quinta-feira, 27 de maio de 2010

Em dez anos, todas as escolas do país precisarão ter biblioteca

Medida, prevista em lei, vale para colégios públicos e privados

FSP 26.05

Todas as escolas do Brasil deverão ter bibliotecas daqui a dez anos. A medida está prevista em lei sancionada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vale para todos os estabelecimentos, públicos e privados.
O acervo de livros deverá ter pelo menos um título para cada aluno matriculado.
Segundo o censo escolar, em 2008 apenas 37% das escolas de educação básica do país tinham biblioteca.
A pior situação é na região Norte, onde só 20% dos colégios oferecem esse tipo de estrutura. No Sul, que tem o melhor cenário, 58,6% das escolas possuem biblioteca.
Estudo recente do Ministério da Cultura mostra ainda que 21% das cidades não têm bibliotecas municipais.
O autor da lei sancionada ontem, deputado federal Lobbe Neto (PSDB-SP), admitiu que o prazo de dez anos para a instalação das bibliotecas é longo. De acordo com ele, o prazo original previsto no projeto era de cinco anos, mas acabou sendo alterado na tramitação do texto.
Marcelo Soares, diretor de políticas de formação e materiais didáticos da educação básica do Ministério da Educação, diz que a pasta colabora enviando acervo e recursos às administrações que pedem verba para biblioteca.
Ele afirma que a responsabilidade principal pelo cumprimento da lei é dos Estados e dos municípios, que têm a jurisdição sobre a maior parte das escolas do país.
Para ele, a biblioteca é indispensável mesmo com o avanço da internet, porque o acesso à rede é restrito no Brasil e o ideal é a convivência dos livros com a tecnologia digital. A taxa de escolas com biblioteca no país é quase a mesma da de escolas com acesso à internet (35%).

Estudante vai de colégio precário da periferia de SP a faculdade top

Sara Nishimura, 18, estudou no Bandeirantes, está na Poli e já sonha com vaga no MIT

FSP 26.05
Com os três salários mínimos ganhos pelo pai, a única opção de estudo de Sara Izumi Nishimura, 18, era a escola pública do bairro, que sofria com a falta de laboratórios, de biblioteca adequada e até de papel higiênico.
Ela era a caçula de cinco irmãos numa família que vivia da venda de ovos que o pai fazia de porta em porta, a bordo de uma Kombi.
Nascida no Jardim Raposo Tavares, região pobre na zona oeste de São Paulo, ela sabia desde criança o que queria fazer na vida: estudar. Mas logo percebeu que a tarefa não seria assim tão fácil.
Na escola que frequentava, os enunciados das provas tinham que ser anotados pelos alunos em folhas próprias de caderno, pois a verba para o xerox também faltava.
A lição passada pelos professores nunca era suficiente para o apetite da aluna.
A menina recorria, então, aos livros dos primos mais velhos, com os quais podia estudar conteúdos que ainda não tinha aprendido. A mãe, Kiyoko Hashimoto, 58, tinha de lembrá-la até de comer.
Foi na oitava série que a sorte de Sara começou a mudar. Percebendo o talento da aluna, uma professora a indicou para o processo seletivo da fundação Ismart -organização que oferece bolsas em escolas particulares para jovens pobres. Dos 1.430 inscritos, apenas 56 chegariam ao final das quatro fases.
Meses antes da prova, ela estudou como nunca. Não tinha final de semana nem noites de descanso. Foi aprovada. "Minha mãe chorou mais do que eu."
Poderia, agora, escolher onde estudar. Tinha à disposição um rol de colégios de elite, com mensalidades médias que superavam de longe os rendimentos da família.
Optou pelo Bandeirantes, mensalidade de R$ 1.700, 18 laboratórios e segundo colocado entre as particulares paulistas no Enem. Após ser aprovada em um vestibulinho do colégio, entrou no 1º ano do ensino médio.

ESTUDO NO INTERVALO
Para chegar ao Paraíso, onde fica o Bandeirantes, Sara tomava um ônibus e um metrô e acordava às 4h45 todos os dias. Faltou só cinco vezes, quando ficou hospitalizada por uma infecção.
"Era uma excelente aluna", afirma o professor Osmar Antônio Ferraz. Nas salas divididas por desempenho, cursou o 1º ano na sala "B", onde era a melhor estudante. Nos dois anos seguintes, pulou para a turma "A", sempre entre os 15 melhores.
Logo fez amigos, tão estudiosos quanto ela. O grupo escondia-se embaixo das carteiras na hora do intervalo para que o bedel não os visse estudando na sala de aula, o que era proibido no recreio.
Os amigos de bairros nobres tinham casas no litoral. "Pouco vaidosa", afirma que não estranhou o desfile de roupas de marca que via nas horas do intervalo.
Certa vez, uma amiga cochichou: "Olha, aquela menina tá com roupa da Daslu". "Só pensei: "Nossa, como ela percebeu isso?"."
Sara prestou vestibular para engenharia elétrica. Entrou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde cursa o 1º ano, na posição 170, dentre 2.606 candidatos. Também foi aprovada em primeiro lugar no mesmo curso na Unicamp.

VIDA UNIVERSITÁRIA
Universitária, diz que agora tem outros interesses além do estudo. Entrou no time de beisebol feminino da USP e quer um namorado que seja tão ocupado quanto ela.
Afinal, Sara pretende continuar estudando. Já planeja mestrado e doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos. O que a preocupa não é se será aprovada. Mas qual será a bolsa de estudos que a ajudará a chegar lá.

Coleção traz canções praieras e voz grave de Dorival Caymmi

Livro-CD, nas bancas no domingo, destaca compositor baiano

FSP 27.05

Mais fácil seria listar quem não o gravou, mas entre os principais intérpretes de Dorival Caymmi estão Carmen Miranda, João Gilberto, Gal Costa, Anjos do Inferno e Maria Bethânia.
Desde o fim dos anos 1930 até hoje, Caymmi é um dos nomes mais influentes da música brasileira, com sua sensibilidade, humor, ritmo baiano, voz grave e canções lapidarmente simples.
É dedicado a ele o 12º volume da Coleção Folha Raízes da Música Popular Brasileira, nas bancas no domingo.
Caymmi nasceu em Salvador em 1914. Cresceu ouvindo rádio, músicas baianas, formando conjuntos e compondo as primeiras canções.
Em 1938 embarcou para o Rio de Janeiro e já em 1939 se destacou: Carmen Miranda cantava sua canção "O que É que a Baiana Tem?", em dueto com o autor, no filme "Banana da Terra".
A partir daí foi muito gravado pelos Anjos do Inferno, Dick Farney, Trio de Ouro, Orlando Silva. Depois, João Gilberto, Gal, Bethânia, Gilberto Gil, Nana Caymmi.
Gravou também uma série de discos solo, entre os anos 1950 e 1970. Continuou compondo, lenta e caprichosamente, até sua morte, em 16 de agosto de 2008.
Escreveu sambas-canções, canções praieras, cantos para Xangô e Mãe Menininha do Gantois. Entre as mais famosas, "É Doce Morrer no Mar", "Acontece que Eu Sou Baiano" e "Vatapá".
O compositor e documentarista Aluisio Didier é o autor do livro sobre Caymmi, que vem com biografia, discografia, letras e fotos.
O CD acompanhante traz "O que É que a Baiana Tem?", com Caymmi e Carmen Miranda, "Marina", com Dick Farney e "Maracangalha", com Tom Jobim, entre outros sucessos.

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OPINIÃO AS "DUAS" LÍNGUAS

"Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões"

Versos de "Língua", de Caetano Veloso, sintetizam (des)enredos das "duas" línguas


E QUE ISSO (AS "DIFERENÇAS" IDIOMÁTICAS) NÃO SEJA MOTIVO PARA NINGUÉM SE CHATEAR EM PORTUGAL. SE VOCÊ NUNCA FOI, VÁ. VÁ HOJE, VÁ AGORA. SE JÁ FOI, REPITA




FSP 27.05

A entrada em vigor da reforma ortográfica brasileira intensificou a confusão que muita gente faz entre ortografia e língua. Nas conversas aqui e ali e na imprensa, foi um tal de "Mudou a língua", "Lula assina a lei que muda a língua" etc. Isso tem valor científico igual ao de frases do calibre de "Masturbação dá espinha", "Leite com manga, morre" etc.
Reformas ortográficas, como o nome já diz, mexem na ortografia, ou seja, na maneira de grafar as palavras. Um dia já se escreveu geraes (gerais), cam (cão), portuguez (português) etc. Quando se fala de língua, fala-se do sistema, da estrutura, e isso não se muda por lei ou decreto.
A (até agora fracassada) tentativa de unificar a grafia do português nos oito países que o têm como língua oficial surgiu da suposta necessidade de igualar ou aproximar o que é desigual em aproximadamente 1% do léxico português, ou seja, a grafia.
Em Portugal, grafa-se "direcção", "adoptar", "facto", mas isso não basta para que se diga que a língua de lá é diferente da de cá. Há diferenças, sim, de timbre (abertura da vogal: no Brasil se diz "prêmio", que aqui se grafa com circunflexo; em Portugal, diz-se "prémio", que lá se grafa com agudo), de vocabulário (aqui se diz "bonde", que em Portugal vira "eléctrico"), de formas (aqui se diz "Ela está dormindo"; em Portugal, é mais comum "Ela está a dormir") etc.
Outra diferença significativa se dá na emissão das palavras: nosso português é mais aberto, mais vocálico; o de lá é mais fechado, travado (parece que sai dos dentes...). Para muitos brasileiros, isso torna a língua "deles" irremediavelmente diferente e quase incompreensível.
Pois esses dois fatores (emissão e vocabulário), além de outros, como o uso dos pronomes ("Havia um aqui, mas tiraram-no", disse-me com toda a naturalidade uma funcionária da companhia telefônica, referindo-se a um telefone público que funcionava com cartão de crédito) fazem muitos brasileiros se sentirem num país de língua estrangeira quando estão em Portugal.
Nessas horas, um pouco de boa vontade e de leitura dos grandes escritores lusitanos pode ajudar. Quem já leu um clássico português não se surpreende quando vê numa publicidade da Coca-Cola a frase "A vida sabe bem", em que se emprega o verbo "saber" (como já se empregou no Brasil) com o sentido de "ter gosto", "ter sabor" ("A vida sabe bem" equivale a "A vida tem gosto bom" -com Coca-Cola, na publicidade).
Esse contato com os clássicos lusos (e também com os brasileiros, como Machado) facilitaria a compreensão de uma frase, que lá vi há algum tempo, exibida num cartaz do Ministério do Turismo ("Açores: férias que nunca esquecem", que equivale a "Açores: férias que nunca caem no esquecimento").
O que acabei de dizer em sabe Deus quantas linhas foi resumido brilhantemente por Caetano Veloso, que, no início da sua genial e antológica "Língua", diz isto: "Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões". Está dito tudo: a minha língua (o português do Brasil) se faz roçando (com todos os sentidos de "roçar") o português de Portugal. Em outras palavras, nossa língua e a deles são a mesma coisa, embora não sejam a mesma coisa. Simples assim? Simples assim.
E que isso (as "diferenças" idiomáticas) não seja motivo para ninguém se chatear em Portugal. Se você nunca foi, vá. Vá hoje, vá agora. Se já foi, repita. Eu, que já fui inúmeras vezes, iria agora, sem hesitar. Alguns dos motivos você encontra nos outros textos deste caderno.
Antes que alguém pergunte, o tal "Acordo Ortográfico" por ora é solenemente ignorado em Portugal. E, cá entre nós, não consigo imaginar um comerciante português substituindo uma placa centenária da fachada de sua loja só porque alguns selenitas acham que "direção" é melhor do que "direcção". A coisa lá ainda não pegou. E, pelo jeito, não vai pegar. É isso.

Pasquale Cipro Neto viajou a convite da CVC

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