terça-feira, 25 de maio de 2010

Lei obriga escolas públicas e privadas a ter biblioteca

FSP 25.05

Todas as instituições de ensino públicas e privadas do país deverão ter bibliotecas, segundo lei sancionada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (25). De acordo com o texto, "considera-se biblioteca escolar a coleção de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados a consulta, pesquisa, estudo ou leitura".

O acervo mínimo exigido será de um livro por aluno matriculado. Caberá ao respectivo sistema de ensino adaptar o acervo conforme as necessidades, promovendo a divulgação, preservação e o funcionamento das bibliotecas escolares.

As escolas terão até dez anos para instalar os espaços destinados aos livros, material videográfico, documentos para consulta, pesquisa e leitura.

Foi publicada também no Diário Oficial desta terça a autorização para que sejam instaladas salas de aulas em presídios, destinadas a cursos de ensino básico e profissionalizante. O texto, que altera a lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984, entra em vigor na data de sua publicação.

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"Hoje é quase impossível conseguir que um empresário privado patrocine diretamente um festival. Se ele pode deduzir o investimento do imposto de renda, por que ele botaria dinheiro sem leis de incentivo?" Rodrigo Lariú, dono do selo Midsummer Madness, do festival Evidente (RJ) e integrante da Abrafin.



MAM aposta em grafite e DJ para atrair jovens

Dentro do Ibirapuera, museu é pouco notado

FSP 23/05


Eugênio Cheng, 20, passou bem ao lado do MAM (Museu de Arte Moderna) e nem percebeu. Um casal fez o mesmo. No que depender do museu, porém, isso começará a mudar.
Disposto a atrair o público do parque Ibirapuera (zona sul de SP), onde está instalado, o MAM decidiu apostar em ações voltadas para os jovens. A mais recente foi um painel da dupla Osgemeos, concluído em abril.
A ideia, diz Felipe Chaimovich, curador do MAM, é quebrar a barreira entre público e museu. "O painel cria uma interface com o público que está na marquise do Ibirapuera, que vem ao parque fazer ginástica, andar de skate, de bicicleta."
No ano passado, o museu criou o projeto DJ residente. A cada semestre, uma personalidade escolhe uma trilha sonora para tocar em ambientes do MAM.
A trilha atual é do estilista Alexandre Herchcovitch e inclui Bonnie Tyler, Julio Iglesias e Lionel Richie.
"O espaço museológico não tem que ser excludente, silencioso e repressivo", afirma o curador do museu.
O estudante Eugênio Chang, aquele do início da reportagem, concorda. "Acho que falta uma divulgação maior. Nem sabia que existia museu ali."
O museu também investiu em acessibilidade, diz o curador. Há dois anos, conta com um educador surdo.
O número de visitas, porém, ainda não correspondeu às ações. No ano passado, a média era de 15.550 por mês; neste ano, são 11.550 até maio -o parque Ibirapuera chega a receber 130 mil pessoas aos domingos.
O curador, no entanto, diz que busca uma audiência qualitativa, não quantitativa.
Os museus precisam oferecer cada vez mais conteúdo destinado a um maior número de pessoas, diz Daniela Bousso, diretora do MIS (Museu da Imagem e do Som, na zona oeste), que recebeu 61 mil visitantes em 2009, mais que o dobro de 2008.
"Se você trabalhar com fórmula elitista e acadêmica, nem todo o público virá."
Até hoje, o MAM tem entrada gratuita na comemoração da semana de museus. Entre as suas exposições, está a retrospectiva sobre Flávio de Carvalho (1899-1973), que enfatiza projetos arquitetônicos do artista.
Ali está, por exemplo, o original do projeto para o viaduto do Chá (centro), elaborado em 1934. O telefone do MAM é 0/xx/11/5085-1300.

Para sociólogo, Brasil ainda vive um abismo social

FSP 24/05

Jessé Souza afirma que Bolsa Família não consegue incluir mais pobres e resolver questão da desigualdade

Especialista é autor de "A Ralé Brasileira", em que estuda parcela da população que vive como "subgente"

Na contramão dos estudos que apontam melhora da distribuição de renda no Brasil, o sociólogo Jessé Souza afirma que o país ainda vive uma "desigualdade abissal" em sua sociedade.
Coordenador do Centro de Pesquisa sobre Desigualdade Social da Universidade Federal de Juiz de Fora, Souza lançou recentemente o livro "A Ralé Brasileira", em que estuda as características dessa "parcela da população que vive como subgente".
A seguir, trechos da entrevista concedida por Souza.

ep


Folha - A proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha da miséria caiu nos últimos anos. Em seu último livro, o sr. diz ser falsa a tese de que a desigualdade brasileira está desaparecendo. Por quê?
Jessé Souza -
Esses índices mostram apenas que a pobreza absoluta diminuiu. Mas a desigualdade é um conceito relacional.
O Brasil é uma das sociedades complexas mais desiguais do planeta. Entre 30% e 40% de sua população tem inserção precária no mercado e na esfera pública.
Somos uma sociedade altamente conservadora, que aceita conviver com parcela significativa da população vivendo como "subgente".
Essa classe social, que chamamos provocativamente de "ralé", é a mão de obra barata para as classes média e alta que podem -contando com o exército de empregadas, motoboys, porteiros, carregadores, babás e prostitutas- se dedicar às ocupações rentáveis e com alto retorno em prestígio.
É isso que chamo de "desigualdade abissal" como nosso problema central.

Qual sua avaliação sobre o Bolsa Família?
O programa Bolsa Família tem extraordinário impacto social, econômico e político, com investimento público relativamente muito baixo. É incrível que não se tenha pensado nisso antes. Mais incrível ainda que exista gente contra.
Por outro lado, o Bolsa Família não tem condições, sozinho, de reverter o quadro de desigualdade e "incluir" e "redimir" a "ralé".
Esse é um desafio de toda a sociedade, e não apenas do Estado. É claro que houve avanços nas duas últimas décadas, mas mudança social é muito mais do que condições econômicas favoráveis.

O senhor tem argumentado que não é possível limitar a discussão de classe à questão da renda e que é necessária uma nova compreensão das classes sociais.
A redução das classes sociais ao seu substrato econômico implica perceber apenas os aspectos materiais, como dinheiro, e "esquecer" a transmissão de valores imateriais, como as formas de agir no mundo.
E são esses valores imateriais que constituem os indivíduos como indivíduos de classe, com comportamentos típicos incutidos desde a mais tenra infância.
Como regra, as virtudes são todas do "espírito", como a inteligência. Os vícios são ligados ao "corpo". As classes superiores "incorporam" as virtudes espirituais, e as inferiores, as virtudes ambíguas do corpo.
As virtudes do espírito recebem bons salários, prestígio e reconhecimento social. As classes do "corpo" tendem a ser animalizadas, podendo ser usadas e até mortas por policiais sem que ninguém se comova com isso.

E o senhor afirma que mesmo a educação é insuficiente?
É claro que a educação é um fator fundamental. O problema é que a competição social não começa na escola.
Sem considerar que crianças de classes diversas já chegam à escola como vencedoras ou perdedoras, o que teremos é uma escola que só vai oficializar o engodo do mérito caído do céu de uns e legitimar, com a autoridade do Estado e a anuência da sociedade, o estigma de outros.

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