domingo, 16 de maio de 2010

Entrevista/ Carlos Sena

‘Falta memória cultural’

O popular/GO 16/05

Artista plástico e professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG, Carlos Sena tem posições veementes sobre o mercado de arte em Goiás. “Ele não existe em Goiânia, falta tudo para que se desenvolva”, afirma. Confira a entrevista que Sena concedeu ao POPULAR.

No final dos anos 70 e 80 houve um período áureo em Goiânia. Por que mudou?

A efervescência do mercado goiano nos anos 80 começou após uma série de ajustes da balança comercial internacional, que permitiu a estabilização do mercado. Isso permitia que houvesse uma corrida às compras por conta do desequilíbrio da balança, entre eles bens simbólicos como artes. Nesta época, as galerias mandavam. Houve um inchamento do mercado e Goiânia teve cerca de 18 galerias de arte. Nos anos 90, houve uma derrocada da balança comercial e a inflação galopante e isso fez com que essas galerias fechassem com a mesma euforia com que abriram.

O que mudou?

O artista procurou outros espaços como o museu. A arte buscou outra acomodação que não no gosto e na casa do comprador de arte. Mudou de território. E o mercado de arte, se é que podemos chamá-lo assim, passou a existir centrado em um gosto mais defasado e assimilado, ou seja, hoje não existe mais arte no que se vende no mercado, mas o artístico. Curiosamente você não vê artistas como Marcelo Solá e Divino Sobral, de respaldo nacional, nos museus locais e no mercado. Eles vão para fora. Não é dizer que o comprador daqui seja desinformado e que não compra arte. Aqui há gente que tem Nuno Ramos, Leda Catunda, Hélio Oiticica. Mas ele compra lá fora, no circuito avançado. Quando muito compra do próprio artista, mas não de galeria.

Por que esse cenário emergiu?

No nosso caso, cidade com menos de cem anos, mesmo os pioneiros da arte valem muito pouco no mercado local. Não houve respeito nem investimento oficial para dar a dignidade a este artista goiano. As políticas culturais pouco dão bola para isso. Que tipo de memória vamos desenvolver assim? Nenhuma. O artista perde em memória. Como o público está em formação, o que o decorador disser, ele tende a assimilar. A culpa é a deseducação, a falta de memória cultural, da universidade e até da falta de uma mídia especializada.

Há solução?

Está ficando tão redundante repetir essa frase no Brasil, ainda mais em época de eleição, mas isso passa pela educação. Enquanto se enxergar arte como futilidade e diletantismo de quem tem posses, e não como um processo de humanização do indivíduo, não vamos mudar isso. Não há artista ou galerista que possa fazer algo.

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De mãos atadas

O empresário de aviação e colecionador Sebastião Aires de Abreu, 57, apresenta com um orgulho indisfarçável itens da sua preciosa coleção, que tem obras de nomes como Farnese de Andrade e Nuno Ramos, além dos valorizados goianos Marcelo Solá e Pitágoras. Trabalhos que ele considera como seu maior legado na vida e que um dia será herdado pelos filhos.

Boa parte do acervo amealhado por ele em quase três décadas começou a ser formado na época efervescente da década de 1980 em Goiânia. “Eu transportava a dona Célia Câmara certa vez, quando ela me recomendou comprar um Glauco Pinto de Morais. Me interessei e nunca mais parei”, diz o colecionador, lembrando a marchande que foi um dos expoentes do mercado de arte nesta época. Pela compra, ele chegou a comprometer cerca de 80% do salário durante muitos meses. “Hoje o poder aquisitivo e a educação aumentaram muito o potencial do mercado aqui. Goiânia já tem muito colecionador de peso”, afirma.

A situação é promissora para quem coleciona, mas não é isenta de críticas. E elas partem especialmente de quem produz, isto é, o artista, e referem-se à incipiência e à falta de estrutura para que se chame o que se faz por aqui de mercado de arte propriamente dito. Depois que cruzou o Rio Paranaíba e saiu dos limites do Estado, para citar uma expressão comum que os próprios artistas gostam de usar, Marcelo Solá, um dos nomes goianos mais valorizados no mercado internacional atualmente, teve melhores condições de observar as limitações que o mercado local ainda impõe aos artistas.

Prata da casa

Autor de trabalhos que hoje abastecem coleções por todo o mundo, Solá afirma que há somente casos isolados de pessoas que realmente se envolvem com o mundo do mercado de arte em Goiás. “Esse mercado ainda está em desenvolvimento, é uma criança”, compara. Um dos grandes problemas, argumenta, é que a capital do Estado, onde tudo está centralizado, ainda é uma cidade jovem que precisa criar a cultura da admiração do que é realmente arte. Na maioria dos casos, diz, as pessoas ainda também têm dificuldade de diferenciar arte do que é meramente decorativo.

“É preciso entender que a arte é um produto como outro qualquer, mas o conceitual deve ser levado em conta, até mais que o potencial de valorização financeira da obra”, defende Solá. Responsável pela comercialização da produção do pai, Antônio Poteiro, Américo Souza Neto também acredita que o mercado local ainda deixa muito a desejar e toca em um ponto crucial: “Acho que falta também estímulo do Estado, na educação e na promoção da cultura. Uma outra boa ideia seria, por exemplo, dar isenção fiscal para a compra de obras do artista que começa”, opina.

O artista plástico Divino Sobral, outro nome valorizado mais fora do que dentro Estado, por sua vez, acredita que a falta de um mercado consistente passa por aspectos mais profundos. Entre ele, a própria formação dos artistas, o surgimento de uma crítica especializada e até a profissionalização da logística da produção. “Investir em artes ainda não faz parte da cabeça do goiano. Aqui quando um artista referencial morre, às vezes, em vez de se valorizar, some”, lamenta. “O artista, aquele que acredita na formação, na pesquisa, não consegue fazer nada, porque tudo isso acontece à sua revelia”, sentencia.

Comparando o período em que o mercado das artes atingiu o auge por aqui com os dias de hoje, o marchand e coordenador cultural da Fundação Jaime Câmara, Antônio da Mata, ressalta ainda a falta de figuras polarizadoras das artes, peças fundamentais para o desenvolvimento do mercado de arte. “As pessoas não deixaram de investir em artes, inclusive para formar patrimônio, mas hoje faltam pessoas como Célia Câmara e Stela Berocan, que estimulavam a formação de público e também elas mesmas investiam visando ajudar os artistas.”

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Sinal verde

As paredes brancas da sala do apartamento do dentista Rodrigo Januário, 33 anos, servem de pano de fundo para alguns diálogos artísticos. Em um canto, um tela de Marcelo Solá se corresponde com uma obra de Antônio Poteiro. Na parede oposta, duas gravuras de Sandro Tôrres parecem brincar entre si. Não muito distante, duas criações do próprio dono da casa observam tudo respeitosamente, enquanto um pedaço vazio espera por um Siron Franco, que em breve deve chegar.

Moldadas ao capricho do dono da casa, essas conversas não passam desapercebidas a quem chega ali. Cada vez mais reproduzidas em lares goianienses, elas são um indicativo de que, aos poucos, o mercado de arte está voltando ao antigo potencial em Goiás, que viveu sua fase áurea na década de 1980. Tímidos, segundo especialistas, os sinais de retomada do interesse do goianiense por artes plásticas é, contudo, uma possibilidade concreta de reavivar essa antiga realidade.

Mesmo lento, esse processo também evidencia entre as novas gerações indícios de formação de uma consciência de que obra de arte também pode ser encarada como investimento financeiro, em um mercado de apostas e riscos, a exemplo das bolsas de valores. “Espero que a gente chegue em uma realidade em que se possa dizer que realmente temos um mercado de arte. Goiás já tem uma boa geração de artistas novos nos quais, se as pessoas investirem, terão retorno”, opina um dos ícones atuais da artes plásticas nascido no Estado, Siron Franco.

Carências

Siron, porém, aponta faltas graves que ainda impedem afirmar a existência de um legítimo mercado das artes plásticas aqui. “A gente pode dizer que somente em grandes centros como São Paulo e Rio há realmente um mercado em que tudo funciona, desde a existência de galerias ativas, marchands profissionais, leilões e pessoas que se interessam em comprar e vender obras. Hoje em Goiânia há somente algumas pessoas que se interessam por arte”, observa o artista.

Essencial para o reflorescimento desse mercado, a chegada de uma nova geração interessada em ganhar bagagem cultural e conhecer conceitos de arte, como Rodrigo Januário, apresentado no início desta reportagem, tem sido encarada como a tábua de salvação. “Sempre tive arte como algo elevado na minha vida. Aos 21 anos, quando terminei a faculdade e percebi que era capaz financeiramente de comprar um obra, vi também que poderia me tornar um colecionador”, diz ele, cuja primeira aquisição foi um Antônio Poteiro, que se tornou o xodó da sua coleção.

A possibilidade de comprar e vender obras visando lucro há pouco também se tornou sedutora a ele. “Meu foco ainda é comprar pelo gosto, mas a ideia de fazer negócio atrai muito”, diz o rapaz. Em sintonia com essa mentalidade de consumo de boa arte, iniciativas antes pouco usuais também vão ganhando espaço por aqui. É o caso de um projeto recente da curadora Lydia Himmen, que criou o site Plus (www.plusgaleria.com), uma galeria virtual que se apoia no conceito de cooperação de artistas e investe em obras de nomes novos e consagrados para vendas na internet.

“Nossa ideia é acabar com a desculpa de que é difícil ter acesso à arte de qualidade”, diz Lydia, que colocou o site no ar nesta semana. A velocidade da rede mundial, aliás, é um fator que ajuda na disseminação do interesse pelo mercado das artes. “É incrível como hoje a rede ajuda as pessoas a terem mais conhecimento sobre arte”, admira-se Vânia Abrão, uma das colecionadoras mais respeitadas de Goiás, que começou a coleção com uma obra de Siron, há 32 anos.

A dica que ela dá para quem quer começar é entrar em contato direto com as obras. “Quando você coloca uma peça na parede, começa a analisar, ver com outros olhos. É como ler poesia, com o tempo a sensibilidade vai ficando mais aflorada”, diz. Mas embora investir em obras de arte também seja uma maneira de amealhar patrimônio financeiro, essa não deve ser a única finalidade. “A valorização das obras deve ser uma consequência para quem acompanha o que há de melhor”, ensina Vânia.

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História do amor no Brasil

Revista Cult 10/05

Mary Del Priore discute a história do amor

Mary Del Priore: a miscigenação brasileira influiu na maneira de dizer o amor

Mary del Priore é uma conhecida historiadora brasileira, ex-professora da USP e da PUC-RJ, e tem se dedicado à história do amor. De suas pesquisas resultou o trabalho História do amor no Brasil, publicado pela editora Contexto. Também escreveu uma História das crianças no Brasil e uma História das mulheres no Brasil (ambos, pela Contexto), tendo recebido, por essa última obra, o Prêmio Jabuti. Apresentando uma reflexão rica e fartamente documentada, Del Priore toma a sério a reflexão sobre o imperativo do amor, que, “como outros imperativos – comer, por exemplo –, está inscrito em nossa natureza mais profunda”. A obra percorre o Brasil Colônia, o século XIX e o século XX, mostrando como a concepção romântica de amor – idealizadora do encontro entre duas pessoas – é inteiramente recente, apesar de uma ênfase erótica explícita já em formas literárias medievais, renascentistas e modernas. Como conclusão, Mary del Priore assume posições muito instigantes, em defesa, por exemplo, de uma concepção tradicional de amor, diagnosticando a angústia da juventude diante da liberdade sexual e denunciando uma ditadura moderna do gozo. Gentilmente, ela concedeu uma entrevista à CULT, cujas respostas mais significativas para o dossiê deste mês apresentamos aqui.

CULT: Apesar do caráter recente da visão romântica do amor, a senhora aponta para a exploração do erotismo na literatura francesa do século XVI. Mas Portugal, desse ponto de vista, teria vivido um atraso, associando, ainda, prazer e pecado. Em que consistiu esse atraso?

MARY DEL PRIORE: Teorias que consideravam o desejo sexual uma doença estão presentes em vários textos médicos portugueses desde o começo do século XVI. Havia quem dissesse, como o escritor João de Barros, em 1540, que o sentimento apaixonado “abreviava a vida do homem”, minguando ou secando os mebros do enamorado. Que doenças decorriam da paixão: ciática, dores de cabeça, problemas de estômago ou dos olhos. A relação sexual, por sua vez, emburrecia, além de abreviar a vida. Ele concluía: só os “castos vivem muito”. Os portugueses também estiveram cara a cara com uma ars erotica que usava e abusava de afrodisíacos. Dela, contudo, só levaram para Portugal a possibilidade de ver em tudo pecado ou doença! O contato imediato dos lusos com as Índias Orientais colocou-os em contato com perfumes vindos tanto da China quanto do subcontinente asiático, e com afrodisíacos largamente utilizados naquela parte do mundo: a cannabis sativa, bangue, maconha ou ópio. Esse era usado como excitante sexual capaz de duas funções: agilizar a “virtude imaginativa” e retardar a “virtude expulsiva”, ou seja, controlar o orgasmo e a ejaculação. No século XVIII, a idéia de que o amor é uma doença não faz os afrodisíacos desapar dos manuais de remédios, mas se recomendam, cada vez mais, os anafrodisíacos. Definindo-os como “aqueles remédios que ou moderam os ardores venéreos ou mesmo os extinguem”. É o caso do agnus castus, ou agnocasto, a mais eficaz das plantas antieróticas. Existiam várias outras substâncias com a mesma reputação de esfriar ou anular o desejo sexual, como a cânfora, por exemplo.


CULT: O Brasil seria um herdeiro do atraso português?

MARY DEL PRIORE: O Brasil herdou costumes que vieram da Europa, de Portugal, da Igreja e de outras instituições. Mas não foi uma simples transferência. Houve adaptações. A miscigenação proporcionou, por exemplo, um repertório linguistico que influiu na maneira de dizer o amor. Uma viajante francesa, Adéle Toussaint-Samson, no século XIX, sintetizou: “A língua brasileira, com todos os seus diminutivos em -zinha, -zinhos, tem uma graça toda crioula, e jamais a ouço sem descobrir um grande encanto; é o português com sua entonação nasal modificada. Todas as suas denguices lhe caem bem e dão à língua brasileira um não-sei-quê que seduz mais ao ouvido do que a língua de Camões”. Outro exemplo vemos no Romantismo, momento de eclosão da poesia afro-brasileira. Nela, homens como Laurindo José da Silva Rabelo faziam versos os mais apaixonados. Em Suspiros e saudades, ele canta a interpretação romântica de sua dor, mas uma dor mestiça, feita de saudades à moda portuguesa. Já em Cruz e Souza, a busca subjetiva da cor branca é o tema de toda a obra poética. Quando o poeta ama, o objeto desse amor é a “mulher, ‘da cor nupcial da flor de laranjeira’, e loura, ‘com doces tons de ouro’”. Para Tobias Barreto, o amor era um sentimento unificador: andava por onde quisesse não se detendo nas barreiras do preconceito de cor.


CULT: Seria possível resumir em etapas mais ou menos homogêneas a cronologia do amor no Brasil? Como?

MARY DEL PRIORE: Não há etapas homogêneas em história, mas momentos de mudanças e permanências coexistentes. Por exemplo, o século XIX introduziu a ideia do amor romântico. As pessoas começam a ler romances onde heróis e heroínas buscam um casamento por amor e um final feliz para suas histórias. Isso era novo. Ao mesmo tempo, nas elites, o casamento arranjado com parentes ou amigos era uma constante. Isso era arcaico. As fórmulas coexistiam. Daí começarem os raptos de noivas que se recusavam a casar com candidatos impostos pela família, preferindo fugir com os escolhidos do coração. É como se tivéssemos passado de um período em que o amor fosse uma representação ideal e inatingível (a Idade Média), para outra em que vai se tentar, timidamente, associar espírito e matéria (o Renascimento). Depois, para outro, em que a Igreja e a Medicina tudo fazem para separar paixão e amizade, alocando uma fora, outra dentro do casamento (a Idade Moderna). Desse período, passamos ao Romantismo do século XIX, que associa amor e morte, terminando com as revoluções contemporâneas, momento no qual o sexo tornou-se uma questão de higiene, e o amor parece ter voltado à condição de ideal nunca encontrado.


CULT: Na abertura de seu livro, a senhora subscreve as palavras de Luís Felipe Ribeiro: no passado, as pessoas “não davam”, mas se davam; hoje, elas “dão”, mas não se dão. Na conclusão, a senhora afirma que a liberdade amorosa – típica de nosso tempo – tem contrapartidas: a responsabilidade e a solidão. E termina apontando para um lado positivo da tradição, pois esta, defendendo a família e a procriação, seria uma fonte de profunda emoção. Gostaríamos de ouvi-la um pouco mais sobre a vivência do amor no mundo contemporâneo.

MARY DEL PRIORE: Considerando as transformações pelas quais passou a sociedade brasileira, poderíamos avançar o seguinte: aquilo a que se assistiu, ao longo dos tempos, foi uma longa evolução que levou da proibição do prazer ao direito ao prazer. Fomos dos manuais de confessor, que tudo interditavam, aos casamentos arranjados, policiados, acompanhados passo a passo por familiares zelosos. E desses ao impacto das revoluções, que, ao final dos anos 60, exportaram mundo afora lemas do tipo “Ereção, insurreição” ou “Amai-vos uns sobre os outros”, sem contar o movimento hippie, com o lema “Paz e Amor”. Desde então, o amor e o prazer se tornaram obrigatórios. O interdito se inverteu. Impôs-se a ditadura do orgasmo forçado. O erotismo entrou no território da proeza e o prazer tão longamente reprimido tornou-se prioridade absoluta, quase que esmagando o casamento e o sentimento. Passou-se do afrodisíaco à base de plantas para o sexo com receita médica, graças ao Viagra. Passou-se da dominação patriarcal à liberação da mulher.


Entre nós, durante mais de quinhentos anos, os casamentos não se faziam de acordo com a atração sexual recíproca. Eles mais se realizavam por interesses econômicos ou familiares. Entre os mais pobres, o matrimônio ou a ligação consensual era uma forma de organizar o trabalho agrário. Não há dúvidas de que o trabalho incessante e árduo não deixasse muito espaço para a paixão sexual. Sabe-se que entre casais, as formas de afeição física tradicional – beijos e carícias – eram raridade. Para os homens, contudo, as chances de manter ligações extra-conjugais, eram muitas. O resultado dessa longa caminhada? Especialistas afirmam que hoje queremos tudo ao mesmo tempo: o amor, a segurança, a fidelidade absoluta, a monogamia e as vertigens da liberdade. Fundado exclusivamente no sentimento que sobrou do amor romântico, o sentimento mais frágil que existe, o casal está condenado à brevidade, à crise. Mais. A liberdade sexual é um fardo para os mais jovens. Muitos deles têm nostalgia da velha linguagem do amor, feita de prudência, sabedoria e melancolia, tal como viveram seus avós. Hoje, a loucura é desejar um amor permanente, com toda a intensidade, sem nuvens ou tempestades. Numa sociedade de consumo, o amor está supervalorizado.


O sexo tornou-se uma nova teologia. Só se fala nisso e se fala mal, com vulgaridade. Sabemos, depois de tudo, que o amor não é ideal, que ele traz consigo a dependência, a rejeição, a servidão, o sacrifício e a transfiguração. Resumindo: existe um grande contraste entre o discurso sobre o amor e a realidade de vida dos amantes. O resultado? Escreve-se cada vez mais sobre a banalização da sexualidade e o desencantamento dos corações, enquanto o amor segue uma coisa sutil e importante que continua a fazer sonhar, e muito, muitos homens e mulheres.

Revista Cult 10/05

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