terça-feira, 27 de setembro de 2011

27/09 Incentivo. Plano Nacional de Cultura é tema de seminário em São Paulo

Agência Brasil 27/09

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O Plano Nacional de Cultura (PNC) será debatido nesta terça-feira (27) em seminário promovido pela representação do Ministério da Cultura (MinC) em São Paulo, em parceria com a Fundação Nacional das Artes (Funarte). São aguardados para o evento o secretário de Política Cultural, Sérgio Mamberti, e o diretor de Estudos e Monitoramento de Políticas Culturais do MinC, Américo Córdula.

O seminário tem o objetivo de discutir as metas do PNC com a rede de 162 municípios paulistas e as regiões metropolitana de São Paulo, do Vale do Paraíba e de Campinas, além de artistas, produtores e representantes dos Pontos de Cultura, além de pessoas dos diversos segmentos culturais.

Instituído pela Lei 12.343/2010, o PNC tem o papel de reunir os objetivos, diretrizes e estratégias do Ministério da Cultura para os próximos dez anos. Desde o dia 21, as metas do plano estão abertas a consulta pública, processo que vai até o dia 20 de outubro.

“O sucesso do plano só ocorrerá com o envolvimento de todos os entes federados por meio do Sistema Nacional de Cultura. É um momento importante para que a sociedade civil e gestores públicos se posicionem e participem”, observou Mamberti.\

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27/09 Literatura. Na trilha dos tropeiros . Coelho Vaz lança hoje edição especial de Diário de Tropeiro, com ilustrações inéditas de Antonio Poteiro na Decorado Vistta, no Jardim Goiás/ Goiânia Fonte: o popular 27.09

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Foi a partir de conversas com seu finado pai, Glicério Coelho, um velho tropeiro da Região Sul de Goiás, que Geraldo Coelho Vaz compôs os versos de Diário de Tropeiro , livro de poemas que o escritor lançou em 1998. Hoje à noite, às 20 horas, na Decorado Vistta, no Jardim Goiás, o autor relança o livro em grande estilo. Com tiragem limitada de 150 exemplares, a obra ganha uma quarta edição, mas com algo a mais. Os exemplares trarão cinco ilustrações inéditas do artista plástico Antônio Poteiro criadas especificamente para o projeto no final dos anos 1990.

"Quando escrevi o livro, pedi ao Poteiro que fizesse a capa para mim. Ele me deu seis ilustrações. Uma eu usei no livro e as outras ficaram comigo esse tempo todo. Agora poderão ser vistas", conta Coelho Vaz. As obras do mestre naïf ilustram bem seu estilo, com cores fortes, traços simples e um enorme poder de representar cenas de nossa cultura. Nelas, os tropeiros antigos voltam a ganhar vida, em registros em que transportam mercadorias, preparam suas refeições na beira dos caminhos e lidam com os animais.

Os versos do livro são organizados como um diário, que começa em 1909 e termina em 1916. "Foi nessa época que meu pai mais atuou na profissão", recorda Coelho. Seu Glicério, que morreu aos 99 anos de idade, em 1997, um ano antes do lançamento do livro, foi tropeiro na região de Catalão e Pires do Rio na primeira década do século passado. "Ele era um adolescente ainda e acompanhava outros tropeiros que traziam mercadorias do Sul do País até um localidade chamada Roncador, que ficava no Rio Corumbá, na travessia entre Pires do Rio e Urutaí", aponta o escritor.

Heranças

Coelho Vaz relata que naquela época ainda não existia a estrada de ferro que traria maior progresso à região e que nem estradas de rodagem haviam sido abertas. "Era de Roncador que esses produtos eram distribuídos para outras cidades do Estado, como Pirenópolis e Jaraguá. Hoje, nesse lugar não há quase nada, só uma casa velha." O pai do autor contava que, na época em que tal atividade estava maior, em Roncador funcionavam lojas, silos de armazenagem e casas de prostituição.

Os poemas de Diário de Tropeiro também tratam de algumas heranças importantes que esse pessoal deixou para a posteridade. Uma delas tem a ver com a culinária. "Eles cozinhavam, nas trempes, feijão com toucinho e linguiça. Vem daí o nosso feijão tropeiro, tão consumido ainda hoje."

Os alimentos eram transportados em capangas ou embornais. "Eram as suas matulas." Para homenagear esse costume, a nova edição do livro vem embalada em uma capanga de pano, semelhante às daquele tempo.

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Artes plásticas. Arte engajada. Instalação de Siron Franco que será exposta inicialmente no Rio de Janeiro integra campanha contra a obesidade. o popular 27.09

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Uma arte engajada em uma campanha de saúde pública. É o novo trabalho do artista plástico Siron Franco, que segue hoje para o Rio de Janeiro, onde a obra vai ser exposta na inauguração do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, na sexta-feira, dia 30. Ver o Peso é uma instalação que ficará um mês no Rio e depois percorrerá as capitais brasileiras - Goiânia está inserida no roteiro, ainda sem data definida - como forma de incentivo na campanha contra a obesidade, desenvolvida pelo Ministério da Saúde.

Siron Franco começou a conceber a instalação por acaso, a partir de uma preocupação com um problema de saúde cada vez mais comum e uma constatação de que a população está adoecendo com a obesidade. "Quem não tem um amigo acima do peso? Todos estão acima do peso. Eu mesmo enfrento isso", afirmou Siron ao POPULAR de seu ateliê, quando finalizava a montagem da obra que já estava sendo embalada para seguir para o Rio de Janeiro.

O artista conta que ultimamente tem se preocupado com essa realidade, vendo a doença em pessoas próximas e em programas de televisão. Assim surgiu a ideia da instalação, que estava em fase inicial de elaboração quando o artista recebeu a visita de políticos. Entre eles, o ministro do Supremo Tribunal Federal, José Antônio Dias Toffoli, que, encantado com o trabalho, se comunicou com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Foi este quem convidou Siron a emprestar sua obra para a campanha contra a obesidade. "É minha contribuição como cidadão", frisa Siron, que não só concluiu a instalação, como a emprestou à campanha.

"Esta foi mais uma coincidência na minha criação de instalações. Normalmente, minha arte nasce de maneira compulsiva. Eu estou sempre antenado com tudo que acontece e isso contribuiu para minha participação nessa campanha. Com minhas instalações é sempre assim", diz.

A obra

Ver o Peso é uma grande instalação, uma espécie de tabuleiro de xadrez, colocada no chão para remeter ao ato de se pesar na balança. O tabuleiro lembra a mobilidade, um jogo entre a comida e o remédio. Siron trabalhou com 400 balanças onde foram sobrepostos pés feitos a partir de formas dos pés do artista e de alguns amigos, utilizando materiais como açúcar, sal, chocolate e gesso. "Nos exames médicos de rotina, sempre tiro os sapatos para pisar na balança, por isso usei os pés na instalação", explica. A obra é acrescida de pratos cheios de remédios. Dedos amputados lembram as sequelas do diabetes. Símbolos de viagens remetem aos delírios causados pela ingestão de remédios contra a obesidade.

A exposição trará informações sobre obesidade no Brasil e balanças digitais para que os visitantes possam se pesar. "Desta forma, a instalação torna-se mais interativa. É um trabalho instigante, que vai mexer com as pessoas", ressalta Siron. Ele diz que o local, no Rio de Janeiro, é visitado por uma média de 15 mil pessoas diariamente, por isso acredita que possa contribuir com a campanha.

Museu do Césio

Além da instalação no Rio de Janeiro, Siron está ainda engajado na execução do projeto do Museu Césio 137, em Goiânia, concebido por ele. Como O POPULAR mostrou em reportagem na edição de ontem, há quase dois anos a gestão passada do governo estadual lançou a pedra fundamental do museu, previsto para ser construído no lote da Rua 57, no Centro de Goiânia, local onde a cápsula foi aberta. "Agora espero conseguir colocar em prática. Assim que voltar do Rio, no início da semana que vem, começo a me reunir para retomar o projeto", informa o artista.

Segundo Siron, o governador Marconi Perrilo entrou em contato com ele demonstrando interesse em inaugurar o museu até o próximo ano. O artista plástico já tem pronta a maquete virtual do espaço, que traduz a ideia de transformar o local em um memorial composto de 35 peças em resina, que perfazem um roteiro informativo.

Entre as informações contidas nelas estão reportagens veiculadas na época, fotos da casa que existia no local antes do acidente, imagens das vítimas do acidente radioativo em tamanho natural, além de informações científicas. "A intenção é mostrar também o que aprendemos com o acidente, o que nos foi ensinado após essa tragédia." (Colaborou Rodrigo Alves)

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44º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO » O canto das guerreiras

Trio de estreantes em longa-metragem abre a mostra competitiva do Festival de Brasília com o documentário As hiper mulheres. O filme registra um ritual feminino no Alto Xingu que não ocorria desde 1982 CorreioBsB 27.09

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Houve um momento em que, no meio dos elementos do “outro planeta” chamado Alto Xingu, Leonardo Sette, um dos três diretores do documentário As hiper mulheres, caiu em torpor. “As câmeras estavam lá, na praça central da aldeia onde acontecia um ritual faraônico, e me perguntei: ‘Cadê o filme aqui? Vou montar uma aventura como o Corra Lola, corra e não uma fita que tenha algo de Robert Flaherthy”, diverte-se ele, numa referência ao cineasta que fundou uma escola atenta às relações entre os humanos e a natureza.

Superadas as dificuldades, Sette, ao lado do colega Takumã Kuikuro (cineasta saído do povo indígena Kuikuro), completou a obra, que dá a partida na competição do 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, hoje, no Cine Brasília. Exibido no Festival de Gramado em agosto, As hiper mulheres é definido pelo terceiro diretor, o antropólogo Carlos Fausto, como “um filme sobre música, memória e transmissão do conhecimento, que passa pelo afeto das relações pessoais”.

“Foi uma operação de tentar desconstruir e envolver — começar naquilo pequeno, no cotidiano dos índios. Se entrássemos logo com uma monumental sequência de dança, as pessoas iam dizer: ‘Ah, tá, filme de índio? Não, vira um mantra e eu tô fora’”, completa Sette.

Ciente da resistência do público a produções etnográficas ou que supracontextualizem o tema, o trio tem o olhar sintetizado pela visão de Fausto: “Filmes que tenham índios como personagens ficam num nicho restrito: ninguém vê. Há duas correntes, em geral: uma atitude é encantada — ‘índio, natureza, harmonia? Que lindo, que bacana!’ — e a outra associa o filme a atraso e a algo que não queira ver”. É por outra via — “fruto de um longo trabalho que conquistou a intimidade e a liberdade dos indígenas diante da câmera” —, portanto, que As hiper mulheres chegou às telas.

Produto de uma política de Estado, pelo incentivo à valorização de patrimônio imaterial (o canto das mulheres Kuikuro), o longa derivou do projeto Vídeo nas aldeias, implantado em 1987 pelo diretor Vincent Carelli. O ritual capturado no Mato Grosso para o filme não ocorria desde 1982.

O contato com a contemporaneidade no documentário detido nos festejos — que culminam em menos de um dia (mas que exigem mais de 30 dias de prelúdio) e reúnem mais de 1.400 pessoas — transparece de modo surpreendente: há registros de divertidos jogos eróticos, na tribo, e a “sacanagem” também alcança parte das legendas que enveredam para o cômico — longe “do pudor e da distância”, segundo Sette, empregada nas legendas de outros documentários.

Tradição convalescente.

A dramaturgia de As hiper mulheres se fortaleceu, num impasse oferecido pelo acaso: adoentada, Kanu é uma espécie de guardiã das músicas entoadas no maior ritual feminino Kuikuro, o Jamurikumalu (relacionado ao termo itão kuegü, mulher e hiper, pela ordem, designador de seres extraordinários), à beira do precipício, diante do escasso número de conhecedoras.

“As mulheres são a própria essência do filme. O ritual defendido tematiza uma espécie de utopia feminina de ocupar também a posição masculina, numa situação de conflito. Elas acabam demonstrando que uma sociedade não é possível sem homens e mulheres”, comenta o diretor Carlos Fausto. No cenário onde vivem — em três aldeias estão 700 kuikuros —, curiosamente, as mulheres ainda tendem a não empregar a língua portuguesa.

Saber que o acervo de cantos foi constituído por 130 horas de músicas gravadas (à capela e sem repetição) dá a medida da revitalização cultural em jogo em As hiper mulheres. Para tornar tudo ainda mais complexo, o aprendizado, na tradição oral, tem que seguir métrica preestabelecida e organizada em nós, feitos em palhas de buriti.

Em quase 100 horas de imagens, o entrosamento do trio de diretores com as mulheres da tribo foi privilegiado. “É difícil eu chegar perto delas. Na aldeia, se fica perto da mulher, pensam que a gente tá namorando”, observa Takumã. Ele explica que o processo, grosso modo, foi o de “ficar filmando, e deixar eles (os índios) agirem naturalmente, pra não ficar um documentário, assim, falso”.

“Nem tudo é verdade no filme, mas tudo é verdadeiro. A câmera estar, permanentemente, na mão deles permite resultados impossíveis para quem não seja do Xingu”, completa Carlos Fausto. Apesar de algumas encenações (sem diálogos impostos, mas esboçados pelos “personagens de si mesmos”), o antropólogo conta que tudo foi muito autêntico. “Não tivemos treinamento de atores, a maior parte do documentário segue a linha stricto sensu (em sentido restrito)”, conta.

Arredias para tomarem parte nos meandros técnicos, as índias se animaram diante do resultado obtido. Termômetro para as reações, Takumã explica que “no começo elas se acharam feias, mas foi brincadeira — na verdade, elas estão gostando muito. Elas têm o pensamento da maioria, por terem participado do filme. Dizem: ‘A gente não vai morrer mais, a gente vai sobreviver, o tempo todo’”.

44º FESTIVAL DE BRASÍLIA

Hoje, às 20h30, no Cine Brasília (106/107 Sul). Ingressos: R$ 6 e R$ 3 (meia). Exibição simultânea dos filmes no Teatro Sesc Newton Rossi, na QNN 27 de Ceilândia; no Teatro de Sobradinho (Q. 12); e no Cinemark Taguatinga Shopping (Q. 1). Ingressos: R$ 4 e R$ 2 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.

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CRÍTICA - AS HIPER MULHERES *** » Pela bandeira da identidade CorreioBsB 27.09

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Numa cadeia energética cultural fortalecida pelo tão valorizado “herói Sol”, um dos definitivos traços dos índios Kuikuro, a língua se debate, com vigor mirrado. O lamento compartilhado com a Lua — também prezada no mundo celeste, quando a “akunga” (a alma indígena) ganha o primeiro plano — tocou três artistas (os diretores do longa As hiper mulheres), num interessante jogo de contrastes e formações acadêmicas: do cineasta Leonardo Sette ao antropólogo Carlos Fausto, passando por um guardião de costumes do grupo situado em Mato Grosso, o índio Takumã Kuikuro. Nesse somatório, engana-se quem espera um registro tradicionalista e engajado da reunião de interessados na cultura examinada, originalmente, em fins do século 19 pelo etnólogo alemão Karl Steinen.

Não faltariam dados — como os males da gripe e do sarampo que abateram 80% dos indígenas nos últimos 75 anos — para uma defesa desenfreada daqueles que prosseguem na ocupação sistemática do Alto Xingu. Sai de foco, por igual, o detido olhar sobre a exuberância dos bens de luxo criados com madeira, palha e cerâmica. Mas, o que fica, se até a habitual reverência ao mundo dos autóctones se ofusca? Muito da resposta está na camiseta verde que estampa Darth Vader no peito de um dos índios. Coloquial, a narrativa na tela se atém, em grande parte, à atividade dos itseke (seres sobrenaturais) que deflagram o destino das aldeias Ipatse, Ahukugi e Lahatuá.

“Será que tem algum espírito de olho em você?”, pergunta Ajahi, a mãe da bastante adoentada Kanu, protagonista do drama de não ter a certeza de que a filha (Amanhatsi) terá a capacidade de levar adiante a dormente condição do ritual Jamurikumalu. É a partir de incertezas como essa — a mais grave delas relacionada à quebra da corrente secular da transmissão oral — que As hiper mulheres progride. Da apropriação do gravador (sem o teor justiceiro do xavante Mário Juruna) à sinergia interna da tribo (incluída a maturação do projeto Vídeo nas aldeias), tudo conspira a favor do mais abstrato bem dos Kuikuro.

Sem ladainhas

À primeira vista estagnada (com incômodo tempo dilatado, para maior ambientação dos espectadores), a fluência cotidiana se impregna no longa-metragem, por sorte, solto das ladainhas de queixumes e de reivindicações. Naturalmente, e para desespero dos puristas, os índios confirmam postura pouco naïf. Arregaçam as mangas (sim, alguns de t-shirt) e assumem o desafio e as benesses da recomposição cultural. Impossível, daí, não perceber o esplendor de uma sociedade na qual a chefia, por exemplo, é fixada por atos de ampla generosidade; a aprendizagem é dado valorizado e o insondável se promove com o xamanismo.

Ao apropriar-se da denominação criada pela antropóloga Bruna Franchetto no título (As hiper mulheres), o filme entrega boa pista de forte ponto de contato com a atual sociedade dos brancos. Sufocados pela objetividade das mulheres no tocante ao sexo (“Você não quer derramar leite?”, pergunta, por sinal, uma anônima), de modo insuspeito, os índios experimentam o crepúsculo do macho.

Para além dos movimentos sinuosos e coloridos do vigoroso ritual registrado, marcam presença elementos de descontração, erotismo e zombaria. Ainda que inconscientes quanto ao final feliz da história que escrevem, no filme, os kuikuros se provam ótomos (proprietários) daquilo que mais lhes dá unidade: uma invendável riqueza cultural. E, melhor, com a bênção da eternidade atrelada ao cinema, num eco positivo para a sabedoria dos índios mais experientes, que antes diziam “não vou ser filmado, não, porque, se for, eu não morro mais”.

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44º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO »

Cidade partida

Mostra de curtas brasilienses passa a ser realizada no Museu da República, mas os longas continuam no Cine Brasília. CorreioBsB 27.09

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Entre todas as novidades que entraram em cena na 44ª edição do Festival de Brasília, uma alteração em especial mexeu com os humores de cineastas e produtores da cidade. A Mostra Brasília, uma das maiores conquistas da classe cinematográfica local, muda de endereço, deixando de ocupar o Cine Brasília (a principal vitrine do festival) e a Sala Martins Pena. A seleção paralela — composta por filmes do Distrito Federal que não entraram na competição — foi transferida para o Auditório 1 do Museu da República.

Os curtas brasilienses, que antes eram exibidos também em 35mm, serão todos concentrados no novo espaço de projeção, em formato digital. Somente os longas continuam a ser exibidos no Cine Brasília, na programação das mostras paralelas Primeiros Filmes e Panorama Brasil. Um rearranjo que surpreendeu principalmente os curtas-metragistas. “O Cine Brasília é o grande palco do festival. Não diria que perde o glamour, mas, para o realizador, é melhor exibir os filmes naquele espaço”, aponta Antonio Balbino, 33 anos, diretor de Pique-salva.

Presidente da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV), João Procópio acredita que as mudanças diluíram o prestígio da Mostra Brasília. As sessões no Cine Brasília, segundo ele, funcionavam como uma “curadoria” para as produções, selecionando automaticamente as mais profissionais. “Com o fim da diferença, que é algo que a gente defende e apoia, toda a produção de curtas da cidade entrou na mesma sessão. Ali, tem de tudo: de filmes bem produzidos a gravações surradas”, observa. “Já que todos os filmes inscritos passam na Mostra Brasília, você vê curtas que não teriam condições de estar no festival, às vezes, sem captação de som decente. Isso tem que ser analisado mais à frente”, comenta.

Em assembleia da ABCV, o clima era de desânimo. “Neste ano, a produção local é tratada como um problema, e não como celebração. Vi realizadores desacreditados, achando que tanto faz passar o filme ou não. Teremos muitas emoções nesta semana”, prevê Procópio. Segundo o coordenador-geral do evento, Nilson Rodrigues, a troca de salas se fez necessária para resolver o problema da lotação da mostra. “Ela estava ficando muito cheia. Não cabia mais na Martins Pena. No Museu da República, o espaço é maior”, explica.

Desconfiança

O cineasta Gustavo Serrate, 30 anos, também encara com desconfiança a alteração na estrutura da mostra. Ele participa de um grupo de discussão no Facebook que debate o tema. “Não fomos avisados sobre o motivo da mudança, não sei o que levou a Secretaria de Cultura a mudar (a sala de exibição). Ainda não sabemos se o museu será um lugar adequado, nos fins de semana, a mostra sempre atraía um público grande”, lembra. Na terceira participação no Festival de Brasília, Serrate exibe os curtas Pingo e Alice, Casais de domingo e Ascensão.

Ao todo, serão 60 curtas em cartaz, quatro deles em animação. Eles e os cinco longas da cidade (Rock Brasília, de Vladimir Carvalho; Cru, de Jimi Figueiredo; Periférico 304, de Paulo Z; A cidade é uma só?, de Adirley Queirós; e Sagrada terra espetacular — A luta contra o setor Noroeste, de Zé Furtado;) disputam os troféus da Câmara Legislativa, que distribui R$ 150 mil em prêmios.

A antecipação da data do festival também provocou irritação entre os cineastas que estavam em meio ao processo de finalização dos filmes. “Perdi patrocínio, ator, foi difícil encontrar equipamento na cidade. Não tivemos tempo suficiente, já que nos programamos para entregar o filme na data de costume”, afirma Antonio Balbino, que participa do festival pela terceira vez.

Apesar do predomínio quase absoluto de diretores que ainda não têm longas-metragens no currículo, a Mostra Brasília contará com a participação de André Luiz Oliveira, que venceu o Candango de melhor longa com Louco por cinema (1995). “A mostra tem sido ampla, e muito boa para cineastas novos. É um estímulo excelente, já que funciona como uma amostragem de primeiros filmes”, aponta. Procópio, da ABCV, concorda. “A mostra é uma vitrine maravilhosa para as nossas obras”, afirma. No entanto, pondera: “Do jeito que está, ficou tudo separado: os longas no Cine Brasília, os curtas no museu. Mudanças são bem-vindas, mas não se pode criar algo irreconhecível”, conclui.

MOSTRA BRASÍLIA

Exibição de curtas brasilienses, no 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. De hoje a domingo, às 15h, no Auditório 1 do Museu Nacional da República (Eixo Monumental, entre a Rodoviária do Plano Piloto e a Catedral). Entrada franca. Não recomendado para menores de 14 anos.

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SHOW » Apoteose do samba

Público de 1.200 espectadores lotou o Teatro da Caixa no fim de semana e aplaudiu o espetáculo É com esse que eu vou CorreioBsB 27.09

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Uma pena. Somente pouco mais de 1.200 brasilienses tiveram o privilégio de assistir a É com esse que eu vou — O samba de carnaval na rua e no salão, no último fim de semana. Como o Teatro da Caixa comporta apenas 409 espectadores, muita gente voltou da porta, uma vez que os ingressos se esgotaram com dois dias de antecedência, e não houve a possibilidade de uma apresentação extra.

A plateia lotou a sala nas três noites — de sexta-feira a domingo —em que o musical de Rosa Maria e Sérgio Cabral ficou em cartaz e presenciou o espetáculo de primeiríssima qualidade. Primeiro, pela qualidade do repertório: 82 sambas feitos para o carnaval, por grandes compositores, entre as décadas de 1929 e 1970. Depois, pela interpretação dessas músicas por um elenco formado por cantores de vozes privilegiadas, que exibiram, talento, também, como atores.

Os tarimbados Pedro Paulo Malta, Alfredo Del-Penho, Soraia Ravenle e Juliana Dinis já haviam feito o vitorioso Sassaricando — E o Rio inventou a marchinha dirigidos, como em É com esse que eu vou, por dois mestres encenadores, Charles Moëller e Cláudio Botelho. A eles, juntaram-se Marcos Sacramento, sambista de grandes virtudes e duas ótimas revelações: a carioca Beatriz Faria (filha de Paulinho da Viola) e o capixaba-brasiliense Makley Matos — excelentes na estreia em musicais. Todos, acompanhados pela orquestra afinadíssima — sopros, percussão e cavaquinho — dirigida pelo brilhante violonista Luís Filipe de Lima.

Em Brasília, pelas dimensões do Teatro da Caixa, houve necessidade de adaptação do cenário, com a consequente redução do escadaria, que dá um charme a mais à montagem. Nada, porém, que comprometesse a qualidade do espetáculo. O público, na verdade, se deixou levar pela magia proposta pelo roteiro, que trouxe, ainda, o vídeo O morro e o asfalto, narrado por Paulinho da Viola, a partir de texto escrito por Rosa Maria e Cabral.

Blocos de temas

O espetáculo, dividido em blocos, foi desenvolvido a partir do conceito do antagonismo. Em cada bloco os personagens representados pelos artistas usavam figurinos solicitados. Em rico x pobre, por exemplo, via-se em cena Alfredo Del-Penho, em andrajos, carregando sua marmita, na interpretação de Zé Marmita, samba de Brasinha e Luís Antônio. Já em orgia x trabalho, surgiu em cena, devidamente caraterizado, o “barnabé” Pedro Paulo Malta, cantando Falta um zero no meu ordenado (Ary Barroso e Benedito Lacerda). No solteiro x casado, Makley Matos tira onda em Solteiro é melhor (Rubens Soares e Felisberto Silva); enquanto em feminismo x machismo, Beatriz Faria sai em defesa de sua classe soltando a voz em Você me paga o que fez (Antônio Nássara).

Quase todos os sambas do roteiro eram conhecidos de Regina Azmbuja, que, mesmo baixinho, fez coro em O orvalho vem caindo (Noel Rosa e Kid Pepe), Isaura (Robrto Roberti e Herivelto Martins), Atire a primeira pedra (Ataulfo Alves e Mário Lago) e A fonte secou (Monsueto e Tufic Lauar). “Esse espetáculo maravilhoso me transportou para os velhos e eternos carnavais”, disse a professora, cheia de entusiasmo.

Ela e as mais de 400 pessoas presentes — a maioria já na maturidade — tiveram motivos de sobra para celebrarem, principalmente na parte final, a Apologia do samba, em que foram reunidos clássicos do gênero.

No encerramento apoteótico, os cantores, fantasiados de arlequim, pierrô e colombina, uniram as vozes em Tristeza (Haroldo Lobo e Niltinho) e É com esse que eu vou (Pedro Caetano), sob chuva de serpentinas, arremessadas pelos espectadores. Cantor, com participação em musicais, Leonardo Soares, que assistiu a tudo da terceira fila, elogiou bastante o espetáculo. “Os cantores são afinadíssimos, a orquestra muito boa. Juntos, formaram conjunto harmonioso e transformaram o musical num espetáculo encantador.”

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SUSTENTABILIDADE

Projeto estimula o consumo consciente por meio da cultura FolhaSP 27.09

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DE SÃO PAULO - Acontece amanhã a abertura do projeto Contém, que visa incentivar, a longo prazo, práticas sustentáveis na área cultural, como o uso de entulho em projetos de arte.

A curadoria de cinema é de Christian Petermann, crítico da Folha. Será exibido o filme "Going for Green", sobre o complexo esportivo "verde" feito para a Olimpíada de 2012. Há atrações infantis.

Vai até 1º de outubro, sempre das 12h às 20h. O evento tem entrada franca e comporta até 200 pessoas por vez. O endereço é r. Augusta, 2.729.

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DIPLOMACIA . Ex-embaixador nos EUA, Rubens Barbosa, lança livro hoje FolhaSP 27.09

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DE SÃO PAULO - O ex-embaixador do Brasil em Washington (EUA) Rubens Barbosa lança hoje em São Paulo, na Livraria da Vila (alameda Lorena, 1.731, Jardim Paulista), às 19h, seu livro "O Dissenso de Washington -Notas de um Observador Privilegiado sobre as Relações Brasil-Estados Unidos" (editora Agir, 368 páginas, R$ 59,90).

No livro, Barbosa, hoje consultor e editor da revista "Interesse Nacional", conta bastidores da relação entre os governos americano e brasileiro durante seu período à frente da embaixada, de 1999 a 2004, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula.

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Nova droga trata câncer de próstata com metástase

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Teste em 20 países, incluindo Brasil, mostra que remédio aumenta sobrevida

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Tratamento combate metástase do tumor nos ossos, que atinge quase 30% dos homens com a doença na próstata FolhaSP 27.09

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Um novo medicamento para câncer de próstata em estágio avançado pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes, diminuindo as dores, e fazê-los viverem mais.

Os resultados de estudos de fase 3 (últimos antes de uma droga ser aprovada) foram apresentados no fim de semana no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia, em Estocolmo (Suécia).

O remédio Alpharadin foi testado em 922 pacientes com metástase óssea. Dos pacientes com câncer de próstata, até 40% têm metástase. Em 90% dos casos, o tumor se espalha para os ossos, principalmente na coluna, na bacia e no fêmur. Isso gera muita dor e pode deixar os pacientes incapazes de realizarem suas atividades diárias.

"O problema é o diagnóstico tardio. Muitos pacientes ainda têm preconceito com o exame de toque retal", afirma o oncologista André Murad, do HC da Universidade Federal de Minas Gerais e do Hospital Lifecenter, que participou do estudo.

TESTE

O medicamento foi testado em 20 países, incluindo o Brasil. Seis centros médicos do país, entre eles o Hospital das Clínicas da USP e o Hospital do Câncer de Barretos, estavam envolvidos na pesquisa.

Os pacientes foram divididos em dois grupos: um deles tomava o remédio e o outro recebia placebo, sem que ninguém soubesse quem recebia o tratamento ativo.

Aqueles que tomaram o Alpharadin tiveram taxas de mortalidade 30% menores e uma sobrevida média de 14 meses, em comparação com 11 meses do outro grupo.

Como os resultados preliminares foram bons, o estudo foi interrompido para que os pacientes do grupo-placebo recebessem a droga.

TELEGUIADO

O remédio é um radiofármaco formado por partículas radioativas que têm afinidade pelas células ósseas -da mesma forma que o iodo radioativo tem preferência pela tireoide, por exemplo.

"Essas partículas se dirigem às células da metástase, depositam-se nelas e as destroem. É quase um míssil teleguiado", compara Murad.

Segundo Gustavo Guimarães, chefe do setor de urologia do Hospital A.C. Camargo, outros radiofármacos causam diminuição de glóbulos brancos e de plaquetas, e não aumentam a sobrevida.

"Esse novo remédio é mais preciso, age milimetricamente nas células malignas."

Marcos Dall'Oglio, professor da USP e chefe do departamento de uro-oncologia do HC, afirma que a droga pode adiar a quimioterapia, o que é importante no caso de pacientes idosos, que não suportam esse tratamento. A radioterapia comum também pode afetar os tecidos normais e a produção de sangue.

Os efeitos colaterais mais comuns, segundo o estudo, foram diarreia e náusea.

O aposentado Raimundo Nonato da Fonseca, 83, de Belo Horizonte, foi um dos voluntários da pesquisa e afirma não ter tido nenhuma reação adversa ao remédio.

"Por causa das dores, não caminhava. Hoje durmo melhor, como bastante bem e estou engordando. Graças a Deus me dei bem."

A Bayer HealthCare Pharmaceuticals, que produz a droga, prevê seu lançamento no Brasil em 2013.

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CARLOS HEITOR CONY. Anatomia da primavera

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RIO DE JANEIRO - Em janeiro de 1968, fiz escala de alguns dias em Praga, seguindo depois para Moscou e Murmansk, até o meu destino final, que era Havana.

Na praça principal da capital tcheca havia um enorme busto de Stálin que parecia dominar toda a cidade.

No início do que seria conhecida como Primavera de Praga, estudantes derrubaram e mutilaram a estátua do "pápuska" e o governo de Alexander Dub?ek começou a libertar o país do domínio soviético.

Meses depois, no meu regresso ao Brasil, fiz o mesmo percurso de volta e vi o busto restaurado, colocado na mesma praça.

Tropas do Pacto de Varsóvia haviam ocupado a cidade e a abertura do regime comunista durara o espaço de uma primavera.

Fala-se agora na Primavera Árabe, com a rebelião do povo contra os regimes ditatoriais de uma vasta região do Oriente Médio e do norte da África, movimento que começou na Tunísia e se espalhou por outros países que viviam na opressão política há vários anos. Ameaça se estender pela maioria do mundo árabe.

Um lugar comum da história garante que as revoluções devoram seus filhos.

O lucro imediato é a deposição dos tiranos e seus sequazes, mas até agora não se sabem ao certo a origem e as tendências dos diversos grupos revoltosos que ocuparam as ruas e lideraram a guerra civil que expulsou os ditadores do poder.

Acredita-se que tenha sido a aspiração democrática, da qual o mundo ocidental parece ser o modelo bem-sucedido. É possível. Que a torcida internacional seja neste sentido. Mas o confronto entre os dois universos não se limita à divisão entre o Ocidente e o Oriente.

São duas visões de mundo e do homem que transcendem a religião e a geografia. São expressões culturais e históricas que estão entranhadas no DNA dos povos de cada região.

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Obra de Ernesto Neto abre museu argentino

Mostra do carioca inaugura centro cultural Faena, na zona portuária de Buenos Aires FolhaSP 27.09

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A cidade de Buenos Aires acaba de ganhar mais um centro cultural, o Faena Arts Center, em Puerto Madero.

A inauguração aconteceu na última quarta, com uma apresentação da cantora britânica Marianne Faithfull e a exposição de "O Bicho Suspenso na Paisagem", do artista carioca Ernesto Neto, 47.

A obra, uma imensa tela feita de fios de polietileno recheada de bolas de plástico, fica pendurada no teto do grandioso salão do que no começo do século 20 era a sala das máquinas de um moinho.

O local fica na região portuária, recentemente revitalizada e transformada em bairro moderno, cheio de escritórios, restaurantes e lojas.

O Faena Arts Center está dentro do complexo Los Molinos, próximo ao Faena Hotel, projetado pelo arquiteto Philippe Starck.

São iniciativas do empresário Alan Faena, que investe nessa região há alguns anos. O custo do novo centro cultural é de US$ 14 milhões (cerca de R$ 26 milhões).

"Esse moinho é muito significativo, pois alimentou a Europa no pós-Guerra e agora vai alimentar o mundo de cultura a partir de Buenos Aires. É uma cidade capaz de irradiar arte e inovação para o mundo", disse Faena.

A obra de Ernesto Neto convida os visitantes a passear dentro dela. Ao caminhar sobre as bolas de plástico, o ruído lembra o de uma chuva repentina e volumosa.

"Eu quis construir esse labirinto com madeira, mas não funcionou. No final, ficou melhor assim, pois, ao andar dentro dela, temos a lembrança da floresta. E a floresta é aquilo que nos lembra de que há uma simbiose entre o ser humano e o planeta Terra", disse o artista.

Neto conta que uma das inspirações para a obra foi, também, o livro "O Enteado", do argentino Juan José Saer, baseado na história verídica de um jovem marinheiro que viveu por muitos anos numa tribo de índios canibais na região do rio da Prata.

A exposição de Ernesto Neto, cuja curadoria é de Jessica Morgan, da Tate Modern, de Londres, fica em cartaz (www.faenaartscenter.org) até o dia 20 de novembro.

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Para ONGs, faltam estudos sobre a segurança do feijão FolhaSP 27.09

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A aprovação do feijão transgênico aconteceu apesar da oposição de ONGs, associações de agroecologia e movimentos sociais.

"Considerando a legislação atual, podemos dizer que o feijão transgênico traz insegurança para a saúde animal e dos humanos", argumenta Ana Carolina Brollo, assessora jurídica da ONG Terra de Direitos.

A ONG participa da campanha "Por um Brasil Livre de Transgênicos", coordenada pela ANA (Articulação Nacional de Agroecologia).

Para Brollo, a Embrapa não realizou estudos suficientes para garantir a segurança do feijão, e o MCTI (Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação) não se aprofundou na discussão.

"Não foram feitos testes em todos os biomas brasileiros", diz Brollo. As pesquisas da Embrapa foram conduzidas em Minas Gerais, no Paraná e em Goiás.

"Estamos avaliando uma possível medida judicial. Essa é uma aprovação impactante. O feijão está no prato dos brasileiros."

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