Estantes virtuais
A digitalização de livros aumenta no mundo. No Brasil, as bibliotecas na internet contribuem para a democratização da informação.
Fonte: correioweb 24/05
O livro ainda não acabou, prateleiras de bibliotecas e livrarias continuam abarrotadas e nem o anúncio do sedutor iPad fez caírem os índices da lista dos mais vendidos do New York Times. Mas há, sim, uma batalha travada silenciosamente na galáxia do livro impresso. Enquanto se discute por aí se e-books vão substituir o papel, uma indústria paralela se prepara para digitalizar a maior quantidade de livros possível e coloca em pauta a mais importante das discussões sobre a ligação entre tecnologia e acesso à informação. Disponibilizar o conhecimento na web é democratizar a informação, mas como fazê-lo? E nesse campo de batalha há pelo menos dois fronts bem definidos. De um lado está a lógica comercial, que aceita o risco de burlar os direitos autorais. Do outro, as instituições apegadas à ética da preservação do objeto e seu autor.
Nos Estados Unidos, a Google passou por cima das leis de direitos autorais e digitalizou 12 milhões de livros. O que não está em domínio público fica indisponível na web, mas permanece integralmente armazenado nos discos rígidos da empresa para futura comercialização. Em Paris, a Biblioteca Nacional da França (BNF) criou o Gallica, sistema que armazena, online, mais de um milhão de livros e documentos. O Brasil ainda engatinha nessa trilha.
O projeto mais expressivo começou a ser realizado na Universidade de São Paulo (USP) no ano passado. A instituição disponibilizou na web 1.200 volumes da coleção de 40 mil títulos doada por José Mindlin em 2006. A biblioteca digital intitulada Brasiliana pode ser consultada por qualquer pessoa com acesso à internet e é um braço de projeto mais amplo que envolve a construção de um prédio para receber o acervo de Mindlin.
O projeto de digitalização conta com financiamento de R$ 1,8 milhão do Ministério da Cultura e da Fapesp. Quase nada se comparado aos 14 milhões de euros anualmente destinados ao projeto da francesa Gallica. Na França, toda compra de equipamentos audiovisuais implica o pagamento de imposto reservado para a digitalização do acervo da BNF.
Para montar a Brasiliana, a USP conta com um scanner robótico único na América Latina. Dotado de braço mecânico, o equipamento tem capacidade para digitalizar 2.400 páginas por hora. “Mas não estamos conseguindo atingir essa meta porque temos livros raros, delicados. Tenho conseguido colocar três livros novos por dia”, conta Pedro Puntoni, diretor da Brasiliana. A intenção é colocar online todo o acervo livre de direitos autorais, aqueles livros que já estão em domínio público.
Políticas sólidas
Também em São Paulo, a Mario de Andrade, maior biblioteca pública do país, amarga a falta de políticas sólidas para o livro na era digital. Entre 2000 e 2006, a instituição conseguiu disponibilizar apenas 200 obras raras e quatro mil do acervo de 3,3 milhões de itens. “É pouco. Mas temos projetos para digitalizar livros raros sobre o Brasil, são projetos que mandamos para a Fapesp”, conta a bibliotecária Joana Moreno de Andrade, responsável pela seção de obras raras.
No Rio de Janeiro a situação traz um alento. Desde 2006, a Biblioteca Nacional (BN) tem laboratório próprio e equipe de oito pessoas para digitalização do acervo. O financiamento vem de instituições estrangeiras como a Unesco, a Mellon Foundation e a brasileira Finep. “A digitalização tem dois objetivos: acesso e preservação”, diz Angela Bitencourt, coordenadora da Biblioteca Digital da BN. “Visamos democratizar o acesso à coleção, que representa a memória documental do país. É uma digitalização feita com mais cuidado, a captura tem que ser feita em qualidade alta para que esse arquivo digital possa ser cópia fiel do original.” No site, o usuário tem acesso a 30 mil itens, entre eles cinco mil áudios e oito mil imagens.
Brasília no começo
A Biblioteca Central da Universidade de Brasília (BCE/UnB), a maior da cidade, não tem projetos de digitalização do acervo físico de 500 mil livros. “Digitalizamos apenas as dissertações ainda em formato impresso e a produção dos pesquisadores. Nosso acervo de livros não está digitalizado nem vai estar tão cedo por causa do volume e do custo, que é muito alto”, avisa Sely Costa, diretora da instituição.
A Biblioteca do Senado Federal é a única da cidade engajada em um programa de digitalização. É possível consultar em rede 180 das quatro mil obras raras da instituição. São mapas e relatos dos séculos 18 e 17, documentos históricos como a Nova orbis, que narra a expedição de Joannes de Laet à América e foi publicado em 1633. “Nossa capacidade varia de acordo com a qualidade dos documentos. Obras raras têm que ter manuseio cuidadoso, mas fazemos de seis mil a sete mil páginas por mês e o projeto começou em agosto de 2009”, conta o bibliotecário André Luiz Lopes. Já na Biblioteca Nacional Leonel Brizola, nem mesmo o acesso ao acervo físico está liberado para os usuários.
Curiosidades online
Biblioteca Digital do Senado
Documentos e relatos sobre a expedição Cruls, cartas trocadas entre Dom Pedro I e Dom João VI na época do Brasil Império.
Biblioteca Brasiliana USP
É a única biblioteca pública no Brasil cujo acervo possui cinco livros de Francisca Júlia, poeta paulistana do início do século 20 importante para a história da literatura na cidade. A Brasiliana também colocou online toda a poesia de Vinicius de Morais, depois de um acordo com a família do compositor, que liberou os direitos autorais.
Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
A coleção de mais de duas mil fotografias da imperatriz Maria Thereza Chirstina está disponível no site. Cada imagem vem acompanhada de fichas detalhadas sobre a foto.
Eventos Climáticos Extremos e a Vulnerabilidade Brasileira
Saulo Rodrigues Filho
UNB.BR
Os países em desenvolvimento são os mais vulneráveis à mudança do clima, em função de terem historicamente uma menor capacidade de adaptação e recuperação diante de desastres naturais, além de estarem distribuídos pelas regiões mais quentes do planeta. No Brasil, a mudança do clima deverá implicar em um aumento na freqüência de secas e enchentes, impactando na agricultura, na biodiversidade e na estabilidade de encostas.
É importante tratar a questão dos desastres naturais segundo duas categorias distintas: fenômenos relacionados à dinâmica interna da Terra e aqueles gerados pela dinâmica externa do planeta. Sobre a primeira categoria, a ação humana exerce pouca ou nenhuma influência, como é o caso de terremotos, vulcanismos e tsunamis. Em contraste, a ação antrópica tem provocado profundas alterações na dinâmica externa, como os impactos sobre a vegetação, o ciclo hidrológico, a química atmosférica, e consequentemente a estabilidade climática.
A atividade vulcânica, por sua vez, pode interferir profundamente no clima, além de causar prejuízos ao transporte aéreo, como o que parou a Europa nas últimas semanas em razão da atividade do vulcão na Islândia. Em função desta grande erupção, são esperados também efeitos sobre o clima global, já que as cinzas vulcânicas reduzem a penetração da radiação solar e ocasionam uma redução das temperaturas médias em escala global.
A maioria dos desastres naturais no Brasil está diretamente associada a extremos climáticos, e estes provavelmente se tornarão mais freqüentes com o prosseguimento do aquecimento global. As populações mais vulneráveis são quase sempre aquelas de menor renda e nível educacional, que ocupam espaços geralmente carentes de infraestrutura urbanística, como habitação adequada, serviços de saúde e saneamento básico, contribuindo para que os eventos climáticos extremos causem impactos severos a estas populações, como as grandes tempestades que atingiram há poucas semanas o estado do Rio de Janeiro, deixando centenas de vítimas fatais.
Diante de alertas tão preocupantes, é preciso que o Estado Brasileiro esteja munido de políticas públicas capazes de atenuar os efeitos previstos pela ciência. Essas são as hoje denominadas políticas de adaptação.
A Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas (Rede CLIMA), em sua fase inicial de implementação, tem como objetivo principal gerar e disseminar conhecimentos para que o Brasil possa responder aos desafios representados pelas causas e efeitos das mudanças climáticas globais. Já foram criadas dez sub-redes temáticas, cobrindo diversos aspectos do conhecimento científico, entre eles o do desenvolvimento regional, sob a coordenação do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB. O objetivo é trazer a dimensão climática para o debate sobre desenvolvimento regional, a partir da consideração de temas como a desertificação no semi-árido, a desflorestamento da Amazônia e do Cerrado, a degradação dos solos e o impacto sobre recursos hídricos, como fatores que trazem implicações profundas sobre o desenvolvimento sustentável em escala regional.
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