domingo, 1 de abril de 2012


FERNANDO RODRIGUES.  Afinal, o que quer o Brasil? FOLHA SP 30.03
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BRASÍLIA - Por dever de ofício, acabo indo a recepções para autoridades estrangeiras aqui em Brasília. Numa delas, bem recente, havia deputados suecos. Um deles pergun tou, secundado pelos demais: "Afinal, o que quer o Brasil?".

Não entendi. O sueco detalhou. Queria saber qual é "o objetivo do Brasil na arena global". Disse ter conhecimento do potencial do país e da atual fase de crescimento. "Mas não está claro para mim por que a Suécia deveria dar apoio ao Brasil no plano internacional".

E prosseguiu: "O Brasil quer fazer parte do Conselho de Segurança da ONU. Mas para quê? Vejo o Brasil como um país que parece querer ser amigo de todos internacionalmente. Quando você é amigo de todos, não consegue o respeito nem o apoio necessário".

Uma mulher, também deputada sueca, quis saber por que o Brasil insiste em não condenar países que não defendem os direitos humanos. Citou Cuba. Os suecos, como se sabe, não são o que se pode chamar de conservadores. A crítica não continha nenhum viés ideológico.

Os parlamentares suecos visitaram ministros em Brasília. Um deles relatou: "Perguntei a todos sobre os objetivos da política externa brasileira. O máximo que consegui ouvir foi que a política externa do Brasil visa a garantir o crescimento do país. É um objetivo doméstico. É difícil conseguir apoio de outros países só para benefício próprio".

Lembrei-me dessa conversa por causa da viagem de Dilma Rousseff à Índia. O foco da presidente no cenário internacional tem sido quase 100% sobre o crescimento do país. Não é ruim. Mas é pouco para ser protagonista mundial.

Para terminar, um dos suecos arrematou, sem dó: "O Brasil tem de escolher. Deseja ser apenas um país ou uma nação? Uma nação coloca uma alma na sua política externa. Não entendi ainda qual é a alma da política externa brasileira".
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FOLHA SP 01.04

FOTOGRÁFIA

Prêmio Brasil abre inscrições no dia 11/4

As inscrições para o Prêmio Brasil Fotografia 2012 ficarão abertas de 11 de abril a 20 de maio. Voltada a fotógrafos brasileiros ou estrangeiros residentes no país, a premiação concederá até R$ 40 mil. Outras informações estão disponíveis no site www.portoseguro.com.br/fotografia.

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Decisões polêmicas do STJ refletem leis ruins, diz juiz
Para tribunal, só bafômetro e exame de sangue provam embriaguez ao volante
Em outro caso, homem acusado de estuprar três meninas de 12 anos foi absolvido porque as garotas se prostituíam FOLHA SP 30.03

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Mais do que linhas de pensamento de magistrados, as decisões que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) tomou na semana passada sobre estupro de crianças e álcool ao volante expõem a má qualidade das leis brasileiras, de acordo com especialistas.

Ao analisar o caso de um homem acusado de estuprar três meninas de 12 anos que se prostituíam, o tribunal decidiu que ele era inocente porque as vítimas já tinham tido relações sexuais anteriormente. O Código Penal, porém, prevê que transar com menores de 14 anos, mesmo quando há o consentimento da jovem, é estupro.

Já sobre a lei seca, os ministros do STJ decidiram que só testes de bafômetro ou exames de sangue poderão comprovar a embriaguez do motorista ao volante. Antes, exames clínicos ou depoimentos de testemunhas bastavam para que o infrator respondesse a uma ação penal.

"Essas decisões revelam um produto legislativo ruim. Textos mal redigidos que acabam ensejando decisões que recusam a funcionalidade da lei para qual foram criadas", afirma o juiz Luís Fernando Camargo de Barros Vidal, membro da Associação Juízes para a Democracia.

Sobre a chamada lei seca, por exemplo, o magistrado diz não haver dúvidas de que o legislador errou. Quis "parecer durão" ao colocar baixos níveis de tolerância para (seis decigramas de álcool por litro de sangue) para configurar crime, mas dificultou a sua aplicação.

Sobre o estupro, a mesma coisa. "O legislador mudou a legislação recentemente, colocando o tal do estupro do vulnerável, mas não solucionou uma antiga discussão que havia com a relação à condição da vítima."

O promotor criminal Roberto Livianu, vice-presidente do movimento Ministério Público Democrático, diz que o texto sobre a lei seca "é mal feito". "A lei precisa ser repensada e reconstruída de maneira a não permitir a impunidade", disse.

Sobre o estupro de menores de 14 anos, ele disse que a legislação precisa prever exceções. "O direto penal é um instrumento de promoção da paz, e não um instrumento belicoso, de vingança. Da sociedade se vingar do criminoso", diz o promotor.

PROTEÇÃO

Para Alexandre Camanho, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, as decisões do STJ contrariam o "senso comum, a cidadania e a sociedade".

"Uma decisão protege o estuprador, a outra, o bêbado."

A decisão sobre a lei seca, diz Camanho, representa a "vanguarda do atraso".

Para o advogado Tales Castelo Branco, no entanto, o STJ agiu corretamente nos dois casos. Na atuação da lei seca, acertou ao não permitir que um cidadão produza prova contra si. No caso das meninas violentadas, o erro é do Estado, resultante da "pobreza e da desigualdade", não do Judiciário.

"Você não corrompe quem já está corrompido", diz. "Uma menina de 12 anos que se prostitui não tem mais a pureza, a inexperiência e a inocência que a lei protege", afirmou o advogado.

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Dicas de português.  Por Dad Squarisi
Tropeços nobres e plebeus CORREIO BSB 01.04
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A língua faz pactos. Um deles: a concordância. Para conviver com harmonia, estabeleceu hierarquias. O sujeito e o predicado são os mandachuvas. Na flexão do verbo, o sujeito dita as regras. Mas muitos ignoram o trato. Resultado: tropeçam. Aiiiiiiiiiiiiii…

Nos textos do Millôr, “sobrava” alfinetadas.
O português é flexível. Permite que os termos passeiem na frase. Mas o vaivém não muda as regras. O verbo continua vassalo. Concorda com o sujeito em pessoa e número. Ocorre que nem todos se dão conta da mudança de posição. Quando o sujeito aparece depois do verbo, é tropeço certo. Veja um exemplo:
Nos textos do Millôr, sobrava alfinetadas divertidas.
Ops! Se o sujeito estivesse na frente do verbo, ninguém se machucaria: Nos textos do Millôr, sobravam alfinetadas divertidas.

“Aluga-se” casas
A passiva sintética (construída com o pronome se) é outra tentação. Sobram placas com “vende-se frutas” ou “aluga-se casas”. Perdoai-nos, sujeitos! Senhor, mostrai-nos o caminho da salvação. Ei-lo: construa a frase com o verbo ser. Se o danadinho ficar no plural, o da passiva sintética vai atrás. Se no singular, idem: vendem-se frutas (frutas são vendidas), alugam-se casas (casas são alugadas), constrói-se muro de pedra (muro de pedra é construído).

João ou Rafa “será” presidente do Brasil
O ou joga em dois times. Ora inclui. Ora exclui. Olho vivo! Se mais de um sujeito pode praticar a ação, é a vez do plural: Um ou outro artista compareceram à festa (nada impede que mais de um artista apareça). O perigo mora na exclusão. Aí, só um pode reinar. O verbo tem de concordar com ele. É o caso de “João ou Rafa será presidente do Brasil”. Só há uma vaga? O singular pede passagem.

Carlos é um dos alunos que “sobressai”
Expressão-gilete, um dos que corta dos dois lados. Topa o singular e o plural. Moleza? Nem tanto. O singular diz que a ação se refere a um só sujeito: O Tietê é um dos rios da capital paulista que deságua no Paraná. (Só o Tietê deságua no Paraná.) O plural joga em outro time. Informa que a ação se refere a mais de uma criatura: Carlos é um dos alunos que sobressaem. (Vários alunos sobressaem. Carlos é um deles.)

A maioria do povo “saíram”
Partitivo é parte de um todo. Há expressões partitivas — parte de, uma porção de, grupo de, o resto de, a metade de, a maioria de. Com elas, o verbo pode concordar com o sujeito ou complemento. Quando os dois são singular, o verbo fica no singular (A maioria do povo saiu.). Quando seguidas de complemento plural, o verbo se esbalda. Pode concordar com o sujeito ou com o complemento: A maioria dos brasileiros lamentaram (lamentou) a morte do Chico e do Millôr. Metade das frutas apodreceu (apodreceram).

Humoristas o mais “talentosos” possível
Possível é adjetivo. Concorda com o substantivo (acordo possível, acordos possíveis). O problema pinta na expressão “o mais…possível”. Quando flexionar o trissílabo? Olho no artigo. Possível concorda com ele: Homoristas o mais talentosos possível. Os maiores esforços possíveis.

1º de abril
POEMEU EFEMÉRICO
Millôr Fernandes
Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril

Millôr disse
Só se morre uma vez. Mas é para sempre.
Rever é perder o encanto.
A esperança é crônica. O medo é agudo.
A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar ao amigo de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.
Viver é desenhar sem borracha.
Não devemos resistir às tentações: elas podem não voltar.
Esnobar / É exigir café fervendo / E deixar esfriar.
Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus.

Recado
“As pessoas que falam muito mentem sempre porque acabam
esgotando seu estoque de verdades.”
Millôr Fernandes

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