sábado, 11 de setembro de 2010

Falta de conversa eleva o número de mortes em UTI

Comunicação falha entre médicos causa atrasos fatais em procedimentos

Estudo com 792 doentes mostrou que taxa de mortalidade cai quando equipes fazem mais troca de informações


FSP 11/09

A falta de comunicação entre médicos de UTI pode aumentar a taxa de mortalidade, revela um estudo feito por grupo ligado ao Hospital Moinhos de Vento e à Universidade Federal de Ciências da Saúde, de Porto Alegre.
De tão grave, o problema é uma das prioridades da campanha lançada esta semana pela Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) com o objetivo de aumentar a segurança nas unidades de terapia intensiva.
"Certamente, a falta de comunicação é a primeira causa de eventos adversos em UTIs", diz Álvaro Réa-Neto, coordenador da campanha da entidade, que prevê reuniões em várias capitais. Um dos itens da cartilha é dedicado a essa questão.
O ambiente lotado de pacientes críticos, a correria dos profissionais e a falta de rotinas estabelecidas para disseminar as informações criam um terreno fértil para a comunicação truncada.

FALTA REUNIÃO
Entre os problemas mais citados estão a falta de encontros entre todos os profissionais envolvidos, os atrasos em procedimentos como o início de uma terapia com antibióticos, a retirada da ventilação mecânica e técnicas de prevenção da trombose venosa profunda.
Os especialistas notam também diferentes percepções do que é importante relatar, dificuldades que os membros mais jovens têm de questionar os mais velhos e visões diferentes de condutas dentro da equipe.
"Um dos grandes problemas é a comunicação entre diferentes profissionais. Nem sempre o que um transmite é o mesmo que é ouvido pelo outro", diz o médico especialista em medicina intensiva Cassiano Teixeira, um dos líderes do trabalho.
"A rotina ideal é aquela em que todos os participantes do caso conseguem se reunir em algum momento do dia para discutir o caso." Mas isso nem sempre acontece.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores gaúchos acompanharam 792 pacientes durante um ano e meio. Eles foram divididos em três grupos, conforme a frequência de comunicação entre os médicos-assistentes -que comandam o caso, mas não ficam o tempo todo na UTI- e os médicos rotineiros da unidade, responsáveis pelas complicações agudas.
A taxa de mortalidade foi de 26% no grupo que se comunicava raramente -que incluiu quase 10% dos pacientes. Naqueles em que as conversas eram quase diárias, a taxa ficou em 13%.
"O importante não é achar culpados, mas encontrar processos que levam a repetições de erros. Se não cuidar do processo, não adianta trocar pessoas", diz Réa-Neto.
"É uma questão de hábito, de boa vontade, mas muitas equipes ainda não desenvolveram esse hábito", observa Maria Ângela Gonçalves Paschoal, enfermeira-chefe da UTI do Hospital Santa Isabel e da Santa Casa de São Paulo.
Unidades com dez leitos têm, em média, dois médicos e dois enfermeiros por turno, e oito técnicos de enfermagem e dois fisioterapeutas.
Também circulam por ali médicos de outras especialidades, fonoaudiólogos, psicólogos e nutricionistas. Todos se revezam em turnos de quatro ou seis horas e plantões noturnos de doze horas.

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Paulo Martins, do Lá em Casa, morre aos 64

Chef, que era grande divulgador da culinária amazônica, foi vítima de parada cardíaca

FSP 11/09
Quando o mais famoso chef de cozinha da atualidade, Ferran Adrià, esteve no Brasil em 2008, incluiu em sua programação (que acontecia em São Paulo) uma esticadinha até Belém do Pará.
Ele queria conhecer a Amazônia, mas também visitar o chef de cozinha que se tornou o grande divulgador da gastronomia local, Paulo Martins, que morreu anteontem, às 4h50, aos 64 anos, vítima de parada cardíaca.
Martins era um símbolo da paixão e da erudição quando se tratava de cozinha regional da Amazônia, especialmente do Pará.
Arquiteto de formação, desde 1978 tocava o restaurante criado pela mãe, o Lá em Casa, o melhor do Estado, dedicado à cozinha regional.
Mas não se limitava ao trabalho de restaurateur. Convencido da importância cultural (e não apenas no paladar) da cozinha de sua terra, tornou-se incansável divulgador de produtos e receitas.
Esses mesmos que, vinte anos depois, passaram a deslumbrar chefs brasileiros, como Alex Atala, além de grandes chefs de outros países, como o próprio Adrià, que em seu restaurante El Bulli introduziu uma receita de maracujá com uma versão própria do tucupi.
No trabalho de divulgação, Martins conseguia envolver chefs de todo o país e, o mais difícil, autoridades e instituições governamentais.
Todo ano ele realizava em Belém o evento Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, no qual reunia profissionais de cozinha, estudantes, jornalistas de todo lado para mostrar as riquezas regionais.
Mas com o mesmo vigor com que recebia autoridades nos palanques, ele também viajava o Brasil e o mundo carregado de folhagens, raízes e ervas para dar aulas de culinárias para plateias às vezes minúsculas.
Fazia-o com a mesma alegria com que recebia amigos no restaurante para comer pato no tucupi ou casquinho de muçuã (pequena tartaruga, de pesca legalizada).
Em 2008, Paulo Martins sofreu uma cirurgia na coluna, que deflagrou uma série de outros problemas, em especial o diabetes, que foram se agravando rapidamente.
Quando recebeu Adrià, já não falava ou se locomovia. Neste período fechou a sede original do restaurante, que hoje funciona somente onde era antes a filial, nas Docas.
O Lá em Casa hoje é tocado por sua ex-mulher e suas filhas desde que, em 2008, sua saúde se complicou. Sua história, com elas, continua.

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ENVELHECIMENTO

Aperto de mão firme indica que a pessoa vai viver mais, diz estudo

FSP 11/09

Cientistas da University College London, Inglaterra, concluíram que pessoas com aperto de mão forte estão propensas a viver por mais tempo do que aquelas cujo cumprimento é fraco.
Segundo apontou a pesquisa, os índices de mortalidade eram 67% maiores entre aqueles com aperto fraco se comparados aos que cumprimentam com as mãos mais firmes.
O estudo levou em conta mais de 30 pesquisas que já haviam sido realizadas, associando a capacidade física à mortalidade. A maioria dos pacientes analisados era maior de 60 anos.
Além da firmeza no aperto de mão, outros dados como a habilidade para se levantar de uma cadeira, capacidade de se equilibrar em uma perna só e velocidade para caminhar foram analisados.
Em todos os casos, aqueles que tinham os piores resultados estavam mais suscetíveis a ter uma morte prematura.
Os que andavam mais lentamente, por exemplo, tinham o triplo de chances de morrer se comparados aos que conseguiam andar mais rápido.
No caso do cumprimento de mão, as diferenças nos índices de longevidade foram notadas até em quem tinha menos de 60 anos e que não apresentava sinais de saúde precária.
Os cientistas esperam que com esses testes simples possam detectar pacientes de risco com mais facilidade.

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QUEM LÊ POESIA NO BRASIL?

Por Antonio Miranda

"acolher o pretexto para o texto
poesia sem regra nem preceito
acontecida ao interior de si
não mais à impulsão do contexto
"
AFFONSO ÁVILA, em "Poeta Poente" 2010

"Poesia pois é poesia" é o emblemático título de um livro de Décio Pignatari, em que o poeta pergunta e responde ao mesmo tempo. Mas, afinal, quem lê poesia no Brasil?

Segundo o Instituto Proler, no relatório "Retratos da Leitura no Brasil" (2008)* de uma pesquisa quantitativa encomendada ao Ibope Inteligência, com o objetivo "de diagnosticar e medir o comportamento leitor da população, especialmente com relação aos livros", quem mais lê poesia no Brasil são os jovens. A primeira grande e animadora conclusão, comparando os dados com a pesquisa anterior de 2000, é que os índices de leitura vêm crescendo entre nós, sobretudo em virtude da universalização do ensino no país, apesar das precariedades de seu nível de desempenho e do fato de a leitura não ser socialmente valorizada no Brasil. No entanto, é surpreendente que nossos compatriotas (55% são mulheres) usem 35% de seu tempo em atividades de leitura, seja por motivos profissionalizantes e de atualização profissional, seja pelo prazer e diversão .

Vale destacar que a Poesia é o quinto gênero na preferência dos leitores, com 28%, inferior apenas à leitura da Bíblia, dos Livros Didáticos, do Romance e da Literatura Infantil, embora tais interesses sejam também concomitantes. As mulheres lêem mais Poesia (32%) do que os homens (22%). Mas devemos atentar para o fato que a maior faixa de leitores se situa entre os estudantes de 5a. a 8a. séries (35%) enquanto que o nível mais baixo (21%) corresponde aos de nível superior, o que pode levar a crer que se deve às atividades literárias em sala de aula(**).

Os dados mais reveladores correspondem aos jovens e adolescentes entre 11 e 17 anos de idade que têm a Poesia como o gênero mais lido, enquanto que o percentual mais baixo (15%) está entre os leitores de 50 a 59, havendo uma ligeira recuperação (30%) dos 60 aos 69 anos. Ou seja, a Poesia é majoritariamente uma atividade dos jovens. Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade foram espontaneamente lembrados entre os sexto e sétimo autores brasileiros mais populares...

Na universidade, como se vê, a poesia tem menos leitores. A doutora Sylvia Cyntrão, do Departamento de Teoria Literária da Universidade de Brasília, afirmou que teve dificuldade para formar um grupo de pesquisa do gênero poético, mas a situação vem, segundo a especialista, mudando rapidamente. Muitos alunos e professores estão engajados agora em levantamentos e estudos sistemáticos e ela partiu para a organização do I Simpósio de Crítica de Poesia durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, em 2008, e já está anunciando o II Simpósio para o mês de novembro de 2010.

Algumas informações podem ajudar-nos a entender o fenômeno.
É crescente o número de eventos — saraus, tertúlias, poemações, poemashows, encontros e noitadas em bares e em clubes, além dos espaços do ensino, que animam as leituras e performances de poesia no Brasil. Para citar exemplos, na cidade de Belo Horizonte acontece anualmente o Verão Poesia, o Belô Poético, as Terças Poéticas no Palácio das Artes e os encontros com a poesia na Praça 7; em São Paulo foi instalada a Casa das Rosas, dedicada à Poesia, em homenagem a Haroldo de Campos, em plena Avenida Paulista, e o Instituto Poiesis promove leituras muito disputadas que se repetem em dezenas de espaços culturais por toda a cidade. E este tipo de atividade é também muito frequente no Rio de Janeiro e vem se propagando em outras capitais e em cidades do interior.

Que tipo de poesia se apresenta nessas oportunidades? Do cordel ao poema performático, do romântico ao do escracho, do poema social à pretensa letra de música, como é próprio de toda a nossa cultura, nos padrões que animam a TV, o cinema, as leituras e as preferências populares e das elites, dependendo dos lugares. Importante é que este tipo de atividade acontece no centro e nas periferias das cidades.

Um outro fator que vem promovendo a leitura e a escritura da Poesia no Brasil é a realização, em escala crescente, de oficinas e grupos de discussão. Assim funciona em outros países, como na Argentina, para citar um exemplo próximo de nós. Poetas e especialistas são convidados a levar sua experiência e métodos de trabalho criativo para um público que experimenta e cria seus próprios poemas. Sejam eles haikais, sonetos, cordel ou, agora, os chamados poemas de 140 toques para o celular. E também aprendem a editar seus poemas textuais ou videopoemas no Youtube ou em blogues pessoais e coletivos. E até exercitam criações coletivas como os poemas visuais e as rengas, graças à participação em redes sociais.

Isso tudo é para afirmar que a leitura da poesia no Brasil vem crescendo rapidamente. Ainda existem os desconsolados e os pessimistas... Os que afirmam que não se publica poesia... Falso. As nossas edições são numerosas e são de alta qualidade, superior em quantidade e qualidade de conteúdo e do padrão gráfico aos de outros nações. Afirmam que não temos editoras. Falso. Aí estão os casos da 7Letras, da AnnaBlume, da Ateliê, da Nephlibata, da Galo Branco, da Massao Ohno (cujo pioneiro nos deixou muita saudade...), e até de editoras comerciais como a Global, a Rocco, a Bertrand Brasil, etc, tem suas linhas editoriais exclusivas ou como segmentos específicos, enquanto muitas das boas livrarias têm estantes especiais para a venda desse livros. O fato de que a maioria dos títulos são patrocinados pelos autores não é novidade. Sempre foi assim, no mundo inteiro. Diferente de outros gêneros que são mais populares, como o romance e auto-ajuda, mas que pagam o preço da trivialidade e da banalidade em significativa parcela de suas edições. Como acontece com o cinema e a TV, onde o gosto médio do público em certa medida acompanha os níveis de escolaridade e os valores culturais em voga.

Cabe ainda salientar o problema de não termos muitas livrarias... Certo. Mas o volume de vendas de livros pela Internet vem crescendo, e sebos virtuais oferecem livros de poesia em seções específicas, onde alguns autores (entre eles os concretistas e os da poesia marginal dos anos 70) atingem preços elevados, no nível das obras raras. E é tão salutar que os autores vendam suas obras em lançamentos e que façam doações a bibliotecas e aos amigos, e os disponibilizem gratuitamente na web. Melhor do que viver da poesia, é viver com poesia.

A gente enxerga o que quer enxergar. É aquela velha figura do copo meio vazio e meio cheio... Há quem veja o lado vazio, há quem veja o lado cheio...

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(*) Disponível em: http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/texto.asp?id=1815

(**) Conforme os dados obtidos pelo Google Analytics, nosso Portal de Poesia Iberoamericana ultrapassou a barreira de 1 milhão e 200 mil leitores no primeiro semestre de 2010 e, sintomaticamente, o período de menor frequencia é durante as férias, com uma queda de mais 30%. Embora não tenhamos dados específicos, é possível deduzir que os estudantes são assíduos frequentadores. Outro dado que corrobora para esta interpretação, é que 83% dos leitores vêm ao Portal diretamente pelo Google, buscando os autores e poemas de seu interesse, sem saber que o Portal existe. Provavelmente, realizando uma busca para atender a um trabalho específico. Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade estão entre os mais lidos e, entre os regionais, Helena Kolody e José Paulo Paes estão na dianteira. A Poesia Visual ganha cada vez mais visitantes, sobretudo aqueles poemas que nós chamamos de "animaverbivocovisuais", que são produzidos a partir da convergência tecnológica pelo processo de virutualização. Ou seja, o leitor não apenas lê, como também quer ver e ouvir.

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