terça-feira, 7 de dezembro de 2010

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BBC monta lista de 15 novos talentos do mundo pop

Fonte: folha.uol.com.br 07/12



DE SÃO PAULO - A rede britânica BBC revelou ontem os 15 nomes da lista "Sound of 2011" (som de 2011), que compila novos artistas da música pop.
A lista é montada a partir dos votos de mais de 160 formadores de opinião, que devem apontar bandas ou músicos que não tenham alcançado o Top 20 britânico nem se destacado em shows de talentos ou na mídia.
Eles podem ser provenientes de qualquer país. Neste ano, foram eleitos James Blake, Anna Calvi, Daley, Esben & the Witch, Jessie J, Clare Maguire, Mona, The Naked & Famous, Nero, Jai Paul, The Vaccines, Warpaint, Jamie Woon, Wretch 32 e Yuck.
Os cinco selecionados a partir desta lista serão anunciados em janeiro do ano que vem. Daí sairá o vencedor.
A lista da BBC já consagrou nomes como Mika, 50 Cent, Bloc Party e Franz Ferdinand.

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Marilena Chaui defende atualidade da escola helenística

Fonte: folha.uol.com.br 07/12


Filósofa lança segundo volume da "Introdução à História da Filosofia", em que reavalia o legado de epicuristas, céticos e estoicos


Após 16 anos, muita pressão de leitores e alguma cobrança da editora, Marilena Chaui lançou o segundo volume da "Introdução à História da Filosofia".
Se no primeiro livro ela tratou dos pré-socráticos até Aristóteles (séculos 6º a 4º a.C.), agora ela trabalha com as escolas helenísticas (323 a.C. ao século 3º d.C.), período pouco ensinado e associado à decadência da filosofia.
E é contra essa interpretação que Chaui escreve. Batendo de frente com clássicos como Emile Bréhier e Hegel, a professora da USP aponta, logo na introdução, "alguns preconceitos dos historiadores da filosofia" ao tratar das escolas helenísticas.
Não que seja propriamente inovadora sua abordagem sobre epicuristas, céticos e estoicos. Mas ela se filia a uma corrente jovem, que se nutre de novas traduções e trabalhos arqueológicos recentes que permitem reavaliar o período.
Em debate de lançamento do livro, Chaui afirmou que "são os filósofos desse período que definiram aquilo que na nossa cultura se chama filosofia. (...) Vemos a filosofia como uma maneira de ver o mundo e de viver. Isso vem das escolas helenísticas".
Chaui, que diversas vezes repetiu a palavra "entusiasmo" para dizer como se sentia, defendeu a atualidade das escolas helenísticas, que, diz ela, desenvolveram pensamentos focados na ética num mundo que perdia a referência da pólis.
"Eles eram cidadãos da cosmópolis, se pensavam como algo universal. Aconteceu com eles algo que ocorre agora: nós vivemos em um mundo globalizado em que a referência ao Estado nacional se tornou menor."
Em parte como sintoma do relativo "descaso" dos historiadores da filosofia, Chaui disse que gostou de fazer o livro porque "não sabia nada sobre as escolas helenísticas". Segundo ela, foi uma "aventura" que a levou a "estudar muito e aprender muito, situação diferente daquela do primeiro volume".

ESPERA
Heloisa Jahn, responsável pela edição da coleção, coloca a falta de familiaridade de Chaui com o tema na lista de razões pelas quais ela custou a entregar o segundo volume, mas considera inadequada a palavra "demora".
Em primeiro lugar, Chaui publicou mais de 15 livros no intervalo, incluindo o celebrado "A Nervura do Real: Imanência e Liberdade em Espinosa", de 1.240 páginas.
Além disso, Jahn diz que a primeira edição de "Introdução à História da Filosofia", publicada em 1994 pela Brasiliense, "é praticamente um livro diferente" da edição de 2002 do livro, publicada pela Companhia das Letras.
Assim, seriam oito anos de espera, e não 16. Para os leitores, porém, a demora não pode ser relativizada. Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, diz que um leitor ameaçou processar a editora caso o livro não saísse logo.
"Quando isso aconteceu, escrevi pessoalmente para a Chaui", diz Schwarcz. "Mas a editora tem de aceitar o tempo do autor. Não houve pressão, mesmo sendo ela a recordista de atraso." A "Introdução à História da Filosofia" ainda terá mais dois volumes -sobre pensamento medieval e renascentista e sobre a filosofia moderna. Quando serão publicados? "Chaui não trabalha com prazos", diz Jahn.

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA

AUTORA Marilena Chaui
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 46 (392 págs.)

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Tributário: Proposta do Poder Judiciário era julgar pelo menos 20% do estoque de processos

Fonte: valoronline.com.br 07/12

Poucos tribunais cumpriram a meta das execuções fiscais

A maioria dos tribunais brasileiros não vai conseguir cumprir a principal meta estabelecida pelo Judiciário para este ano: julgar 20% do acervo de execuções fiscais que, em 2009, representaram quase um terço dos 86,6 milhões de processos em tramitação no país. Apesar de haver mecanismos para buscar bens de devedores - penhoras de dinheiro, imóvel e veículo -, os juízes conseguiram reduzir em apenas 8,9% o estoque acumulado de ações. Apenas 12 Cortes - cinco estaduais, quatro trabalhistas e três eleitorais - alcançaram o objetivo.

Um balanço preliminar das dez metas estabelecidas pelos 91 tribunais brasileiros para este ano será divulgado hoje, durante o 4º Encontro Nacional do Judiciário, realizado no Rio de Janeiro. No evento, também serão definidos os objetivos para o próximo ano. A meta 3 - que inclui, além das execuções fiscais, a redução de pelo menos 10% do acervo de processos na fase de cumprimento - foi considerada a mais ousada pelos magistrados, que não conseguirão cumpri-la. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), apenas 3,8 milhões de execuções foram baixadas até novembro - 69,7% da meta.

Em relação às execuções fiscais, apenas 44,5% da meta foi cumprida. Nenhum dos cinco tribunais regionais federais conseguiu finalizar a quantidade necessária de processos. "É um procedimento difícil, que depende das partes, credor e devedor, para ser cumprido", justifica o secretário geral-adjunto do CNJ, José Guilherme Vasi Werner. Este ano, segundo ele, o órgão criou um grupo de trabalho para discutir ações necessárias ao cumprimento da meta 3, o que resolveria um dos principais gargalos da Justiça brasileira. "Mas todas as soluções envolviam projetos de lei ou a colaboração do Estado."

O CNJ conseguiu, no entanto, enviar à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) uma lista com cerca de 300 mil execuções fiscais que poderiam ser finalizadas. Um CD com os números dos processos foi encaminhado em outubro. A PGFN iniciou no ano passado um trabalho de qualificação dos cerca de R$ 800 bilhões da dívida ativa da União. Foi criado um grupo de trabalho envolvendo procuradores de diversos Estados para analisar os créditos e ver quanto realmente ainda pode ser cobrado. O órgão também quer terceirizar a cobrança dos créditos de até R$ 10 mil. Até esse montante, os procuradores estão desobrigados por lei de propor ações de execução fiscal para cobrar o débito. Isso porque o custo para a cobrança não cobre o gasto do processo. Em média, uma ação de execução custa à Fazenda RS 13 mil.

Hoje, menos de 1% do estoque da dívida ativa da União ingressa nos cofres públicos a cada ano. O processo de execução fiscal no Brasil é moroso, caro e de baixa eficiência. Na Justiça Federal, uma ação demora, em média, 12 anos para ser concluída, sem contar quatro anos iniciais da fase administrativa. De acordo com o relatório Justiça em Números 2009, divulgado pelo CNJ, enquanto a taxa de congestionamento geral foi de 69%, nos processos de execução fiscal esse valor sobe para 90%, uma diferença de 21 pontos percentuais.

Para mudar a situação, as apostas do Judiciário estão nos Juizados Especiais da Fazenda Pública, instituídos pela Lei Federal nº12.153, de 2009, e em projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional para alterar a execução fiscal no país. Os projetos, que começaram a ser analisados em abril, preveem uma modificação radical no modelo de cobrança tributária no país, fazendo com que boa parte das fases da execução que hoje ocorrem na Justiça - como a intimação do devedor e a localização de bens para penhora - migre para o âmbito administrativo das fazendas públicas. "Esperamos que a Lei de Execuções Fiscais (nº 6.830) seja reformada o quanto antes. Ela é de 1980", diz o advogado e professor Heleno Torres, que acompanha a tramitação dos projetos. "Precisamos de um sistema de cobrança mais célere e eficiente."

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Ações antigas não foram julgadas

Fonte: valoronline.com.br 07/12

Os 91 tribunais brasileiros cumpriram 38,15% da meta 2 neste ano. Fixada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em acordo com os presidentes dos tribunais, a meta prevê o julgamento de todos os processos que entraram até o dia 31 de dezembro de 2006.

Para os processos trabalhistas, eleitorais, militares e de competência do tribunal do júri, a meta vale para aqueles que entraram até 31 de dezembro de 2007.

Segundo dados do CNJ, em 2010 foram julgados 468.787 processos, enquanto 1.228.653 ações que estavam no conjunto da meta ficaram pendentes de julgamento.

Dos processos, 80,82% estão na Justiça Estadual, que conseguiu julgar 33,11% das ações. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou 6.900 processos do seu estoque (ajuizados até 31 de dezembro de 2006) de um total de 1.137 ações. No ano passado, os tribunais cumpriram 54% da meta que tinham, então, mais de quatro milhões de ações.

Os tribunais também cumpriram 94,19% da meta 1, que consiste em julgar a mesma quantidade de processos distribuídos no ano.Durante 2010, foram ajuizados 14,079 milhões de processos e julgados 13,262 milhões. Dos cerca de 2 milhões processos criminais, foram julgados 88,61%.

O STJ e o Tribunal Superior do Trabalho (TST) foram os tribunais superiores com melhor índice de cumprimento da meta: 112% e 117%. No STJ, foram julgados 214 mil processos, ao mesmo tempo que entraram, em 2010, 190 mil ações.

Já no TST foram julgados 144 mil processos, cerca de 20 mil a mais do que o número de processos distribuídos.

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Balanço da Academia Paulista de Letras
Fonte: folha.uol.com.br 07/12


JOSÉ RENATO NALINI

A entidade optou, nas três últimas gestões, por consolidar a abertura à comunidade: não é um clube fechado nem despretensioso chá de amigos


Quatro anos de exercício da presidência da Academia Paulista de Letras acrescentaram à minha experiência um saldo significativo.
Aprendi a conviver com a diferença de opiniões, a partir da concepção do que deva ser uma instituição destinada a promover o idioma, a escrita e a leitura.
Senti a dor da perda de primícias da intelectualidade brasileira, que se tornaram amigos fraternos em despojado convívio semanal. Nada como partilhar a rotina de pessoas legendárias para assimilar seus sinais distintivos. Penetrar sua intimidade e descobrir qual é, na realidade, o seu temperamento, caráter, atributos e idiossincrasias.
Foram 12 as defecções nesse período, todas resultantes da morte, a inevitável. Mas a sucessão repôs às 40 cadeiras a consistência da erudição e preservou a mágica das eleições, sempre a atrair talentos dignos de habitar o panteão da imortalidade. Assegurou-se a permanência ininterrupta de sonho que, na França, consolidou-se no século 17.
Coube-me reconstruir o auditório, que ruiu logo no início da gestão. Constatei a dificuldade na obtenção de recursos do mecenato e a falácia dos esquemas normativos que prometem alavancar a cultura.
Os contribuintes com capacidade econômica de incentivar iniciativas institucionais canalizam seus recursos para seus próprios mecanismos. Mas encontrei as portas abertas do governo de São Paulo, que propiciou integral restauração da sede histórica, hoje tombada pelo Condephaat e merecedora de visitação. O espaço térreo está pronto para sediar várias modalidades de eventos, no centro revitalizável que não dispõe de tantas opções.
A continuidade das obras ampliará o espectro de utilização de outros espaços, novamente com dinheiro do povo paulista.
Sem dinheiro para grandes celebrações do seu primeiro centenário -a APL foi instalada em 27/11/ 1909-, recorreu-se à generosa hospitalidade dos que aceitaram homenageá-la. Dezenas de eventos menores se sucederam, coloquiais e com efusiva afetividade.
Esse périplo itinerante permitiu à Academia entrosar-se com muitas instituições, mostrar-se para o governo, para o Congresso, para os tribunais e para amigos das letras. Para eternizar o transcurso, foram publicados dois livros: "Centenário da APL" e "O Mito das Academias", ambos editados com o elevado esmero da Imprensa Oficial.
A Academia Paulista de Letras optou, nas três últimas gestões, por consolidar a abertura à comunidade. Quer se comunicar com todos, principalmente com a infância e a juventude. Não é clube fechado nem despretensioso chá de amigos.
A orientação prevaleceu por maioria expressiva, a resultar em reeleição e a culminar em uma sucessão tranquila, sob o comando de Antonio Penteado Mendonça, partícipe ativo da diretoria nas duas gestões anteriores.
Augura-se à nova diretoria que consiga intensificar atividades que justifiquem e comprovem a atualidade e permanência de uma ideia polêmica e sempre desafiadora: selecionar quatro dezenas de pessoas para representar a cultura de uma unidade da Federação com quase 50 milhões de habitantes.


JOSÉ RENATO NALINI, mestre e doutor em direito constitucional pela USP, é presidente da Academia Paulista de Letras e desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

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VLADIMIR SAFATLE


Fonte: folha.uol.com.br 07/12

Fascismo suíço



Todos conhecemos o peso das palavras. Mas qual nome dar a uma sociedade cada vez mais marcada pela exploração política do medo do outro, pela estigmatização de estrangeiros e pela obsessão identitária? O dicionário político do Ocidente criou um duro nome para tal deriva autoritária.
Se lembrarmos dele, talvez sejamos obrigados a dizer que um fantasma assombra a Europa: o fantasma de uma nova forma de fascismo ordinário.
A Suíça assumiu a vanguarda desse processo. Há alguns dias, ela jogou na lata de lixo o que restava de sua democracia ao aprovar, por plebiscito, uma lei de dupla pena para crimes cometidos por estrangeiros. Um imigrante que, por exemplo, assalte um banco suíço especializado em lavagem de dinheiro, terá de cumprir a pena prevista no Código Civil e, posteriormente, ser expulso do país. Ou seja, ele cumpre uma dupla pena.
Tal aberração jurídica simplesmente quebra o princípio fundamental da democracia, a saber, a isonomia diante da lei. A noção de que todos, à exceção de inimputáveis, como as crianças e os loucos, estão submetidos às mesmas leis é a base da democracia. Mas, ao criar leis especiais para crimes de imigrantes, a Suíça quebra a isonomia entre delitos e penas e instaura um regime de discriminação legal.
Os helvéticos já tinham colocado um pé fora da democracia ao aprovarem, novamente por plebiscito, uma lei que proibia a construção de minaretes em mesquitas muçulmanas. Segundo eles, tais minaretes representavam o desejo expansionista e belicista do islã.
Cartazes associando minaretes a mísseis foram espalhados pelos alpes. Com isso, eles quebravam a ideia de que todas as religiões devem ter o mesmo tipo de tratamento pelo Estado (e, se for para falar em belicismo religioso, nenhuma religião passa no teste). Talvez o próximo passo seja a simples interdição para a construção de mesquitas. Afinal, para alguns, muçulmano bom é muçulmano invisível.
Que tais leis aberrantes tenham sido aprovadas por plebiscito só demonstra uma distorção intolerável do mecanismo plebiscitário. A noção de plebiscito tira sua legitimidade da ideia de que a soberania popular se manifesta como totalidade. Ou seja, a totalidade da sociedade, que se organiza de maneira igualitária, exprime sua vontade.
Mas leis discriminatórias contra grupos religiosos, raciais ou nacionais quebram a noção de totalidade igualitária da vida social, inaugurando uma lógica de massacre de minorias pela maioria. Por isso tais leis nunca poderiam ser objeto de um plebiscito.
Aqueles que realmente se preocupam com a democracia talvez devessem voltar seus olhos para Suíça, Holanda, Itália, Dinamarca. De lá vem a verdadeira ameaça.

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"A vitória é sempre de quem tem a melhor história"

Fonte: CONJUR.COM.BR 06/12

"As pessoas gostam de uma boa história, não importa se é verdadeira ou não. Muitas vezes, a melhor história vence, mesmo que são seja a melhor para o país." Quem diz isso é ex-crítico de arte e atual colunista político doThe New York Times, em entrevista ao jornalista Jorge Pontual para o programa Milênio, da Globo News. Com a frase, Rich explica a atual tendência dos americanos, e que é também dos brasileiros, de transformar a atividade política e social em espetáculo do showbusiness. Explica também o sucesso de Barack Obama na campanha eleitoral e a sensação de decepção que provocou no desempenho da presidência. "Ninguém teve história melhor do que Barack Obama. Agora, que ele está no governo e ela não pode se contada, a história ficou mais confusa e o prejudicou."

O Milênio é um programa de ideias e de inteligência, no qual jornalistas da Globo News entrevistam pensadores do mundo inteiro, sobre os mais diversos assuntos. O programa é exibido às 23h30 de segunda-feira, com reapresentação às terças (3h30; 11h30 e 17h30), quartas (5h30) e domingos (7h05).

Leia abaixo a transcrição da entrevista com Frank Rich, feita por Jorge Pontual, transmitida originalmente pelo Milênio, no dia 25 de outubro:

Jorge Pontual: Frank Rich, já foi crítico de TV, cinema e de artes cênicas. Hoje é um dos comentaristas políticos mais influentes nos EUA. Sua coluna semanal no The New York Times é lida por mais de cinco milhões de pessoas (nas versões impressa e digital).

O correspondente Jorge Pontual foi até a redação do NYTimes para conversar com Rich sobre a importância das eleições legislativas nos EUA (que aconteceram no dia 2 de novembro e deram uma esmagadora vitória ao Partido Republicano) e um fenômeno em particular: o fortalecimento da extrema direita conservadora, representada pelo Tea Party (que ganhou esse nome por causa de um movimento de protesto em fins do século XVIII) e o que esse movimento pode vir a representar para o futuro imediato pós-eleitoral nos EUA. Rich foi um dos primeiros analistas políticos a chamar a atenção para o fenômeno de ascenção dessa nova direita conservadora dentro do Partido Republicano. "Ninguém teve história melhor do que Barack Obama. Agora, que ele está no governo, a história ficou mais confusa e o prejudicou."

Frank Rich também analisou o delicado momento político pelo qual passa o presidente Obama e comenta como os políticos nos EUA estão agindo cada vez como atores canastrões de TV. E fazem sucesso assim!

Jorge Pontual — É ótimo o senhor ter começado como crítico de teatro e ter se tornado crítico de política. Os dois têm muito a ver. Teatro e democracia política surgiram em Atenas.
Frank Rich
— Sempre houve relação entre teatro e política. No passado, a era eletrônica teve início com o crescimento do rádio, há quase um século, e chegou a um ponto em que hoje em dia, parece não haver qualquer barreira entre o showbiz em geral e os políticos. Principalmente nos EUA, onde o showbiz é a religião nacional não-oficial.

Jorge Pontual — O senhor citou uma das leis da democracia política: a melhor história vence.
Frank Rich —
As pessoas gostam de uma boa história, não importa se é verdade ou não. Muitas vezes, não necessariamente para o bem do país, a melhor história vence. Às vezes, quando a história não se sustenta, você se encrenca. Ninguém teve história melhor do que Barack Obama. Foi uma das melhores e mais inspiradoras histórias americanas. Agora, que ele está no governo e ela não pode se contada, a história ficou mais confusa e o prejudicou.

Jorge Pontual — Precisamos falar das eleições nos Estados Unidos. É difícil para um correspondente estrangeiro, como eu, explicar aos meus espectadores a política americana. Por exemplo, o Tea Party. É como a festa do chá de Lewis Carroll? Não. Não envolve chás, nem festinhas, envolve chapeleiros malucos e loucos de ódio. Quem são essas pessoas? Por que têm tanta raiva?
Frank Rich —
É difícil explicar o movimento Tea Party, porque há muitos elementos e eles não necessariamente combinam entre si. O movimento começou quando um comentarista de um canal de TV paga, Rick Santelli, um mês após a posse de Obama, estava berrando no ar sobre a ajuda financeira do governo com as hipotecas de proprietários de imóveis. Não os bancos.

Jorge Pontual — Um repórter, ao vivo.
Frank Rich — Ao vivo, de Chicago. Ninguém o conhecia. As pessoas começaram a se unir ao redor dos protestos furiosos dele. Um grupo formado sobretudo por homens brancos e mais velhos. Acabou se tornando uma frase de impacto, no início, para o ódio contra Obama. Em parte, era racial, em parte, era ódio da direita porque um político liberal tinha chegado à presidência e encerrado a era Bush, pelo menos no momento. Com o tempo, foi criando uma metástase ainda mais estranha. Por um lado, ainda existia o extremismo clássico que vemos no mundo todo, o aspecto intolerante da direita. Por outro lado, também havia pessoas apenas com raiva. Em certos casos, com razão, mas sem saber contra o que direcionar a raiva. Era raiva do alto desemprego, do fato de recuperação econômica não parece real nos EUA, exceto em Wall Street. Não sabiam de quem ter raiva. Seria do Obama? Não queriam ter raiva do governo Bush, mesmo que ele tenha resgatado os bancos. Deveriam ter raiva de Wall Street? Era muita raiva não-direcionada e, às vezes, desinformada. É espantoso, nos encontros doTea Party, as pessoas dizem que o governo é grande demais e deveria tirar as mãos do Seguro Social e do Medicare, que é o programa de assistência médica e previdenciária do governo. De fora, a maneira certa de se ver é: há raiva nos EUA. Em parte, devido à eleição de Obama. Boa parte tem a ver com a sensação de declínio econômico e pânico, pessoas perdendo casas e empregos e nenhuma solução em vista. Historicamente, nos EUA, mas não apenas nos EUA, com esse tipo de angústia econômica, geralmente vemos pessoas buscando bodes expiatórios e voltando-se contra o governo para atacá-lo.

Outro aspecto político esquisito é que o Partido Republicano é um partido amplamente branco e conservador. No entanto, parte do Tea Party está à direita dos republicanos. O mais chocante para quem acompanha a política americana foi que, durante as eleições primárias, quando os republicando estavam escolhendo candidatos para o Senado e os governos estaduais, o candidato republicano do sistema que já é muito conservador, muitas vezes perdeu até para pessoas loucas, como alguém que lida com bruxaria, alguém que quer fazer um retrocesso no Seguro Social, na Lei dos Direitos Civis, que deu direitos aos afro-americanos na década de 1960. Querem mudar a Constituição. É um movimento muito diversificado e conservador.

Outro fator muito interessante foi que ele começou como um movimento populista. As pessoas que reagiram a Rick Santelli [comentarista do canal de televisão pago CNBC, especializado em economia e negócios, que em 2009 iniciou campanha contra medidas de caráter social do governo de Barack Obama] e começaram a fazer reuniões chamadas de Tea Party, referindo-se àTea Party em Boston, da Revolução Americana, que não tinha nada a ver com isso, talvez apenas os impostos. Começou como uma organização popular, mas, como quase tudo nos EUA, logo atraiu dinheiro. Uma das maiores revelações se deu nos últimos meses. Alguns dos maiores bilionários americanos do petróleo...

Jorge Pontual — Como os irmãos Koch.
Frank Rich —
Exatamente. Os irmãos Koch e outros estão financiando o movimento. Estão pagando, fazendo contribuições. Seus interesses econômicos não são necessariamente os mesmos das pessoas que berram nas ruas.

Jorge Pontual — No Brasil, acabamos de eleger deputado um palhaço profissional de TV com 1,4 milhão de votos, um recorde na história brasileira. Mas aqui também há figuras semelhantes. Um deles, que não é candidato, é Glenn Beck, uma figura televisiva importante, de grande influencia no Tea Party. Por que esse interesse por personagens cômicos?
Frank Rich —
Glenn Beck é interessante. Por um lado, ele é cômico, por outro lado, chora muito na TV, é muito emotivo. Pode ser fingimento, mas ele faz isso. É quase uma personalidade de commedia dell’arte em seus vários humores. Nos EUA, há um histórico de artistas que entram para a política. O mais famoso foi Ronald Reagan. Reagan não era palhaço, mas era ator, cuja personalidade foi construída em cima dos papéis que teve em Hollywood. O papel desempenhado por Glenn Beck, uma personalidade do rádio e da TV, é uma tradição americana. Na década de 1930, havia um pastor de rádio, o padre [da Igreja Católica]Charles Coughlin, que começou apoiando Roosevelt, mas se tornou um populista antissemita de direita. Bem antes de Rush Limbaugh [apresentador de programa de rádio popular e ultraconservador], quando eu era garoto, havia pessoas já esquecidas hoje, como Joe Pyne, uma grande personalidade de direita de rádio. É um tema recorrente na política americana. Outro ponto interessante é que, na época áurea da louca organização de direita chamada John Birch Society, nos anos 60, que produziu Barry Goldwater [(1909-1989), senador republicano ultra-conservador pelo Arizona com mandatos de 1953 a 1987] , também havia personalidade famosas de rádio, principalmente no Sul, no Texas, promovendo essa ideologia cômica porém amedrontadora.

Jorge Pontual — O eleitorado do Tea Party são homens brancos com raiva.Frank Rich — Exato.

Jorge Pontual — Mas a maioria dos candidatos, ou muitos daqueles que estão em evidência, são mulheres. Sarah Palin [governadora do Alasca de 2006 a 2009, e candidata vice-presidente na chapa republicana encabaçada por John McCain e derrotada por Barack Obama em 2008]é a rainha delas. Quem são essas mulheres que têm tanta raiva e poder?

Frank Rich — Lembre-se de que o Partido Republicano, institucionalmente, foi contra o feminismo, foi contra a Emenda da Igualdade de Direitos, ainda é contra o direito da mulher ao aborto... Portanto, não atraiu muitas lideranças femininas. Havia algumas, sempre houve. Agora, são muitas e não há nada de errado nisso. Elas são uma novidade no partido. Talvez esse partido um dia também inclua negros! Ainda não chegaram lá. Mas é uma novidade. Também é novidade para a mídia. O sucesso de alguém como Sarah Palin é complicado. Ela não era muito popular nas pesquisas eleitorais. O índice de popularidade dela era baixíssimo, mesmo comparado ao de outros republicanos que pudessem disputar a indicação com ela. Mas ela é divertida, se sai bem na TV e saiu do nada, o que os EUA adoram. É como American Idol [programa de calouros de grande sucesso na televisão americana]. Adoramos reality shows, concursos de talentos, estrelas instantâneas do cinema ou da política. Ela ainda é uma novidade. O país não a conhecia quando ela entrou na chapa com John McCain. Não faz muito tempo, foi há dois anos. Aina a estamos conhecendo, e ela foi muito astuta ao se autopromover.

Jorge Pontual — Ela tem uma história boa.
Frank Rich — Muito boa. Descobrimos que parte dela não é verdade, mas isso é normal. Ela parece uma pessoa da classe operária que subiu na vida graças ao próprio esforço. Na verdade, ela vem da classe média. Os pais eram professores. A história conta que ela disse “não” ao governo do Alasca, porque não aceitaria verba federal para um projeto maluco que desperdiçaria o dinheiro do contribuinte. Mas pegou todo dólar que pôde para o Alasca, quando foi governadora e prefeita lá. Boa parte da história continua sendo ficção. Mas histórias fictícias podem funcionar. Ronald Reagan, por exemplo, acreditava piamente que havia servido na 2ª Guerra Mundial, mas ele ficou nos EUA fazendo filmes para os militares, o que não é bem o mesmo que estar lá no Dia D.

Jorge Pontual — Ele acreditava que tinha ido à guerra.
Frank Rich — Ele acreditava e... Uma coisa interessante nos EUA, boa ou ruim, é que o povo se apaixona pelas lendas. Há uma frase famosa no filme O homem que Matou o Facínora, de John Ford: “Já sabe a verdade. Publique a lenda.” É o que acontece aqui toda hora.

Jorge Pontual — Vamos falar de Obama. Como você disse, ele tinha uma ótima história. O que saiu errado com ele?
Frank Rich — Primeiro, não está definitivamente errado. Ele fez conquistas importantes. Ele aprovou a lei de estímulo econômico. Provavelmente salvou milhões de empregos, mas é difícil provar isso, quando há tantos desempregados. Ele também continuou o que teve início com Bush, uma ajuda aos bancos para estabilizar Wall Street e, talvez, impedir uma imensa depressão. E ele aprovou a reforma da Saúde com alguns pontos bons e outros nem tanto. Pelos padrões de presidentes americanos recentes, são imensas conquistas legislativas. Mas a maioria das pessoas não se deixa levar por isso.
O fascinante é que um presidente que contou uma história tão boa na campanha, que arrebatou os americanos, não tornou-se um comunicador tão bem-sucedido enquanto presidente. Esse não é o único problema. O foco mudou. Ele deveria ter dado mais ênfase aos empregos, ter falado mais de empregos e menos de bancos, enquanto tentava a recuperação. Ele cometeu alguns erros. Mas, lembre-se, ele ainda é, de longe, mesmo que o índice de aprovação esteja mais baixo do que nunca, o político mais popular nos EUA. Mesmo com um índice de aprovação é de 45% ou 46%. Os democratas, os republicanos no Congresso, todos os republicanos, incluindo Sarah Palin, Mitt Romney [pré-candidato a presidente pelo Partido Republicano em 2008 e possível pré-candidato nas próximas eleições em 2012] , são todos menos populares que Obama. A única pessoa mais popular que ele é Michelle Obama.

Jorge Pontual — Quando Obama foi eleito, compararam ele a Roosevelt, os cem primeiros dias e toda a ambição dele... Mas o que ele não fez tão corretamente quanto Roosevelt?
Frank Rich — Por incrível que pareça, acho que Roosevelt, que era membro de carteirinha da aristocracia americana, não tinha medo de enfrentar seu próprio grupo econômico. Ele disse que recebia bem o ódio dos bancos, recebia bem o ódio daqueles em Wall Street que se opusessem à reforma. Roosevelt não era radical. Ele era da aristocracia, não pretendia transformar os EUA em nação socialista, mas queria implementar reformas que, mas tarde, salvaram o país.
Com Obama, é algo com a personalidade. É uma ótima personalidade para se ter na vida, mas não como presidente. Ele quer sinceramente ser conciliador. Ele quer reconciliar as pessoas, não gosta de confrontos e não gosta de raiva, apesar de ser capaz de senti-la. Ele pode ser razoável demais às vezes, e disposto demais a conciliar as diferenças. Um exemplo clássico é o plano de ação no Afeganistão. Ele não fez nada que não tenha dito que faria. Ele disse que intensificaria a guerra, mas, ao tentar encontrar um meio-termo entre generais que queriam intensificar demais e pessoas do governo dele, incluindo [o vice-presidente] Joe Biden, que queriam começar a retirada, ele criou um plano anfíbio que não está funcionando. É um compromisso entre os dois lados, mas, na questão prática da guerra e da retirada, talvez não funcione, pois é apenas um plano. Mas ele é um homem muito inteligente. Só tem dois anos no governo ou nem isso. Não deveria ser subestimado. Esperamos que, depois das eleições legislativas [de 2 de novembro último], ele faça algumas correções, seja qual for o resultado.

Jorge Pontual — O senhor escreveu que, não importa quem vença, todos perderão nos EUA.
Frank Rich — Sim, porque o que acontece agora é que há tamanha polarização, uma atmosfera política tão venenosa, que as pessoas não estão pensando com clareza em nenhum partido, sobretudo no republicano. O Partido Republicano não propôs solução para nada do que aflige os americanos. Eles só dizem: “Obama é terrível, os democratas são terríveis e vamos cortar impostos”. Não é cortando impostos que se recuperam empregos, quando toda a economia está mudando, pois há mudanças estruturais nos empregos em todos os setores da economia. A manufatura não vai existir mais. E o que os republicanos fazem? Atacam Obama por ajudar a indústria automotiva, o que de fato foi uma coisa boa, pois era um dos últimos pontos que poderiam gerar muitos empregos no setor industrial. Agora, temos uma atmosfera em que nada é feito. A disputa vai ficar bem acirrada no Congresso. Mesmo que os democratas se sustentem, o que não deve acontecer, será muito próximo. Todo mundo vai brigar. As pessoas se zangam com todo o sistema, mesmo no Partido Republicano. Algo interessante no Tea Party é que eles formaram uma nova estrutura econômica para financiar campanhas, porque não confiam no Comitê Republicano Nacional, o Partido Republicano oficial. Há grandes divisões no Partido Democrata, os partidos estão se atacando. Enquanto isso, temos um país que caminha mal. Também temos muita agressividade, fala-se muito em violência e há repetidos relatos de levantes do tipo dos movimentos de milícia armada contra o governo que precederam o atentado a bomba em Oklahoma, nos anos 1990. Nesse sentido também, os EUA estão perdidos. Isso precisa ser reprimido por quem estiver no comando.

Jorge Pontual — Obama também foi comparado ao ex-presidente Carter, que tinha o discurso sobre a indisposição americana. Os EUA estão de novo passando por essa indisposição? Isso explica a situação? Como o senhor vê o que as pessoas chamam de declínio do império americano? O declínio do país.
Frank Rich — Primeiro, acho que a comparação com Carter é uma piada. As comparações entre Obama e Carter são simplistas. Carter fez mesmo um discurso dizendo que os EUA iam de mal a pior, o discurso da indisposição. Obama teve a consciência de não adotar essa tática. Existe na imprensa e, entre especialistas, pessoas que escrevem, como eu, a sensação de que os EUA estão em declínio, há o medo da China... Mas há muita gente boa nos EUA, que acha que está dando certo. Mas o desemprego, que afeta todo mundo, principalmente a classe média... Há um grupo cada vez maior entrando na pobreza. Eles nem estão no radar dessas eleições. Foram esquecidos por ambos os partidos, porque não votam, e isso é uma tragédia. Também há pessoas da classe média, incluindo na minha área, a dos jornais, que perderam o emprego. Todo mundo perdeu o emprego. Isso atrai tanto a atenção que é difícil pensar na grande promessa dos EUA quando sua preocupação é não ter acesso a serviço de saúde, não poder pagar sua hipoteca e manter a casa. Essa é a situação. É uma grande nuvem, a nuvem da depressão. É recessão, não depressão. Um dos erros de Obama tem sido não dar voz aos que sofrem. Ele fez isso esporadicamente, mas gastou tempo demais no primeiro ano de presidência, quando não estava melhorando. Estava melhorando para os bancos. Mas, se não melhorasse para os empregos, ele mandava Larry Summers [secretário do Tesouro no governo de Bill Clinton e um dos principais conselheiros econômicos de Obama] ou Tim Geithner [secretário do Tesouro], que diziam: “Sem exagerar, houve melhora.” Emprego é um indicador variável. Não significa nada para o povo. Bill Clinton não teria ficado satisfeito com isso. Bill Clinton tinha pontos fortes e fracos. Roosevelt também. Esse tipo de empatia... Obama era um organizador comunitário, ele obviamente sente isso. A mãe dele dependia das agências de bem-estar social. Então, ele entende isso. Por que ele não conseguiu, consistentemente, passar essa mensagem de empatia aos americanos? Fico abismado. Não sei a resposta.

Jorge Pontual — Por falar na recessão e nos jornais, o que está havendo com jornais como o New York Times, o de maior sucesso online? Não estão dando lucro?
Frank Rich — A grande questão dos jornais de qualquer lugar é descobrir como lucrar se as pessoas leem online. Cada vez mais, as pessoas leem online. O que aconteceu com o jornal impresso nos Estados Unidos foram duas tempestades, sem relação entre si, que ocorreram simultaneamente. A que citamos, o aumento da digitalização. A percepção de que as gerações futuras e os jovens de hoje, provavelmente, não lerão jornais impressos. Eles ainda querem o que um ótimo jornal tem, mas de forma diferente. Como se paga por isso? Todos estão empenhados em descobrir. O New York Times, ano que vem, vai começar a cobrar pelo conteúdo do site. Veremos. Por coincidência, a crise econômica aconteceu simultaneamente. É um fato à parte. No momento em que jornais como o NY Times, o Wall Street Journal, o Washington Post, ou revistas jornalísticas, como a New Yorker, revistas caras, pensavam em como lidar com o problema digital, como dar esse passo, eles perderam anúncios, porque as pessoas pararam de comprar roupas e jóias na Saks Fifth Avenue, na Tiffany ou na Chanel, ou carros da Mercedes-Benz. Por questões não relacionadas ao fator digital, perderam toda essa publicidade. Perderam anúncios de imóveis e de empregos. Estou um pouco menos pessimista do que antes, mas acho que tão importante quanto descobrir como ganhar dinheiro com digitalização, será a recuperação econômica do país como um todo. Precisamos das duas coisas. Ninguém sabe. Cobrar por um jornal digital é mais fácil do que descobrir o que aconteceu com a economia americana. Todas as previsões estavam erradas, inclusive a da gestão Obama, que disse que o desemprego seria no máximo de 8,5%. Tudo estava errado em ambos os lados. Vamos esperar para ver.

Jorge Pontual — O Senhor é crítico e analista. Para estudantes de jornalismo interessados nisso, em vez de apenas passar uma notícia, como se faz uma análise?
Frank Rich — Cada um faz de uma maneira, só posso falar da minha. O que sempre digo aos jovens, a jovens jornalistas ou a quem quer ser jornalista é: “sua opinião é o aspecto menos importante”. Qualquer pessoa pode amar ou odiar Obama, amar ou odiar Bush. O importante é você usar a reportagem, usar as fontes, usar a pesquisa para encontrar uma explicação para o que está acontecendo. Contar uma história. É o que você faz. É importante abrir uma discussão, mas o que eu gosto de fazer, que pode ter vindo da minha experiência em teatro, é me distanciar e perguntar: “Qual é a trama?” Não com relação aos políticos, mas ao país. Por que existe esse clima agora? Por que a população vota nessa pessoa? Por que ninguém aqui liga para a guerra no Afeganistão? Não está nem nas pesquisas. Mais americanos são mortos agora do que antes. Mas não vira notícia. Por quê? A resposta nunca é “sim” ou “não”. É fácil ter opinião sobre algo. Mas deve-se analisar a cultura. Acredito em analisar a cultura e a notícia, a política, tentando achar um movimento na história. Para mim, essa é a graça. Eu escrevo uma coluna de 1.500 palavras, adoro escrever uma narrativa. Não seria divertido apenas dizer: “Obama é ótimo” ou “Obama é terrível”, fazer uma lista do que gosto ou não. Gosto de entender como tudo funciona.

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