sexta-feira, 24 de setembro de 2010

CARLOS HEITOR CONY

Fonte: folha.uol.com.br 24/09



O livro dos livros

Há que reconhecer na vida de cada um de nós um livro que marca o nosso antes e depois. O livro dos livros


EMBORA CONTRA a vontade, respondo a um amigo que me pede uma relação de livros que eu gostaria de reler, caso dispusesse de tempo. Em minha resposta, incluiria alguns livros que realmente gostaria de reler -não por serem bons ou necessários, mas apenas por fidelidade pessoal.
Estranharam que eu incluísse Michel Zevaco e Alexandre Dumas, deixando de relacionar Shakespeare, Homero ou Dante. Ora, senhores, livros há que necessariamente obrigam a que se arranje tempo e vontade para a releitura. No caso de Shakespeare, por exemplo, qualquer folga na minha rotina e eu pego o "Otelo".
Por modéstia, não vou dizer aqui os livros que obrigatoriamente leio todos os anos. Posso adiantar alguns, como "Tartarin de Tarascon", "Asia", "Memórias de um Sargento de Milícias", a Constituição do Brasil e o Código Nacional de Trânsito. São leituras pias e úteis, a que me obrigo por dever e gosto, tentativas frustradas de me tornar um bom cidadão. Stendhal lia todas as semanas o Código Civil em busca de um estilo seco, despojado, perfeito.
Mas livros há que gostaria de reler e -infelizmente- já não há tempo nem modo para este tipo de prazer, substituído por outros razoavelmente inconfessáveis. Lembro a emoção com que penetrei no tumultuado mundo de Zevaco, seus Pardaillan, suas Faustas vencidas, o senhor de Buridan, a ponte dos suspiros. Só um imbecil não gostaria de recriar a emoção de ver o Frei Corigan (Coriganus frater) na fogueira. Com Alexandre Dumas a mesma coisa, embora, hierarquicamente, Dumas já pertença a outros quinhentos reais.
Vibrei com os grossos volumes das "Memórias de um Médico". O que sei de Revolução Francesa está mais no Dumas do que nos amargos livros de história com que me aborreceram a adolescência.
Evidente, tais leituras em nada influíram na minha formação e muito menos em minha discutível ambição literária. Li, gostei, esqueci muita coisa -o que foi pena- e de todos esses livros guardo com carinho os bons momentos e os espantos e, sobretudo o gostoso escorrer das horas solitárias e vazias que formaram, em um sentido geral, a minha juventude.
Se alguém me perguntasse pelos livros prediletos, a resposta, como é óbvio, seria outra. Incluiria, como mandam os figurinos literários, os ensaios fecundos, os grandes romances formais, o Gibbons em não sei mais quantos volumes, o Molière, o Racine, o Dante, Montaigne, Flaubert, enfim, os autores sempre citados por todos.
Mas incluiria também o Arquibaldo Botelho Cabral Benjamim Xavier, autor de um alentado opus intitulado "As Asas de Ícaro dos Impostos". Apesar do título, o livro traz o diploma da primeira comunhão do autor e uma foto do batizado de um de seus netos. São 650 páginas e um anexo contendo a relação dos demais livros do Arquibaldo, ao todo, 33 obras sobre direito, religião, geografia, arqueologia, homeopatia, positivismo e xadrez.
Há que reconhecer na vida de cada um de nós um determinado livro que marca o nosso antes e depois. O livro dos livros. Para muitos, a Bíblia, a "Imitação de Cristo", "O Príncipe", "O Contrato Social", sei lá, há livro para tudo. Nesse sentido, há um livro que realmente marcou nossa experiência -ou aventura- através dos anos e dos erros.
Não se trata do famoso livro de cabeceira. Na cabeceira dos grandes homens não há livro algum -e isso não significa que eu seja um grande homem. Donde se conclui que não há livro na cabeceira dos homens pequenos. Na minha, além de um abajur, há um desentupidor nasal para aliviar a rinite crônica que me acompanha desde a minha infância.
Esse livro dos livros -cuja sombra projeta em minha estrada uma curva inesperada e cruel- talvez nem seja livro. É antes um apanhado de histórias que fui copiando de vários livros e lugares. Até anedotas dos antigos almanaques do Capivarol e do Biotônico Fontoura. Mas tem um largo trecho do "Evangelho Segundo Mateus" e um poema de Tennyson. E tem mais: a primeira carta de amor que escrevi, aos dez anos, a uma tal de Helena, que após matrimônio infeliz e infecção no ovário é hoje freira agostiniana e ora por mim.

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Destino dos recursos vindos do pré-sal é "sagrado", diz Lula

Fonte: valoronline.com.br 24/09

SÃO PAULO - O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, classificou como "sagrado" o destino dos recursos que serão gerados com o petróleo do pré-sal. Durante a cerimônia que marcou a capitalização da Petrobras, ocorrida nesta sexta-feira na BM&FBovespa, em São Paulo, Lula disse que o objetivo do governo é "impulsionar o sistema econômico para garantir um longo ciclo de desenvolvimento, capaz de erradicar de vez a pobreza na vida do povo".

O presidente afirmou que o foco é a educação, para garantir a todos os brasileiros "o mesmo ponto de partida". "A capitalização (da Petrobras) é uma das salvaguardas criadas pelo governo para evitar que essa riqueza se perda num labirinto de desperdícios e interesses equivocados", justificou.

Lula ainda aproveitou a oportunidade para alfinetar seus antecessores. "Ao contrário do passado, não estamos aqui para debilitar o Estado ou alienar patrimônio público", disse. "Se fosse em outros tempos, esse patrimôno poderia ter sido alienado, na voragem de liquidações impostas pelo estrangulamento de uma economia fragilizada e no vazio de um Estado dissociado dos interesses nacionais", complementou.

Ao comentar o fato de a BM&FBovespa ter alcançado o posto de segunda maior bolsa do mundo, com valor de mercado de R$ 30,4 bilhões, o presidente Lula disse que se trata de "uma dádiva de Deus". "Anos atrás, eu passava na porta da Bolsa e as pessoas tremiam de medo, se perguntando: onde vai esse comedor de capitalismo?. Exatamente esse comedor de capitalismo deixa a Presidência da República com o presidente que participou do momento mais auspicioso do capitalismo mundial", afirmou.

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