Hitler" é um belo presente de Natal.



Folha - O sr. diz que a elite política alemã teve várias chances para deter a ascensão de Hitler. Por que não o fez?
Ian Kershaw -
Muitas pessoas o subestimaram. À época, era menos fácil do que parece hoje supor que a elite conservadora fosse incapaz de conter Hitler [1889-1945] ou que os nazistas, uma vez no poder, veriam sua popularidade se esvair tão rápido.

O sr. o descreve como um "um ator consumado" e fala de "sua capacidade de interpretar papéis". Ele tinha uma compreensão inovadora da figura do político?
Hitler tinha uma compreensão moderna dos mecanismos de mobilização de massa e da construção da imagem política. Nenhum outro político europeu, talvez com a exceção de Mussolini [1883-1945], soube explorar tão bem a mídia de massa moderna para fins políticos.

Em que aspecto ele foi original? Apenas na retórica ou como propagandista?
As linhas de seu pensamento -o antissemitismo radical, a ênfase na pureza racial e no darwinismo social- não eram novas. Porém, o modo como as combinou para forjar uma "visão de mundo" ou uma ideologia que lhe proporcionasse um suporte consistente para sua ação política foi realmente original.

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José Padilha defende os mega lançamentos

Fonte: folha.uol.com.br 09/12


Diretor diz que Brasil pode usar estratégias de Hollywood

Autor de "Tropa de Elite 2" espera que sucesso contribua para discussão sobre financiamento de filmes nacionais


Ao terminar "Tropa de Elite 2" e mostrá-lo para uns poucos amigos, o cineasta José Padilha chegou a achar que, desta vez, não teria tanto eco junto ao público.
Houve quem dissesse que Padilha tinha complicado demais a história.
A primeira reação do diretor ao filme, depois das filmagens, foi de absoluta empolgação. "O trabalho de montagem foi animador. As filmagens aconteceram em janeiro e, em setembro, o filme estava pronto", conta.
Mas, conforme começou a mostrar o filme, Padilha começou a ter algumas dúvidas quanto ao real poder de comunicação com o dito grande público.
"Alguns amigos me disseram que era um filme mais complicado de se entender do que o primeiro", relembra. "Essa era percepção. E aí eu chutei o público de uns 4 milhões de espectadores."
A expectativa começou a se mostrar modesta em excesso quando tiveram início as pesquisas na porta dos cinemas. Ao fazer a pergunta "Que filme você quer ver", os pesquisadores descobriram que "Tropa de Elite 2" era um dos mais desejados.
Veio, então, a surpresa do trailer. Ao ser disponibilizado no YouTube, o trailer explodiu. "A GloboFilmes tem um número que relacionado o número de cliques em uma semana com o potencial de espectadores. E o que dava era uma loucura", diz.

GIGANTISMO
Teve início, então, uma discussão sobre o tamanho do lançamento. Padilha achava que o filme tinha de estrear em 400 salas. Marco Aurélio Marcondes, coordenador da distribuição, defendia o número de 700. Fecharam em cerca de 600.
Mas, quebrando a lógica de todo lançamento de blockbuster, tiveram de aumentar o número de cópias do primeiro para o segundo final de semana.
Padilha admite que, ao ver os primeiros números, se assustou. "Mas aí eu resolvi parar de contar. Relaxei. Nunca esperei que um filme engajado pudesse levar tanta gente ao cinema", diz ele, que enche a boca para dizer que a crítica classificou o filme como um "thriller político".
Um sucesso desse tamanho só se faz, é claro, se houver identificação com o público. Mas "Tropa de Elite 2" só alcançou esses espectadores todos porque foi lançado de maneira absolutamente profissional. E competente.
"Estudamos as séries históricas de outros filmes, estudamos o lançamento de "Harry Potter'", diz o cineasta. "Acho que esse resultado coloca em pauta a seguinte questão: se outros filmes brasileiros tivessem sido lançados com o modelo americano, será que não teriam feito mais público? Eu me arrisco a dizer que sim."
Esse modelo é entrar num enorme número de salas, com pesado investimento em mídia e marketing.

NOVOS PARADIGMAS
"Mostramos que um grande lançamento não é monopólio das distribuidoras estrangeiras", diz. Cabe observar aqui que "Tropa de Elite 2" é o primeiro grande sucesso do cinema brasileiro atual que não tem, na película, a impressão do logo de alguma subsidiária de Hollywood.
Outro paradigma que Padilha acredita ter quebrado é o do modelo de financiamento do cinema nacional.
"Existe, claro, a possibilidade do cineasta procurar o Ministério da Cultura, pedir apoio público. Mas existe também um outro caminho, que é, em vez de olhar para o governo, é olhar para a gente, para o mercado."

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