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Como eu pintaria uma Brasília sonhada
Fonte: correioweb.com.br 26/12
Sou um apaixonado por Brasília e costumo aproveitar os dias de sol passeando, admirado com as belezas encontradas em cada cantinho desta cidade.
Outro dia, o passeio da vez foi à Ermida Dom Bosco, o que me levou a refletir sobre o sonho daquele padre. Fiquei olhando a paisagem e pensando sobre o que acabara de ler na pirâmide de mármore. Pensei tanto no que vi durante o passeio, que quando cheguei em casa, já bem cansado, me deitei, dormi e tive um longo sonho com nossa cidade.
Sonhei que o Lago Paranoá estava com a água tão transparente que dava até pra ver o fundo! A orla estava repleta de espaços de convivência, todos ligados por ciclovias. A rodoviária estava humanizada pela reforma jamais pensada; ainda havia muitas filas, só que era para ver de perto cada uma das benfeitorias e novidades.
Os engarrafamentos haviam acabado; o transporte coletivo foi completamente reformulado e uma política de incentivo foi lançada para que pessoas da mesma vizinhança oferecessem carona ao sair para trabalhar, o que fez até sobrar vaga no Setor Comercial Sul!
Em meu sonho não existiam menores abandonados e nem pedintes; a segurança era total; o índice de criminalidade, tão baixo, era até matematicamente descartado nas pesquisas. As pessoas voltaram a andar à noite pelos gramados, cruzando os pilotis, procurando festinhas e gente pra bater papo, do jeitinho que era antigamente.
A educação tornou-se referência para todo o país. Os alunos ficavam o dia todo na escola e quando chegava a hora de ir embora tinha até menino fazendo birra.
Desemprego era palavra rara de se ouvir. Os condomínios horizontais foram finalmente regularizados; todas as cidades satélites eram verdadeiros paraísos para se viver, com saneamento, escolas, lazer e hospitais.
Aliás, a saúde também virou referência de tão maravilhoso que era em meu sonho. Todos os profissionais foram valorizados, catador de papel era agente ambiental e ficavam todos orgulhosos. O lixo deixou de ser problema, tudo era reciclado. Os poucos detentos estavam aprendendo uma profissão e, de fato, sendo reintegrados numa nova sociedade.
As bibliotecas, museus, galerias, cinemas e teatros eram disputados e concorridos. O programa mais legal dos finais de semana eram os culturais, deleite para qualquer um.
O campo estava em festa com o apoio do Estado. Os produtores rurais batiam recordes de produção e de felicidade. Os alimentos estavam mais baratos e saudáveis. Os jovens talentos eram disputados pelos empresários para serem patrocinados, tanto na ciência, esporte e arte.
Ilegalidade era coisa do passado, não havia mais nenhum ato de corrupção, muito menos abuso de poder.
O céu estava mais azul, o verde, mais verde, os ipês, com todo aquele amarelo ouro, as cigarras, zunindo e os sabiás, arrebentando o peito de tanto cantar.
No meu sonho Brasília era modelo internacional de governo de gerenciamento. Para se ter uma ideia vinha gente até de Estocolmo pra aprender tudo conosco.
O arremate dessa grande obra estava sendo feito após 50 anos.
Oscar Niemeyer continuava vivo, com uma saúde de ferro e ainda controlando tudo.
Nas nuvens, eu via direitinho Juscelino Kubitschek, Lucio Costa e Athos Bulcão, apontando o dedo para baixo, dando as mais gostosas gargalhadas, como se estivessem dizendo: “Nossa capital está lindona!”.
Acordei e fiquei pensando em Dom Bosco, que esperou mais de 70 anos para ver seu sonho começar e ser realizado, quando a capital da esperança foi erguida.
Então me perguntei se o meu sonho ia se tornar realidade e quanto tempo isso iria demorar.
Tomara que tudo comece a se concretizar nesse governo que começa, ao qual desde já desejo toda sorte e competência para realizar o meu e todos os outros sonhos do povo candango, fazendo nossa cidade ser reverenciada e respeitada por todos os povos.
E, verdadeiramente, vermos jorrar leite e mel conforme a profecia.
Luiz Costa
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CLÓVIS ROSSI
Fonte: folha.uol.com.br 26/12
O morro agora é do Exército
SÃO PAULO - Não é que, de mansinho, o Exército assumiu, de papel passado e tudo, a função de polícia no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro?
Até quinta-feira, o Exército não subia o morro. Ficava nas, digamos, fronteiras. Naquele dia, o ministro Nelson Jobim e o governador Sérgio Cabral assinaram acordo para "organização e emprego" de uma "Força de Pacificação".
É isso que você leu: "força de pacificação", como a que o Brasil mandou ao Haiti e está mandando ao Líbano, entre outras. O que, de passagem, significa assumir que está havendo uma guerra, não convencional, mas guerra, entre o Estado e o crime organizado.
A nova força terá 2.200 homens, a maioria vindos da Brigada Paraquedista do Exército. Suas tarefas: patrulhamento, revistas e prisões em flagrante.
Se isso não é função de polícia, o que é então função de polícia?
Nada contra esse novo papel para o Exército. Mas entendo os argumentos contrários, alguns dos quais são poderosos, e acho que falta clareza nas decisões.
Alguém aí acredita que é apenas no Complexo do Alemão/Vila Cruzeiro que urgia uma "força pacificadora"? Alguém aí acredita que a guerra entre o Estado e o crime organizado se dá apenas nesses pontos do Rio de Janeiro?
Os ataques do PCC em São Paulo, há cinco anos, não tiveram gravidade idêntica aos que o tráfico promoveu no Rio e levaram em seguida à ocupação do Alemão? Não foi então uma guerrilha como a que se invocou para deslocar tropas do Exército para o Alemão?
Perguntas à parte, há uma resposta clara no ato assinado por Jobim e Cabral: a confissão de que a polícia, por si só, é incapaz de ganhar a guerra e impor a paz.
Vale para o Rio, vale para outros pontos do Brasil. Alguém vai extrair consequências dessa constatação inescapável?
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Terapia
Fonte: folha.uol.com.br 26/12
Jovens presos na Fundação Casa de Sorocaba aprendem a jogar golfe , e funcionários já veem melhora de comportamento
Quando criança, B., 16, via os adultos jogando golfe e sonhava com o dia em que teria idade para dar suas tacadas. Precisou ser detido por tráfico de drogas e cumprir pena na Fundação Casa para realizar o desejo de infância.
Faz três meses que o golfe passou a ser parte da rotina dos internos da unidade de Sorocaba. A empatia com o esporte foi imediata. Para quem passa a maior parte do tempo em ambientes fechados, uma hora diária ao ar livre é um privilégio.
"Quando a bolinha sobe e começa a viajar, penso nos passarinhos, nos aviões e nos helicópteros que passam aqui em cima. Penso na minha liberdade fora daqui", afirma W., 15, também detido por tráfico de drogas.
Em um campo improvisado, em meio a pequenos pés de palmeiras, uma bananeira, diversas tampas de cimento e um reservatório de água, os internos aprendem a ter autocontrole, o que tem contribuído para que fiquem mais calmos e tenham um convívio melhor entre eles.
"Eu bagunçava bastante, xingava os funcionários, brigava com outros internos. O golfe me deixou mais calmo. Para me concentrar, tenho que relaxar, distrair a cabeça", declara A., 15, detido há um ano e dois meses.
"Em alguns adolescentes, a melhora no comportamento chega a 80%. Diminuiu muito o problema de atenção e aumentou a concentração, o que acarretou melhora na sala de aula", diz a psicóloga Francine Gonçalves, encarregada técnica e uma das responsáveis pela implantação do golfe na unidade.
A iniciativa surgiu após Francine descobrir que o Saps (Serviço de Atendimento e Acompanhamento Psicossocial) de Sorocaba usava o golfe na recuperação de pacientes com problemas neurológicos e psiquiátricos, e também de alguns idosos.
Os benefícios são atribuídos a fatores como a liberação da energia dos pacientes ao praticar o esporte e a consequente diminuição dos níveis de ansiedade.
"Isso acontece porque o golfe trabalha o foco e a concentração. Você nunca vai conseguir ter isso se não estiver tranquilo. Assim, aumenta a motivação deles e diminui a ansiedade", afirma Antônio de Oliveira Neto, responsável pelas aulas.
Nos três "buracos" improvisados do improvável circuito da fundação, de dimensões diminutas -56 m de comprimento por 11 m de largura-, os internos também aprendem ensinamentos que pretendem usar quando estiverem em liberdade.
K., 16, detido por roubo a mão armada, diz que o esporte o ajudou a "pensar melhor". Agora, projeta uma vida longe do crime.
"Quero fazer faculdade de mecânica e ajudar minha avó de 67 anos, que precisa de ajuda, mas não pode contar porque estou preso, pagando pelo que fiz", diz K., resignado com o presente, mas esperançoso com o futuro.
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