terça-feira, 17 de abril de 2012
'Tecnocracia do governo não entende de povo'. Na avaliação de João Pedro Stédile, líder do
MST, o governo Dilma está mal assessorado na questão da reforma agrária. O
Estado de S. Paulo - 17/04/2012
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O
governo contingenciou dias atrás 70% das verbas de custeio do Incra. Como vê
esse corte?
Isso
é, no mínimo, burrice política. Em todas as suas falas a presidenta diz que o
combate à pobreza é prioritário, que a educação é prioritária. Ao mesmo tempo
em que diz isso, porém, os burocratas do Ministério de Desenvolvimento Agrário
e do Planejamento contingenciam recursos do Incra e do Pronera - o único
programa de educação no campo. O governo foi tomado por uma tecnocracia de
segundo escalão que não entende nada de povo e está paralisando todos os
projetos sociais.
O
senhor quer mais assentamentos, mas a presidente fala na melhoria dos que já
existem.
A
presidenta está mal assessorada. Aliás, ela já percebeu e até trocou o ministro
do Desenvolvimento Agrário. Melhorar assentamentos é uma coisa. Outra é
desapropriar para beneficiar as famílias sem terra.
E
os assentamentos criados?
Também
estão abandonados. Faltam 180 mil casas. Apenas 10% têm acesso ao crédito
rural. O programa de assistência técnica é uma vergonha.
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"O governo não deveria afundar o pé no
acelerador". Valor Econômico - 17/04/2012
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Valor:
O risco de chegarmos ao fim de 2012 com um cenário de estagflação, com
crescimento inferior a 3% e inflação no teto da meta, como apontado no último
"Boletim Macro" do Ibre, é significativo?
Silvia
Matos: No boletim anterior, de fevereiro, debatemos que a indústria está enfrentando
desafios significativos, como o custo unitário do trabalho, que tem aumentado
muito. Não são todos os setores que estão sofrendo, claro, mas parece que a
indústria como um todo está perdendo competitividade, o que pode ser mais
permanente. E essa situação pode levar a um desequilíbrio inflacionário. Embora
a inflação dê sinais melhores no início deste ano, com alimentação mais bem
comportada e os serviços também ajudando um pouco mais, a alta dos preços ainda
será forte. Projetamos que o IPCA avance 5,2% em 2012. Se descontarmos
alimentação, um item muito volátil, a alta é ainda maior, de 5,5%. Caso ocorra
um evento inesperado, como um choque de commodities, por exemplo, em um cenário
que temos uma indústria sem reação, com certeza teríamos desequilíbrios
econômicos. Dito isso, a reflexão é que 3% já será um bom crescimento em 2012,
porque crescer sem oferta, sem indústria, é perigoso. O governo deveria aceitar
um crescimento menor neste ano para não comprometer a inflação e conseguir
assim gerar crescimento lá na frente.
Valor:
Mas se a indústria enfrenta problemas estruturais, o que alteraria esta relação
para que o país pudesse crescer mais já em 2013?
Silvia:
Até agora, a produção industrial nos países desenvolvidos não recuperou os
patamares anteriores à crise, então essas indústrias estão enfrentando
ociosidade da capacidade, excesso de oferta disponível e falta de demanda nos
mercados. A nossa indústria, que é ineficiente, sofreu muito com essa
competição. Se as economias desenvolvidas voltarem a crescer mais no próximo
ano, a vida da indústria ficará mais fácil, já que a atenção estará menos
voltada para o mercado brasileiro. O problema é que a situação corrente do
setor industrial tem trazido pontos negativos para o debate, como a tentativa
de resolver as questões com protecionismo. A desoneração da folha de pagamento
já ajuda, mas não resolve. O receio é que o governo tente garantir um
crescimento maior por meio do setor de serviços, ao incentivar o consumo. O
problema é que o resultado pode ser inflacionário e ainda prejudicar o balanço
de pagamentos. Acredito que PIB de 4,5%, como quer o governo, traria aumento da
inflação e piora das contas externas. Seria a repetição do erro de 2010. O
governo não deveria afundar o pé no acelerador sob o risco de ter que pagar a
conta com crescimento menor no ano seguinte, como ocorreu em 2011.
Valor:
No ano passado, o debate econômico ficou bastante centrado na inflação. Neste
ano, há um aparente deslocamento para a situação da indústria e a questão
cambial...
Silvia:
Acredito que políticas muitos incisivas de controle de câmbio podem afugentar
investidores estrangeiros. O câmbio não é a causa principal para o problema que
a indústria está enfrentando. O controle do câmbio tem efeitos colaterais
adversos. Um exemplo é a inflação. Ao proteger a indústria automobilística e
elevar o custo do veículo importado, estamos também encarecendo o produto, que
agora tem peso maior na composição do IPCA, de 3,6%. Um dos fatores que nos
ajudou a controlar a inflação nos últimos dez anos foi a valorização do câmbio,
que permitiu preços menores de bens comercializáveis, por exemplo. Se o patamar
da taxa de câmbio se estabilizar, não teremos mais essa ajuda e a inflação de
serviços continua muito elevada.
Valor:
Qual é a saída para controlar a inflação de serviços? Forçar uma queda mais
rápida exigiria alta forte da taxa básica de juros?
Silvia:
Seria custoso para a economia manter a inflação em 4,5% com os preços dos
serviços mantendo o comportamento atual. Seria necessário que o governo
repensasse, por exemplo, a política de valorização do salário mínimo, pois a
atual joga o ônus de problemas estruturais da economia para a política
monetária.
Valor:
O trade-off entre inflação e crescimento piorou?
Silvia:
Piorou. Em algum momento, a inflação de serviços terá que cair para termos
equilíbrio na economia. Fazer política monetária hoje está muito mais difícil.
A economia se desacelerou muito rápido, talvez por motivos mais estruturais. Há
o componente da crise internacional, mas essencialmente o problema é interno.
Valor:
O que o governo pode fazer para reverter esse processo?
Silvia:
Não são problemas de fácil solução. O setor público tem que investir mais.
Temos três variáveis essenciais para impulsionar o crescimento e uma delas é o
estoque de capital, que pode ser elevado com aumento dos investimentos públicos
e por meio de incentivos ao setor privado, como a redução do custo de crédito.
O outro é o trabalho. Nos últimos anos, houve redução forte do desemprego, mas
no longo prazo a população economicamente ativa deverá crescer menos e esse
componente dará contribuição menor ao crescimento, a não ser que haja esforço
maior de qualificação de mão de obra. Mas, de importância ainda maior, temos um
fator residual, que é a produtividade. Durante o primeiro mandato do presidente
Lula, a agenda de reformas estava na pauta e houve avanços, como a aprovação da
Lei de Falências em 2005. No ano passado, a produtividade não cresceu e a
expansão da economia foi muito baixa.
Valor:
Como a sra. avalia a concessão de estímulos para a economia?
Silvia:
Estou um pouco preocupada com a sinalização de que o governo quer reduzir o
custo de crédito rapidamente, por meio dos bancos públicos, porque o
endividamento das famílias está elevado, então não é natural forçar o consumo
em função do crédito mais forte. Essa situação tem que ser movida pela oferta e
pela demanda, que já está dando sinais de estar mais acomodada neste início de
ano. Depois da crise, o crédito livre não cresceu tanto, foi o crédito
direcionado principalmente que puxou essa expansão recente. São excessos que
possivelmente podem gerar um desequilíbrio no futuro. Forçar a redução do
spread bancário, como quer o governo, é bom, mas não é natural, porque uma
parte dele é lucro dos bancos, mas há também tributação, outros motivos que são
estruturais. Temos a necessidade de atacar a agenda de reformas, que está
paralisada.
Valor:
Há vontade política para essa retomada?
Silvia:
O que me assusta é que o Ministério da Fazenda, hoje, está perdido, sem agenda.
As medidas são pontuais, não embutem visão de longo prazo. A minha maior
crítica é para a Fazenda, porque é ele que tem que contribuir para pensar
agenda de médio e longo prazo para elevar a produtividade da economia.
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Literatura. O
universo de Jorge Amado. No centenário de seu nascimento, escritor baiano
ganha exposição no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo O POPULAR/GO 17.04
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Jorge
Amado: exposição resgata a obra do escritor
Os
números que cercam Jorge Amado (1912-2001) impressionam. São cerca de 5 mil
personagens distribuídos em 39 obras. Seus livros foram traduzidos para 49
idiomas, exportados para 55 países e ainda são revisitados por cineastas,
diretores de teatro e dramaturgos.
Se
estivesse vivo, o escritor faria cem anos em agosto. Para celebrar a data, o
Museu da Língua Portuguesa abre hoje ao público a exposição Jorge Amado e
Universal. Segundo Antonio Carlos Sartini, diretor da instituição, a mostra
busca estimular o contato direto do público com as obras do autor, já que são
as novelas e os filmes inspirados em seus romances que tomam conta do
imaginário popular. “A exposição não pretende ser biográfica nem didática. A
intenção é instigar a leitura dos livros dele”, explica. A mostra traz ainda o
universo particular e a atuação política do baiano.
Cenografia
Na
cenografia, foram usadas garrafas PET, para criar um movimento visual do mar, e
engradados coloridos, que representam a miscigenação – temática recorrente do autor.
Ainda que suas obras tenham caráter regional, Amado é reconhecido
internacionalmente. “Ele fala de sentimentos, e sentimentos são universais”,
justifica Sartini, que ressalta a atualidade dos romances. Escrito há 75 anos,
Capitães da Areia é leitura obrigatória dos principais vestibulares. “E é uma
obra que não perde o vigor ao tratar da passagem da adolescência para o mundo
adulto”, observa.
Exposição:
Jorge Amado e Universal
Data:
de terça a domingo, das 10 às 18h
Local:
Museu da Língua Portuguesa. Praça da Luz, s/nº, Centro, São Paulo.
Telefone:
(11) 3326-0775
Ingressos:
R$ 6
Até
22 de julho
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TEATRO » As
3 velhas vai a Cuba.
Maria
Alice Vergueiro comemora ida ao festival Maio Teatral, em Havana: dias felizes.
CORREIO BSB 17.04
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Maria
Alice Vergueiro está em êxtase. Em 5 de maio, a atriz e uma equipe de 10
profissionais seguem para Cuba, onde vão apresentar o espetáculo As 3 velhas,
que teve temporada de casa cheia e repercussões de público e crítica no Centro
Cultural Banco do Brasil (CCBB). A montagem integra o prestigiado e tradicional
festival Maio Teatral, organizado pela Casa de las Américas. “Estamos estudando
como vamos fazer para adaptar a peça para o espectador cubano. Não sei se seria
o caso de usar legendas. Talvez, uma síntese dos quadros resolveria, já que a
peça tem forte impacto visual e fala por si”, conta a atriz.
Sempre
ligada ao movimento de vanguarda brasileiro, Maria Alice Vergueiro sonhou em ir
a Cuba num período de extrema obstrução da liberdade individual. Na década de
1970, com o Brasil mergulhado na ditadura militar, ela desejou conhecer a ilha
de Fidel Castro, mas era muito perigoso, já que estava envolvida, sobretudo, com
o Teatro Oficina, espaço que foi cerceado e violentado pela censura e por
grupos armados de direita. “Agora, estamos neste momento interessante de
transição. Acredito que há uma grande expectativa e muita cautela sobre esse
processo de abertura. Como ficará? Eu não sei. Mas espero que eles consigam
preservar todas as conquistas”, conta.
Com
a apresentação marcada para 7 de maio, As 3 velhas apresenta ao povo cubano os
pensamentos de Alejandro Jodorowsky, poeta, escritor, cineasta e dramaturgo
chileno, que teve aproximações ideológicas com Cuba, nos anos 1960. Maria Alice
e Jodorowsky se conheceram no Brasil e travaram aproximações afetivas a partir
do jogo de tarô, exercício mítico essencial para o criador chileno, em plena
atividade hoje no Twitter. “O texto de As 3 velhas teve bastante interferência
nossa. Mas a essência é completamente dele”, observa a atriz.
Depois
de temporadas no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, As 3 velhas segue a
estrada em festivais. Neste ano, passou por Recife e Fortaleza, seguindo em
promissora carreira desde que estreou, em 2010. Em cena, Maria Alice Vergueiro,
Luciano Chirolli e Danilo Grangheia abalam as estruturas da burguesia ao
retratar a vida de marquesas octogenárias e decadentes, num dos espetáculos
mais inquietantes da última safra do teatro brasileiro, no qual Maria Alice
Vergueiro, uma das nossas maiores damas do palco, expõe corpo e alma de atriz
para construir uma experiência memorável. “Acredito que haverá um diálogo
potente em Havana. Depois da apresentação, todos os artistas ainda participaram
de um interessante e amplo debate sobre o tema teatro e realidade. Acho que vão
sair coisas instigantes dessa conversa”, conta.
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