terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ceilândia em alta
Com o longa A cidade é uma só?, o cineasta Adirley Queirós arrematou o principal prêmio da 15ª Mostra de Tiradentes. CORREIO BSB 31/01
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Cena do filme A cidade é uma só?: a Ceilândia sob o olhar de Adirley Queirós

Fosse o cineasta Adirley Queirós um cara vingativo, ele estaria por cima da carne seca: como sentiu desrespeito, no tratamento reservado aos diretores, no mais recente Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, preferiu retirar o longa A cidade é uma só? da Mostra Brasília. Deu o destino as suas voltas, e, pronto: o filme, exibido na 15ª Mostra de Tiradentes (Minas Gerais), levou o prêmio principal, despertando representantes da curadoria de eventos fílmicos como Cannes, Veneza e San Sebastián (Espanha).

“Abriu portas que a gente ainda nem tem noção”, comemora o “autêntico ceilandense” (nascido, na verdade, em Morro Agudo de Goiás). “Foi um filme que explodiu na tela. A coisa mais fantástica que já vivi. Algo parecido com a repercussão do curta Rap, o canto da Ceilândia, quando parou o Cine Brasília, na época. Fui aplaudido, em Tiradentes, por 800 pessoas do festival mais crítico do país”, observa o diretor de 41 anos.

Um ponta de vaidade aflora — ou melhor, de pertencimento, quando Adirley percebe que “a crítica começa a falar que existe um cinema diferente em Ceilândia, em relação ao cinema de Brasília”. Explica-se: A cidade é uma só? se atém a dado verídico, de cisão, “no filme, há a música tema que retirou Ceilândia de Brasília. Jogaram as pessoas para cá (Ceilândia), expulsaram”, como ele diz.

Alheia ao contexto socioeconômico da medida do governo, nos anos 1970, em que “crianças foram recolhidas em escolas públicas para integrar um coral que, pelo canto, deu base para aliviar a remoção”, uma menina acalentou o sonho de projeção, por meio da música. Nancy Araújo, do grupo Natiê, era a criança que agora dá depoimento para a fita de Adirley Queirós. Num misto de ficção e realidade, entram em cena os atores Wellington Abreu (do Hierofante) e Dilmar Durães. Feito pelo rapper Marquim (do grupo Tropa de Elite), um personagem marqueteiro completa a trama de A cidade é uma só?.

“Crio aquela confusão nos espectadores sobre quem são os atores”, explica, ao falar da trama que tem de candidato a distrital passando por corretor de lotes na periferia e apropriações fictícias de documentos verdadeiros. “Com o filme mostrado em Tiradentes, houve demanda muito grande de pessoas interessadas, lá fora. Para circular, vou ter que colocá-lo no suporte de película”, explica Queirós, em torno da produção que derivou de um projeto para a tevê (em edital que ofertou R$ 400 mil). Um ano e meio depois da fagulha inicial da fita, a perspectiva é a de que a versão abreviada seja exibida, via TV Brasil, em canal aberto, no aniversário de Brasília (em 21 de abril).

Tarantino
Atualmente, Adirley Queirós se aplica ao documentário (com pegada irreal) Branco sai, preto fica, em torno do popular baile Quarentão, uma referência da noite dos anos 1980. “Não será tão histórico, já que vai ter até ficção científica. A gente vai apostar na estética. A história traz pessoas amputadas que fazem o percurso de futuro para o passado”, adianta. Algo de Quentin Tarantino? “Não sei bem se é meu Tarantino. Centralizarei mais em perdas físicas, em pessoas, por exemplo, com pernas mecânicas que queiram reconstruir, buscar recuperação. Será uma metáfora de momento histórico, da amputação cultural de uma cidade. A minha geração foi amputada, em termos de valores de identidade”, pontua.

Saído de uma área rural próxima a Brazlândia, em 1977, Adirley Queirós chegou a Ceilândia, onde atua como agitador cultural, vez por outra, patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), “um privilégio para a classe artística do DF, em termos de política pública”. Uma meta para 2012 é a oficina, com duração de quatro meses, voltada a 20 ceilandenses interessados em formatar roteiro experimental.

No plano da cena cultural local, “um acúmulo histórico” incomoda o diretor: “Temos a necessidade de uma sala pública de cinema, em Ceilândia. Como a gente pode se conformar com o fato de um perímetro urbano que abriga Ceilândia, Samambaia, Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto não ter uma sala de cinema? Até temos o espaço do Sesc, mas que não passa filme aqui — passa uma mostra, de vez em quando”. Nos últimos cinco anos, aliás, a bandeira de um espaço para escoar a efervescência de “atores, diretores, músicos e escritores” tem sido uma constante. “O espaço público é intocável, e deve ser gerido pelo público”, conclui.

"Temos a necessidade de uma sala pública de cinema, em Ceilândia. Como a gente pode se conformar com o fato de um perímetro urbano que abriga Ceilândia, Samambaia, Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto não ter uma sala de cinema?”


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Novidade na escola.  (...)o uso de tablets nas escolas está disseminado em países com altos índices de leitura e investimentos maciços no ensino tradicional. Ainda é uma incógnita o impacto desse instrumento em realidades como a brasileira, com históricos problemas de acesso à educação  (...)   Correio Braziliense - 31/01/2012




Neste início de ano letivo, uma controvérsia agita o ambiente escolar: o uso de tablets em sala de aula. As instituições de ensino brasileiras, notadamente as particulares, reproduziram uma tendência nos países desenvolvidos e incluíram os equipamentos eletrônicos na lista de material didático. Há uma extensa lista de argumentos favoráveis ao uso dos aparelhos: os estudantes estariam dispensados de carregar pesadas mochilas com livros; haveria uma economia de papel na produção dos livros didáticos; as aulas se tornariam mais dinâmicas, com ampliação das possibilidades na aprendizagem. Uma questão, entretanto, permanece em aberto: os alunos aprenderão melhor com a novidade tecnológica?

Um dos impactos mais impressionantes proporcionados pelo avanço da tecnologia reside no acesso à informação. Qualquer internauta hoje tem ao alcance dos olhos uma quantidade incomparável de dados em relação a um cidadão comum de 150 anos atrás. A armadilha do mundo digital se revela, porém, no momento em que se analisa os supostos benefícios sociais trazidos pela nova realidade. É antiga a discussão sobre os riscos da internet, refúgio de toda ordem de criminosos e prática de delitos, da pirataria à pedofilia.

A popularização dos telefones celulares não necessariamente significa que a humanidade se expresse melhor. A humanidade tampouco aprendeu a fotografar melhor graças às máquinas digitais. É legítimo perguntar, pois, se um aparelho que utilize simultaneamente textos, sons e imagens representará o passaporte para a aquisição de conhecimento mais qualificado.

No universo infinito da rede mundial de computadores, constitui tarefa fácil acompanhar o debate sobre as características da geração digital. Vários autores acreditam que ela é mais antenada, faz conexões em diferentes níveis sobre determinado assunto, adquire conhecimento de forma multimídia. Outra corrente, no entanto, alerta para a superficialidade típica da geração que conhece tudo de computadores, mas estranha o hábito milenar de se concentrar na leitura. Especialistas alertam até mesmo para o fim do pensamento abstrato e da habilidade de atenção, características fundamentais a quem pretende evoluir nos estudos formais.

Outro aspecto merece reflexão:o uso de tablets nas escolas está disseminado em países com altos índices de leitura e investimentos maciços no ensino tradicional. Ainda é uma incógnita o impacto desse instrumento em realidades como a brasileira, com históricos problemas de acesso à educação e enormes desigualdades no ensino. Os tablets, no fim das contas, poderão apenas aprofundar os contrastes nos bancos escolares nacionais.

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Filmes chilenos saem com dois prêmios de Sundance
Longa sobre Violeta Parra ganha prêmio de melhor drama internacional
Diretora-executiva do festival diz ver boa perspectiva para o cinema independente no próximo ano.  FOLHA SP 31.01

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O Chile saiu com dois prêmios do Sundance Film Festival, evento que terminou no último domingo após a exibição de mais de cem filmes ao longo de dez dias.

"Violeta se Fue a los Cielos" (Violeta foi para o céu), um retrato da cantora folk chilena Violeta Parra (1917-1967), foi considerado o melhor drama internacional, enquanto "Joven y Alocada", (jovem e doida) sobre a vida de uma jovem blogueira do mesmo país, ganhou melhor roteiro de filme internacional.

"Nós crescemos num país durante a ditadura", disse Marialy Rivas, diretora e corroteirista de "Joven y Alocada", sobre as aventuras sexuais de uma garota criada numa família evangélica.

"Desde os sete anos, queria ser cineasta para escapar dessa realidade violenta. Todo filme é um ato de amor."

Andrés Wood, diretor de "Violeta se Fue a los Cielos" e "Machuca" (2004), não estava presente à cerimônia. O filme premiado foi feito em coprodução com Argentina, Brasil e Espanha.

Nas categorias para americanos, o júri escolheu melhor documentário "The House I Live In" (a casa em que vivo), de Eugene Jarecki, vencedor do mesmo prêmio em 2005 por "Razões para a Guerra".

No novo trabalho, o diretor analisa o combate contra as drogas nos EUA, que em 40 anos já levou à prisão 45 milhões de pessoas.

Entre os dramas, o vencedor foi "Beasts of the Southern Wild" (feras do agreste do sul), do diretor e roteirista Benh Zeitlin, 29, com uma história surreal de animais estranhos e uma garotinha que vive no fim do mundo.

CINEMA INDEPENDENTE

"Olhamos para o ano à nossa frente com um incrível otimismo para a comunidade do cinema independente, vendo o esforço de cineastas para atingir novas alturas no processo de contar histórias", disse Keri Putnam, diretora-executiva do Sundance Institute, grupo sem fins lucrativos responsável pelo festival.

"Beasts of the Southern Wild" foi comprado pela Fox Searchlight, que também distribuirá "The Surrogate" (o substituto), com John Hawkes. Outros acordos fechados levarão aos cinemas "2 Days in New York" (dois dias em Nova York), dirigido, coescrito e estrelado por Julie Delpy, e "Arbitrage" (arbitragem), com Richard Gere.

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