De repente em ceilândia
De hoje até domingo, na Casa do Cantador, uma seleção de craques da viola participa de um festival nacional do improviso. A festa terá shows de Alceu Valença e Geraldo Azevedo Fonte: folha 17/09
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O relâmpago surreal da cantoria vai riscar o espaço da Casa do Cantador em Ceilândia, de hoje até domingo, no IV Festival Nacional de Repentistas. Ivanildo Vila Nova, Valdir Teles, Geraldo Amâncio, João Paraibano, Antônio Lisboa, Moacir Laurentino e Sebastião Silva são, entre outros, alguns nomes de primeira linha que garantem a qualidade e tornam imperdível o evento, que tem entrada franca. Como aperitivo para a festa, o Correio convidou os repentistas para apresentar o festival e comentar fatos da atualidade em versos rimados. Confira a verve dos poetas populares, versando sobre o calor infernal, os crimes de colarinho branco e a necessidade de faxina na miséria.
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A Casa do Cantador do Distrito Federal convida a população para o IV Festival Nacional de Repentistas com verdadeiros artistas que virão ao Centro-Oeste trazendo a poesia pura e a genuína cultura
dos estados do Nordeste.
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De hoje até domingo deste mês de setembro contaremos com os melhores cantadores repentistas que traremos. Além de declamadores e grandes emboladores que fazem versos sem medo,
contaremos com a presença do cantor Alceu Valença e também de Geraldo Azevedo.
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Francisco de Assis – Chico de Assis
Diretor da Casa do Cantador
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Que calor Brasília está sofrendo
todo mundo reclama da quentura
as queimadas se alastram no Cerrado
e vai subir ainda mais a temperatura
na chegada do fogo na fornalha
do repente dos mestres da cultura.
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Jonas Bezerra (Iguatu/CE)
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Em Brasília, Distrito Federal
que de tanta grandeza se reveste
os maiores poetas do Nordeste
serão astros de um grande festival
no repente espontâneo e natural
a cultura se torna genuína
a escolha do povo predomina
aplaudindo, vibrando e enaltecendo
prova assim que Brasília ainda está sendo
a cidade de alma nordestina.
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Geraldo Amâncio (Fortaleza/CE)
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Do Brasil é Brasília a capital
onde todo o país tem cobertura
mas de uns dias para cá esta quentura
está queimando o Distrito Federal
o calor chega a um nível infernal
respirar o ar seco é sempre um tédio
a poeira invadindo casa e prédio
o calor não permite andar de terno
para poder acabar com esse inferno
100 milímetros de chuva é o remédio.
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Raulino Silva (Caruaru/PE)
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Quanta gente envolvida ainda tem
nos escândalos que a pátria promoveu
recebendo dinheiro sem ser seu
todo o dia a imprensa mostra alguém
quando o caso é mostrado, à tona vem
a notícia se espalha, o rumor cresce
vem depressa e depois desaparece
Jaqueline Roriz, a deputada
foi flagrada, mas foi inocentada
geralmente, com rico isso acontece.
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João Paraibano (Campina Grande-PB)
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Já sabemos de cor que no Brasil
todo tempo a corrupção mandou
até mesmo com Lula ela passou
se contarmos os casos, tem uns mil
esse ano desde a Casa Civil
o turismo, o Dnit, a agricultura
tem achado um rival à sua altura
nas respostas da Chefe da Nação
Dilma está enfrentando a corrupção
como fez combatendo a ditadura.
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Ivanildo Vilanova (Feira Nova/PE)
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Nós estamos querendo uma nação
sem maldade sem arma e sem violência
tudo feito com muita inteligência
mais emprego, mais casa, água e pão
e o motivo da nossa inspiração
não é briga, maldade e nem bravura
inclusive a maior desenvoltura
que será no Brasil nosso destaque
nós queremos uma pátria sem ter crack
com mais força, projeto e mais cultura.
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Moacir Laurentino (Campina Grande/PB)
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Se no Plano Piloto tem Barão,
roupas caras, carrões, maracutaia,
no Recanto das Emas, Samambaia,
na Ceilândia e em São Sebastião
violência e pobreza ainda estão
fabricando mendigo e marginal
só se muda esse quadro social
com justiça e política pública séria
e a sonhada faxina na miséria
que divide o Distrito Federal.
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Antonio Lisboa (Recife/PE)
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De urubus que se nutrem de benesses!
Berço esplêndido, em Brasília te apresenta!
Que os menores sem pai, mãe, roupa e teto,
Que carecem de berço e de afeto,
Dormem sujos na rua amaralenta!
Novo mundo, de novo te ornamenta!
Pátria amada, cadê o teu amor?
Capital do Colosso, por favor,
Dá valor a teu povo e não esmola!
Põe as tuas crianças na escola,
Que terás um futuro vencedor!
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João Santana, Brasília
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Programação
Hoje 20h
» Abertura com apresentações das duplas de repentistas
» Ivanildo Vila Nova e Valdir Teles
» Geraldo Amâncio e João Paraibano
» Donzilio Luiz (declamador)
» João Lourenço e Hipólito Moura
» João Santana e Valdenir de Almeida
23h Show com Geraldo Azevedo
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Sábado 20h
» Abertura com apresentações das duplas de repentistas
» Antônio Lisboa e Edmilson Pereira
» Acrízio de França e Zé Cardoso
» Genaldo Pereira e Paulo Pereira
» Raimundo Sobrinho e Jonas Andrade
» Jonas Bezerra e Raulino Silva
23h Roque José e Terezinha (emboladores)
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Domingo 20h
» Abertura com apresentações das duplas de repentistas
» Raimundo Borges e Zé Gomes
» Ismael Pereira e Rogério Meneses
» Donzílio Luiz (declamador)
» Chico Ivo e João Neto
» Moacir Laurentino e Sebastião da Silva
23h Show com Alceu Valença
Local: Casa do Cantador, em Ceilândia (QNM 32, Área especial 6)
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SHOW » O bom partideiro
O cantor e compositor carioca Arlindo Cruz volta a Brasília para show na Aruc, em que cantará músicas do novo CD Batuques e romances Fonte: Correioweb 17/09
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“O sambista perfeito devia nascer com a luz de Candeia (…)/Elegante do jeito Paulinho/Cativante do jeito Martinho/Ser malandro e contagiante do jeito Zeca Pagodinho”, canta Arlindo Cruz, em uma das 550 composições de três décadas de samba.
A humildade com que reverencia os bambas é só uma das facetas do cantor carioca, que tem como marca registrada a simpatia e o bom humor.
“Estou com saudade de Brasília! Faço shows na Aruc desde a época do Fundo de Quintal, é um prazer voltar”, anima-se o artista, em um tom tão familiar que transforma a entrevista em bate-papo informal. De volta à cidade para única apresentação hoje, no Cruzeiro, ele lança o álbum Batuques e romances e é a atração principal da comemoração dos 25 anos do grupo brasiliense Raça Popular.
Há dois anos fazendo shows com o MTV ao vivo, o autor do sucesso Camarão que dorme a onda leva decidiu que estava na hora de escolher o repertório para um novo trabalho, nas prateleiras desde de junho deste ano. “Eram mais de 35 músicas selecionadas, mas todas tinham algo em comum: ou eram batuques falando de roda de samba, de candomblé, de jongo, ou tinham o lado romântico. Foi aí que me descobri um batuqueiro romântico”, conta sobre as 15 faixas do CD, que contempla várias participações especiais.
Zeca Pagodinho, Marcelinho Moreira, Ed Motta, Teresa Cristina e até o humorista Helio De La Peña marcaram presença no 22º disco do artista. “O Zeca faz parte da minha história. Eu tenho a moral de tê-lo em todos os meus álbuns e não posso abrir mão disso. Assim, o chamei para cantar em Meu poeta. O Hélio já tinha trabalhado comigo em algumas vinhetas que gravei e convidei o Ed Motta porque tinha uma música com muito balanço, que tinha a cara dele” explica.
Na tevê ou na avenida
Hit do verão com as participações no Esquenta!, ao lado de Regina Casé e Leandro Sapucahy (que, por sinal, é o produtor de Batuques e romances), Arlindo Cruz está bombando na tevê. Com Sombrinha e Zeca Pagodinho, compôs O nome dela é Griselda, tema da protagonista da novela Fina estampa e, em Insensato Coração, além de interpretar Não dá (escrita com Wilson das Neves), participou de um capítulo, cantando numa roda de samba.
“Na verdade, as novelas que eu faço são sempre o Arlindo Cruz tocando pagode, que é a coisa mais natural para mim. O mesmo Arlindo que está no Império Serrano e no Cacique de Ramos é o que aparece na tevê”, diz, rindo, com a mesma simpatia vista nos palcos e na telinha.
Bodas de prata
» Na estrada desde 1986, a banda Raça Popular, formada por Rinaldo (banjo e voz), George (reco-reco e voz), Chiquinho (cavaco), Daniel Ferrel (tantan), Gustavo Pão (pandeiro e percusão), Max (violão) e Pedro (surdo e bateria), nasceu no Guará, em uma turma de amigos. Os batuques nos ensaios da Aruc viraram assunto sério e o septeto passou a tocar com sambistas importantes, como Fundo de Quintal, Dona Ivone Lara e Jovelina Pérola Negra. No show de hoje, além de músicas de Beth Carvalho, João Nogueira, Cartola e Nelson Cavaquinho, o grupo tocará canções inéditas, que estarão no primeiro CD, com previsão de lançamento para o início de 2012. Carlos Belfort, Dhi Ribeiro, Rogerinho Ratatúia e Renato Milagres completam a programação.
ARLINDO CRUZ
Show com o cantor carioca e os convidados Carlos Belfort, Rogerinho Ratatúia, Renato Milagres, Dhi Ribeiro em comemoração aos 25 anos do grupo Raça Popular. A partir das 21h, na Aruc (Área Especial nº 8, Cruzeiro Novo). Ingressos: R$ 30 (individual); e R$ 250 (mesa VIP para quatro pessoas). Preços únicos. Informações: 3361-1649 e 9159-4843. Não recomendado para menores de 14 anos.
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MÚSICA »
Passeio latino ao violão Fonte: Correioweb 17/09
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Há um misto de erudição e espontaneidade popular em Sete cordas. Uma mescla delicada, uma combinação executada com tanto cuidado que é possível identificar uma feliz dose de despreocupação e apuro estético de cada acorde. O disco duplo do violonista Fabiano Borges, gravado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), está cheio de bons momentos, com um repertório reverente à música latino-americana, a mesma que o músico apresenta hoje na Casa Thomas Jefferson.
Borges, 28 anos, tem caso antigo com vários estilos musicais. Curiosamente, chegou ao violão erudito por meio do rock. Ou do blues. Ainda garoto, assistiu ao filme A encruzilhada, em que o ator Ralph Macchio treina para um duelo de guitarras com o virtuose Steve Vai. Borges também tocava guitarra, mas o filme o levou a Mozart e ao violinista Paganini. “Percebi que muito do que eles tocavam vinha daí”, conta. E foi quase ao mesmo tempo que descobriu Raphael Rabello. Não teve jeito: ele deixou a guitarra e foi estudar violão erudito na Escola de Música de Brasília (EMB).
Sete cordas nasceu dessa trajetória. Para as duas primeiras faixas de cada disco, Borges convidou o violonista cubano Aléxis Mendez. Com ele, fez a homenagem a Rabello, logo na primeira faixa, Meu avô, reverência que continua em Comovida nº 1.
A peça é de Guinga, mas nunca foi gravada pelo autor. Apenas Rabello se atreveu a registrar a melancólica composição. O primeiro disco também traz Suíte brasileira, assinada pelo próprio Borges. Três peças — Sambossa, Bolero chorado e Samba em Minas — formam o conjunto, uma espécie de celebração da música brasileira.
“Sambossa foi minha primeira composição, em 2002. Depois fiz as outras e resolvi transformar em suíte como se fosse um grupo de peças de dança com três gêneros brasileiros típicos”, avisa. A conexão do compositor com o universo clássico fica clara nos tremolos de Sambossa.
Tango brasileiro
A primeira parte do trabalho traz ainda a referência tradicional com Escovado e Tenebroso, de Ernesto Nazareth. “Ele deu a base para a nossa música popular. Essas duas peças são tangos brasileiros, um gênero do século 19 quando ainda não existia a palavra choro. Mas no fundo são choros”, conta. “Acho imprescindível o trânsito entre o popular e o erudito. O erudito tem toda a base da música europeia e isso é importante para o violonista. E o popular é mais solto, despreocupado.”
Os tangos, desta vez argentinos, introduzem a segunda proposta do disco: o diálogo com a música latino-americana. À tradição de Astor Pizzolla, com Adiós nonino em arranjo refinado, Borges acrescentou um universo desconhecido trazido da música peruana e do norte da Argentina. San Miguel de Piura resgata o ritmo popular do folclore peruano conhecido como marinera. “É uma peça muito rítmica, na qual o violão tenta simular os instrumentos de sopro, com muita polifonia. É uma música com mais de 100 anos”, explica Borges. O CD traz ainda duas faixas multimídia.
O instrumentista também assina Suíte contrastes latinos. Um prelúdio e uma milonga firmam o compromisso com a música do continente, que desde 2008 ele divulga em parceria com o violonista argentino Diego Martín Castro no Duo do Mercosul.
Sete cordas
CD do violonista Fabiano Borges. Álbum duplo, com 18 faixas. Lançamento: MCK. Preço médio: R$ 44,90. Show hoje, às 20h, na Casa Thomas Jefferson (706/906 Sul). Entrada franca. Classificação livre.
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Estilo tardio exibe radicalidade de Francisco Alvim
Com alto grau de maturidade, poeta mineiro busca forma complexa e irrequieta no livro "O Metro Nenhum" Fonte: folha 17/09
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Quarenta anos separam o livro de estreia, "Sol dos Cegos" (1968), do seu mais recente lançamento, "O Metro Nenhum". Nesse tempo, Chico Alvim construiu uma trajetória na qual "Passatempo" (1974) e "Elefante (2000)" representam pontos de virada.
O primeiro surgiu no bojo da chamada poesia marginal; o segundo -motivo de tanta discussão- caminhou com as próprias pernas. Comparado a outros poetas, o corpus de sua obra é parcimonioso, enxuto, magro.
À primeira vista, "O Metro Nenhum" tende a ser uma leitura de reconhecimento. Ao identificar procedimentos, falas e imagens, o leitor sente-se numa zona de conforto.
Assim como, diante de um velho amigo, tecemos o elogio habitual: "Você não mudou nada, continua o mesmo". Mas, no caso desse livro, uma recepção crítica tão pacificada pode indicar apenas que o leitor envelheceu.
"O Metro Nenhum" é uma obra de estilo tardio. Seguindo de perto a formulação utilizada por Edward Said, sua novidade parece estar vinculada a um estado avançado da experiência do artista.
Não no sentido da idade, mas na busca de uma forma complexa, irrequieta e áspera, típica das realizações modeladas por um alto grau de maturidade.
Chico Alvim parece pinçar o nervo da questão. A negatividade que o título anuncia contamina todo o conjunto, cuja síntese encontra-se no poema "Nada, Mas Nada Mesmo": "tem a menor importância/ Nem antes/ Nem depois/ Nem durante".
Paradoxalmente, é a partir dessa negação radical que podemos avaliar a força e a ambição do autor.
Ao reivindicar tamanha liberdade, ele demonstra ter consciência da própria radicalidade, escrevendo como quem não tem nada a perder. O vigor e a juventude do livro residem na percepção de que só é possível avançar, pois já não há hipótese de retorno.
Por isso mesmo, Chico Alvim pode desmontar e remontar diante de nós diversas etapas da construção da obra. Por vezes, expõe o leitor à experiência de estar folheando um livro literalmente aberto, onde é possível tomar conhecimento da discussão em torno dos "Títulos" ou da escolha de uma epígrafe.
Ambos acabam figurando, simultaneamente, dentro e fora do volume. Por exemplo, "Epígrafe?" nos fere com estilhaços líricos de "Leda and the Swan", de W. B. Yeats.
Em outros poemas, título e versos se autodevoram, feito cão tentando morder a própria cauda. O título, sem nenhuma mediação, despenca sobre os versos; estes, por sua vez, são arremessados para o lugar do título.
As palavras se alternam sem parar, presas num sistema de rolamentos, condenadas à imobilidade e ao movimento, como em "Avaliar": "Quem sou eu/ para".
Só um olhar de extração mineira consegue que a aparente repetição responda também pelo estranhamento.
Parece ser esse o principal objetivo de "Acontecimento": "Quando estou distraído no semáforo/ e me pedem esmola/ me acontece agradecer". Os títulos abandonados e a epígrafe deslocada refazem no âmbito lírico as mesmas operações de caráter ideológico: os cortes bruscos trazem à tona tudo o que está soterrado pela fala cotidiana.
Em cenários relacionados à nossa experiência social - mesa de bar, hospital, presídio- reconhecemos todas as formas da brutalidade.
Outro aspecto que merece comentário é a crescente presença de poemas em francês, espanhol ou inglês.
"Negociação", incluído em "Festa" (1981), parecia um caso isolado. Mas torna a reincidir com "Con Buen Critério" em "O Corpo Fora" (1988), para se consolidar em "Elefante".
Essa prática está longe de apontar para um mero domínio da língua estrangeira ou reforçar o estereótipo do poeta versado. Discretamente, indica que o ouvido do poeta pode decupar outras falas, que a matriz do seu registro possui alcance universal.
Não mencionar a presença de Drummond seria um equívoco. Em "Elefante", 11 anos atrás, "Poema" já sinalizava para uma dissolução da questão da influência.
Agora, "Quatro Contrafações" inspira convívio e respira comentário. Podemos falar em incorporação ao fatal lado esquerdo. Numa construção espelhada, versos do "Edifício São Borja", de "A Rosa do Povo", atuam como contraponto musical, andaime e notação.
Por fim, é preciso dizer que neste novo livro de Chico Alvim alguns poemas estão impregnados de magnetismo, plenos de beleza e enigma.
Seja a culpa que não dá descanso em "A Mão que Escreve": mão apócrifa, escravismo brabo, pelourinho estilizado. Seja o roteiro mitológico de "Ío": fornicações de Zeus, metamorfoseado em boi da mata mineira.
Leitor, nem mesmo a imagem mais pura, nem a palavra mais impura, metro nenhum pode dar conta de "Agora".
AUGUSTO MASSI é professor de literatura brasileira na USP
O METRO NENHUM
AUTOR Francisco Alvim
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 33 (96 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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RAIO-X. FRANCISCO ALVIM
VIDA
Nasceu em 1938, em Araxá (MG). É diplomata aposentado e vive em Brasília. Fonte: folha 17/09
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OBRA
Integrou geração de poetas ditos marginais e de pós-vanguarda no fim dos anos 60. Estreou com "Sol dos Cegos" (68). Tem oito livros publicados, todos de poesia.
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Ex-ministro Eros Grau é eleito para Academia Paulista de Letras Fonte: folha 17/09
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DE SÃO PAULO - Em reunião realizada anteontem, na Academia Paulista de Letras (APL), o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Eros Grau foi eleito com 32 votos para a cadeira de número 11.
A vaga na APL havia surgido após a morte do acadêmico e filósofo Milton Vargas.
O candidatura do escritor era vista com bons olhos por grande parte dos acadêmicos.
Lygia Fagundes Telles, que faz parte da Academia Brasileira de Letras e da APL, havia afirmado antes da eleição que Grau era "um lutador".
"O que importa é o amor, a solidariedade com a nossa classe; isso ele tem de sobra."
Eros Grau escreveu dezenas de livros sobre direito, mas apenas um romance, "Triângulo no Ponto" (ed. Nova Fronteira, R$ 33, 144 págs.). Em novembro, ele lança "Paris, Quartier Saint-Germain-des-Prés".
Mauricio de Sousa, um dos acadêmicos da APL, homenageou o novo imortal com uma caricatura.
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Tradução brilhante revela dicção portuguesa de obra de Browning Fonte: folha 17/09
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Catarina de Ataíde, era, supostamente, Natércia, personagem da lírica camoniana e, também supostamente, a grande paixão de Camões.
Elizabeth Barrett Browning (1806-1861), na Inglaterra vitoriana, tendo se encantado com a história de Catarina, escreveu, em 1844, "Catarina de Camões", em que narra o drama de uma mulher com quem, um ano mais tarde, ela mesma viria a se identificar, dadas as venturas de amor que ela também viveria.
Tendo sido proibidos, pelo pai abastado, de se casarem, Elizabeth e os oito irmãos viviam em estado de clausura em Londres.
Mas quando, poeta já prestigiada, Elizabeth recebe uma carta do também poeta e admirador Robert Browning (1812-1889), declarando o amor por sua poesia e também por ela, inicia-se a escrita destes 40 poemas que compõem os "Sonetos da Portuguesa", agora com tradução brilhante de Leonardo Fróes.
É a história de um amor clandestino que avança da negação total para a possibilidade de realização e, enfim, a entrega apaixonada, passando por seduções e recuos.
Tudo de forma disfarçada e retomando a tradição das canções de amor medievais e renascentistas, com a inovação surpreendente de que é a própria mulher a assumir a voz da amante.
Para o leitor de língua portuguesa, é como se, de alguma maneira, os poemas já contivessem, mesmo que só imaginariamente, uma relação oculta com nossa dicção.
Ou não se ouve, em versos como "Porém só de te amar já me foi dado/ Por este amor a graça que me cura/ E é te amar sempre mais, sem resultado:/Te bendizer renunciando à figura", o Camões dos sonetos líricos e, num esforço um pouco mais remoto, também Fernando Pessoa?
Motivos comuns à lírica amorosa, como o amor que dura somente o tempo de uma chama, mas que por essa mesma razão é ainda mais poderoso, traduzem-se em versos como: "Hás de amar-me no eterno deste enquanto", em que também se pode ouvir Vinicius de Moraes.
E considerando o fato que, de certa forma, os sonetos já contêm algo de nossa língua, Leonardo Fróes soube revelar, até para o inglês, o tanto de português que eles têm, mesmo que não o saibam.
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Família de Lamarca tenta provar que ele não foi um 'desertor'
Juíza suspendeu indenização à família sob a alegação de que ele abandonou o Exército Fonte: folha 17/09
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Exatos 40 anos após a morte de Carlos Lamarca, sua família ainda luta na Justiça para provar que um dos mais importantes militares a aderir à luta armada contra a ditadura não foi um desertor.
Em junho de 2007, a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça deu a Lamarca a patente de coronel e à sua viúva, Maria Pavan, o direito de ganhar R$ 12,1 mil mensais e R$ 902,7 mil de indenização.
Mas, em outubro daquele ano, a Justiça Federal no Rio, em ação movida por clubes militares das três Forças, ordenou a suspensão da promoção e dos pagamentos.
A decisão foi uma liminar, ou seja, teve caráter provisório. Passados quase quatro anos, o processo não ganhou uma sentença -o que deve ocorrer ainda neste ano.
A argumentação gira em torno do fato de Lamarca, ao se insurgir contra o governo, ter ou não abandonado irregularmente a sua função.
A juíza entendeu que "sua exclusão das Forças Armadas decorreu de abandono [em janeiro de 1969] do 4º Regimento de Infantaria de Quintaúna", o que caracteriza "crime de deserção".
Para a magistrada, a indenização foi uma "decisão política" altamente "questionável", um "pagamento de valores incompatíveis com a realidade nacional".
Para a família, a insurgência de Lamarca foi legítima e respeitou os princípios do Exército, no qual cumpriu carreira "brilhante", adjetivo usado pela Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência.
"Quem desertou foram aqueles que, como militares e funcionários públicos federais, tomaram o poder pelas armas e imprimiram ao povo brasileiro a lei do silêncio e terror psicológico e físico", disse o filho Cesar Lamarca.
Na tarde de ontem, a reportagem não localizou representantes dos clubes militares autores da ação. O Exército não se pronunciou.
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Pesquisadores pressionam por royalties
Comunidade científica aproveita debate para pedir que recursos do petróleo não deixem de ser aplicados na área
Ciência e Tecnologia perderá verbas com criação do Fundo Social, que receberá recursos que iriam para o setor Fonte: folha 17/09
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A comunidade científica se mobiliza para tentar assegurar para o setor um pedaço da riqueza do pré-sal e reabrir uma discussão que eles perderam no ano passado.
O objetivo é garantir que parte dos royalties cobrados das empresas que exploram petróleo seja carimbado para o Ministério da Ciência e Tecnologia, que hoje tem assegurado em lei uma fatia desses recursos.
O ministério, no entanto, perdeu seu espaço com a criação do Fundo Social no ano passado. O fundo passará a ser o destino de todos os royalties arrecadados pelo governo federal a partir do ano que vem.
Com as negociações entre o governo e os Estados produtores e não produtores pela partilha desses recursos, a comunidade científica viu uma nova oportunidade para buscar a vinculação de parte do dinheiro para o setor.
Sem essa verba, seca uma das mais importantes fontes de verbas hoje destinadas ao pagamento de bolsas, pesquisas e na compra de equipamentos para laboratórios em universidades públicas e institutos de pesquisa.
A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Helena Bonciani Nader, observa que, pela legislação aprovada, os recursos do Fundo Social não têm destinação obrigatória, ou seja, não há certeza de que serão aplicados em inovação.
"A gente quer o carimbo, o que não está escrito não pode ser cobrado", afirma.
A Sociedade manifestou em carta aberta à presidente Dilma apoio à emenda do deputado Fernando Jordão (PMDB-RJ), pela qual se mantém a destinação dos recursos das áreas já exploradas para as pastas da Ciência e Tecnologia e Marinha.
Pela proposta, nas áreas a serem descobertas, parte dos recursos da União também teriam repasse obrigatório. Dessa maneira, o Fundo Social teria a fatia reduzida de 19% (proposta do governo) para 10,5%.
Se a proposta não vingar e nada for feito, a partir do ano que vem o fundo setorial CT-Petro, cujos recursos vêm dos royalties, perderá a verba para o Fundo Social.
A estimativa da SBPC é que isso represente uma perda de R$ 1,3 bilhão por ano.
O CT-Petro é um dos maiores apoiadores do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, com verba de R$ 3,3 bi neste ano.
O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, também é a favor da destinação obrigatória dos recursos do petróleo, embora afirme que não vai interferir no debate no Congresso.
Na sua avaliação, União, Estados e municípios devem investir 30% dos recursos que receberão em educação e ciência e tecnologia.
"A divisão dos recursos deve ser condicionada a investimentos em áreas prioritárias", afirmou.
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TV Cultura lança série sobre mudanças de vida
'Ponto de Virada' reúne entrevistas de personalidades sobre fato marcante
Estreia tem Milhem Cortaz falando sobre uso de cocaína antes de se tornar um dos atores mais disputados do país Fonte: folha 17/09
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Começa o programa e o ator Milhem Cortaz está sentado num sofá contando sobre como "cheirou muito" antes de se tornar um dos mais requisitados do cinema e do teatro nacionais.
A proposta de "Ponto de Virada", que estreia hoje à noite na TV Cultura, é mostrar da boca do entrevistado um fato que tenha determinado uma grande mudança em sua vida.
Na lista dos próximos convidados, estão o cartunista da Folha Laerte, a cineasta Tata Amaral, o escritor Marcelo Rubens Paiva e o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa, entre outros.
O diretor da empreitada, composta por 13 capítulos, é o cineasta Frank Mora, que já tinha levado essa ideia ao cinema em documentário homônimo, que lançou na Mostra de Cinema de 2009 e rodou sem leis de incentivo, com cerca de R$ 85 mil.
NOVOS PAPOS
Desde então, levou o projeto a TVs e produtoras, sem sucesso. Em janeiro, a Cultura aceitou a série e pagou para refazer a edição das entrevistas e incluir outras três que não estavam inicialmente -a coreógrafa Deborah Colker, o colunista da Folha, escritor e humorista José Simão e Mauricio de Sousa, "pai" da Turma da Mônica.
"A série também foi enriquecida pelo acervo de imagens do canal, ao qual tive total acesso", afirma.
O diretor diz que não queria mostrar celebridades, mas pessoas. "O importante era que eles escolhessem um momento de virada. Não eram coisas que estavam na biografia dos entrevistados", conta.
Ele acredita que, por não ser conhecido, as pessoas ficaram à vontade para falar de peito aberto. "Acho que era uma pergunta que queriam responder fazia tempo."
Milhem Cortaz, de "Tropa de Elite" e "Carandiru", fala do tempo de adolescente, drogado de cocaína, quando foi salvo por uma sugestão da mãe de levá-lo para a Itália. Lá conheceu o teatro.
"Pensei: 'É ali que eu vou canalizar todas as minhas loucuras, que vou organizar essa loucura'. Para ser louco, tem de ser muito organizado", declara no episódio.
O protagonista de "A Concepção" (2005), de José Eduardo Belmonte, diz que, "mesmo todos achando chavão", seu ponto de virada foi quando encontrou Deus. "Não sou evangélico, não levanto bandeira. Mas, quando minha mãe me acordou nesse dia e me mandou para a Itália, nunca mais cheirei. Aqui era terminal nessa porra. Não fui para clínica. Parece que nunca usei."
As declarações são tão fortes quanto honestas.
Mora concorda: "Os depoimentos são mais impressionantes do que qualquer ideia inicial que pudesse ter tido".
Agora prepara uma segunda temporada do programa, mesmo sem a certeza de que a emissora vai exibi-la.
O cirurgião plástico Ivo Pitanguy, a escritora Lygia Fagundes Telles e o cineasta José Padilha estão nos planos para novos episódios.
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Troféu HQ Mix faz homenagem ao cartunista Glauco
Cerimônia premiou artistas da Folha, como Angeli, Allan Sieber, Montanaro e Laerte Fonte: folha 17/09
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Ontem à noite, o Homem-Aranha se contentou com o papel de figurante. Após fazer estripulias no palco, o ator fantasiado como o super-herói sentou-se na primeira fileira e assistiu quietinho à entrega do 23º Troféu HQ Mix.
O protagonista era o cartunista Glauco, morto em 2010, homenageado nesta edição do mais importante prêmio dos quadrinhos brasileiros.
Familiares do artista subiram ao palco para receber de Fernanda Mena, editora da Ilustrada, estatuetas em formato de Geraldão, personagem que ele publicava em suas tirinhas na Folha.
Além disso, o caderno especial da Folha veiculado após a morte de Glauco recebeu o prêmio de publicação de charges. Reimpresso, o suplemento foi distribuído no evento.
Glauco foi baleado aos 53 anos por Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, frequentador da Igreja Céu de Maria, fundada pelo artista. Neste ano, Nunes foi considerado inimputável pela Justiça Federal do Paraná e não pode ser responsabilizado pelo ato.
Ele hoje cumpre regime de internação compulsória em um hospital psiquiátrico.
EQUIPE PREMIADA
Outros artistas do time do jornal foram premiados pelo troféu. Entre eles Angeli (chargista), Allan Sieber (cartunista) e Laerte (tira nacional, por "Piratas do Tietê").
Ganhou o prêmio também o livro "Cócegas no Raciocínio" (editora Garimpo), do chargista da Folha João Montanaro. Gabriel Bá e Fábio Moon, que desenham na Ilustrada, foram premiados pelo destaque internacional de"Daytripper", publicado nos EUA.
O troféu é organizado pela Associação dos Cartunistas do Brasil e pelo Instituto Memorial de Artes Gráficas do Brasil. Participam da votação profissionais da área.
No evento foi fundada a filial brasileira da Federação Internacional de Cartunistas.
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