sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Multiartista Antonio Nóbrega leva erudito e popular para TV. Pernambucano apresenta versão de peça premiada pela APCA Fonte: folha 09/09

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O multiartista Antonio Nóbrega herdou de seu mestre Ariano Suassuna o hábito de criar aulas-espetáculos, que fundem didatismo e demonstração artística para apresentar ao público a proximidade entre a cultura popular e o universo erudito.

A última dessas incursões dele no palco foi "Naturalmente - Teoria e Jogo de uma Dança", premiada pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) em 2009, que ganha agora versão para a TV.

Ao lado da filha Maria Eugênia Almeida, de Marina Candusso e de oito instrumentistas, o pernambucano conduz o espectador por uma trilha que atravessa Bach e Tchaikovsky e passa pelo maracatu e pelo choro de Jacob do Bandolim, entre outros.

No gestual, está a busca por um cruzamento lúdico dessas referências com manifestações típicas, como o coco de roda, a umbigada e o tambor de criola.

Este é o esforço de Nóbrega de afirmar a existência de uma dança puramente brasileira, que, quase como numa contradição, é essencialmente mestiça, calcada no popular, mas completamente permeável à globalização.

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Feira de arte estreia com incentivo estatal. Art Rio recebeu R$ 3 milhões de verba pública; Estado isentou 83 galerias participantes de contribuir com ICMS Fonte: folha 09/09

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Primeira edição de evento que promove a venda de obras seduz galeristas de SP a integrá-lo em 2012

"Quem diria, carioca voltando para o Rio para ver feira de arte", comentou, irônico, um dos passageiros da ponte aérea, anteontem. O espanto não é de estranhar. Cidade onde mora a maioria de artistas brasileiros de destaque no cenário internacional, como Tunga, Ernesto Neto, Adriana Varejão ou Beatriz Milhazes, o Rio não conseguia emplacar um evento com o "moving circus" das artes plásticas. Com a primeira edição da Feira Internacional de Arte do Rio de Janeiro, Art Rio, aberta para convidados anteontem, essa situação dá sinais de mudança. O evento já começou grande, reunindo 83 galerias (33 estrangeiras).

Faltaram mesmo algumas galerias paulistanas importantes, como Luisa Strina, Casa Triângulo, Luciana Brito e Fortes Vilaça. Todas, porém, já decidiram participar em 2012. "Depois do que estou vendo aqui, não posso ficar de fora", disse Ricardo Trevisan, da Triângulo, à Folha.

O que ele viu lá foi uma feira profissional, de caráter internacional, em antigos armazéns na zona portuária. "A feira superou todas as expectativas", falou Alessandra d'Aloia, da Fortes Vilaça.

Parte do sucesso é creditado à dupla de empresários Alexandre Accioly e Luiz Calainho, que se associaram às criadoras do evento, Brenda Valansi Osório e Elisangela Valadares, há quatro meses.

"Nós fomos convidados por elas e esse foi um casamento impecável, pois elas já tinham a estrutura montada e nós entendemos de negócios", disse Accioly.

Outra razão para o sucesso é o apoio institucional. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), via Riotur, cedeu R$ 1 milhão, e o Estado do Rio não só deu mais de R$ 2 milhões como também isentou as galerias do pagamento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) durante a feira.

"Isso foi um precedente importante, nós vamos pleitear também", disse Fernanda Feitosa, diretora da SP Arte, a feira paulistana. Pelo sorriso na face dos galeristas ao fim do primeiro dia, o resultado foi positivo.

"Vendemos quase tudo", disse Eduardo Brandão, diretor da paulistana Vermelho e membro do comitê curatorial da feira. À boca pequena, dizia-se que o volume de vendas atingiu R$ 60 milhões.

ART RIO

ONDE Pier Mauá (Armazéns 2 e 3), zona portuária do Rio

QUANDO das 12h às 20h; até 11/9

QUANTO R$ 30

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LITERATURA » O bloqueio criativo. Em Se um de nós dois morrer, Paulo Roberto Pires transforma a dificuldade de escrever em uma ficção divertida e confusa Fonte: correio 09/09

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Um dia, quando o escritor e jornalista Paulo Roberto Pires decidiu sentar para escrever o segundo livro, aconteceu. O lixo transbordou e a cabeça esvaziou. PRP, como é conhecido o editor da revista Serrote e pesquisador do Instituto Moreira Salles, derrapou no bloqueio criativo. Não saiu nada. Pelo menos, nada que valesse ser lido por outrem. E um outro dia, convidado para falar sobre o ofício da escrita para um grupo de psicanalistas lacanianos, aconteceu de novo. Dessa vez, ao contrário. O jornalista voltou a escrever.

O próprio bloqueio deu origem à história, uma trama divertida sobre o autor de um livro só que morre no meio do caminho em direção ao segundo livro. “Quando me convidaram eu disse que estavam convidando uma pessoa que não consegue escrever. A partir dessa conversa a mente destravou e o livro começou a acontecer.”

O destrave rendeu Se um de nós dois morrer, segundo romance do autor, uma comédia autoirônica de 118 páginas que desfila um sem-fim de referências da cena literária, dialoga com o espanhol Enrique Vila-Matas e, sobretudo, não leva nem um pouco a sério a figura do escritor. “É um exercício de autoironia porque, no momento em que a gente começar a se levar a sério, acabou. Eu, pelo menos, se começar a me levar a sério, acho que é porque chegou o meu fim”, brinca o autor.

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Pires está no livro de várias formas. Tem o mesmo nome que o editor canalha e oportunista incapaz de ajudar o amigo, o advogado morto que incumbe a namorada de entregar a Vila-Matas os originais de um possível livro póstumo durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Depois de perambular pelos endereços mais clichês de Paris e espalhar as cinzas do escritor pelos túmulos célebres do cemitério Père Lachaise — tudo conforme instruções do morto —, a namorada precisa enfrentar um medo velado da literatura que matou o amante. E aí está Pires novamente, na voz do narrador, desfilando obviedades literárias.

Balaio de misturas

Vila-Matas é figura chave. O espanhol gosta de criar confusões num balaio de misturas ficcionais e pessoais e o personagem de Pires não é diferente. “O Vila-Matas foi um disparador da história toda”, avisa. “Ele diz que não consegue ler livros do Paul Auster até o fim porque dá vontade de escrever. O Vila-Matas é um desses autores que provocam um pouco as pessoas até por ser uma referência de uma literatura muito dentro da literatura. Ele também tem livros sobre como as pessoas param de escrever. E começou a bater pessoalmente várias referências.” Pires chama de “diálogo de inimigo” o travado com o escritor espanhol em Se um de nós dois morrer. Inimigo porque o carioca adoraria escrever como Vila-Matas.

A fala de Pires emenda a certeza de seu personagem, convencido de ter as ideias roubadas pelo espanhol. Se um de nós dois morrer parece um mosaico montado no mais simples estilo copiar-colar das próprias leituras do autor. Quem tem intimidade com o mundo literário pode enxergar em tão poucas páginas um sem-fim cansativo de citações de um mundinho muito voltado para si mesmo. Quem não tem certamente enfrentará várias dificuldades para mergulhar na sátira de Pires. “Uma das coisas deliberadas que eu queria era confundir tudo”, admite o autor. E conseguiu.

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INTERNET » Brasília independente. (...) criaram assim o programa Nome na lista, com intuito de entrevistar pessoas que contribuem para a produção cultural de Brasília Fonte: correio 09/09

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Assim que perceberam que a tecnologia estava ao alcance e a comunicação, um pouco mais democrática, os amigos Alex Lima, André Gomes, Daniel Spot, Felipe Carvalho e Marcius Fabiani colocaram uma câmera nas mãos e abriram um canal de vídeo no YouTube. Criaram assim o programa Nome na lista, com intuito de entrevistar pessoas que contribuem para a produção cultural de Brasília. Eles acabam de pôr fim à primeira temporada, com 10 entrevistas.

Todas estão disponíveis também no blog do programa: http://nomenalista.wordpress.com, que traz ainda algumas entrevistas na íntegra, a trilha sonora e um breve perfil do entrevistado. Os nomes para a próxima edição já estão escolhidos. Dessa vez, o foco é em pessoas do meio cultural na década de 1990 e no início dos anos 2000.

O fotógrafo oficial do Nome na lista, Marcius Fabiani, observa que, com a diversidade de personagens e regularidade das gravações, as pessoas se interessam em acompanhar o programa. “Apesar de não ter muitos views, a nossa preocupação nunca foi em fazer sucesso.” São cerca de 200 visualizações para cada vídeo, depois de um mês na rede. Todos os integrantes compartilham a opinião de que o importante é fazer o projeto e não conquistar uma fama. Daniel Spot conta que o grupo teve uma surpresa boa ao ler o comentário de um garoto de Fortaleza, que dizia gostar do programa e ter se motivado para criar algo semelhante no estado cearense.

As gravações são feitas na casa de Daniel, o que proporciona um clima intimista e convidativo. Primeiro, o entrevistado escolhe um disco de jazz (o acervo passa por Nina Simone, Wynton Marsalis e chega ao antológico álbum Kind of blue, de Miles Davis e John Coltrane), depois uma garrafa de uísque é colocada na mesa e começa o bate-papo de aproximadamente 1h30, recheado de revelações pessoais, discussões sobre trabalho e impressões sobre a cidade. Até mesmo o movimento circular da câmera tem um propósito: causar a impressão de uma conversa informal. “Quem assiste ao programa diz que tem a sensação de estar aqui, conversando com a gente”, revela Daniel.

Além do rock

Antes do programa, Daniel documentava alguns vídeos, com depoimentos de amigos ligados ao rock brasiliense. As primeiras entrevistas do Nome na lista também foram com pessoas próximas. “Mas, a partir da terceira entrevista, percebemos que podíamos conversar não só com a galera que conhecíamos. Pensamos em registrar pessoas de várias áreas, pessoas que produzem e dão esse valor a Brasília.” André Gomes é mais enfático: “Saímos da zona de conforto ligada ao rock, pois pudemos entrevistar personalidades como o designer Jean Mattos, o DJ João Komka e o quadrinhista e artista plástico Lucas Gehre”. Ele conta que, com as entrevistas, passou a ver coisas que não percebia. “Quando falamos com o Rafael Oops, foi uma parada que mudou minha vida. Ele falou: ‘O pessoal de Brasília tem que se produzir, porque senão ninguém te produz’. Aí, tomei a iniciativa e comecei a produzir festas em Brasília. Isso é muito legal”, relata Gomes.

Preocupado com o registro da memória, Daniel Spot acredita que “o grande valor desse programa vai ser dado daqui a 10 anos, porque vamos olhar para trás e ver como era Brasília naquela época”. Ele aponta que há um deficit em relação ao registro de personalidades tanto agora como nas décadas de 1980 e 1990.

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