Palestra da Quarta Sustentável : “Os desafios da Rio+20” na UnB
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Prof. Ignacy Sachs
École des hautes études en sciences sociales (HESS (Escola de estudos
Biografia resumida :
Ignacy Sachs é socioeconomista e professor titular da École des hautes études en sciences sociales (HESS (Escola de estudos avançados em ciências sociais) de Paris. Nesta instituição fundou em 1973 o Centro Internacional de Pesquisas em Meio Ambiente e Desenvolvimento – o qual dirigiu até 1985 – e o Centro de pesquisas sobre o Brasil contemporâneo, do qual atualmente é co-diretor.
Ignacy Sachs chegou ao Brasil pela primeira vez devido ao que ele chama de “um acidente biográfico”: como refugiado de guerra, em 1941. Era o último navio de rota que saía de Portugal antes da interdição bélica dos oceanos ocupados por submarinos, minas e mísseis. Fugitivo judeu de uma Polônia invadida pelo alemães nazistas, viu com encantamento o amanhecer na baia da Guanabara. Ficou catorze anos. E sempre voltaria. O “acidente biográfico” do então menino, nascido na Polônia, naturalizado francês, e brasileiro de coração, rendeu muito para a ciência e para a civilização, começando pelo conceito de ecodesenvolvimento que, anos depois, deu origem a uma das expressões mais recorrentes e debatidas das ultimas décadas: o desenvolvimento sustentável.
Autor de mais de 20 livros sobre desenvolvimento e meio ambiente, o Professor Sachs trabalhou na organização da Primeira Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, realizada em Estocolmo, Suécia, em 1972, durante a qual foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Sachs foi também conselheiro especial da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992.
Desenvolvimentista, como Celso Furtado, Sachs aliou à agenda do crescimento os valores da justiça social. Adepto do planejamento, renovou essa ferramenta despindo-a do autoritarismo tecnocrático para vesti-la com o diálogo entre as vozes da cidadania, mediadas pela harmonização do poder público. Ao conjunto adicionou o que denomina ‘imperativo do equilíbrio ambiental’.
Vinte anos mais tarde, o Professor Sachs tem mais um encontro marcado com a história do desenvolvimento sustentável: em 2012, o Brasil sediará a Cúpula da Terra, o mais importante fórum da ONU sobre as agendas, compromissos e diretrizes para reconciliar o desenvolvimento e o meio ambiente. E apesar das dificuldades dos Estados em se comprometerem com a preservação do futuro de todos, ele está otimista: para ele, a dinâmica da Cúpula Rio+20 é bem mais favorável do que a vivida em 1992.
Nesta quinta-feira, 8 de setembro, o CDS tem o privilegio de ouvir o Professor Sachs mais uma vez, na série de palestras das Quartas Sustentáveis. Sachs se referirá aos objetivos da conferencia e explicará por que a Rio+20 deve ser um ponto de ordenação de agendas. Segundo ele, os países membros das Nações Unidas devem sair dela comprometidos a trazer, num prazo de dois anos, seus planos de desenvolvimento sustentável e socialmente inclusivos. Ao mesmo tempo, para o Professor Sachs é imprescindível reconstruir ferramentas institucionais e reposicionar a velha casa das Nações Unidas para as gigantescas tarefas que temos diante de nós. Um grande desafio, que o Prof. Sachs apresentará ao publico na sua honrosa visita ao CDS
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FERNANDO DE BARROS E SILVA. As artes da USP Fonte: folha.uol.com.br 04/09
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SÃO PAULO - A Secretaria de Estado da Cultura investiu cerca de R$ 80 milhões na reforma do antigo prédio do Detran, no Ibirapuera, a fim de transformá-lo na nova sede do MAC-USP, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Faz todo o sentido.
Seu acervo é, de longe, o mais importante de arte moderna na América Latina. Reúne em torno de 8.000 obras, do último autorretrato de Modigliani a quadros de Picasso, Matisse, Miró, Max Ernst, De Chirico, Umberto Boccioni, Tarsila, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Volpi, entre centenas de artistas.
Na USP, onde hoje se encontra, esse patrimônio fica praticamente escondido. O museu é pequeno e o acesso é difícil. Estão expostos de 1% a 5% das obras, apenas. O reitor da USP, no entanto, se recusa agora a transferir o MAC do campus.
Por que privar o público de ter um museu à altura de seu acervo, integrado, no mesmo complexo de cultura e lazer, à Fundação Bienal, ao MAM, ao Museu Afro Brasil, à área do parque Ibirapuera?
João Grandino Rodas alega "problemas profundos", mas o que oferece são desculpas esfarrapadas. Primeiro, implica com o Clube das Arcadas, que o XI de Agosto pretende construir no terreno ao lado do prédio. Logo ele, que brigou com o centro acadêmico quando era diretor da Faculdade de Direito. Rodas também não quer gastar com a manutenção do museu. Balela. Qual seria a dificuldade de captar recursos no mercado? Bancos adoram financiar a arte -algo "neutro", colorido, que não cria problemas e as pessoas acham chique, mesmo quando (ou porque) não entendem.
Na hora de criar fundações que propiciam ganhos externos aos docentes, a USP atua com desenvoltura. Quando se trata do acesso do público à cultura, age como uma típica repartição pública dos anos 1950 -"não dá". Para os burocratas encastelados no seu mundinho, de costas para a sociedade que os financia, nada dá. Não dá é para aguentar mais esse tipo de coisa.
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Ex-terrorista conclui seu 18º livro, inspirado no Brasil Fonte: folha.uol.com.br 04/09
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Cesare Battisti acaba de escrever "Ao Pé do Muro", narrativa composta "80% por fatos reais e 20% por deduções". Nele rememora os cerca de três anos de vida clandestina no Brasil numa trama que envolve paixão, espionagem, MST e paranoia.
Concebido na prisão, onde gastou outros quatro anos até ser solto em 2011, relata o modo de vida atrás das grades (baralhos, novelas e futebol) e impressões acerca da população brasileira, da qual diz ter aprendido a gostar.
"Ao Pé do Muro", escrito em francês, deve ser lançado pela Martins Martins Fontes em dezembro. A Folha teve acesso exclusivo à obra.
O narrador em primeira pessoa, Auguste, nome tomado emprestado ao gato de Battisti nos tempos de Paris, lembra o momento em que desembarcou em Fortaleza vindo de Cabo Verde com um passaporte francês falsificado à perfeição e comprado na Ásia com o auxílio de Aurea, uma brasileira que é agente dupla, filha de latifundiários com discurso humanista.
Auguste parte rumo a um acampamento do MST no Tocantins em busca de Sandra, amiga de Aurea. Descobre que a área foi reocupada por "ricaços de Mercedes".
Encontra Sandra em Duque de Caxias (RJ) e vive um romance com sua filha adotiva, Janaína. Mas a vida clandestina o deixa paranoico e doente. Janaína lhe mostra um buraco atrás da pia da cozinha usado por espiões.
Ela o leva ao médico e lhe oferece ervas do candomblé, mas ele desconfia que será envenenado e traído. Passa a encarar a prisão como um alívio. Vai se entregar numa delegacia e é barrado na porta.
Se a dose de realidade do livro alardeada pelo autor é essa mesmo, difícil saber. Janaína, diz Battisti, continua sendo sua companheira. Esta é sua 18ª obra. Na França, ele conquistou relativo sucesso como autor de suspenses.
Manipulador, Battisti demonstra inesperado talento na escrita: mostra Auguste como vítima de uma injustiça histórica, um ex-guerrilheiro derrotado que é obrigado a viver nas bordas de uma sociedade que lhe é estranha. E a vida precária de clandestinidade, como digna de pena.
Não à toa, ao ser indagado sobre seus heróis literários, Battisti cita Kakfa ("O Processo") e Dostoiévski ("Crime e Castigo"). Mas esquece de dizer que nenhum dos dois terminou seus dias na praia.
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ÍNDIOS . Estudantes da etnia caiuá foram proibidos de usar o idioma guarani Fonte: folha.uol.com.br 04/09
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DE CUIABÁ - Três estudantes da etnia caiuá foram proibidos de utilizar o idioma nativo, o guarani, nas dependências de uma escola da rede municipal em Campo Grande (MS). A exigência foi registrada em uma ata que os índios dizem ter sido obrigados a assinar.
"Disseram: "aqui na escola o seu idioma é proibido'", disse o índio Laucídio Nelson, 41, que há quase dois anos frequenta classe de alfabetização na Escola Nerone Maiolino.
Além dele, assinaram o documento os caiuás Orlando Turíbio, 41, e Maura Amaral, 35, que vivem em Água Bonita.
O fato, disse Laucídio, ocorreu em 24 de agosto. "Foram chamando um por um na diretoria. Quando chegou a minha vez, me mostraram um livro bem grande e disseram: "aqui tem lei contra isso". Eu não sabia de nada, então assinei".
O deputado estadual Pedro Kemp (PT) disse que a restrição contraria "a Constituição": "Os índios têm direito de falar a língua deles".
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Diretor do serviço florestal defende modelo de negócio Fonte: folha.uol.com.br 04/09
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Para o diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Antonio Carlos Hummel, a estimativa de que algumas espécies de árvores não vão se recompor em 30 anos é certeira, mas não deve ser "motivo de alarme" para o setor.
Responsável pelo programa de concessão de Florestas Públicas Federais, Hummel argumenta que o manejo sustentável envolve hoje mais de 50 espécies, em um mercado "dinâmico".
"Daqui a 30 anos, o mercado será outro. Espécies que hoje são valorizadas podem perder espaço para outras. O importante é que o manejo continuará a ser um bom negócio, e a reserva de biodiversidade será mantida", diz.
Hummel afirma não ver risco de uma eventual queda de rentabilidade impulsionar a exploração ilegal. "Em 30 anos, o consumidor será muito mais exigente em relação à origem da madeira."
João Carlos Baldasso, presidente do Cipem (entidade que reúne oito sindicatos de madeireiros de Mato Grosso), diz que as constatações do estudo da USP serão "reguladas pelo mercado".
"Se faltar ipê, teremos outra madeira para ofertar, e ela será valorizada. Há poucos anos, ninguém diria que o cumaru teria a valorização que tem hoje."
Baldasso, que também preside o Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal, questiona o "espectro limitado" da pesquisa.
"Uma área de cem hectares em Paragominas não pode servir de base para toda a Amazônia", afirma.
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Manejo insustentável Sistema feito para preservar florestas permitindo exploração comercial das árvores tem baixa produtividade Fonte: correioweb 04/09
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Um estudo da USP mostrou que o manejo sustentável de florestas nativas é, ao menos do ponto de vista econômico, insustentável.
A ideia do manejo é extrair as árvores para exploração comercial de forma controlada, com impacto ambiental mínimo, para garantir a preservação da floresta.
O sistema é considerado como um caminho para gerar renda e frear o desmatamento ilegal na Amazônia.
Mas, segundo a pesquisa, o modelo atual não permite a regeneração das árvores mais valiosas e tende a perder rentabilidade após o primeiro corte para comercialização da madeira.
A insustentabilidade econômica, aponta o estudo da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), pode fazer fracassar a política federal de concessão de florestas, além de impulsionar a busca por novas áreas de exploração.
"O manejo atual é baseado em um ciclo de corte de 30 anos. O que constatamos foi que esse intervalo não permite a recuperação das espécies com maior interesse comercial", diz o coordenador da pesquisa, Edson Vidal.
As espécies mais afetadas são ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa), jatobá (Hymenaea courbaril), freijó-cinza (Cordia goeldiana) e cedro-vermelho (Cedrela odorata).
No caso do jatobá, o rendimento em uma mesma área cai 80% entre o primeiro e o segundo corte, diz Vidal.
O ipê é ainda mais problemático: uma área que renda 100 m3 hoje produzirá apenas 4 m3 em 30 anos.
"Nossa preocupação é que, na ausência dessas árvores mais valorizadas, pode haver pressão [exploração ilegal] sobre novas áreas da floresta", diz o pesquisador.
MÉTODO
As estimativas de recuperação de florestas onde é feito o manejo sustentável foram obtidas ao longo de dez anos em uma área de 200 hectares no município de Paragominas (PA).
Localizada em uma fazenda particular, a área foi dividida em três segmentos: 70 hectares foram explorados do modo tradicional; 100 hectares tiveram árvores retiradas seguindo técnicas de redução de impacto e 30 hectares foram mantidos intactos, para comparação.
Os resultados foram obtidos a partir da área explorada de forma menos agressiva. Segundo o professor, isso indica que as boas práticas de manejo não são suficientes para assegurar a recomposição e o valor comercial das florestas.
O estudo sugere a adoção de ciclos de corte (intervalo entre um corte e outro) específicos por espécie ou grupo de espécies. No caso do jatobá, 50% da produtividade original pode ser retomada em 60 anos, diz a pesquisa.
Os resultados foram recebidos com contrariedade por representantes do setor florestal. O pesquisador, porém, afirma que o estudo não desaconselha o manejo.
"Eu acredito no manejo, mas não vou deixar de apontar as questões que preocupam. É preciso mostrar à sociedade que algumas coisas precisam ser melhoradas."
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Museu de novidades. Shows e peças teatrais transformam o gigantesco vão de concreto do Complexo da República num palco que caiu no gosto do brasiliense Fonte: correioweb 04/09
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O pátio de 96 mil metros quadrados é bem democrático. Está ao lado da Rodoviária, no coração do Plano Piloto, e distante das áreas residenciais. À noite, quando a maçaroca de carros, que congestiona a Esplanada dos Ministérios durante o horário comercial, está devidamente guardada, há espaço de sobra para estacionar. A música alta não chega a incomodar moradores das Asas, e o gramado inexistente não periga desmanchar debaixo de milhares de pisadas. A praça do Museu Nacional Honestino Guimarães do Complexo da República tem vocação e não demorou muito para ser descoberta. O espaço foi inaugurado em 2006. No ano seguinte, a exposição Tropicália extrapolou os muros da cúpula de Niemeyer e transbordou para o pátio. Um ano mais tarde, foi a vez de o teatro ocupar o chão. Os produtores perceberam o potencial e logo a praça virou também palco de shows.
Nas contas de Wagner Barja, diretor do museu, uma média de 300 mil pessoas passaram pelos eventos da praça desde 2007. “Não sei explicar direito por que esse espaço deu certo. A gente tenta atender a demanda da cidade e a programação é feita por nós. Esses eventos trazem um público muito grande, mas nunca tivemos problema”, garante o diretor. Além da programação oficial, a praça também tem donos espontâneos. Barja considera os vendedores ambulantes os pioneiros na ocupação, já que são responsáveis por humanizar o concreto quando o local está vazio.
A turma do skate — geralmente adolescentes — faz dos bancos e das pequenas inclinações verdadeiras pistas de acrobacias. E desde maio, um grupo de 10 casais se instala no local, às quartas-feiras à noite, para dançar tango. “Nossa política é dançar com as pessoas se elas quiserem e ensinar para quem quiser aprender”, diz o dançarino João Carlos Corrêa, que conta com a parceria da também dançarina Sther Lobo para executar as sessões de tango. Quando o grupo resolveu colocar em prática a vontade de dançar na rua, tal qual viu em Buenos Aires, chegou naturalmente à conclusão de que a praça do museu era o espaço mais adequado. A milonga acabou conhecida como Bajo la luna. “Alguém disse que o chão era ruim. Mas aí ponderamos que o ar-condicionado era ótimo e que ninguém esbarraria em ninguém no salão. E ali tem um trânsito muito interessante. Hoje, as pessoas ficam esperando”, conta Corrêa.
O diretor Guilherme Reis, produtor do Cena Contemporânea, descobriu o espaço em 2008. Até então, as festas do maior festival de teatro da cidade ocorriam no Cine Brasília. Em 2007, o movimento foi tão grande que a vizinhança reclamou. Guilherme não teve dúvida. Procurou a direção do museu e criou um ponto de encontro no meio do monumento. Os DJs do Criolina investiam num som lounge durante a semana e a festa ficava mais dançante no fim de semana. Em 2009, começaram os shows e espetáculos na praça, tudo dentro da programação do Cena Contemporânea. Angélique Kidjo lotou o espaço, Hamilton de Holanda também.
“Desde o primeiro ano, sentimos uma crescente participação do público mais jovem que não ia ao teatro. A gente quis provocar um pouco esse pessoal que gastava dinheiro em festas e não frequentava o teatro. Agora, vem o resultado, com 90% de ocupação dos teatros durante o Cena”, conta Reis. Hoje, a praça é cenário de encerramento da maratona de teatro com show dos portugueses Maria João e Mário Laginha, uma parceria do Cena com o projeto Todos os Sons, do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
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Affonso Romano de Sant'Anna. www.affonsoromano.com.br Fonte: correioweb 04/09
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A jornada não terminou
“Se o Brasil levou 500 anos para ter cerca de seis mil bibliotecas públicas, hoje temos 109.000 lan houses em toda parte”
Continua a repercutir a 14ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. A editora Kate Wilson acaba de postar lá no seu blog, em inglês, mais um aparte na discussão que envolveu Alberto Manguel, Beatriz Sarlo e este cronista, naquela fervente sessão em que se discutiu a formação do leitor na sociedade atual.
Tudo começou quando Kate (a escocesa que já trabalhou na MacMillan e hoje tem sua própria editora) estava projetando imagens sobre como os leitores adolescentes poderiam interagir com a história da Cinderela. Manguel, argentino e historiador da leitura que hoje vive no Canadá, pulou na garganta dela dizendo cruamente que tinha pensado que discutiria a “formação” não a “deformação” do leitor. Ela retrucou, ele de novo bateu forte, Beatriz Sarlo entrou de sola acusando a editora de “kitsch”, etc.
Acabei interferindo porque a discussão se polarizou em pontos que pareciam falsamente inconciliáveis: o uso da tecnologia versus a leitura tradicional. Minha tese: a leitura é uma tecnologia. Na discussão, acabou parecendo que Manguel era um conservador e tradicionalista que só aceitava a leitura dos livros e Kate, uma pessoa que só queria vender seu produto audiovisual. Paulo Caruso registrou isso tudo em charges que eram projetadas nos telões na hora da discussão e foram reproduzidas pela imprensa. A Zero Hora chegou a dizer que houve um bate-boca.
O que eu disse, superando essa dicotomia, é que há um novo universo da leitura aportado pela internet e que o Brasil que não construiu bibliotecas nem tem livrarias suficientes tinha a chance de dar pulo histórico caso se desse conta que os iPads, os telefones celulares, os computadores e as lan houses podem fazer o que não fizemos em 500 anos. A tecnologia não é má nem boa, tudo depende do uso que se faz dela. E as novas gerações, dos anos 80 para cá, que são chamadas de X, Y e Z, têm mesmo um novo modo de “ler”. Em vez de sermos contra, temos que aliciá-los, reinventar com eles o livro e os modos de leitura.
É bom lembrar essa parábola verdadeira: quando o Marechal Rondon foi designado para implantar o telégrafo com fio por todo o país, ele saiu por aí campeando, encontrando índios, atravessando rios e montanhas e plantando postes e fios por todo o país. Era uma façanha histórica cobrir todo o país com o telégrafo com fio.
Pois bem. Quando ele botou o último poste na fronteira do Brasil com a Bolívia, recebeu a notícia de que tinham acabado de descobrir o telégrafo sem fio.
A tecnologia, portanto, pode nos socorrer e resgatar os 500 anos de atraso na área do livro, da leitura e das bibliotecas. Se o Brasil levou 500 anos para ter cerca de seis mil bibliotecas públicas, hoje temos 109.000 lan houses em toda parte. Se numa favela como a da Rocinha, no Rio, existe só uma precária biblioteca, lá existem por outro lado, 200 lan houses. Igualmente uma pessoa, na margem esquerda do Tapajós ou no Mato Grosso, pode ler pelo Google obras clássicas em várias línguas, mesmo que sua cidade não tenha biblioteca nem livraria. A livraria e a biblioteca, que ficavam longe de nossa casa, hoje estão em nossa mão. Basta acessar.
O desafio que o Ministério da Cultura (e eu diria, o governo) tem hoje é este: lutar para fornecer conteúdo aos 13 mil telecentros que o Ministério da Comunicação implantou pelo país.
Portanto, a estratégia é fazer alianças e despertar a criatividade. Até as firmas de informática e o Departamento de Estado dos Estados Unidos já descobriram que é melhor cooptar os hackers que simplesmente combatê-los.
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