domingo, 5 de dezembro de 2010

Revolução na educação pública

Fonte: folha.uol.com.br 05/12

Apenas com o apoio da população poderemos cobrar da classe política as medidas imprescindíveis para atacar de frente esse grave problema



JAIR RIBEIRO


Sinceramente, não entendo por que mais pessoas não se sentem revoltadas diante das condições da educação pública neste país.
Somos uma nação em que cerca de 50% das crianças brasileiras da 5ª série são semianalfabetas. Dos 3,5 milhões de alunos que ingressam no ensino médio (antigo colegial), apenas 1,8 milhão se formam.
Como consequência, todos os anos nós jogamos milhões e milhões de adolescentes despreparados no mercado de trabalho, sem qualquer perspectiva de ascensão social e econômica.
Isso não lhe causa indignação?
Essas estatísticas refletem décadas -ou melhor, centenas de anos- de descaso com a educação.
Nós, brasileiros, políticos e sociedade civil, simplesmente não priorizamos a educação.
Com isso, impedimos que o país melhore a sua desigualdade social, reduza a violência ou mesmo consiga sustentar uma taxa de crescimento mais estável.
As estatísticas recentes demonstram que o sistema não apresentou uma melhora significativa nos últimos anos. Nesse ritmo, jamais atingiremos o nível de educação dos países desenvolvidos em 2022, como propõe o governo.
Mesmo porque trata-se de uma meta móvel: até lá, os demais países terão avançado substancialmente mais. Precisamos de uma verdadeira revolução na educação pública brasileira.
Os Estados Unidos a fizeram em 1870, ou seja, há 140 anos! Em uma década, dobraram o investimento na educação pública e universalizaram o ensino. Em 1910, todas as crianças tinham acesso a uma escola de período semi-integral.
Outro exemplo conhecido é o da Coreia. Na década de 70, iniciaram uma verdadeira revolução na qualidade da educação pública. Com isso, saíram de um PIB per capita abaixo do brasileiro para um dos mais altos do mundo em menos de duas gerações.
O modelo mais recente é o chinês. Muito se fala nos investimentos em infraestrutura, mas pouco se divulga o enorme esforço educacional chinês, do ensino primário aos cursos de doutorado.
Mas o que podemos fazer? Primeiro, conscientizar a população em geral para o verdadeiro desastre que é nossa educação pública. Apenas com o apoio da população poderemos cobrar da classe política as medidas revolucionárias (já amplamente conhecidas dos experts em educação) imprescindíveis para atacar de frente o problema.
Em segundo lugar, envolva-se pessoalmente. Educação pública é uma questão por demais relevante para se deixar apenas na mão do Estado. Há inúmeras ONGs de excelência que contribuem para a melhoria do quadro educacional brasileiro (por exemplo, o Instituto Ayrton Senna, a Fundação Bradesco ou mesmo a nossa Parceiros da Educação, para nomear algumas).
Participe delas, como voluntário ou mantenedor. Quanto mais envolvido com a realidade da educação pública, mais consciente você estará dos nossos desafios.
Precisamos de mais aliados nessa revolução!


JAIR RIBEIRO, empresário, é co-coordenador da Associação Parceiros da Educação, ONG que promove a parceria entre escolas públicas e empresários.

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Transição

Fonte: correioweb.com.br 05/12

Os últimos passos do presidente

Agenda repleta de compromissos, com inaugurações, balanços e viagens pautará a despedida de Lula do poder

O último mês do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cargo não vai ter o marasmo que costuma caracterizar os momentos finais de chefes de Estado. O petista fez questão de organizar uma agenda movimentada para o dias que restam à frente da Presidência da República. Viagens, inaugurações, encontros e balanços. Os compromissos são tantos que a equipe responsável por montar a ordem das atividades ainda tenta solucionar a difícil equação de organizar muitas pendências em pouco tempo. Por isso, parte das datas ainda não foi definida. Afastando a possibilidade de que participe somente de encontros protocolares, Lula decidiu, inclusive, fazer participações inéditas em atos.

Lula vai, por exemplo, pela primeira vez desde que assumiu a Presidência, participar do balanço dos últimos quatro anos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Essas prestações de contas já foram coordenadas pela presidente eleita, Dilma Rousseff. Este ano, tiveram o comando de Miriam Belchior, escolhida para ser a próxima ministra do Planejamento. Apesar da importância do ato, que contempla o programa considerado por Lula como o mais importante da gestão petista, o presidente não deve discursar na ocasião.

Ainda nos compromissos dedicados a fazer balanços sobre os dois mandatos de Lula, no próximo dia 15, no Palácio do Planalto, o presidente e ministros participam do ato de registro em cartório de tudo o que foi feito nos oito anos. Inicialmente, as ações de ministérios e outros órgãos ligados ao governo seriam colocados em seis volumes de 500 páginas cada. No entanto, na disputa entre os chefes das pastas para ver quem impressiona mais ao presidente, é possível que esses livros tenham edições mais robustas. Este, possivelmente, será o último encontro formal de Lula com todos os ministros.

O presidente também tem despedida marcada com parlamentares da base aliada. Os políticos que ajudaram a garantir a governabilidade de Lula ao longo dos oito anos vão encontrar o petista em duas ocasiões. Primeiro, num jantar com peemedebistas na casa do deputado Eunício Oliveira (PE) para as bancadas do PMDB na Câmara e no Senado. Depois, num café da manhã para integrantes do PT, em lugar e data ainda não definidos.

Viagens
Lula tem, ainda, viagens marcadas antes de passar a faixa a Dilma Rousseff. Ele volta ao Rio para inaugurar obras do PAC no Complexo do Alemão e entregar casas na favela da Rocinha. O presidente vai, pela última vez no cargo, à reunião da Cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu (PR). Lula passará, ainda, pelas construções das ferrovias Leste-Oeste, Norte-Sul e Transnordestina, além de obras relacionadas ao Rio São Francisco.

No Natal, o evento com catadores de lixo, em São Paulo, do qual costuma participar, deve incluir Dilma a tiracolo . O último ato oficial fora da capital ficou para Pernambuco, estado natal de Lula. Lá, ele deve inaugurar uma agência do INSS. O futebol, paixão de Lula, não podia ficar de fora. Amanhã, ele participa da entrega do prêmio Craque Brasileirão 2010, no Rio de Janeiro.

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Segurança financeira da TV afasta de vez alguns autores dos palcos

Fonte: folha.uol.com.br 05/12

A trajetória de Maria Adelaide Amaral, 68, mostra que se pode cumprir o traslado entre teatro e televisão conservando as marcas autorais e, ao mesmo tempo, criando histórias de amplo alcance, comunicação imediata.
De uma primeira dramaturgia revestida de preocupações sociais, ela saltou para crônicas de desencontros amorosos e ensaios sobre a alma feminina. Na TV, depois de colaborações em novelas, firmou-se como autora de minisséries históricas elogiadas pela crítica e bem recebidas pelo público.
A exceção foi "Os Maias" (2001), adaptação da obra de Eça de Queirós, que teve audiência abaixo do esperado:
"Me irritei nesta época. Mas nada a ponto de pensar em voltar para o teatro, mesmo por que não há caminho de volta. Como viver de uma atividade que desde os anos 90 se limita a três ou quatro sessões por semana?", questiona ela, por e-mail.
Maria Adelaide diz que continuou a escrever teatro, mas cada vez menos, sobretudo depois de se tornar autora titular, em 1997. "Sobra pouco tempo para outras atividades", argumenta.
O caminho também parece não ter volta para Camilo Pellegrini, que emenda uma novela na outra há cinco anos. "O fator financeiro é determinante. Não consegui mais escrever para teatro. Tenho duas peças inacabadas há dois anos. Não tive mais o ímpeto, porque demora uns três meses", ele diz. "O teatro é uma delícia, mas ficou inviável para mim."
Sérgio Roveri reverbera a preocupação. "Com uma peça indicada a três prêmios Shell em cartaz por três meses, ganhei R$ 300. É duro falar isso, parece mercantilista. Quando você vê que a nova cena se faz de gente que escreve nas horas livres, é triste. Ainda assim, não dá para deixar de fazer a outra parte [teatro], aquela vocação inicial que fez com que o resto acontecesse."(LN)

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Coleção traz obra que é base da noção moderna de democracia
Fonte: folha.uol.com.br 05/12


"Do Contrato Social", de Rousseau, chega às bancas em 12/12

"O ser humano nasce livre e em toda parte está a ferros. Aquele que mais se crê senhor dos outros não deixa de ser mais escravo do que eles."
Com a afirmação de impacto, começa o primeiro capítulo de um clássico da teoria política: "Do Contrato Social", de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). A tradução é de Edson Bini.
O livro é o 14º volume da Coleção Folha Livros que Mudaram o Mundo, que chega às bancas em 12/12.
Rousseau nasceu na Suíça e seu pai, o relojoeiro huguenote Isaac Rousseau, desde cedo estimulou-lhe o amor pelas letras e pela música.
A música ocupou papel significativo na vida dele: em 1752, sua ópera bufa "Le Devin du Village" ("O Adivinho do Vilarejo") encantou o rei francês Luís 15. O monarca ofereceu a ele uma pensão vitalícia, que Rousseau preferiu não aceitar.
Embora tenha feito muito sucesso, a peça desapareceu do repertório e hoje não passa de uma curiosidade. Contudo o espírito de independência que levou Rousseau a recusar a pensão real animava também os seus escritos, e foi como filósofo e pensador político, a influenciar a Revolução Francesa e a Revolução Americana, que seu nome ficou para a posteridade.
Em "Emílio" (1762), que chegou a ser proibido e queimado no lançamento, reflete sobre a educação do ponto de vista da relação entre o indivíduo e a sociedade; na novela epistolar "A Nova Heloísa" (1761), lança as bases literárias do pré-romantismo; e, nas "Confissões" (1769), estabelece o paradigma moderno de autobiografia.
Publicado em 1762, em uma Europa regida pelo absolutismo, "Do Contrato Social" defende a igualdade entre os homens e a soberania popular, conceitos que se tornariam fundamentais para a noção de democracia.

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FERREIRA GULLAR

Justiça complacente

Fonte: folha.uol.com.br 05/12

Alguém em sã consciência acredita que um rapaz de 16 anos quando rouba ou mata não sabe o que faz?


"VIVEMOS NUM regime democrático, logo os presos têm direito a receber parentes, amigos, advogados e visitas íntimas", afirmou um jurista.
A pergunta é: os traficantes respeitam as normas do Estado democrático? Na verdade, os bandidos dominam as comunidades pobres, impõem a pena de morte a quem não os obedece, expulsam de casa os moradores quando lhes convém, enfim mantêm a comunidade sob terror. Ou seja, não respeitam os direitos de ninguém, mas, quando presos, gozam dos direitos democráticos que não respeitam.
Veja bem, não pretendo que os bandidos presos sejam tratados do mesmo modo que tratam suas vítimas; apenas pergunto se não seria mais equânime e sensato usar de maior rigor para impedir que, através das visitas, passem orientações e decisões que os mantêm atuando criminosamente.
A polícia do Rio encontrou, recentemente, uma carta entregue a uma visita por um preso da penitenciária de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, dando ordem a seus asseclas para desencadear os atentados que aterrorizaram a população da cidade do Rio. Não seria mais justo para com todos nós impedir que os chefes do tráfico continuem a comandar suas gangues de dentro do presídio?
Sei muito bem que pega mal dizer coisas como essas. Muitos temem opinar contra certas medidas, estatutos e leis que têm, teoricamente, como objetivo fazer justiça a determinados setores da sociedade.
Não faz muito tempo nossa Justiça decidia que o benefício da progressão da pena (cumpri-la fora da cadeia depois de algum tempo encarcerado) deveria ser estendido aos condenados por crimes hediondos, uma vez que a lei deve ser igual para todos. Depois, parece que voltou atrás e fez um remendo nessa decisão desastrosa.
O estatuto do menor é outra peça intocável. Todo mundo sabe que os bandidões usam menores de idade para consumar seus crimes porque para eles, na prática, não há punição. Se um menor, a seu mando, mata alguém, o máximo que lhe acontece é ser internado por três anos numa casa de recuperação, donde foge com a ajuda do próprio mandante. Mas vá dizer que o estatuto deve ser modificado! Será tachado de desumano e retrógrado.
Alguém acredita, em sã consciência, que um rapaz de 16 anos, quando rouba ou mata, não sabe o que faz? Não conheço ninguém que tenha a coragem de afirmá-lo, olho no olho. Mas os defensores do estatuto lançam mão de todo tipo de subterfúgio para mantê-lo intocado.
Agora mesmo, durante essa onda de terror que aterrorizou a população carioca, a polícia constatou que muitos dos autores desses atentados eram menores. Entravam armados nos ônibus, mandavam os passageiros descer, espalhavam gasolina no veículo e ateavam fogo. Tudo isso sem saber o que faziam.
Muitos deles, presos e encaminhados para uma casa de recuperação, de lá foram retirados pelas mães, que chegaram chorando e lamentando terem sido eles desencaminhados pelos traficantes. Em breve, estarão nas ruas tocando fogo em outros ônibus e assaltando, certos de que nada lhes acontecerá.
Semanas antes disso, em São Paulo, um menor atacou um rapaz, batendo-lhe violentamente com uma lâmpada fluorescente no rosto. Pertencia a um grupo de desordeiros que andava pela cidade agredindo pessoas. Quando o rapaz atingido, com o rosto sangrando, tentou revidar, foi espancado brutalmente pela patota e só se safou graças ao vigia de um prédio em frente. A polícia os prendeu, mas, na manhã seguinte, os que eram menores de idade foram soltos para, se o quiserem, voltar a cometer novas agressões.
Durante a tomada pelas forças policiais do Complexo do Alemão, aqui no Rio, foi preso o bandido Zeu, um dos matadores do jornalista Tim Lopes. Cortou-o aos pedaços e o assou num "micro-ondas". Não obstante, condenado, foi agraciado com a prisão-albergue. Saiu e não voltou mais.
Certamente, não se pode achar que todo jovem delinquente seja um bandido em potencial, mas a nossa tolerância com os criminosos é tal que se tenta aprovar, agora, no Congresso, uma lei para proteger os direitos da vítima, já que a legislação em vigor só cuida dos direitos do condenado. Vivemos numa democracia. O termo "demo" vem do grego e quer dizer "povo". Será que o povo está de acordo com uma Justiça que não o protege?

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