terça-feira, 3 de abril de 2012
Uma saga imperial. Equilibrado
entre ficção e história, livro do espanhol Javier Moro narra trajetória
política e pessoal de Dom Pedro I em tom de romance CORREIO BSB 02.04
-
É
talvez inspirado pelo brado revolucionário de Dom Pedro I — “independência ou
morte!” — que o espanhol Javier Moro defende seu novo livro, O império é você.
Não é nem romance histórico, nem biografia. Um pouco dos dois — um relato
independente. A jornada épica do imperador casanova é contada com floreios de
ficção, mas baseada em fatos. Margem para polêmica? Para o autor, que recebeu o
prêmio Planeta em outubro do ano passado pelo trabalho (agrado de 600 mil
euros, apenas abaixo do Nobel, que supera o um milhão de euros), as fronteiras
entre os gêneros estão, de fato, enevoadas. “Você não pode criticar uma
história romanceada como se fosse livro de história. É como falar de um
automóvel quando o veículo em questão é um avião. O importante é ser fiel aos
personagens. Quis contar o interior que os historiadores contavam de fora”,
justificou, em conversa com o Correio. Na Espanha, mais de 400 mil exemplares
foram vendidos em menos de um ano.
O
IMPÉRIO É VOCÊ
De
Javier Moro. Tradução: Clene Salles. Planeta do Brasil, 496 páginas. R$ 49.
De
repente, o imperador metade brasileiro, metade português tornou-se best-seller:
como um personagem “imaginado”, atraiu leitores na Europa, onde não é tão
popular quanto aqui. A caminhada de boas vendas inspirou tradução francesa, com
tiragem de 100 mil exemplares, planejada para chegar às livrarias daqui a dois
meses. No Brasil, historiadores, pesquisadores e outros escritores já se
manifestaram contra o romance, por suposta “falta de precisão histórica”.
A
intenção, ele explica, foi retomar bastidores da história do Brasil e
revelá-los a leitores internacionais. “Fiz mise-en-scène, dramatizei a história
épica da família real portuguesa para que seja lida como um romance. A história
do Brasil não pertence a ninguém, pertence ao mundo. E este livro contribui ao
fazê-la ser conhecida no mundo inteiro”, argumenta.
Sentimental
Dono
de registros sobre outros personagens históricos, como o ativista brasileiro
Chico Mendes (Caminhos da liberdade) e a política indiana Sonia Gandhi (O sari
vermelho), Moro retornou na última sexta-feira à Espanha, depois de divulgar o
livro em Brasília e mais cinco cidades brasileiras. Acredita que deixou para os
leitores — brasileiros e estrangeiros — um perfil sentimental e particular de
um homem que carregava no peito insígnias, condecorações e um coração
atravessado de paixões. Esposas à parte (Leopoldina e Amélia), teve casos com a
aristocrata Domitila de Castro (a Marquesa de Santos), a dançarina francesa
Noemie Thierry e, obviamente, outras mais.
O
affair com a artista, considera Moro, deveria ter mais espaço nas narrativas
sobre Dom Pedro. “Pela primeira vez, enfrenta um conflito que permeará toda sua
vida, entre ser um homem normal e um herdeiro do império. No final, cede ao
pedido do pai (que estava arranjando o casamento com Leopoldina) e sacrifica
seu amor por Noemie. Mas quando fica sabendo que o filho de Noemie morreu ao
nascer, Pedro chama o capitão geral de Pernambuco e pede que lhe mande o caixão
com o corpo do pequeno. E Pedro guarda o caixão em seu escritório durante 20
anos”, descreve o autor.
Duas
perguntas - Javier Moro
Houve
dificuldade na recriação de diálogos e cenas?
Você
não pode se permitir o luxo de inventar um personagem que não tenha existido ou
de criar cenas completamente imaginadas, sem base real. É preciso moldar a
história, torná-la interessante do ponto de vista literário com o material que
existe. Não se trata de inventar, trata-se de interpretar. Quanto aos diálogos
e cenas, se os personagens estão bem desenhados, se o perfil psicológico está
correto, se é fiel à personalidade deles, os diálogos saem quase sozinhos.
Como
funcionou o seu procedimento de pesquisa e coleta de material para a composição
do livro?
Não
foi demasiado difícil porque contei com a colaboração de amigos como Pedro
Correa, que me abriu algumas portas, e porque existe muito material já escrito.
Estive em Lisboa, Queluz (onde D. Pedro nasceu), São Paulo e Rio. Passei dias
na Biblioteca Nacional e no Instituto Histórico e Geográfico, no Rio. Minha
prioridade não era buscar fontes primárias, refazer o trabalho que
historiadores como Octávio Tarquínio de Sousa, Oliveira Lima ou Tobias Monteiro
já fizeram. Minha meta era contar essa história para o mundo, não para os
brasileiros. E o fato de ser estrangeiro, creio eu, me deu essa perspectiva
necessária para escrever uma história que interessa ao mundo inteiro. Minha
meta era contar essa história como um romance, sem ser inteiramente um romance.
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Cultura: propriedade comum ou mercadoria. CARTA
MAIOR 02.04
-
No
momento em que se avança no processo de privatização na que já foi um marco na
TV pública brasileira – a TV Cultura de São Paulo – e ainda persiste um mandato
no Minc que promoveu graves retrocessos na política de propriedade comum e
convive de forma promíscua com o Ecad, vale a pena recordar que um dos mais
importantes debates contemporâneos se deu justamente sobre a natureza da
cultura: propriedade comum ou mercadoria.
Foi
uma longa e tensa discussão no âmbito da Unesco, em que os Estados Unidos
defendiam a inespecificidade da cultura, como uma mercadoria a mais, que
deveria ser submetida às normas do livre comércio e estar no âmbito da
Organização Mundial do Comércio. Não poderia haver visão mais mercantilizada da
cultura, que aceleraria ainda mais o achatamento da diversidade cultural em
beneficio dos modelos de consumo das potências centrais do capitalismo.
A
posição - que finalmente triunfou - considera a especificidade da cultura como
forma de definir as distintas identidades dos países, dos povos, das nações,
que requer tratamento e proteção especifica. Por detrás do debate estava a
contraposição entre a cultura como mercadoria e a cultura como patrimônio da
humanidade, como propriedade comum. É a forma particular de refletir os grandes
debates e dilemas contemporâneos entre esfera mercantil e esfera pública, entre
neoliberalismo e pós-neoliberalismo, no plano da cultura.
Até o governo Lula predominou essa visão mercantil
da cultura, de que um dos reflexos mais claros foi a Lei Rouanet de incentivo à
cultura, em que o governo renuncia a seu papel de fomento da cultura e permite
que empresas privadas deixem de pagar impostos para financiar atividades de propaganda
das empresas, sem nenhum critério artístico. Ao invés de pagar seus impostos,
as empresas privadas promovem sua imagem, em lugar do governo definir os
critérios públicos de repartição de recursos.
O
mandato do Gil e do Juca havia proposto reformulação da Lei de incentivo à
cultura, que não avançou neste mandato, foi revista com os critérios que
presidem esse mandato, de menor intervenção do poder público e de favorecimento
dos mesmos mecanismos que presidem a lei ainda vigente.
A
promiscuidade com o Ecad e a retirada do selo da propriedade comum vão na mesma
direção, de ruptura com todos os avanços do mandato anterior, que fortaleceram
o Minc no governo Lula e que projetaram uma imagem de governo dos mais
avançados no mundo em termos de políticas culturais. A presença de um
ministério fraco e sem apoio tem feito com que ressurjam teses de que os temas
de propriedade e a própria Ancine deveriam estar subordinadas ao Ministério de
Indústria e Comércio, formalizando os retrocessos sobre o caráter público da
cultura.
É
a mesma lógica de privatização da cultura que tem feito com que os tucanos
destruam a melhor TV que o Brasil chegou a fazer, no auge da TV Cultura. Nas
programações informativas, de debate politico, nas programações infantis,
culturais – ela vai chegado a disputar audiência com a TV Globo em São Paulo.
Os tucanos retiraram recursos e jogaram a TV Cultura na lógica de buscar
recursos privados e, assim, ter que se submeter aos critérios das agências de
publicidade e das empresas privadas, tirando paulatinamente o caráter
diferenciado, público, da TV Cultura, até se chegar à desagregação de uma TV
totalmente subordinada aos desígnios – e conflitos – internos do PSDB.
A
luta pela eleição de um candidato alternativo em São Paulo, assim como por uma
substituição no Minc que permita o resgate das políticas culturais de caráter
público, é a mesma luta pela democratização da cultura e dos meios de
comunicação no Brasil hoje.
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CADASTRO NEGATIVO.
Seccionais
da OAB querem lista de violadores de prerrogativas. Presidentes
de seccionais da OAB aprovam criação de banco de dados que incluirá nomes de
pessoas, empresas e instituições que violarem direitos dos advogados. Conselho
Federal precisa chancelar criação. www.conjur.com.br
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88 assassinatos em um mês.
Balanço trágico é referente a
março, que teve uma média de quase três homicídios por dia. Correio Braziliense – 03/04.
-
-Somente
no último fim de semana, pelo menos 14 pessoas foram mortas no Distrito
Federal. Maioria dos casos tem relação com o tráfico de drogas
O
último fim de semana foi o mais violento de 2012 no Distrito Federal. A Polícia
Civil registrou pelo menos 14 assassinatos nas 48 horas de sábado e domingo. Em
março, ocorreram 88 homicídios, quase três por dia. A média do ano passado,
quando 722 acabaram assassinadas, foi de duas mortes a cada 24 horas.
Investigadores acreditam que a maioria dos casos esteja ligada ao tráfico e ao
uso de drogas. Na edição de domingo, o Correio mostrou que 63% das vítimas de
arma de fogo em 2010 usaram algum tipo de entorpecente antes de serem
executadas.
O
subsecretário de Operações da Secretaria de Segurança Pública do DF, coronel
Jooziel Freire de Melo, admite que os números do fim de semana são atípicos.
"Realmente, estão fora do padrão, mas não temos condições de avaliar,
neste momento, qual o fenômeno ocorrido. Precisamos estudar o perfil das
vítimas e dos autores para conseguir fazer uma interpretação mais
precisa", afirmou.
De
acordo com Jooziel, as operações envolvendo todos os órgãos vinculados à
segurança pública devem trazer resultados significativos para a cidade. "O
secretário (Sandro Avelar) atua na direção de fomentar uma força-tarefa que
conta com a participação da Polícia Militar, da Polícia Civil e do Detran para
o enfrentamento da violência. Acreditamos que essas novas ações trarão
resultados positivos para a cidade", frisou.
Nem
uma das áreas mais nobres da capital do país ficou imune à violência dos
últimos dias. Na madrugada de domingo para segunda-feira, um homem foi morto a
facadas no acesso para as quadras 109 e 110 Sul. (leia mais na matéria abaixo).
Na maior e mais populosa cidade do DF, Ceilândia, foram computadas três
execuções. Na QNM 7, área norte da região administrativa, o jovem José Júnior
Moura da Silva, 22 anos, foi atingido por dois disparos na cabeça em plena luz
do dia, no domingo. Ele conversava com amigos numa esquina, quando um homem
dentro de um Honda Fit atirou contra o grupo. José Júnior morreu na hora. Outro
rapaz ficou ferido na perna, mas não corre risco de morte.
No
setor P Norte, a polícia também investiga o homicídio de um rapaz de 30 anos,
na noite de domingo. Ele voltava para casa, por volta das 20h30, quando foi
surpreendido por um homem armado. O rapaz foi baleado duas vezes. No Setor
Oeste do Gama, Jaderson dos Santos, 33 anos, também acabou assassinado com dois
tiros, na manhã de sábado. Casado e com dois filhos, ele foi encontrado morto
em um chalé.
Duas
horas depois, o monitor de transporte escolar Lucas Rodrigues, 21 anos, foi
executado dentro do próprio carro, na Quadra 3 de Sobradinho.
Droga
e morte
O
estudo, produzido pelo Instituto de Medicina Legal (IML), ainda revela o poder
devastador do entorpecente na juventude. O levantamento aponta que 73% das
vítimas de homicídio doloso com idade entre 15 e 22 anos tinham consumido algum
alucinógeno antes da morte.
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Educação, pilar da economia. O Estado de S. Paulo - 03/04/2012
-
Sabe-se
que, para o Brasil ser realmente competitivo, é preciso que se façam as
reformas estruturais. Mas, se o País realizá-las e não investir pesadamente na
educação, elas se tornarão, a médio e a longo prazos, meros paliativos na
tentativa de fazer uma nação desenvolvida. Na condição em que se encontram os
nossos recursos humanos, o País não consegue crescer a taxas superiores a 4,5%
do PIB, em termos constantes. Temos hoje uma baixíssima produtividade por causa
da escassez de trabalhadores qualificados em praticamente todos os setores da
economia.
Foco,
como exemplo, o caso da nossa engenharia, pois nenhum país cresce desprovido
dela. O Brasil forma em média 40 mil engenheiros por ano, enquanto a Coreia do
Sul, mais de 80 mil ao ano, tendo menos da metade da nossa população. Quanto
aos países emergentes, a China forma 650 mil engenheiros/ano; a Índia, 220 mil;
e a Rússia, 190 mil.
O
fato é que, pela quantidade de vagas oferecidas nas universidades públicas e
privadas brasileiras, poderiam se formar aqui quase o dobro dos engenheiros que
se graduam por ano. Mas isso não ocorre porque, além de as vagas para alguns
desses cursos não serem preenchidas, há um elevado nível de evasão nas escolas
de engenharia, girando em torno de 54%, considerando as universidades públicas e
privadas. E há, também, o problema da retenção. O curso de engenharia tem cinco
anos de duração, mas, em média, o aluno leva seis anos para se formar.
O
esforço para solucionar o problema não deve ser realizado com a criação de mais
e mais escolas de engenharia. Tal esforço deve ser para um segundo momento. O
foco, agora, deveria estar centrado em preencher adequadamente as vagas
existentes desses cursos e reduzir o elevado índice de evasão e retenção dos
estudantes. Para isso são necessárias políticas públicas voltadas para uma
reforma profunda, com investimentos de recursos maciços, nos ensinos
fundamental e médio.
Esses
níveis de educação, em geral, não estimulam adequadamente o ensino das ciências
exatas, dificultando a assimilação de conhecimentos futuros para a engenharia,
fundamentais na Física, na Matemática e na Química. O resultado é a falta de
base para acompanhar a faculdade de engenharia. Esse é o principal motivo que
gera tanto a evasão quanto a retenção.
Além
disso, não são muitos os jovens que procuram ingressar nas escolas de
engenharia, pois nos níveis fundamental e médio, com raras exceções, não se ensinam
as matérias de exatas de forma a estimular os estudantes a seguirem carreira na
área de tecnologia. As vocações para os campos da engenharia não são
despertadas, como deveriam ser, mediante novas técnicas de ensino, com
didáticas apropriadas a um mundo pós-moderno.
As
vocações vão sendo formadas, mediante as condições que se apresentam para os
estudantes, durante seu processo de amadurecimento intelectual. E é isso que
precisa ser levado em conta, e com uma visão de longo prazo. Fazer trabalhos e
projetos com as crianças e os adolescentes para que eles gostem de Física,
Química e Matemática.
Pouco
adianta criar mais escolas de engenharia, mais vagas, se o País não conta com
uma quantidade realmente expressiva de jovens interessados nelas. Ou se tiver
ingressantes nos cursos que não conseguem aprender as disciplinas porque não
tiveram base para isso nos cursos fundamental e médio. Continuarão, nesse caso,
a ter vagas não preenchidas, elevados níveis de evasão e uma média alta de
retenção.
Há
quem defenda, numa visão imediatista, a criação de cursos de engenharia de
curta duração, visando a ofertar mais profissionais da área para o mercado de
trabalho. Ora, elevaríamos o número de engenheiros no Brasil, porém com o risco
de serem construídas "pontes que caem".
Para
o País crescer e um dia ser realmente desenvolvido, seria preciso que as
estratégias voltadas para a educação fossem de longo prazo. Aí, sim, teríamos
uma engenharia que, em vez de minguar, proliferaria no Brasil.
>>>
Economia sustentável divide OCDE e emergentes. Economia
verde opõe países ricos aos emergentes
Valor Econômico - 03/04/2012
-
A
divergência entre dar prioridade ao crescimento econômico ou à proteção
ambiental marcou a reunião ministerial da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), na semana passada, e ilustrou um confronto entre países
desenvolvidos e emergentes que deverá persistir na conferência Rio+20, em
junho, no Brasil.
A
OCDE reuniu ministros de meio ambiente para definir a mensagem a levar ao Rio e
convidou alguns países emergentes - Brasil, China, Indonésia, Rússia, África do
Sul e Colômbia - para a discussão. No fim, os emergentes não endossaram a
declaração ministerial, com exceção da Rússia.
A
divergência entre priorizar crescimento econômico ou proteção ambiental marcou
a reunião ministerial da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), na semana passada, e ilustrou um confronto entre países ricos
e emergentes que deve ter continuidade na conferência Rio+20, em junho, no Rio.
A
OCDE reuniu ministros de Meio Ambiente para definir a mensagem que seus
países-membros, ditos os mais desenvolvidos, vão levar ao Rio, e convidaram
alguns emergentes - Brasil, China, Indonésia, Rússia, África do Sul e Colômbia
- para a discussão. No final, os emergentes não endossaram a declaração
ministerial, com exceção da Rússia, que está em processo de adesão à entidade e
aceita tudo pelo momento.
A
divergência de enfoque ficou patente. Os países desenvolvidos estão muito
centrados no princípio de "economia verde", que consideram um dos
meios para alcançar desenvolvimento sustentável, econômico, comercial e
ambiental. Só que o social fica um pouco a reboque e não tem a mesma ênfase, segundo
países como o Brasil.
Para
vários ministros, instrumentos econômicos - taxação, encargos, imposto sobre
poluição, eliminação de subsídios que prejudicam o meio ambiente - são
importantes, mas os países precisam de regulação mais efetiva para acelerar a
mudança de comportamento. Uma ideia que volta é a da cobrança do custo real do
uso de recursos naturais, por exemplo, da água, que ficaria bem mais cara.
O
"Policy Statement" dos países da OCDE para a Rio+20, destaca ainda
que comércio e investimento não devem ser barreiras ao crescimento verde ou
desenvolvimento sustentável. Nas discussões, na semana passada, a Coreia do Sul
mostrou uma visão mais mercantilista que a europeia, por exemplo. O objetivo
parece ser a derrubada de barreiras para vender equipamentos modernos que
ajudariam a adaptação industrial.
Para
os emergentes, o problema é que a OCDE quer atrelar demais a expansão econômica
à proteção ambiental, o que exige priorizar investimentos enormes em
equipamentos, pesquisas, renovação de indústrias, filtrar tudo, fechar usinas
sujas e substitui-las por novas. "Não é o ambiental que puxa o
desenvolvimento, é o desenvolvimento que puxa o ambiental", diz um
negociador emergente.
A
avaliação é que a receita dos desenvolvidos, que já tem capacidade instalada,
regras ambientais e crescimento limitado, provocaria crescimento menor e a um
custo muito maior para os países em desenvolvimento. Os emergentes voltaram a
pedir que a OCDE demonstre quanto custaria a adaptação ao "crescimento
verde". A entidade diz que isso é difícil, mas que no longo prazo todos
ganham com economia forte e limpa.
Os
emergentes concordam, mas insistem que a prioridade no contexto atual é
continuar crescendo para aumentar a inclusão social, criar mais empregos, entre
outras ações. "Isso passa à frente, não adianta falar de tecnologia
sofisticada se for nos custar demais ou desacelerar o processo de inclusão
social, distribuição de renda", diz uma fonte dos emergentes.
Embora
sem endossar o texto da OCDE, o Brasil conseguiu incluir no texto uma menção à
"economia verde inclusiva", numa nuance em relação ao
"crescimento verde".
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VISãO DO CORREIO » Incluir
crianças com Down é obrigação. CORREIO BSB 03.04
-
Conviver
com diferentes faz parte da educação. A escola constitui microcosmo da
sociedade. Deve, por isso, ser representativa da variedade existente no meio.
Não se admitem colégios que fechem as portas para esta ou aquela etnia, para
este ou aquele sexo, para esta ou aquela religião. Tampouco se aceita
instituição de ensino que recusa crianças por apresentarem distúrbio genético.
Choca,
pois, a notícia de que escolas particulares do Distrito Federal não aceitam
meninos e meninas com síndrome de Down. Ou que condicionam a matrícula a
pagamento de taxa extra. O Conselho Nacional de Educação (CNE) e a Secretaria
de Educação consideram discriminatória a cobrança pelo acompanhamento. O
direito está consagrado na Constituição Federal e na legislação específica da
matéria.
A
prática, que chega a dobrar a despesa dos pais, funciona como muro
intransponível para a maioria dos estudantes. A barreira afugenta os
postulantes a vaga, privando-os do direito de escolher onde estudar. É verdade
que crianças com Down necessitam de cuidados especiais. Tutores as acompanham
para evitar defasagens na aprendizagem. Mas não é legal cobrar da família o
salário do profissional.
A
remuneração deve constar da planilha de custos, que define o valor da
mensalidade. Assim diluído, o montante não sobrecarrega ninguém. É justo que
assim seja. O convívio heterogêneo beneficia a todos. Vale lembrar que a
responsabilidade social constitui exigência da sociedade. Nenhuma instituição
pode ignorar que se beneficia do meio e ao meio deve retornar parcela das
vantagens auferidas.
Antigamente
ações solidárias eram consideradas favor. Hoje são dever. As escolas, que se
comprometem com o Estado a desempenhar função educadora, têm a obrigação de
incluir. Classes especiais destinadas a alunos com deficiência são lembranças
do passado. Colégios que não se deram conta da transformação de mentalidade que
se operou no país pertencem também ao passado.
São
da época em que os pais escondiam os filhos que apresentassem qualquer
característica que os diferenciava da maioria. Isoladas, eram pessoas sem
visibilidade e sem direitos. Os tempos mudaram. Incluir é a ordem. Escolas que
ignoram o mandamento privam os alunos da necessária convivência com o
diferente. Em vez de formar cidadãos, correm o risco de criar intolerantes.
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Comissão discute necessidades dos surdos usuários
de língua portuguesa.A
reunião será realizada às 14h30, no Plenário 7. www.camara.gov.br
-
A
Comissão de Seguridade Social e Família realiza hoje audiência pública para
discutir o direito à comunicação e à informação, o universo da surdez e as
soluções em acessibilidade necessárias à plena inclusão social das pessoas
usuárias de língua portuguesa com deficiência auditiva.
O
debate foi proposto pelos deputados Rosinha da Adefal (PTdoB-AL) e Arnaldo
Faria de Sá (PTB-SP).
Os
surdos usuários da língua portuguesa (Sulp) são os que utilizam a língua
portuguesa – e não a Língua Brasileira de Sinais (Libras) – para se comunicar,
por meio das modalidades oral, oro-facial (ou leitura labial) e da escrita.
“O
objetivo da audiência é revelar a diversidade existente no universo da surdez e
apresentar as necessidades desse primeiro grupo, ainda ignoradas quando da
adoção de soluções em acessibilidade nos ambientes”, disse a deputada.
Foram
convidados:
-
a procuradora da República de São Paulo Eugênia Augusta Gonzaga Fávero;
-
o secretário nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Antônio José
Ferreira;
-
a integrante do Grupo de Pesquisa em Acessibilidade e Tecnologias do
Laboratório de
Experimentação
Remota da Universidade Federal de Santa Catarina Anahi Guedes;
-
a socióloga, ativista e articulista do Blog Surdos Usuários da Língua
Portuguesa, Sônia
Ramires
de Almeida.
-
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JUSTIÇA TRIBUTÁRIA.
Reforma
tributária não é só reduzir impostos
Por
Raul Haidar www.conjur.com.br 02/04
-
A
presidente Dilma já reconheceu a necessidade de uma reforma tributária e
anunciou que pretende reduzir impostos. Ótimo! É isso que todos queremos e tais
mudanças são urgentes. Redução de impostos em vários casos se faz com uma
canetada. Para reduzir o IPI, por exemplo, não há necessidade de consulta ao
Congresso, bastando simples portaria ministerial. O imposto de importação
também. Mas reforma tributária não é só reduzir este ou aquele imposto.
Trata-se de dar novas regras a todo o sistema tributário, corrigindo os
defeitos que nele hoje encontramos.
Em
todas as pesquisas já feitas sobre a questão tributária constata-se que os três
maiores problemas são: a) carga tributária elevada; b) burocracia excessiva; e
c) insegurança jurídica inclusive nas questões já julgadas.
Claro
está que uma redução em todos os impostos ainda que seja viável pode gerar
injustiças e criar problemas especialmente para os municípios e mesmo para os
estados. Tal questão — carga tributária — deve levar em conta o quadro atual de
arrecadação, onde se verifica que a União recebe quase 60% dos impostos,
ficando cerca de 25% com os Estados e mais ou menos 15% com os municípios. A
arrecadação deve ser proporcional às necessidades de cada entre tributante. A
União arrecada mais porque tem a seu cargo um volume maior de
responsabilidades.
Apesar
disso, na prática verifica-se que Estados e Municípios dependem cada vez mais
do repasse de verbas federais para fazer funcionar os serviços que lhes estão
afetos. Cortar impostos no nível federal é realmente fundamental e fica
evidente que já passou da hora de fundir o IPI com o ICMS, transformando-se num
IVA de competência estadual. Ou seja: é necessário acabar com o IPI, o que
implicaria em tirar cerca de 20 bilhões de reais da receita federal ou um pouco
menos, se considerarmos de quase metade do IPI é distribuído entre estados e
municípios.
A
lei de responsabilidade fiscal deve também ser revista, para criminalizar o uso
indevido de verbas públicas, com mais rigor. Por exemplo: recentemente
discutia-se proibição de custeio público de bandas musicais cujo repertório
contivesse músicas pornográficas. Parece-nos que essa não é a questão. Deve-se,
pura e simplesmente, proibir que dinheiro público, que falta na saúde, na
educação, na segurança, etc., seja utilizado em festas ditas populares, onde o
povo se dedica quase sempre a bebedeiras e coisas piores.
Se
a festa é folclórica, que a comunidade cuide de festejar com a ajuda da
população. Se é religiosa, que a igreja arrecade recursos junto aos fiéis.
Dinheiro público que vem de impostos só pode ser usado no que estiver no
orçamento. E este não pode desviá-lo para o que não seja de interesse de todos,
mediante aprovação pelo legislativo. Neste momento da nossa história, a reforma
tributária é fundamental. Nosso sistema está ruim e cria inúmeros problemas
para a economia. Examinando-se os artigos 170 a 181 da Constituição vemos uma
boa indicação do caminho a seguir.
No
artigo 170 determina-se a valorização do trabalho e da livre iniciativa. Mas é
evidente que com uma carga tributária próxima de 40% do PIB, não existe livre
iniciativa que sobreviva, pois nada sobra para investir.
Fala-se
em desindustrialização , apontando-se a redução da atividade fabril no país.
Mas se as pessoas continuam consumindo, em algum lugar o bem consumido está
sendo produzido. Ainda recentemente comentamos neste espaço que uma empresa de
alimentos resolveu criar nova fabrica no Uruguai, pois os custos diretos e
indiretos no Brasil impediriam a lucratividade desejada. Assim, se não houver
queda na carga tributária, a reforma anunciada será apenas mais uma boa
conversa. Se isso já funcionou no passado, hoje não funciona mais, pois a
economia está internacionalizada. Aqueles industriais que insistem em manter
fábricas obsoletas enquanto investem nas suas mansões, iates ou jatinhos, não
podem continuar sendo subsidiados com taxas protecionistas que protegem agiotas
acomodados.
Se
a presidente quer mesmo falar em reforma, que mande preparar um bom projeto de
racionalização e simplificação de obrigações acessórias, inclusive eliminando
exigências descabidas de agências reguladoras que inventam normas novas a cada
minuto. Precisamos também de uma estabilidade nas regras do jogo. Não se pode
aceitar que decisões judiciais sejam ignoradas por qualquer burocrata. Quando o
Judiciário decide de forma reiterada, chegando mesmo a questão a ser decidida
pelo STF, não é razoável que a repartição ignore o fato, pois se trata de
verdadeiro desprezo.
O
ministro Marco Aurélio (STF) em entrevista ao ConJur registrou a perplexidade
de todo operador do direito quando se constata a inobservância dos
posicionamentos adotados pacificamente pelo Judiciário, afirmando:
“A
ausência de respeito às decisões do Supremo revela a quadra do nosso Estado,
que talvez não seja, como se diz na nomenclatura, um Estado Democrático de
Direito. É inconcebível que o Supremo decida, e decida de forma reiterada, e o
Poder Público — gênero, estados, municípios ou a União — ignore a decisão. O
que nós precisamos no Brasil é de ética. É de homens, principalmente homens
públicos, que observem a ordem jurídica constitucional.”
Vamos
esperar que se promova um reforma tributária de verdade. E que ela não sirva
apenas para dar cinco minutos de holofote a ilustres figuras das nossas
academias que não fazem a mínima idéia do que seja o problema tributário, mais
preocupados em dar palestras e promover seus infladíssimos egos.
Raul
Haidar é advogado tributarista, ex-presidente do Tribunal de Ética e Disciplina
da OAB-SP e integrante do Conselho Editorial da revista ConJur.
>>
Loucos por livros.
Mesmo com as mudanças trazidas pela era da internet, ter uma
obsessão pelo objeto que comercializam permanece qualidade essencial dos
livreiros CORREIO
BSB 03.04
-
Quando
olham para os anos 1980, Ivan da Silva, Cida Caldas, Íris Borges e Francisco
Joaquim de Carvalho esbarram na mesma palavra: romantismo. É um termo que tem
outro significado para Alan Santos de Oliveira, Kermerson de Aquino Macedo e
Glaidson Medeiros. No século 21, o romantismo pode ser nome de movimento
literário do passado, mas não se aplica mais à profissão de livreiro. Hoje,
vender livros é, antes de tudo, um negócio e exige habilidades bem específicas.
Está longe de carregar aquela aura do sujeito para o qual os sentimentos estão
acima da razão.
Vender
livros nas últimas décadas do século passado implicava em tornar - se uma
referência e um guia para os consumidores. A internet e a informação acessível
mudaram o cenário, e os desejos dos clientes ganharam a velocidade da rede. No
entanto, apesar da popularidade com a qual a tecnologia se instala na área, uma
característica ainda une os livreiros de ontem e os de hoje: são seres
aficcionados, obcecados e viciados no objeto que comercializam. E, se não
forem, não são livreiros. Nas palavras de Glaidson, 34 anos, são meros
“entregadores de livros”.
Glaidson
Medeiros: "O livreiro não pode ser um mero entregador de livros. A gente
precisa sempre tentar oferecer algo mais"
“Naquela
época a gente estava crescendo com o aumento da literatura no país. O
romantismo dos anos 1980 desapareceu, porém o entusiasmo continua”, admite
Íris, proprietária da distribuidora Arco Íris e curadora da 30ª Feira do Livro
de Brasília. Glaidson é uma prova de que o arrebatamento provocado pelo objeto
livro ainda funciona como ingrediente básico da lábia de um livreiro. Estudante
de jornalismo, ele sonhava em trabalhar em uma grande loja de rede.
Kemerson
e Cida Caldas , do Sebinho: é preciso amor, livro não é tijolo
Depois
de ser contratado pela Livraria Cultura, levou junto um grupo de clientes
confiantes nas dicas que costumava dar na Kingdom Comics, do Conic, na qual
trabalhou durante alguns anos. “Livreiro tem que fazer dever de casa”, ensina.
“Senão, pode ser constrangedor. Se o cara quer Astérix, a gente tem que saber
mostrar outras opções. E não é uma questão de empurrar as coisas, é o prazer de
oferecer algo mais.”
Intimidade
Entregador
de livro não vive sem sistema. Se a rede cai e o computador não funciona, encontrar
Machado de Assis será tão difícil quanto esbarrar em Paulo Coelho para quem não
tem intimidade com o tijolinho de páginas coladas e capa colorida. Nisso,
livreiros de ontem e de hoje concordam. Quando Cida abriu o Sebinho, há 26
anos, contava com apenas 50 exemplares arrumados na quitenete da sogra. A loja
tem hoje milhares de títulos e encontrar um livro entre as estantes do Sebinho
não é problema. Mesmo sem sistema, ela dá conta. “Quando a livraria não estava
informatizada, a gente sabia encontrar um livro, falar de um autor. Você pode
até não ter lido Shakespeare, mas tem que saber quem é o cara porque, se faltar
o sistema, você não vai conseguir nem falar com o cliente”, repara.
Alan
Santos de Oliveira: "Muitos não suportam entrar em livraria muito
grande"
Também
é essencial gostar do produto. Ser obcecado, ter intimidade. Vender livros não
se assemelha a vender roupas e não há possibilidade de trocar a camiseta
laranjada pela preta, caso o tamanho adequado não esteja disponível. É difícil convencer
um leitor em busca de um bom João Ubaldo Ribeiro a levar um manual de
autoajuda. “A primeira coisa que uma pessoa que trabalha com livros precisa ter
é um sentimento de amor, uma paixão pelo que está vendendo. Livro não é um
tijolo, é algo que transmite emoções. A segunda coisa é a vontade de aprender”,
ensina Kemerson, 24, formado em letras e há cinco anos contratado pelo Sebinho.
Alan
tem 35 anos e é vendedor da Dom Quixote do Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB). Também professor de geografia e colecionador de livros, assistiu com
desconfiança ao crescimento das livrarias de rede que ameaçam pequenos
livreiros, mas hoje está convencido de que há espaço para todos. “Muitos
clientes vêm na loja porque dizem que não suportam entrar em livraria grande,
onde não encontram nada fácil”, explica. “E porque têm que atravessar milhares
de best-sellers para chegar aonde querem.” Cida, 48, também acredita na
diversidade de nichos. “Se você tem uma livraria de quadra com bom atendimento,
agradável, não é muito melhor do que se deslocar para um shopping?”, pergunta.
Leitores
amigos
Para
Francisco Joaquim de Carvalho, o Chiquinho, nada disso é muito evidente. “Antes
tínhamos o romantismo. Agora, estamos na era da concorrência, da disputa. É
mais complexo. Antes tudo era mais maleável”, repara o livreiro mais antigo da
Universidade de Brasília (UnB). Chiquinho, 51, começou como jornaleiro e, em
1989, abriu a pequena (amontoada) livraria no ICC Norte. Só ele é capaz de
encontrar um título na confusão da loja, mas quem vai atrás do livreiro sabe
que, se ele não tiver, ou manda buscar ou conhece algo capaz de satisfazer o
cliente. “Consigo me manter porque estou dentro da universidade e pela solidez
dos clientes, dos leitores amigos da livraria.”
Ivan,
63, fechou a Livraria Presença em 1995 e desde então trabalha com a venda de
livros usados no Conic. Ele procura não desanimar os jovens, embora encare a
profissão de livreiro como algo em extinção. “É que nem alfaiate, quitandeiro,
tipógrafo”, brinca. O problema maior, ele insiste, não está nas grandes redes
nem nos shoppings, mas na internet. A rede dispensa o livreiro em vários
sentidos, da busca pela informação à aquisição do produto. “Antigamente, saía
uma notícia que um escritor estava terminando um livro, todo mundo ligava na
livraria e me pedia para separar um exemplar quando chegasse”, conta. “Hoje,
ninguém sabe quem é o escritor. E ele não precisa nem fazer o livro, é só
colocar na internet.”
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O deserto das letras CORREIO BSB 03.04
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O
brasileiro lê em média quatro livros por ano, segundo a pesquisa Retratos da
Leitura no Brasil, divulgada na semana passada pelo Instituto do Livro. As
razões para esse quadro desolador são fartamente conhecidas — baixa qualidade
da educação, tradição oral na cultura brasileira, preços proibitivos dos
livros, apelo da tecnologia, etc. — e permanecem intocadas por gerações.
A
pesquisa sobre nossos parcos hábitos de leitura se associa a outro dado
relevante, mais antigo, para diagnosticar a delicada situação nacional. Segundo
informações publicadas em 2010, o país ocupa a 88ª posição no Índice de
Desenvolvimento de Educação para Todos, ranking elaborado pela Unesco a fim de
medir a capacidade e o compromisso das nações com o trabalho desenvolvido nas
escolas. A sexta economia mundial está em posição inferior ao Equador, à
Bolívia e ao Paraguai; e muito longe de Argentina, Uruguai e Chile, para ficar
apenas na América do Sul.
Mais
grave do que analisar os antecedentes históricos e fazer estudos comparativos,
porém, é verificar a perspectiva do problema. A pouca intimidade do brasileiro
com o conhecimento guardado nos livros projeta situações preocupantes. O grave
deficit educacional acarreta dificuldades nas escolas, no mercado de trabalho,
na economia internacional, nas políticas públicas, no exercício da cidadania.
Enquanto o país mantiver indicadores tão precários na formação intelectual dos
brasileiros, encontraremos sérios limites para qualificar nossa pauta de
exportação, aprofundar o estudo científico, encontrar soluções inovadoras, acelerar
o ritmo de crescimento, ser uma sociedade mais justa.
Estatísticas
econômicas indicam que o brasileiro demonstra grande interesse em comprar
carro, televisão, geladeira, celular. Não se observa, porém, a mesma voracidade
no consumo de livros, instrumentos poderosos para alcançarmos um grau de
desenvolvimento mais avançado. No mundo pós-industrial, apenas a valorização da
leitura permitirá atravessar o deserto das letras.
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O NOVO INCOSCIENTE » O amor e outros seres invisíveis. Por
habitarem o inconsciente, as emoções são difíceis de compreender. A
neurociência tem buscado trazê-las à tona e ajudar as pessoas a dominarem
sentimentos que, muitas vezes, não conseguem explicar de onde vêm
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“João
amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava
Lili que não amava ninguém.” As universais palavras de Carlos Drummond de
Andrade têm, mesmo que não fosse esta a intenção do poeta, uma pontinha de
sabedoria científica. O amor é o mestre dos desencontros porque não pertence à
divisão lógica do cérebro — é um habitante do inconsciente. Recentemente,
neurocientistas têm se convencido de que todas as emoções seguem a mesma regra
e fazem parte das regiões não racionais da mente humana e, talvez por isso,
também estejam entre as maiores causas de os divãs dos psicólogos viverem
cheios.
Às
vezes, toma conta uma tristeza sem explicação. Em outras ocasiões, entra em
cena uma alegria efusiva. E, nos dois casos, ninguém sabe explicar da onde veio
tudo aquilo. Quem nunca passou pela experiência? “Isso acontece porque todas as
emoções são inconscientes. Quando conseguimos associá-las a coisas concretas,
elas se transformam em sentimentos conscientes”, explica Marco Callegaro,
presidente do Instituto Brasileiro de Terapias Cognitivas e autor do livro O
novo inconsciente (Editora Artmed).
“Em
certas situações, entendemos melhor os estímulos desencadeadores das emoções,
então podemos imaginar e construir hipóteses sobre o que as causou exatamente.
Em outras situações, temos um acesso muito parcial às emoções e percebemos
apenas seus resultados em nosso corpo (rubor, desânimo, aperto no peito etc.).
Nesses casos, buscamos construir uma teoria explicativa no plano consciente,
que nem sempre é fidedigna”, completa o especialista.
O
cérebro humano, acreditam os cientistas, obedece a uma hierarquia batizada de
“níveis de regulação da vida”. Imaginar a mente como um exército ajuda a
compreender o que isso significa. Na base desse batalhão estão os soldados:
instintos básicos, reflexos, impulsos e reações metabólicas. Logo acima deles,
nessa hierarquia cerebral, estão as emoções. Elas são como instintos mais
complexos, por assim dizer. Os sentimentos representariam o papel de tenentes.
Eles associam imagens às emoções, conferem sentido a elas e fazem a interface
entre processos conscientes e inconscientes. A parte racional do cérebro, por
sua vez, seria o marechal de todos esses soldados.
É
comum que os oficiais subalternos desse exército se revoltem contra as
autoridades. Não se deve esquecer, no entanto, que eles continuam sendo
subordinados da razão — e é possível botá-los na linha. Nem sempre, contudo, o
marechal consegue controlar seu batalhão, já que é muito difícil disciplinar
aquilo que não se conhece. E, como bem sabe qualquer um que tenha coração, as
emoções não são assim tão claras ao consciente o tempo todo.
Comunicação
falha
Srinivasan
Pillay, professor de psiquiatria na Universidade de Harvard, nos Estados
Unidos, explica que essas desconexões entre razão e emoção acontecem devido a
problemas de comunicação. As principais atribuições do hemisfério esquerdo do
cérebro são os pensamentos, enquanto as do direito são os sentimentos. Estudos
com crianças traumatizadas mostraram que elas apresentavam danos em uma
estrutura fibrosa chamada corpo caloso, que faz a ponte entre os dois lados do
cérebro. Ou seja, pessoas marcadas por experiências ruins perdem a capacidade
de “traduzir” emoções em dados concretos e conscientes. “As consequências de um
corpo caloso rompido incluem desconexão entre pensamentos e sentimentos, perda
do sentido de individualidade e sensação de que falta alguma coisa”, diz
Pillay.
Há
ainda o estresse, que tem forte influência nesse processo. Pessoas muito
estressadas produzem um hormônio chamado cortisol, que age quase como um
veneno, matando os neurônios cerebrais (veja infografia). E, como são os
neurônios que transmitem todas as mensagens de um lado a outro da cabeça,
pessoas tensas também perdem a capacidade de entender as próprias emoções.
Certo:
a comunicação entre emoções e razão já foi rompida por traumas e estresse
diversas vezes. O indivíduo sente-se como se estivesse sempre tentando abrir um
arquivo emocional que não é compatível com os programas que rodam em seu
computador mental. Estará essa pessoa condenada a ser vítima das próprias
emoções para sempre, como um laptop desatualizado? Já é possível respirar
aliviado, pois a resposta é não.
“Há
diversos sistemas de memória que codificam as experiências (e as emoções
relacionadas a elas) em uma forma de representação que não temos como ‘abrir’
em nosso ‘sistema consciente’”, esclarece Callegaro. “No entanto, existe sempre
um certo grau de acesso a essas memórias. Podemos, por exemplo, observar as
reações de nosso corpo a estímulos. Podemos identificar nossa repulsão ou
atração por pessoas ou situações, e isso ajuda a gerenciar melhor nossas
emoções. A terapia comportamental pode colaborar com a observação desses
processos.”
Superação
Uma
das técnicas desse tipo de terapia consiste em expor gradualmente a pessoa a
situações que lhe causam incômodo. Vamos imaginar que José perdeu um ente
querido em um acidente de avião e passou a associar os estímulos relacionados
com viagem aérea a reações como elevação do ritmo cardíaco, respiração
ofegante, etc. No consultório, José e o terapeuta vão investigar o caso. Há
pistas fortes: ele só sente o mal-estar quando está exposto a voos. Depois de
relacionar a causa à emoção, ele será lentamente exposto à situação. “Gradualmente,
José passa pela experiência de imaginar-se em cenários associados a viagens
aéreas. O nível de ansiedade da cena vai aumentando, enquanto o paciente
permanece mantendo-se em relaxamento muscular e respiratório, de forma que seu
corpo reaprende que os estímulos não são perigosos, em especial quando se expõe
na situação real”, conclui Callegaro.
Há
diversas outras técnicas que podem ajudar a dominar emoções desbaratadas. Uma
delas chama a atenção por estar ao alcance de todos e ser uma sabedoria
milenar. Trata-se da meditação em suas diferentes variáveis. Elisa Harumi
Kozasa, neurocientista do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert
Einstein, dedica-se a estudar os efeitos dessa técnica sobre as emoções.
Segundo a pesquisadora, investigações sobre o funcionamento do cérebro de
monges tibetanos, adeptos da chamada meditação da compaixão, mostraram que eles
eram mais bem-sucedidos em ativar áreas do cérebro relacionadas à atenção, como
o córtex pré-frontal.
“Existem
estudos que indicam uma relação entre o desenvolvimento de habilidades
atencionais e emocionais. À medida que desenvolvemos o que se conhece por
funções executivas (aquelas que usamos para planejar ações e que são
facilitadas pela concentração), vamos ganhando também a habilidade de controlar
impulsos emocionais”, afirma Elisa (veja entrevista). E, com o controle de um
monge tibetano sobre as próprias emoções, fica mais fácil entrar na história de
Carlos Drummond de Andrade como J. Pinto Fernandes, aquele que, nos versos do
poeta, casou-se com Lili mesmo sem nunca se envolver com a terrível confusão
amorosa…
Três
perguntas para - Elisa Harumi Kozasa
Neurocientista
do Hospital Israelita Albert Einstein
A
neurociência tem averiguado a eficiência da meditação?
Foram
feitos diversos estudos sobre os efeitos da meditação, principalmente a partir
da década de 1970. Várias dessas pesquisas avaliaram seus efeitos para redução
de estresse, ansiedade, depressão e doenças cardiovasculares, por exemplo. A
partir da última década, a neuroimagem tem sido usada para investigar a
eficiência do cérebro de pessoas que praticam meditação regularmente comparada
a não meditadores em uma tarefa atencional.
E
o que esses estudos têm mostrado?
Em
uma pesquisa com monges tibetanos, que praticam a meditação para compaixão, e
pessoas que começaram a fazer a prática há uma semana, observou-se que os
monges tinham uma maior proporção de ondas gama (ondas cerebrais associadas à
percepção e à consciência) e eram capazes de mantê-las por vários minutos.
Outras têm mostrado que há uma diferença de ativação de áreas relacionadas à
atenção, como o córtex pré-frontal, dependendo do tempo de prática de
meditação. Existem ainda estudos que indicam uma relação entre o
desenvolvimento de habilidades atencionais e emocionais. À medida que
desenvolvemos o que se conhece por funções executivas, vamos ganhando a
habilidade de controlar impulsos emocionais.
Há
outras maneiras de ser senhor das próprias emoções?
Cientistas
já mostraram a eficiência das artes marciais para crianças neste quesito. Elas
são efetivas especialmente quando as crianças são treinadas no modo
tradicional, bem como quando são educadas com métodos pedagógicos como a
participação em jogos e treinamentos que envolvam conhecimento e reconhecimento
das emoções.
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