segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Adoçante faz as pessoas comerem mais

Fsp 13/09

Substituto não causa sensação de bem-estar e saciedade como o açúcar, levando a um consumo exagerado

Para especialistas, é melhor comer uma porção pequena de doce do que tentar enganar a fome com adoçantes


Doces ou bebidas com adoçante não dão a mesma sensação de prazer dos produtos feitos com açúcar.
"Não conseguimos enganar nosso cérebro", diz o nutrólogo Carlos Alberto Werutsky, da Sociedade Brasileira de Nutrologia.
Em estudo publicado na revista "NeuroImage", pesquisadores holandeses avaliaram a resposta do cérebro de dez pessoas antes e depois de tomar suco de laranja com açúcar ou adoçante.
O resultado é que tanto a sensação de prazer quanto a vontade de comer doce foram diferentes nos dois casos. "Só a glicose causa liberação de neurotransmissores que dão a sensação de bem-estar, como a serotonina", afirma Cristiane Ruiz Durante, nutricionista do projeto de atendimento ao obeso do Hospital das Clínicas de SP.
Apesar de o poder adoçante dos produtos artificiais ser maior do que o do açúcar, a mensagem de que estamos ingerindo algo doce não chega até o cérebro.
Segundo Werutsky, as papilas gustativas são sensíveis às fórmulas. Mas muitas delas não são metabolizadas pelo organismo: são eliminadas sem serem digeridas.
A exceção é a frutose, derivada de frutas ou mel. Quando metabolizado, o adoçante transforma-se em glicose.

MAIS PARA O MESMO
Sem o prazer proporcionado pela glicose, quem come produtos diet pode acabar exagerando na quantidade.
Para Paulo Cunha, especialista em neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do HC, dá para comparar os adoçantes aos cigarros light.
"A pessoa não sente o mesmo prazer e fuma o dobro. É o mesmo caso com os adoçantes. Não é tão prazeroso, então a ingestão pode ser maior para compensar."
Para a nutricionista Cristiane Ruiz Durante, pessoas sem restrição ao açúcar não devem substituir doces por alimentos com adoçantes.
"Prefiro indicar que a pessoa coma uma porção pequena de doce ou carboidrato. É melhor do que comer mais produtos diet para tentar buscar a mesma sensação."
O nutrólogo Werutsky afirma que o principal vilão da dieta é a gordura, e não o açúcar. "O açúcar tem quatro calorias por grama, e a gordura tem nove. Evitar só o açúcar não resolve."

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Cineasta Claude Chabrol morre aos 80

Fsp 13/09

Com Jean-Luc Godard, François Truffaut e Eric Rohmer, francês foi um dos principais nomes da nouvelle vague

Presidente Sarkozy e atores premiados como Isabelle Huppert e Gérard Depardieu lamentaram a morte

Morreu ontem, em Paris, aos 80 anos, o cineasta francês Claude Chabrol. Eva Simonet, assessora do diretor, disse que ele estava internado com "anemia severa".
Chabrol é considerado um dos diretores centrais do movimento cinematográfico conhecido como nouvelle vague, que renovou o cinema francês e do qual também fizeram parte Jean-Luc Godard, François Truffaut (1932-1984) e Eric Rohmer, morto em janeiro deste ano.
O primeiro filme de Chabrol, "Nas Garras do Vício" ("Le Beau Serge"), de 1958, é apontado como um dos marcos iniciais do movimento.
Antes, entre 1953 e 1957, foi crítico da revista francesa "Cahiers du Cinéma". Autor de mais de 80 filmes, Chabrol tinha como principal tema a crítica à burguesia.
Admirador do cinema americano e de Alfred Hitchcock, ficou famoso por longas policiais e de suspense, como "O Açougueiro" (1970).
"Você não faz um filme para expressar suas ideias. Vocês faz um filme para distrair as pessoas, talvez para fazê-las pensar", disse em 2004.
O filme "Bellamy" (2009), em que Gérard Depardieu interpreta o papel-título, foi sua última produção.

PIADAS
O presidente francês Nicolas Sarkozy citou, ontem, dois grandes nomes da literatura francesa para descrever o cineasta. Disse que Chabrol herdou a habilidade de Balzac (1799-1850) nas suas representações sociais e o humor e vivacidade de François Rabelais (1483-1553).
Para o diretor da Cinemateca Francesa, Serge Toubiana, o cineasta era malicioso. "Chabrol amava piadas e fazer piadas", disse Toubiana.
A atriz Isabelle Huppert, musa do cineasta, falou sobre sua relação com o diretor. "Ele me filmou de certa forma como se eu fosse sua filha. Não me filmou como um objeto de desejo."
Para Depardieu, "Claude era a própria alegria de viver". "Ele nunca falava sobre a morte. Para mim, ele só não atende mais o telefone, mas está em todos os lugares".

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CARLOS HEITOR CONY

Magistrado

Fsp 12/09

RIO DE JANEIRO - Absoluta legalidade, mas discutível oportunidade. Espera-se de um presidente da República, entre outras qualidades necessárias, que ele seja realmente o primeiro magistrado da nação, com tudo o que implica a noção de um magistrado, ou seja, equidistância nas disputas internas e a consciência de que é presidente em igualdade de condições para todos os cidadãos do país.
Acontece que os presidentes, quando não podem continuar no poder por dispositivo constitucional ou por esvaziamento político, assumem como ponto de honra a obrigação de fazer o sucessor.
Em alguns casos engolem os seus sapos, como Juscelino Kubitschek engoliu a candidatura do marechal Lott e perdeu para Jânio Quadros. O próprio FHC não conseguiu emplacar o seu correligionário e passou a faixa presidencial para Lula. Coisas.
Não se pode negar a um político, mesmo na condição de presidente, o direito de ter o seu partido, o seu candidato, o interesse na continuação administrativa de seu governo. Seria esse o caso de Lula. Como petista categorizado, apoiaria a companheira de partido e de governo. Acontece que o apoio de Lula a Dilma transcendeu ao simples apoio político e passou a ser eminentemente eleitoral.
Inclusive entrando nas brigas e nas fofocas da campanha. Com sua retumbante taxa de aprovação popular, ele se sente à vontade para, nos palanques e na televisão, na condição de simples cidadão, não apenas exaltar as qualidades de sua candidata mas entrar na briga de foice da campanha, como se fosse um cabo eleitoral sem outro compromisso que não o da vitória acima de tudo.
Acho que ganhará mais uma vez a disputa em que se meteu. Mas estranho e lamento sua intervenção espalhafatosa na atual campanha eleitoral.

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De Graciliano para Getúlio

Em carta nunca enviada a presidente, escritor comenta os 11 meses que passou em prisão

FSP 12/09 DO RIO

Pouco mais de um ano após ter deixado a cadeia, onde esteve preso durante 11 meses por associação ao comunismo na ditadura de Getúlio Vargas, o escritor Graciliano Ramos -autor de clássicos como "Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere"- escreveu uma carta ao então presidente.
O documento, datado de agosto de 1938, não chegou a ser enviado, mas faz parte de pesquisa em andamento na Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo.
O objetivo da pesquisa de Sonia Jaconi é analisar os métodos administrativos do escritor, considerados dinâmicos e revolucionários para a época -entre outros cargos públicos, foi prefeito da pequena cidade de Palmeira dos Índios, em Alagoas, entre 1928 e 1930.
Na carta, Graciliano não usa palavras duras, mas trata com bastante ironia o episódio de sua prisão e o fato de o presidente ser seu "colega de profissão" -na época, a editora José Olympio lançava um livro com discursos de Vargas e tiragem de 50 mil exemplares. "Vossa Excelência é um escritor", ironizou.
Ele alude à falta de razões para ter sido preso, quando era secretário de Educação em seu Estado.
"Em princípio de 1936 eu ocupava um cargo na administração de Alagoas. Creio que não servi direito: por circunstâncias alheias à minha vontade fui remetido para o Rio de maneira bastante desagradável."
"Percorri vários lugares estranhos e conheci de perto vagabundos, malandros, operários, soldados, jornalistas, médicos, engenheiros e professores da universidade. Só não conheci o delegado de polícia, porque se esqueceram de interrogar-me."
Graciliano também fala da falta de emprego a que acabou condenado, já que seus algozes o tiraram de Maceió e, depois de soltá-lo, não lhe arrumaram nova colocação.
"Até hoje ignoro por que se deu semelhante desastre". E despede-se com elogios: "Apresento-lhe os meus respeitos, senhor presidente, e confesso-me admirador de Vossa Excelência".
O rascunho foi guardado por James Amado, irmão de Jorge Amado, casado com a filha de Graciliano, Luiza Ramos. Hoje existem duas cópias. Uma na Casa Museu Graciliano Ramos, em Palmeira dos Índios, e outra em poder do pesquisador Wander de Melo Miranda, diretor da Editora UFMG.
"Acho que ele nunca teve a intenção de enviar a carta. Foi um desabafo íntimo, uma necessidade de expressar sua revolta através da ironia", diz Miranda.
Um ano depois de tê-la escrito, Graciliano foi nomeado inspetor federal de ensino secundário do Rio de Janeiro, cargo que recebeu de Gustavo Capanema, então ministro da Educação do próprio governo Vargas.

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Talento de escritor foi descoberto em relatórios de gestão

FSP 12/09 DO RIO

O escritor Graciliano Ramos deve muito à sua experiência como prefeito da pequena cidade de Palmeira dos Índios, em Alagoas.
Foi depois de ler relatórios nos quais ele prestava contas da gestão que o editor Augusto Frederico Schmidt descobriu sua veia literária e apostou na publicação de seu primeiro romance, "Caetés".
Nestes relatórios, publicados após sua morte no livro "Viventes das Alagoas", Graciliano usa de ironia e talento ao lamentar, por exemplo, o contrato do prefeito anterior com a concessionária de energia: "Apesar de ser o negócio referente à claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras".
O município, por sua vez, também deve muito ao prefeito. Embora tenha renunciado dois anos após sua posse, em 1928, Graciliano governou com preceitos de um administrador moderno.
Ele saneou as contas públicas, enxugou o quadro de funcionários, baniu a prática de criar galinhas e porcos nas ruas, construiu estradas e escolas, reformou o código tributário municipal e passou a cobrar os impostos de forma rigorosa.
Com o choque de ordem, ganhou inimigos e foi alvo de um atentado a tiros em 1929.
Candidato único, Graciliano elegeu-se com 433 votos, quando a cidade tinha cerca de 10 mil habitantes e o voto não era obrigatório.
Havia um clima político conturbado. Seu antecessor, Lauro de Almeida Lima, tinha sido assassinado por um fiscal de impostos enviado pelo governador do Estado.
Para substituí-lo, os coronéis da política local precisavam de um nome inatacável do ponto de vista ético. Aos 35 anos, Graciliano, pai de quatro filhos (dos oito que viria a ter), era um comerciante bem sucedido, dono da loja Sincera, que vendia tecido.
"Ele era conhecido por sua postura honesta e organizada, que cumpria com horários e compromissos", diz Sônia Jaconi, autora de pesquisa sobre ele na Universidade Metodista de SP.
Candidatou-se pelo Partido Democrata, um detalhe desconfortável na vida do escritor que seria conhecido pela militância comunista.
Eleito, anunciou que não iria compactuar com o clientelismo vigente num município onde, segundo ele, "cada pedaço tinha sua administração particular".
Seu código tributário estabelecia para os mais ricos carga de impostos maior. Ele próprio fazia a contabilidade do município. Por vezes entregava as cobranças pessoalmente.
Sua austeridade incomodou muita gente, inclusive seu pai, o coronel Sebastião Ramos de Oliveira. Certa vez, ao recusar o pagamento do tributo, ele ouviu do filho a frase: "Prefeito não tem pai".
Em 1930, Graciliano renunciou ao cargo, diante do convite para ser diretor da Imprensa Oficial de Alagoas, com salário melhor e possibilidade de morar na capital.

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