segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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POLÍTICA CULTURAL

A conquista de Praga

Fonte: correioweb.com.br 27/12

Quatro projetos de cenografia e figurino concebidos por alunos da Universidade de Brasília (UnB) são selecionados para a Quadrienal, na República Tcheca

Em uma encenação, a plateia acompanha o espetáculo às margens de uma via subterrânea e sombria, como se estivesse diante do leito de um rio. Em outro cenário, o público se acomoda dentro de uma enorme panela, sendo cozido como prato principal de uma refeição. Essas são algumas das ideias inusitadas presentes em quatro projetos de cenografia e figurino concebidos por alunos da Universidade de Brasília (UnB) e selecionados para um dos principais festivais de teatro do mundo, a Quadrienal de Praga, na República Tcheca.

No evento, que será realizado entre os dias 16 e 26 de junho de 2011, os projetos vão ser expostos, por meio de maquetes e ilustrações, em uma das seções competitivas, a Mostra das Escolas. O espaço vai abrigar trabalhos nas áreas de cenografia e figurino originários de centros educacionais de 62 países. Para o processo seletivo do Brasil, sete universidades e cinco escolas inscreveram 50 projetos, dos quais 30 conquistaram vaga na Quadrienal.

Um projeto da UnB, A terceira margem do rio, foi considerado o melhor pelo júri, enquanto outro da mesma instituição, Família à moda da casa, ficou em terceiro lugar. A segunda posição foi dada a Infinito particular, realizado por uma equipe da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Essas colocações não foram divulgadas oficialmente. Elas foram informadas ao Correio pelo professor da USP Fausto Viana, responsável por definir o corpo de jurados e integrante da curadoria da etapa nacional da mostra. No entanto, ele não quis revelar as demais colocações. “Isso só estimularia a competição boba”, justifica.

Foi Viana quem convidou para participar da seleção a orientadora dos trabalhos da UnB, a professora do departamento de artes cênicas Sonia Paiva. Ela buscou seguir a recomendação da organização da Quadrienal e conseguiu reunir grupos interdisciplinares, formados por 17 alunos de cinco cursos diferentes: artes cênicas, artes plásticas, arquitetura, desenho industrial e audiovisual. “Foi muito difícil juntar esse pessoal”, recorda. “A interdisciplinaridade é uma batalha cada vez maior na universidade. Cada departamento fica no seu buraco.”

A UnB foi a única instituição do DF que inscreveu projetos. A ida a Praga e, ademais, as boas colocações na disputa surpreenderam a equipe. “Acho que eles (da organização nacional) não esperavam que Brasília fosse se destacar tanto”, comemora Sonia. “O melhor de tudo é poder estar lá (na Quadrienal) vendo o que se produz atualmente em cenografia. E lá tem workshops e oficinas de tudo que é jeito. Vai ser uma oportunidade única”, complementa. “E se alimentar de todo esse caldo cultural, conversar com criadores do mundo todo”, acrescenta a aluna de artes plásticas Maria Eugênia Matricardi.

Paisagens mirabolantes
Na criação de projetos de cenografia e figurino, os universitários não precisavam escrever peças de teatro, mas construir cenas e situá-las em espaços não convencionais dentro do campus da UnB. Eles deveriam esquecer os modelos de palco tradicionais, como o italiano. Também foram orientados a escolher motivos locais. “Como é uma mostra competitiva internacional, Fausto (Viana) falou que trabalhássemos uma coisa nossa, dando preferência a temas regionais”, observa a estudante de artes cênicas Marcela Siqueira.

O já citado A terceira margem do rio, baseado no conto homônimo de Guimarães Rosa, inicia-se no térreo do Instituto Central de Ciências (ICC), o popular Minhocão, e avança por 275 metros do subsolo do mesmo prédio. O público teria que caminhar conforme o andamento do espetáculo. O rio da história seria simulado pelo vão de uma via de trânsito subterrânea. O projeto foi criado pelos estudantes de artes cênicas Hugo Cabral, de artes plásticas Julia Gonzales e de arquitetura Raquel Moraes.

O projeto Família à moda da casa, adaptado da peça homônima de Flávio Márcio, é situado no fosso do Teatro Helena Barcelos, do departamento de artes cênicas. A plateia ficaria acomodada em uma panela gigante, que se chega por um escorregador. A ação dos personagens se daria na parte de fora da panela e seria acompanhado pelos espectadores por meio de espelhos colados ao teto. O trabalho foi elaborado pelos estudantes de cênicas Marítissa Arantes, de desenho industrial Patrícia Meschick e de arquitetura Ana Luiza de Oliveira.

A entrada da ala norte do ICC, também conhecida como Ceubinho, foi o local escolhido para o projeto Carolina ou a vida das meras obscuras. Ele se baseou em poemas da goiana Cora Coralina e em sua biografia. O cenário começa simulando, por meio de uma vasta cortina, a fachada da Casa Velha da Ponte, onde Cora viveu grande parte da vida, na Cidade de Goiás. Em um espaço seguinte, o interior da residência é disposto com móveis coloniais. O grupo é composto pelos alunos de arquitetura Luiz Eduardo Sarmento, de artes plásticas Maria Eugênia Matricardi, de audiovisual Maria Vitória Canesin e de cênicas Rogério Luiz.

O projeto Simplicidade: o imaginário de um grande coração vermelho, também se baseia em poemas de Cora e é alojado em dois andares do Edifício Multiuso 2. O espaço, que deveria ser percorrido pelo público durante a encenação, foi definido por apresentar parentescos com a estrutura das casas da Cidade de Goiás. O prédio privilegia, por exemplo, a visão do espaço exterior por meio de vedações vazadas ou translúcidas, circulações abertas e varandas. Os mesmos recursos são utilizados no casario colonial daquela cidade. A equipe responsável pelo projeto é formada por Eric Costa, graduando de artes cênicas, Marcela Siqueira, do mesmo curso, Pedro Moura, de arquitetura, e Pedro Vianna, de plásticas.

O desenvolvimento dos projetos foi feito durante dois meses, em laboratório iniciado em setembro e ministrado pela professora Sonia. “Mostrei a metodologia de trabalho, mas cada um pirou do jeito que quis. Apenas vinham com perguntas e eu sugeria soluções”, explica. Ela pretende transformar o laboratório em um projeto de extensão permanente da universidade. “No Brasil inteiro, essas áreas (cenografia e figurino) são pouco desenvolvidas. Há poucas pessoas trabalhando com isso”, justifica. “Quero abrir as aulas para outros projetos da cidade e tentar melhorar o teatro de Brasília.”


EU, ESTUDANTES
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Usina de ideias

Entre os 30 projetos brasileiros selecionados para a Quadrienal de Praga, 20 foram criados por instituições do estado de São Paulo. Em seguida, vem o Distrito Federal, com os quatro trabalhos da UnB, Rio de Janeiro (dois), Rio Grande do Norte (dois), Pará (um) e Santa Catarina (um). Todos os trabalhos inscritos na seleção nacional foram expostos na USP no começo deste mês. Em 2011, antes de irem à República Tcheca, os selecionados vão ser novamente expostos em local ainda não determinado.

O numero de centros de ensino, 12, quase dobrou em relação à última seletiva, em 2007, quando havia sete dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Pará. “Demos um salto qualitativo muito grande, foi um resultado surpreendente”, elogia Fausto Viana, membro da curadoria. Segundo ele, a ideia é que a seletiva seja um processo pedagógico, mais que competitivo. “Em todo o país, os professores de cenografia são um grupo muito pequeno. Temos que estimular em nossos alunos a colaboração, não a competição.”

A participação na Quadrienal reforça o currículo dos alunos. “Ter sido selecionado para uma mostra internacional faz com que você seja visto e comentado por muita gente. Além disso, é uma chance de o próprio aluno ver o nível de escolas do mundo todo e aprender com isso”, avalia Viana

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POLÍTICA CULTURAL

A conquista de Praga

Fonte: correioweb.com.br 27/12

Quatro projetos de cenografia e figurino concebidos por alunos da Universidade de Brasília (UnB) são selecionados para a Quadrienal, na República Tcheca

Carroça encantada de histórias

Fonte: correioweb.com.br 27/12

Professora de Olhos D'Água (GO) cria projeto visando atrair as crianças para a leitura, cantando pelas ruas em cima de um carro puxado por uma égua

“Tombei, tombei, tombei, tombá. A história já vai começar”, anuncia a professora Nilva Belo pelas ruas de Olhos D’Água (GO). Com livros gigantes, uma égua cheia de laços e uma carroça toda enfeitada, a professora canta o hino para atrair as crianças da região. Ao ouvir a música e o trote do cavalo, crianças vão aparecendo nas janelas e saindo de suas casas para acompanhar a “mulher da carroça”, como eles a chamam. O som do pandeiro e o apito avisam que vem história por aí. Nilva conta que, quando está à paisana e passa pelas ruas, as crianças cochicham umas para as outras se ela seria a mulher da carroça. “Eles se perguntam: ‘É ela?, ’ e começam a cantar o hino da leiturégua e eu respondo ‘a história já vai começar’”, orgulha-se .

Nascida em Olhos D’Água — cidade conhecida por sua Feira do Troca— , distrito de Alexânia, Goiás, Nilva Belo é funcionária da prefeitura e sentiu a carência de leitura nas crianças da cidade. Arregaçou as mangas e propôs a criação de um novo cargo: contadora de histórias. Mas só contar histórias seria muito vago para a determinada professora. Aos 34 anos, mãe de duas filhas e familiarizada com ritos culturais, Nilva teve a ideia de criar a carroça literária, a Leiturégua.

“Eu comecei sendo agente da mala do livro, era muito bom, mas senti que faltava algo”, conta. Segundo ela, é muito mais atraente as crianças aprenderem se divertindo do que aprenderem por obrigação. Este ano, o projeto completa oficialmente dois anos.

Galeria de clássicos
Com o apoio da Secretaria de Cultura de Alexânia, a carroceira conta com o acervo de 10 personagens e muitos livros confeccionados, entre eles, os clássicos Branca de Neve, Cinderela e A Bela Adormecida. “Ela cria os personagens e a gente dá o apoio material”, conta o secretário de Cultura, Demerval Alves. Em relação à quantidade de personagens, Demerval brinca: “Só o Chico Anysio ganha dela”.

A professora pesquisa, concebe e cria fantasias, livros e personagens. O sucesso da carroça literária é tão grande que a égua de Nilva muitas vezes não suporta o ritmo acelerado. Dessa necessidade surgiu então a ideia de criar uma minicarroça. A miniatura reproduz a original e pode ser carregada no carro para possíveis apresentações em lugares distantes . “Às vezes, tenho espetáculos em Alexânia e Olhos D’Água no mesmo dia. Com esse ritmo, a égua ficava muito cansada . Já cheguei a percorrer 30km em um dia.”

Polivalente, Nilva não ostenta apenas o cargo oficial de contadora de histórias; ela também é catireira e participa do grupo Os Mano Bão no Pé desde o ano passado. Nas expedições no meio do mato, o grupo, formado por sete homens e apenas ela de mulher, passa por fazendas realizando shows e disseminando a dança folclórica pelas redondezas. Mas quem pensa que acabou, se engana. Ela participa também do grupo Meninagem. Ao lado de mães e colaboradores o grupo faz encenações com bonecões e fantasias. “O fato de ser catireira me ajuda na hora de cantar músicas e tocar os instrumentos”, explica Nilva.

A satisfação das crianças é clara. “Eu conheço a tia da carroça desde os seis anos. Eu não tinha aprendido a ler e ela foi me ajudando a aprender e gostar de leitura”, conta Elias Costa dos Santos, nove anos. O secretário de Cultura também não esconde o resultado do investimento. “Depois que ela iniciou o projeto, as crianças se interessaram muito mais pela leitura”, confessa Demerval.


A parceria e os personagens

Quando menos esperava, a carroceira se deparou com uma acreana empolgada querendo ser voluntária do Leiturégua. Era hora de expandir o projeto.

Silene Farias é bonequeira e sua aparição aumentou a produtividade da carroça literária. Ela criou, com as crianças, oficinas de montagens de bonecos e instrumentos. “Quando cheguei na cidade e fiquei sabendo da Nilva, eu me apaixonei na hora. Lá no Acre eu mantinha um trabalho muito parecido com esse”, enfatiza. Silene, como seus personagens, chegou a Olhos D’Água para conhecer a Feira do Troca e nunca mais saiu de lá.

De mamulengos a fantoches e marionetes surgem personagens como o David Bag Dubiniquim, em homenagem ao jogador inglês David Beckham. “O nome ficou Dubiniquim porque as crianças não conseguiam pronunciar a palavra certa”, conta a bonequeira. Muito estiloso, o boneco ostenta piercings e cabelo moicano. “Ele veio para trocar os brincos na Feira do Troca e não quis partir”, completa Silene sobre a origem do personagem.

Calango palhaço
Calango é um palhaço que foi confeccionado pelas crianças menores. Ele foi feito com garrafa PET, papel machê, vara e retalhos de roupa. Bem colorido, como um palhaço deve ser, ele demorou um pouco mais no processo de confecção: “Entre histórias e pinturas, as crianças foram aprendendo o valor da leitura”, explica Silene.

De todos os personagens, o que chama mais a atenção — de longe — é a Maria Preta Antônia dos Olhos D’Água. Destaque da apresentação de Nilva e sucesso absoluto entre as crianças, a negra mede 2m de altura. A personagem foi criada em homenagem a uma árvore de Alexânia (da espécie Maria Preta), que colecionou histórias de amantes, brincadeiras e festas na cidade. “Por ser uma figura histórica decidi criar a personagem. A árvore foi destruída pelo tempo. As pessoas também faziam fogueira embaixo dela. Ela não aguentou e morreu”, explica Nilva.

Na hora que a professora veste a fantasia, os gritos de felicidade das crianças são ensurdecedores. “É uma alegria só”, afirma. Quando perguntadas sobre qual personagem é o favorito da meninada, a resposta é em conjunto: “A Maria Preta".

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domingo, 26 de dezembro de 2010

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Como eu pintaria uma Brasília sonhada

Fonte: correioweb.com.br 26/12

Sou um apaixonado por Brasília e costumo aproveitar os dias de sol passeando, admirado com as belezas encontradas em cada cantinho desta cidade.
Outro dia, o passeio da vez foi à Ermida Dom Bosco, o que me levou a refletir sobre o sonho daquele padre. Fiquei olhando a paisagem e pensando sobre o que acabara de ler na pirâmide de mármore. Pensei tanto no que vi durante o passeio, que quando cheguei em casa, já bem cansado, me deitei, dormi e tive um longo sonho com nossa cidade.


Sonhei que o Lago Paranoá estava com a água tão transparente que dava até pra ver o fundo! A orla estava repleta de espaços de convivência, todos ligados por ciclovias. A rodoviária estava humanizada pela reforma jamais pensada; ainda havia muitas filas, só que era para ver de perto cada uma das benfeitorias e novidades.


Os engarrafamentos haviam acabado; o transporte coletivo foi completamente reformulado e uma política de incentivo foi lançada para que pessoas da mesma vizinhança oferecessem carona ao sair para trabalhar, o que fez até sobrar vaga no Setor Comercial Sul!
Em meu sonho não existiam menores abandonados e nem pedintes; a segurança era total; o índice de criminalidade, tão baixo, era até matematicamente descartado nas pesquisas. As pessoas voltaram a andar à noite pelos gramados, cruzando os pilotis, procurando festinhas e gente pra bater papo, do jeitinho que era antigamente.


A educação tornou-se referência para todo o país. Os alunos ficavam o dia todo na escola e quando chegava a hora de ir embora tinha até menino fazendo birra.
Desemprego era palavra rara de se ouvir. Os condomínios horizontais foram finalmente regularizados; todas as cidades satélites eram verdadeiros paraísos para se viver, com saneamento, escolas, lazer e hospitais.


Aliás, a saúde também virou referência de tão maravilhoso que era em meu sonho. Todos os profissionais foram valorizados, catador de papel era agente ambiental e ficavam todos orgulhosos. O lixo deixou de ser problema, tudo era reciclado. Os poucos detentos estavam aprendendo uma profissão e, de fato, sendo reintegrados numa nova sociedade.
As bibliotecas, museus, galerias, cinemas e teatros eram disputados e concorridos. O programa mais legal dos finais de semana eram os culturais, deleite para qualquer um.
O campo estava em festa com o apoio do Estado. Os produtores rurais batiam recordes de produção e de felicidade. Os alimentos estavam mais baratos e saudáveis. Os jovens talentos eram disputados pelos empresários para serem patrocinados, tanto na ciência, esporte e arte.


Ilegalidade era coisa do passado, não havia mais nenhum ato de corrupção, muito menos abuso de poder.
O céu estava mais azul, o verde, mais verde, os ipês, com todo aquele amarelo ouro, as cigarras, zunindo e os sabiás, arrebentando o peito de tanto cantar.
No meu sonho Brasília era modelo internacional de governo de gerenciamento. Para se ter uma ideia vinha gente até de Estocolmo pra aprender tudo conosco.
O arremate dessa grande obra estava sendo feito após 50 anos.


Oscar Niemeyer continuava vivo, com uma saúde de ferro e ainda controlando tudo.


Nas nuvens, eu via direitinho Juscelino Kubitschek, Lucio Costa e Athos Bulcão, apontando o dedo para baixo, dando as mais gostosas gargalhadas, como se estivessem dizendo: “Nossa capital está lindona!”.
Acordei e fiquei pensando em Dom Bosco, que esperou mais de 70 anos para ver seu sonho começar e ser realizado, quando a capital da esperança foi erguida.
Então me perguntei se o meu sonho ia se tornar realidade e quanto tempo isso iria demorar.


Tomara que tudo comece a se concretizar nesse governo que começa, ao qual desde já desejo toda sorte e competência para realizar o meu e todos os outros sonhos do povo candango, fazendo nossa cidade ser reverenciada e respeitada por todos os povos.
E, verdadeiramente, vermos jorrar leite e mel conforme a profecia.

Luiz Costa

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CLÓVIS ROSSI

Fonte: folha.uol.com.br 26/12


O morro agora é do Exército

SÃO PAULO - Não é que, de mansinho, o Exército assumiu, de papel passado e tudo, a função de polícia no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro?
Até quinta-feira, o Exército não subia o morro. Ficava nas, digamos, fronteiras. Naquele dia, o ministro Nelson Jobim e o governador Sérgio Cabral assinaram acordo para "organização e emprego" de uma "Força de Pacificação".
É isso que você leu: "força de pacificação", como a que o Brasil mandou ao Haiti e está mandando ao Líbano, entre outras. O que, de passagem, significa assumir que está havendo uma guerra, não convencional, mas guerra, entre o Estado e o crime organizado.
A nova força terá 2.200 homens, a maioria vindos da Brigada Paraquedista do Exército. Suas tarefas: patrulhamento, revistas e prisões em flagrante.
Se isso não é função de polícia, o que é então função de polícia?
Nada contra esse novo papel para o Exército. Mas entendo os argumentos contrários, alguns dos quais são poderosos, e acho que falta clareza nas decisões.
Alguém aí acredita que é apenas no Complexo do Alemão/Vila Cruzeiro que urgia uma "força pacificadora"? Alguém aí acredita que a guerra entre o Estado e o crime organizado se dá apenas nesses pontos do Rio de Janeiro?
Os ataques do PCC em São Paulo, há cinco anos, não tiveram gravidade idêntica aos que o tráfico promoveu no Rio e levaram em seguida à ocupação do Alemão? Não foi então uma guerrilha como a que se invocou para deslocar tropas do Exército para o Alemão?
Perguntas à parte, há uma resposta clara no ato assinado por Jobim e Cabral: a confissão de que a polícia, por si só, é incapaz de ganhar a guerra e impor a paz.
Vale para o Rio, vale para outros pontos do Brasil. Alguém vai extrair consequências dessa constatação inescapável?

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Terapia

Fonte: folha.uol.com.br 26/12



Jovens presos na Fundação Casa de Sorocaba aprendem a jogar golfe , e funcionários já veem melhora de comportamento

Quando criança, B., 16, via os adultos jogando golfe e sonhava com o dia em que teria idade para dar suas tacadas. Precisou ser detido por tráfico de drogas e cumprir pena na Fundação Casa para realizar o desejo de infância.
Faz três meses que o golfe passou a ser parte da rotina dos internos da unidade de Sorocaba. A empatia com o esporte foi imediata. Para quem passa a maior parte do tempo em ambientes fechados, uma hora diária ao ar livre é um privilégio.
"Quando a bolinha sobe e começa a viajar, penso nos passarinhos, nos aviões e nos helicópteros que passam aqui em cima. Penso na minha liberdade fora daqui", afirma W., 15, também detido por tráfico de drogas.
Em um campo improvisado, em meio a pequenos pés de palmeiras, uma bananeira, diversas tampas de cimento e um reservatório de água, os internos aprendem a ter autocontrole, o que tem contribuído para que fiquem mais calmos e tenham um convívio melhor entre eles.
"Eu bagunçava bastante, xingava os funcionários, brigava com outros internos. O golfe me deixou mais calmo. Para me concentrar, tenho que relaxar, distrair a cabeça", declara A., 15, detido há um ano e dois meses.
"Em alguns adolescentes, a melhora no comportamento chega a 80%. Diminuiu muito o problema de atenção e aumentou a concentração, o que acarretou melhora na sala de aula", diz a psicóloga Francine Gonçalves, encarregada técnica e uma das responsáveis pela implantação do golfe na unidade.
A iniciativa surgiu após Francine descobrir que o Saps (Serviço de Atendimento e Acompanhamento Psicossocial) de Sorocaba usava o golfe na recuperação de pacientes com problemas neurológicos e psiquiátricos, e também de alguns idosos.
Os benefícios são atribuídos a fatores como a liberação da energia dos pacientes ao praticar o esporte e a consequente diminuição dos níveis de ansiedade.
"Isso acontece porque o golfe trabalha o foco e a concentração. Você nunca vai conseguir ter isso se não estiver tranquilo. Assim, aumenta a motivação deles e diminui a ansiedade", afirma Antônio de Oliveira Neto, responsável pelas aulas.
Nos três "buracos" improvisados do improvável circuito da fundação, de dimensões diminutas -56 m de comprimento por 11 m de largura-, os internos também aprendem ensinamentos que pretendem usar quando estiverem em liberdade.
K., 16, detido por roubo a mão armada, diz que o esporte o ajudou a "pensar melhor". Agora, projeta uma vida longe do crime.
"Quero fazer faculdade de mecânica e ajudar minha avó de 67 anos, que precisa de ajuda, mas não pode contar porque estou preso, pagando pelo que fiz", diz K., resignado com o presente, mas esperançoso com o futuro.

sábado, 18 de dezembro de 2010

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Artista mineira ganha prêmio de US$ 100 mil na Ucrânia

Fonte: folha.uol.com.br 18/12

A mineira Cinthia Marcelle, 36, venceu 6.000 artistas do mundo inteiro e recebeu um prêmio inédito de US$ 100 mil (cerca de R$ 170 mil).
Concedido pela fundação Victor Pinchuk, um milionário colecionador ucraniano, o Future Generation Art foi realizado pela primeira vez neste ano e será bienal.
É considerado democrático por aceitar qualquer artistas abaixo de 35 anos -idade de Cinthia na inscrição.
"Nem lembrava mais que tinha me inscrito. Quando me ligaram para avisar que estava entre os finalistas, tinha acabado de ter minha filha e perguntei: "Qual prêmio?'", contou a artista.
Para a cerimônia de entrega, realizada semana passada, Cinthia enfrentou percalços por causa de voos atrasados e foi direto do aeroporto para o teatro. Ficou sabendo do resultado ali.
O júri incluía artistas e teóricos, entre eles, o chinês Ai Weiwei e Robert Storr.
"O prêmio vai me dar suporte para experimentar. O artista experimenta o tempo todo e, se errar, não pode repetir com o risco de ficar com a conta no vermelho."
A obra dela transita por diversas linguagens, como desenho, fotografia, vídeo e performance. "Não me prendo a suportes", afirma.
Na exposição dos finalistas ao prêmio, que antecedeu a escolha de seu nome, ela mostrou três vídeos: "Fonte", "Volver" e "Cruzada".
Cinthia participou da Bienal de São Paulo, encerrada domingo, com a instalação "Sobre Este Mesmo Mundo" e o vídeo "Buraco Negro".
A sua próxima exibição no país será em abril na galeria Vermelho, em SP. O tema é "a economia do gesto".
Cinthia é conterrânea de Cao Guimarães e Rivane Neuenschwander, que também se destacam no cenário internacional das artes. Possível influência?
"Eles são amigos. Minha influência é o cinema."

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"Cinema autoral não tem lugar na China"

Fonte: folha.uol.com.br 18/12



Diretor chinês mais reconhecido fora de seu país, Jia Zhang-ke critica "monopólio" das produções comerciais

Cineasta diz que filma com ou sem autorização do governo e relembra o "dinamismo" e a "capoeira" do Brasil


Em um lugar como a China, em que nem tudo o que se pensa pode ser dito, é quase um milagre que o cineasta Jia Zhang-ke, 40, tenha permissão do governo para filmar.
Sem medo de mostrar uma visão crítica do país, o diretor volta a tocar em um tema delicado em seu novo filme, "Memórias de Xangai", documentário sobre a cidade, exibido neste ano na Mostra de Cinema de São Paulo e sem previsão de estreia em circuito comercial no país.
"Tenho liberdade total sobre meus filmes", garante o diretor chinês, em entrevista concedida à Folha, em Paris, há duas semanas.
Zhang-ke foi à França para promover o longa, que contém depoimentos que ilustram a história da metrópole. Diretor de filmes como "O Mundo", Jia ficou conhecido por seu cinema poético e independente, aberto aos problemas da China moderna.



Folha - As cidades têm um papel muito importante nos seus filmes. Seriam elas as verdadeiras protagonistas? Jia Zhang-ke - Acho que você tem razão. O espaço é muito importante na minha obra. Meus filmes se centram nos indivíduos, mas eu não poderia dizer o que percebo das pessoas sem pensar também no espaço em que estão.

No filme, você inclui testemunhos de várias pessoas sobre Xangai, mas a maior parte delas está ligada ao mundo das artes. Por quê?
Antes de 1949, Xangai era o centro cultural da China. Os artistas e as pessoas relacionadas à cultura representavam uma porcentagem importante da população da cidade. Esses artistas criaram obras que trazem relevantes testemunhos sobre Xangai.

O longa evoca Antonioni e Hou Hsiao-hsien, que dirigiram filmes em que Xangai tem destaque. Você acha que seu cinema se parece mais com o de qual dos dois?
Do ponto de vista do que o cinema representa para mim, é mais parecido com o de Antonioni, sobretudo em como observa o espaço. Mas, no sentido de captar os sentimentos das pessoas, aí estou mais próximo de Hou. Mas, se ambos aparecem no meu filme, não é tanto por eu querer mostrar que meu cinema se aproxima do deles, é mesmo porque fizeram obras que refletem de forma muito justa a vida em Xangai.

Quem são os grandes cineastas da atualidade, a seu ver?
Na China, Hou Hsiao-hsien, Tsai Ming-liang e Liu Ye. Admiro também [o japonês] Hirokazu Kore-eda, [o sul-coreano] Lee Chang-dong, [o tailandês] Apichatpong Weerasethakul e [o português] Pedro Costa.

O seu filme passou pela censura chinesa. O que foi dito sobre ele?
Tive liberdade total de mostrar o que quisesse neste filme. Passou pela censura, mas tive que passar dois meses esperando a liberação.

Você tem permissão de filmar na China, mas vários cineastas trabalham na clandestinidade. Por que o seu cinema é aceito?
Não se esqueça de que eu também passei vários anos proibido de filmar. Só tive permissão mesmo em 2004 [com "O Mundo"]. As autoridades sabem que, de um modo ou de outro, vou acabar fazendo o meu filme, elas permitindo ou não.

O cinema americano tem conseguido cada vez mais penetrar no país. Você crê que Hollywood poderá dominar em breve o mercado chinês?
Não sou tão pessimista assim [risos]. Mas o que é um problema real não é Hollywood chegar à China, mas os filmes independentes, autorais, não encontrarem uma fatia no mercado devido às produções comerciais, que monopolizam as salas.

Em "Memórias de Xangai", vê-se lugares miseráveis ao lado de prédios modernos e luxuosos, o que faz pensar nas cidades brasileiras...
Passei alguns dias em São Paulo quando Yu Lik-wai rodou um filme na cidade ["Plastic City", de 2008]. Vi que a diferença entre ricos e pobres é enorme. Mas gostei do Brasil, sobretudo do seu dinamismo. E da capoeira! Assim que cheguei ao hotel, vi dois rapazes jogando capoeira na rua. Pensei: "Realmente, eu estou no Brasil".

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Livro expõe êxito de Dumont com balões

Fonte: folha.uol.com.br 18/12


Obra contém fotos de voos de dirigíveis construídos pelo inventor e reproduz artigos seus em defesa do veículo

Construção de 14 balões conferiu prestígio ao aviador; Thomas Edison e Theodore Roosevelt quiseram conhecê-lo


No princípio do século 20, duas correntes distintas avançavam de forma paralela para o desenvolvimento do transporte aéreo.
Em uma ponta, estavam os inventores que acreditavam no sucesso de aparelhos mais leves que o ar, como os balões. Do outro, os que trabalhavam para o desenvolvimento de modelos mais pesados, os aeroplanos.
O brasileiro Alberto Santos-Dumont (1873-1932) foi um dos únicos que transitou bem nas duas vertentes. Embora a invenção do 14 Bis, e posteriormente do Demoiselle, máquinas mais pesadas que o ar, tenha lhe garantido a posteridade, suas primeiras conquistas aconteceram na seara dos balões.
Entre 1898 e 1905, ele construiu 14 balões que lhe renderam popularidade mundial, com prêmios internacionais e manchetes nos jornais da época. Santos-Dumont contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento desses veículos aéreos, sendo o primeiro a utilizar neles, com sucesso, um motor a gasolina e também sendo o primeiro a provar que era possível dirigi-los.
Um livro que está sendo lançado nesta semana, "Santos-Dumont e os Balões", de Rodrigo Moura Visoni, resgata esse aspecto do inventor, até hoje ofuscado pelos rumos que sua carreira e que o próprio desenvolvimento da aviação acabaram tomando.
O livro tem 300 fotografias, algumas inéditas, que registram seus feitos na área e o sucesso que fizeram na sociedade da época.
Uma das descobertas é um álbum com 70 imagens de seus voos, produzido em 1901 para comemorar a conquista do Prêmio Deutsch, quando o brasileiro conseguiu circundar de balão a torre Eiffel em 30 minutos. A façanha aumentou consideravelmente sua popularidade: gente como o inventor Thomas Edison (1847-1931) e o presidente americano Theodore Roosevelt (1858-1919) fizeram questão de conhecê-lo pessoalmente.
O livro também reúne dez artigos do inventor publicados em jornais dos Estados Unidos, França e Inglaterra e que não haviam sido traduzidos para o português. Nesses textos, escritos entre 1898 e 1905, Santos Dumont defende de forma fervorosa a utilização dos balões. "Ele fala de aspectos técnicos, mas se assemelha um pouco a Júlio Verne, apostando no avanço tecnológico", diz Visoni.
Em 1902, no periódico americano "The Inter Ocean", o brasileiro escreveu: "Acredito na viabilidade do dirigível. Não somente para fins esportivos ou de lazer, mas também para fins comerciais. Em dez anos, espero realmente que haja uma linha de aeronaves cruzando o oceano Atlântico".
Isso só aconteceu comercialmente na década de 1930. Então, Santos Dumont já havia voltado seus esforços para a produção dos aeroplanos, que se mostrariam mais rápidos e econômicos.
"Ele abandonou os balões quando já havia esgotado todas as possibilidades desse tipo de veículo. Mas suas conquistas nesta área foram muito importantes para a época", diz seu biógrafo, Henrique Lins de Barros.

SANTOS-DUMONT E OS BALÕES

AUTOR Rodrigo Moura Visoni
EDITORA Capivara
QUANTO R$ 160 (252 págs.)

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DIREITO

OAB contra-ataca para manter exame

Fonte: correioweb.com.br 18/12

A Ordem vai entrar com dois recursos para reverter liminar de desembargador do TRF que liberou dois bacharéis a exercer a advocacia mesmo sem passarem na prova. Segundo a entidade, filho do magistrado autor da decisão foi reprovado quatro vezes

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) prepara uma dupla ofensiva à decisão concedida no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), que considerou o Exame de Ordem inconstitucional e possibilitou a dois bacharéis a atuação na advocacia sem aprovação no teste. Apesar de a decisão liminar do desembargador Vladimir Souza Carvalho atender a uma ação individual e beneficiar apenas duas pessoas, ela cria jurisprudência para a análise de outros casos no país. Para reverter a decisão o quanto antes, a OAB entrará com dois recursos: um no próprio TRF-5 e outro no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A previsão é de que as defesas pelo exame — uma das atuais exigências para se ingressar no quadro da OAB — sejam encaminhadas na próxima segunda-feira, uma semana após a decisão da Justiça.

O recurso que será enviado ao tribunal da 5ª região será um agravo regimental, instrumento que solicita a análise da ação ao conjunto de magistrados da corte, já que a decisão liminar (provisória) foi proferida por um único desembargador. Para acelerar uma nova decisão relacionada ao caso, a OAB vai acionar ainda o presidente do STJ: a ele, será encaminhado um recurso de suspensão de segurança, requisitando a urgente suspensão da medida liminar, antes mesmo do julgamento da ação pelo colegiado do TRF-5. Os recursos serão enviados pela OAB-CE, em conjunto com a OAB nacional.

O presidente da OAB, Ophir Cavalcante, alega que a decisão do desembargador não reflete o posicionamento da grande maioria das jurisprudências sobre o caso. “A decisão é um entendimento pessoal. Nós iremos ressaltar que a Ordem está preocupada com o ensino jurídico de qualidade, nossa preocupação não é com a quantidade”, disse. Segundo Ophir, não seria viável permitir a atuação automática dos egressos das 250 mil vagas em faculdades de direito ofertadas anualmente, em função da baixa qualidade das instituições de ensino.


Apoio à medida

O Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito (MNBD) manifestou apoio ao atual posicionamento da Justiça — para o movimento, a manutenção do exame fere a Constituição Federal, que prevê “o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.

Por meio de nota, o movimento afirmou: “O Dr. Ophir tem pleno conhecimento que o Exame de Ordem é inconstitucional (…), mas a OAB tem imensurável interesse em manter o exame como reserva de mercado e pelos lucros que são gerados a cada exame”. O MNBD afirmou ainda que o último exame, aplicado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), teve a geração de R$ 20 milhões, em função do elevado valor da inscrição (R$ 200). “A OAB não presta conta de seus recursos para ninguém, nem para o Tribunal de Contas da União como fazem os demais conselhos federais, como Crea, CFM, CFC, etc”, acusou o movimento.

Além do debate relacionado à “reserva de mercado” e a prestação de contas, o Exame da Ordem traz um histórico de complicações. Um exemplo é o fato de que, no último dia 8, a FGV anunciou uma nova correção das provas do último teste, em função de equívocos ocorridos na divulgação dos espelhos de correção. Dos mais de 100 mil inscritos na última prova, apenas 12% foram aprovados. (LL)


Decisão suspeita

Além de pedir a revisão da decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vai alegar a “suspeição” do magistrado Vladimir Souza Carvalho no julgamento da ação, pedindo assim o impedimento da atuação do desembargador no caso. O instrumento chamado “arguição de suspeição” deve ser encaminhado com o recurso da decisão. A motivação é o fato de Carvalho já ter manifestado, em artigo, posição contrária ao Exame de Ordem. Além disso, a OAB alega que o filho do desembargador, Helder Carvalho, teria sido reprovado quatro vezes na prova, entre 2008 e 2009. “Com esses fatos, o desembargador fica com um comprometimento de ordem ética impediente. Ele tem um entendimento pessoal, sendo que o mínimo que se espera em um julgamento é isonomia”, criticou Ophir Cavalcante, presidente da OAB.

Uma decisão sobre o exame, independentemente das motivações a seu respeito, afeta a vida de bacharéis em direito — e ainda estudantes — como Robson da Penha Alves, 24 anos. Formado há um ano e meio, Robson estuda para a quarta prova da OAB, ao mesmo tempo em que ainda aguarda um recurso de prova anterior. Para Robson, a existência da prova do exame é interessante. No entanto, ele diz ter sido injustiçado na avaliação do exame. “Eu não sou contra o exame, sou contra a forma como é aplicado.”

Robson conta que entrou com dois recursos para análise da prova, realizada no ano passado, mas até agora não teve um retorno.

Para o estudante de direito Arthur Nobre, 22 anos, apesar dos problemas a prova do exame é positiva. “Infelizmente, nem todos saem preparados da faculdade. E nós iremos lidar com causas relacionadas ao ser humano. Eu concordo com a existência de um filtro.” (LL)

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Impotência é queixa de 44% dos homens

Fonte: folha.uol.com.br 18/12


Levantamento é da caravana da Sociedade Brasileira de Urologia, que atendeu 10 mil homens em 22 Estados

Disfunção erétil pode ser consequência de entupimento de vasos, diabetes e hipertensão, segundo especialistas


Quase a metade dos homens que procuram atendimento em saúde tem queixas de impotência sexual, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia.
A entidade acaba de divulgar dados de uma caravana que fez por 22 cidades, em 13 Estados. Foram atendidos 9.982 homens, sendo que mais de 80% tinham mais de 46 anos. Do total, 44% disseram já ter tido o problema.
Os atendimentos aconteceram entre março e setembro deste ano. A unidade tinha médicos e psicólogos que faziam uma consulta clínica tradicional e, se necessário, testes urológicos.
De acordo com Modesto Jacobino, presidente da sociedade, a incidência de impotência surpreendeu.
"É um dado preocupante. O problema ainda é visto como algo secundário, de origem psicológica. Mas há outras doenças relacionadas."
Para acontecer a ereção, além do fator psicológico, são necessárias atividades neurológica, hormonal e vascular. A dificuldade de ereção pode ser consequência de problemas vasculares e metabólicos.
Do total de atendidos, 56% tinham hipertensão e 19%, diabetes. Dos que se queixaram de impotência, metade tinha mais de 60 anos.
"O envelhecimento é a principal causa. Há perda progressiva das funções fisiológicas do organismo e, além disso, o aparecimento conjunto dessas doenças", diz João Schiavini, urologista e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Muitas consequências de hipertensão e diabetes são irreversíveis e progressivas. Quando a dificuldade de ereção surge, pode ser que a aterosclerose (entupimento de artérias) já esteja avançada.
Para Jacobino, a impotência pode ser um jeito de atrair os homens para o médico. "Muitas vezes, ao tratar pressão alta e diabetes, já melhoramos a função sexual", diz.

VIAGRA SEM PRESCRIÇÃO
No levantamento, 22% dos homens já tomaram remédios contra impotência, mais da metade sem prescrição.
Apesar serem vendidos sem receita, esses remédios têm efeitos colaterais e não são eficazes em todos os casos. Podem causar dores de cabeça, vermelhidão na face e visão dupla.
"Pessoas com doenças cardíacas graves não podem tomar o remédio. Para diabéticos, a eficácia é de 30% a 40%", afirma Carlos Márcio Nóbrega de Jesus que é urologista e também professor da Universidade Estadual Paulista.

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Cineasta Blake Edwards morre aos 88 anos

Diretor realizou filmes como "A Pantera Cor-de-Rosa", "Um Convidado Bem Trapalhão" e "Bonequinha de Luxo'

FSP 17/12


Não bastava Mario Monicelli. O mundo da comédia ainda tinha de perder, neste ano, Blake Edwards. Não só da comédia, mas do cinema em geral.
Ele morreu ontem, aos 88 anos, de complicações provocadas por pneumonia, na Califórnia.
Embora a comédia tenha sido o território que mais fixou Edwards como diretor, havia em seus trabalhos, sempre, mesmo burlescos, um quê de amargura.
Como não se comover, por exemplo, com a injustiça que, filme após filme, se abatia sobre o pobre inspetor Dreyfus de "A Pantera Cor-de-Rosa" (1963)?
Um dos pontos fortes de Edwards era este: permitir que, em plena efusão cômica, o drama se infiltrasse -ou vice-versa, como no terrível "Vício Maldito" (1962), filme em que Jack Lemmon, alcoólatra, induz a mulher a também beber, de modo a terem isso em comum.
No drama, como se sabe, obtém-se mais respeito do que em comédias como "Anáguas a Bordo" (1959) ou "A Corrida do Século" (1965).
Mas se o auge do prestígio Edwards alcançou ao dirigir a notável comédia dramática "Bonequinha de Luxo", em 1961, a imortalidade cinematográfica se deu, de fato, com a série de Pantera Cor-de-Rosa, talvez o ponto alto da carreira de Peter Sellers.
É verdade que explorou a série até um pouco demais: depois da morte de Sellers, juntou sobras de velhos filmes para fazer "A Trilha da Pantera Cor-de-Rosa" (1982). Não pegou bem.
E, na verdade, Edwards parece por um tempo ter perdido a veia cômica que ostentava desde os tempos em que escrevia roteiros (em especial para filmes dirigidos por Richard Quine).
O encanto ele reencontrou quando optou por explorar os dotes de atriz de sua mulher, Julie Andrews, com o memorável musical "Victor ou Victoria" (1982), outra demonstração de sua capacidade de juntar o grave e o cômico (que lhe valeu, de resto, a indicação ao Oscar por roteiro adaptado).
Não foi, por certo, seu último suspiro: houve os momentos deploráveis ao lado de um comediante fraco como Dudley Moore, aventuras cheias de humor como "Encontro às Escuras" (1987) e alguns filmes para televisão até a aposentadoria em 1995.
Depois, um Oscar honorário ganho em 2004.
É o famoso Oscar pé na cova: quem ganha costuma morrer logo em seguida. Blake ainda duraria seis anos. Riu por último.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

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CPI põe Goiás como líder da pedofilia

Fonte: opopular.com.br 16/12

CPI põe Goiás como líder da pedofilia

Goiás é apontado como o Estado brasileiro com o maior consumo de pedofilia pela internet. É também onde se concentra o maior número de inquéritos instaurados pela Polícia Federal para apurar crimes sexuais contra crianças e adolescentes. Os dados foram revelados durante a divulgação, ontem, em Brasília (DF), do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia. Relator da comissão, o senador goiano Demóstenes Torres (DEM) afirmou ao POPULAR que é extremamente difícil mensurar esse tipo de crime a partir de registros de computadores.

"Há uma grande dificuldade para quantificar isso", explicou o senador. "Sabemos que em 2007 Goiás liderava as investigações de crimes de pedofilia, o que pode indicar a eficiência da Polícia Federal e de outras instâncias investigadoras", afirmou, citando o Ministério Público (MP) estadual e a Polícia Civil. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também atua no combate a esse tipo de crime.

O último levantamento realizado apontou a existência de 93 pontos de prostituição infantil nas rodovias federais que cortam o Estado, 20 a mais do que em 2009. Em setembro deste ano, a malha rodoviária de Goiás foi apontada pelo Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais como a principal rota utilizada por redes de aliciadores de crianças e adolescentes transformados em vítimas da exploração sexual.

Para o senador goiano, devido às especificidades de Goiás, é fundamental que a população denuncie, especialmente os casos verificados às margens das rodovias. Demóstenes destaca que, graças ao trabalho da CPI, houve mudança na legislação e o cliente da prostituição infantil passou a ser criminalizado. A pena para esse crime é de até dez anos de prisão. "Não é crime manter relações sexuais com adolescentes de 14 a 18 anos, mas se ficar caracterizado o pagamento, é crime", esclarece. As denúncias devem ser feitas para o Disque 100 (número 100) do Ministério da Justiça ou à própria PRF, em caso de rodovias, pelo 191.

Encerrada a CPI, uma das mais longas da história do Brasil, o desafio agora, acredita o senador goiano, é manter a mobilização da população e de representantes de organismos governamentais e independentes. "Fizemos recomendações a vários ministérios, à Justiça e a outras instâncias para a realização de campanhas de esclarecimento, para o combate a esse crime monstruoso", diz.

A grande contribuição da CPI da Pedofilia, acredita seu relator, foi trazer o assunto à tona. "As próprias crianças e adolescentes hoje discutem sobre isso, as pessoas sentem-se mais encorajadas a denunciar", ressalta o senador. Para ele, é fundamental a criação de mais delegacias de polícia, promotorias e juizados especializados em crimes sexuais contra crianças e adolescentes em todo o País. "É preciso que a sociedade organizada continue se articulando, trocando informações e fazendo denúncias", afirma.

CPI teve 10 prisões e 200 depoimentos

Durante os 33 meses de trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia 10 prisões foram feitas e mais de 200 crianças e adolescentes deram depoimentos, contando, com detalhes, a forma de atuação de um dos tipos mais sórdidos de criminosos. Foram realizadas 204 reuniões ordinárias e 18 diligências fora de Brasília (DF). Foram aprovados ainda 484 relatórios dos parlamentares participantes da comissão.

Um dado que chama a atenção é o número de denúncias que chegaram à CPI: aproximadamente 900 durante os quase três anos, excluídas aquelas feitas diretamente ao Disque 100, do Ministério da Justiça, e a outros canais. "Foram apresentadas mais de 1 milhão de denúncias durante o período de investigação", aponta o relator da CPI, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). "Isso mostra quanto a sociedade confiou no trabalho da CPI e a necessidade de que a mobilização continue", avalia o parlamentar.

ParceriaO senador conta que no início houve algumas resistências ao trabalho da comissão. Ele cita como exemplo o site Google, que depois tornou-se um parceiro dos senadores. Tanto que em julho de 2008 foi assinado um termo de ajustamento de conduta (TAC) entre o Ministério Público Federal de São Paulo e o Google, tendo a CPI como mediadora. O objetivo do TAC foi regularizar e uniformizar a transferência de informações sigilosas, para permitir a identificação de criminosos.

A CPI também firmou três termos de cooperação mútua com empresas de telecomunicações e internet e um com o setor de cartões de crédito, também com o objetivo de rastrear operações criminosas relacionadas à pedofilia na internet. "No início, encontramos resistência por parte das empresas, mas depois ganhamos adesões".

Durante os trabalhos, foi sancionada uma lei e apresentados 11 projetos de lei, todos destinados a punir com mais rigor os crimes sexuais praticados contra crianças e adolescentes.(Carla Borges)

ENTREVISTA | DEMÓSTENES TORRES

"Situação não é questão cultural, mas uma monstruosidade"

Relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) destacou, após o encerramento dos trabalhos, que essa foi uma investigação diferente das demais feitas pelo Legislativo brasileiro. Em vez de indiciar pessoas, ela colaborou para a punição de acusados enquanto os trabalhos aconteciam. Foram feitas 10 prisões e ouvidos cerca de 200 depoimentos de crianças e adolescentes. Ele também ressaltou as mudanças que tornaram a legislação mais rigorosa.

O que representa o fato de Goiás ser o Estado onde mais se consome pornografia via internet?

Esse dado mostra que Goiás é o Estado com o maior número de investigações, de inquéritos instaurados pela Polícia Federal para apurar esse tipo de crime. Também merece destaque o trabalho eficiente realizado pelo Ministério Público estadual e pela Polícia Civil. Mas se for feita uma pesquisa no Google sobre o Estado brasileiro onde mais se acessa sites sobre sexo e pedofilia, Goiás lidera, não sabemos se por perversão ou curiosidade.

Como o senhor classificaria a situação de Goiás nesse contexto?

É muito preocupante, terrível mesmo, porque há crianças e adolescentes aliciados para o tráfico nacional e até internacional, além de um grande número sendo explorado em rodovias, o que é uma característica do Estado. No Pará e no Amazonas, por exemplo, as autoridades alegam que há um fator cultural, que crianças e adolescentes começam cedo a manter relações sexuais, o que é um verdadeiro absurdo. Para nós, isso é uma monstruosidade e não pode ser tolerado. Há indícios, nesses Estados, se não de negligência, no mínimo de leniência por parte das autoridades, inclusive setores do Judiciário e do Ministério Público.

Por isso a CPI recomendou a criação de juizados e promotorias especializados?

Recomendamos, com atenção especial para esses Estados, mas também para os demais, a criação de varas especializadas para julgar casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, para dar mais agilidade e também para que tenhamos juízes, promotores e delegados de polícia especializados.

Há também uma preocupação em relação aos conselhos tutelares?

Sim. Percebemos que há muitas pessoas desqualificadas e mal intencionadas se candidatando a conselheiros. Recomendamos que o Ministério Público faça uma investigação intensa sobre o passado dessas pessoas.

Por que não houve indiciados nesta CPI?

Indiciar é apontar o dedo. Todos os envolvidos que descobrimos através da CPI foram processados e alguns já julgados e condenados. Fizemos isso durante os trabalhos de investigação.

A CPI também firmou três termos de cooperação mútua com empresas de telecomunicações e internet e um com o setor de cartões de crédito, também com o objetivo de rastrear operações criminosas relacionadas à pedofilia na internet. "No início, encontramos resistência por parte das empresas, mas depois ganhamos adesões".

Durante os trabalhos, foi sancionada uma lei e apresentados 11 projetos de lei, todos destinados a punir com mais rigor os crimes sexuais praticados contra crianças e adolescentes.(Carla Borges)

ENTREVISTA | DEMÓSTENES TORRES

"Situação não é questão cultural, mas uma monstruosidade"

Relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) destacou, após o encerramento dos trabalhos, que essa foi uma investigação diferente das demais feitas pelo Legislativo brasileiro. Em vez de indiciar pessoas, ela colaborou para a punição de acusados enquanto os trabalhos aconteciam. Foram feitas 10 prisões e ouvidos cerca de 200 depoimentos de crianças e adolescentes. Ele também ressaltou as mudanças que tornaram a legislação mais rigorosa.

O que representa o fato de Goiás ser o Estado onde mais se consome pornografia via internet?

Esse dado mostra que Goiás é o Estado com o maior número de investigações, de inquéritos instaurados pela Polícia Federal para apurar esse tipo de crime. Também merece destaque o trabalho eficiente realizado pelo Ministério Público estadual e pela Polícia Civil. Mas se for feita uma pesquisa no Google sobre o Estado brasileiro onde mais se acessa sites sobre sexo e pedofilia, Goiás lidera, não sabemos se por perversão ou curiosidade.

Como o senhor classificaria a situação de Goiás nesse contexto?

É muito preocupante, terrível mesmo, porque há crianças e adolescentes aliciados para o tráfico nacional e até internacional, além de um grande número sendo explorado em rodovias, o que é uma característica do Estado. No Pará e no Amazonas, por exemplo, as autoridades alegam que há um fator cultural, que crianças e adolescentes começam cedo a manter relações sexuais, o que é um verdadeiro absurdo. Para nós, isso é uma monstruosidade e não pode ser tolerado. Há indícios, nesses Estados, se não de negligência, no mínimo de leniência por parte das autoridades, inclusive setores do Judiciário e do Ministério Público.

Por isso a CPI recomendou a criação de juizados e promotorias especializados?

Recomendamos, com atenção especial para esses Estados, mas também para os demais, a criação de varas especializadas para julgar casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, para dar mais agilidade e também para que tenhamos juízes, promotores e delegados de polícia especializados.

Há também uma preocupação em relação aos conselhos tutelares?

Sim. Percebemos que há muitas pessoas desqualificadas e mal intencionadas se candidatando a conselheiros. Recomendamos que o Ministério Público faça uma investigação intensa sobre o passado dessas pessoas.

Por que não houve indiciados nesta CPI?

Indiciar é apontar o dedo. Todos os envolvidos que descobrimos através da CPI foram processados e alguns já julgados e condenados. Fizemos isso durante os trabalhos de investigação.

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STF mantém concurso público para cartório

Fonte: valoronline.com.br 16/12

O Supremo Tribunal Federal (STF) manteve decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que determinou o afastamento de titulares de 5,5 mil cartórios extrajudiciais - pouco mais de um terço das 14.964 unidades existentes no país. Eles terão que deixar as serventias para dar lugar a concursados públicos, como determina a Constituição Federal. Por seis votos a três, os ministros negaram mandado de segurança apresentado pelo titular de um cartório em Cruzeiro do Sul (PR), efetivado em 1994 por decreto do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).

A decisão do CNJ foi proferida em julho. O corregedor nacional de Justiça, ministro Gilson Dipp, declarou vagos esses cartórios e determinou a realização de concursos públicos pelos Tribunais de Justiça para o preenchimento dessas vagas, o que levou muitos tabeliães ao Judiciário. Os processos seletivos deveriam ser realizados em, no máximo, seis meses.

No STF, a maioria dos ministros seguiu o voto da relatora, ministra Ellen Gracie, que considerou como "usucapião de uma função pública" a permanência de pessoas sem concurso público em cartórios extrajudiciais. "A decisão é um passo importante para a modernização e profissionalização da atividade", comemorou o ex-presidente da Associação Nacional de Defesa dos Concursos para Cartórios (Andecc), Humberto Monteiro, que acompanhou o julgamento realizado ontem.

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Brasil é 47º em ranking mundial de democracia

Fonte: folha.uol.com.br 16/12


Regime brasileiro é avaliado como "imperfeito" por instituição inglesa

País caiu seis posições na lista em 2 anos, com nota geral 7,12 em 10; "cultura política" é pior entre quesitos avaliados


O Brasil pode até avançar para o quinto lugar no campeonato da economia mundial no governo Dilma Rousseff, como prevê Luiz Inácio Lula da Silva, mas não chegará a uma posição similar ou próxima a ela no ranking planetário da democracia.
O país está em uma posição muito inferior e, pior, retrocedendo, ao menos no Índice da Democracia 2010, que acaba de ser divulgado pela Economist Intelligence Unit, o braço de pesquisas da respeitada revista britânica "The Economist".
O Brasil recuou do 41º lugar em 2008 para o 47º agora (o levantamento é feito a cada dois anos). Caiu de 7,38 pontos para 7,12, em 10 possíveis. Nem aparece como "democracia plena", o belo rótulo reservado para apenas 26 dos 167 países ranqueados.
O Brasil é rotulado como "democracia imperfeita" ao lado de 52 outros países, entre eles França e Itália, o que mostra o rigor da avaliação.
O item que derruba o Brasil, entre os cinco que o índice leva em conta, é "cultura política". A nota do país nesse quesito é 4,38.
Um segundo critério ajuda a empurrar o país para baixo: chama-se "participação política", em que o Brasil leva 5.
Essas duas notas representam brutal contraste com os 9,58 recebidos em "processo eleitoral e pluralismo" e com os 9,12 de "liberdades civis", os dois quesitos que mais usualmente aparecem na discussão sobre democracia.
Significa, portanto, que o Brasil seria facilmente catalogado como "democracia plena" se o ranking considerasse apenas os aspectos mais convencionais.
Tanto é assim que a primeira do ranking, a Noruega, tem nota geral 9,8, não muito acima do que o Brasil obtém nos quesitos convencionais.
Mas, quando o ranking se sofistica um pouco, verifica-se que a nota norueguesa em "cultura política" é 9,38, quase o dobro da brasileira.
O Brasil perde pontos também em "funcionamento do governo". Tira 7,5, abaixo dos 8,21 da África do Sul, mas mais que os 7,14 da França e quase empatado com os 7,86 dos Estados Unidos -que, aliás, fica apenas na 16ª posição no ranking geral.
A América Latina só tem dois países entre as "democracias plenas" (Uruguai, 21º, com 8,10, e Costa Rica, 24ª, com 8,04). Dois países latino-americanos estão à frente do Brasil na lista de "democracias imperfeitas": Chile (34º) e Panamá (46º).
O relatório lamenta que "as liberdades políticas sofreram erosão em muitos países desde a publicação do índice anterior", em 2008, e culpa principalmente a crise financeira global "[por ter] minado a confiança pública no governo e tentado políticos a incomodar a oposição".