sábado, 21 de janeiro de 2012


Amazônia está emitindo cada vez mais gás-estufa
Desmate e aquecimento reduzem absorção de carbono pela floresta
Estudo fez balanço de dados sobre o comportamento da floresta diante de mudanças climáticas
Embarcações encalhadas durante a seca de 2010 em banco de areia na Bacia Amazônia, em Tefé, Amazonas FOLHA SP 19/01

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A Amazônia é importante para absorver gás carbônico e ajudar a combater o aquecimento global? O estudo mais recente sobre essa questão, que atormenta cientistas há décadas, aponta que ainda há dúvidas sobre se a região é mesmo um "sorvedouro" de carbono. Mas o trabalho conclui que o desmatamento e o aquecimento global estão gradualmente levando a região a se tornar mais uma fonte dos gases de efeito estufa do que um ralo para absorvê-los.

"Não sabemos de onde partimos, mas sabemos para onde estamos indo", disse à Folha Eric Davidson, cientista do Centro de Pesquisas de Woods Hole (EUA), que coordenou o trabalho.

"A mudança talvez seja de um sorvedouro de carbono forte para um sorvedouro fraco ou de uma fonte pequena de carbono para uma um pouco maior, talvez até cruzando essa barreira. Ainda não temos como estimar o fluxo líquido de carbono para toda a bacia Amazônica."

O estudo liderado por Davidson, publicando da edição de hoje da revista "Nature", foi um balanço dos quase 20 anos de pesquisas do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), o maior projeto de pesquisa em ecologia e geociências da região.

Mesmo sem uma resposta detalhada sobre essa questão estratégica, cientistas comemoram o fato de que os dados da iniciativa têm ajudado nas políticas de preservação da floresta.

"O LBA mostrou que em um período de forte estresse climático, como as secas de 2005 e 2010, a floresta se torna uma pequena fonte de carbono", diz Paulo Artaxo, geofísico da USP, também autor do estudo.

"Isso é importante porque a Amazônia tem em sua biomassa um reservatório de carbono equivalente a quase dez anos da queima mundial de combustíveis fósseis. Qualquer alteração nesse regime é significativa do ponto de vista da mudança climática."

Uma das conclusões que o LBA permitiu tirar é que, apesar de a Amazônia ser robusta o suficiente para suportar fatores individuais de estresse -secas, desmatamento, queimadas etc.-, a floresta pode não suportar todos ao mesmo tempo.

"Há sinais de uma transição para um regime dominado por perturbações", dizem Artaxo, Davidson e outros autores do trabalho.

MONITORAMENTO

Segundo o pesquisador brasileiro, um dos problemas em responder a questões complexas sobre o comportamento da floresta diante da mudança climática é que, apesar de ser o maior projeto de pesquisa na região, o LBA não é grande o suficiente.

"Temos 13 torres de fluxo [instrumentos para estudos atmosféricos] hoje em 5,5 milhões de km2. Seria um engano achar que 13 pontos de medida seriam capazes de representar uma área continental do tamanho da Amazônia", diz Artaxo.

"O país precisa ampliar esse sistema para monitorar não só a Amazônia, mas também outros biomas, como o cerrado e o Pantanal."

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Desastres naturais mataram quase 30 mil pessoas em 2011
Dados foram divulgados ontem por centro de referência belga FOLHA SP 19/01


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Pelo menos 29.782 pessoas morreram em 302 desastres naturais, como terremotos, furacões, secas e inundações, registrados no ano passado.

O número de casos é alto, mas representa uma queda de 30% em relação ao ano anterior, quando cerca de 430 incidentes foram registrados.

Os dados foram divulgados ontem, na Bélgica, pelo Cred (Centro de Pesquisas sobre Epidemiologia de Desastres), uma instituição de referência mundial sobre o assunto.

A quantidade de mortos foi turbinada por causa do terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão em março de 2011. Na Ásia estão 89% dos mortos no ano passado vítimas de desastres. Ao todo, 206 milhões de pessoas foram afetadas pelos incidentes.

A epidemiologista Debarati Guha-Sapir, diretora do Cred, destacou ainda, na apresentação dos dados, os 900 mortos por enchentes e deslizamentos em janeiro do ano passado no Brasil.

"Boa parte dos desastres tem acontecido em países com economia forte ou em crescimento, com condições de preveni-los", disse.

A especialista mostrou ainda um trabalho publicado neste mês na revista "Epidemiology". O estudo comparou a condição de crianças expostas e não expostas a enchentes em Bangladesh. O trabalho revela um aumento de doenças respiratórias e de desnutrição nas primeiras.

Em entrevista à Folha na época das chuvas de 2011, Guha-Sapir afirmou que zonas de risco de inundação costumam ser bem conhecidas por autoridades e moradores, já que são recorrentes nos mesmos lugares. Justamente por isso não é difícil - nem é caro- preveni-los.

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A covardia do comandante Schettino nos envergonha de nós mesmos
TEMOS UMA PREDISPOSIÇÃO CULTURAL À COVARDIA, POIS NÃO HÁ NADA CUJA SOBREVIVÊNCIA NOS IMPORTE MAIS DO QUE A NOSSA FOLHA SP 20/01
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"O covarde morre mil vezes, o corajoso, uma vez só" é a frase com a qual Julio César se despede da mulher, Calpúrnia, quando ela tenta convencê-lo a não ir para o Capitólio no dia em que ele será assassinado. Isso, segundo Shakespeare.

A frase significa que o covarde teme por sua vida. Isso é o que o define: ele enxergará mil vezes a possibilidade de sua morte, antes de esbarrar nela de fato. O corajoso só se preocupará quando for mesmo a hora.

A frase de Hamlet, segundo a qual a consciência nos torna covardes, não se afasta muito da de César: ser corajoso seria agir por alguma razão mais importante do que a própria fantasia do que nos espera depois da morte.

Duas observações:

Primeiro: é provável que o corajoso receie perder a vida tanto quanto o covarde, mas aja apesar desse medo -porque, para ele, algo é mais importante do que sobreviver. Citação por citação, Catherine, em "Adeus às Armas", de Hemingway, propõe uma resposta à frase de Júlio César: "O corajoso, se for inteligente, talvez morra 2.000 vezes. Só que ele não vai mencionar nenhuma delas".

Segundo: aparentemente, saber o que é um covarde se torna, na modernidade, questão crucial. Por que será?

Nós, modernos, passamos a prezar singularmente nossa sobrevivência. Mesmo quando acreditamos no além, achamos que o término de nossa vida terrena é o fim de tudo o que importa.

Tanto faz que nossas ideias triunfem, nada compensa o fim de nossa existência -salvo, em parte, nossas crianças, que amamos selvagemente por serem nossa única esperança de certa continuação.

Em suma, inelutavelmente, por prezarmos tanto nossa vida individual, temos uma predisposição cultural à covardia, pois não há nada, em tese, cuja sobrevivência nos importe mais do que a nossa. A vantagem dessa covardia cultural é que ela nos dá o tempo necessário para pensar e pesar as causas pelas quais poderíamos nos arriscar a perder a vida.

O resultado é positivo, à primeira vista: covarde, para nós, hoje, é quem foge de um perigo que a maioria consideraria justo correr. Ou seja, nossa covardia cultural faz com que nos engajemos de maneira seletiva.

Por exemplo, os pacifistas que se recusavam a servir no Exército dos EUA durante a Guerra do Vietnã não pareciam ser covardes; numa guerra justa, como a Segunda Guerra Mundial, eles teriam servido com gosto.

Obviamente, essa não era a opinião de muitos psiquiatras do Exército e da Marinha dos EUA, os quais achavam que o pacifismo de grande parte desses recrutas, quando não era mentira, era formação reativa -um jeito de racionalizar com belas palavras seu medo de arriscar a vida pelo seu país.

A verdade está sempre no meio: devia haver, no lote, pacifistas e bundas moles.

Mas vamos ao capitão Schettino, do Costa Concordia. Ele é objeto de execração porque seu comportamento retrata um traço cultural que todos compartilhamos.

Schettino colocou sua própria vida acima da vida de sua tripulação e de seus passageiros, assim como acima do código de honra da marinha -nisso, ele encarnou o espírito dos nossos tempos e, literalmente, ele nos envergonha de nós mesmos.

A frase do comandante De Falco, da capitania do porto de Livorno, "Vá a bordo, caralho", parece expressar a vontade de termos todos um De Falco que nos fale e nos lembre de que talvez haja, às vezes, algo mais importante do que a nossa pele.

Suspeito que Schettino seja especialmente detestado porque ele desperdiçou uma excelente e fácil ocasião para sair de herói na foto, sem grande custo (e para compensar assim sua incompetência, responsável pelo naufrágio).

Schettino não corria risco de vida. No pior dos casos, seria o último a cair no mar. E daí? Por frio que seja o Tirreno no inverno, um nadador medíocre chegaria tranquilamente à costa da ilha de Giglio.

Ora, na conversa telefônica com De Falco, Schettino responde à ordem de voltar a bordo (de onde nunca deveria ter saído), com esta explicação: "Mas aqui está tudo escuro". De Falco rebate debochando daquele medo infantil: "O que é, Schettino, está tudo escuro, e você está a fim de voltar para casa?".

Na conversa, essa é a parte "pior". Tudo bem, Schettino não colocou nada acima de sua própria vida, não "cresceu" na circunstância, mas, além disso, ele encolheu -ficou esperando que um adulto o pegasse pela mão e o tirasse do escuro.

Imagino o sentimento dos italianos: numa época em que precisamos tanto de liderança, será que nossos "capitães" são todos Schettinos? Ninguém consegue ser o adulto com quem podemos contar no escuro e no perigo?

Segundo Hegel, a origem da liderança está na coragem de colocar a vida em risco. Quem se expõe à possibilidade de morrer se torna mestre. E os outros, os que preferem preservar sua vida, escravos.

Os escravos, como Hegel previa, tomaram conta da terra, e é ótimo que assim seja. Mas resta a sensação bizarra de que não haja mais ninguém como o mestre antigo, ninguém disposto a encarar a morte -para nos defender, por exemplo.


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Os olhos de Tom
O cineasta Nelson Pereira dos Santos mergulha na vida do maestro da bossa nova em dois documentários. Um deles estreia hoje nos cinemas do DF.  CORREIO 20.01
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O cineasta Nelson Pereira dos Santos passeia pelo universo onírico do maestro, compositor e instrumentista Tom Jobim. Um dos precursores do movimento do cinema novo, o criador propõe um mergulho na obra do mestre da bossa nova, a partir de dois lançamentos cinematográficos. Os filmes sobre Jobim, morto em 1994, aos 67 anos, foram dirigidos por Nelson Pereira dos Santos, 83 anos, e serão lançados neste ano. O primeiro, A música segundo Tom Jobim, codirigido por Dora Jobim, estreia hoje em dois cinemas do DF. O outro, A luz do Tom (codirigido por Marco Altberg), foi feito por meio de depoimentos de três mulheres muito ligadas a Jobim: Helena Jobim (irmã), Thereza Hermanny (primeira mulher) e Ana Lontra Jobim, segunda e última mulher.  Em entrevista ao Correio, ele  rememora o Rio de Tom e fala do processo de criação.

           
Vinícius de Moraes e Tom Jobim , no Catetinho em Brasília, aparecem em A musica segundo Tom Jobim

Os dois projetos sobre Tom Jobim foram planejados separadamente ou terminaram se separando somente no fim?
Desde o começo, foram projetados os dois filmes assim. Um era sobre a memória das três moças. O outro, sobre a música que ele criava, a música dele em si, narrada em ordem cronológica. Não é bem a carreira não. É mais a produção musical do Jobim.

O programa A música segundo Tom Jobim, que o senhor dirigiu para a TV Manchete, foi o pontapé inicial do filme?
É o mesmo título. Fiz o programa da Manchete, em 1985, e usei o título de novo. Na luz do Tom, tem um prólogo só com dois ou três trechos do programa. A ideia do programa foi do Tom. Era tudo gravado na casa dele. Em cada episódio, contávamos a história da música popular brasileira. O primeiro era sobre Radamés Gnatalli, grande compositor, foi ilustrado com o Tom ao piano dentro de casa. Depois, Chico Buarque com as canções do Noel Rosa. Nana Caymmi e Gal Costa fizeram com a música popular para consumo. Seguiu com a evolução de grandes compositores. A gente contava a história de forma espontânea, sem nenhuma impostação didática idiota. Eram músicos se deliciando e ligando a memória deles a de outros compositores que marcaram a história brasileira.

Mesmo tendo convivido com o maestro pessoalmente, o senhor descobriu alguma coisa sobre o Tom que não conhecia antes de fazer o filme?
Não. Mas me aproximei muito da família dele. A neta do Tom, Dora Jobim, fez comigo a direção de A música. Ela trabalha com cinema, mas tem a cabeça de musicista. Deu uma grande ajuda. Paulo Jobim (diretor musical) fez as músicas do Brasília 18% e Cinema de lágrimas (ambos dirigidos por Pereira dos Santos) e também está no filme. Miúcha (parceira de Tom em vários projetos) ajudou bastante. Minha filha é produtora e Ivelise Ferreira, minha mulher, também. Foi uma equipe de duas famílias reunidas. Éramos uma patotinha trabalhando nesse projeto há muito tempo, só estamos lançando agora por causa da dificuldade de captação. Tive muito prazer em fazer esse filme.

A luz de Tom parece relacionar a cidade do Rio de Janeiro à trajetória de Antonio Carlos Jobim. Será outro filme de Nelson Pereira dos Santos sobre a cidade?
A ideia era a seguinte. Cada uma das três (Helena, Thereza e Ana) falava sobre um espaço que o Tom ocupava. Um deles era o espaço da natureza. Helena, irmã mais nova do Tom, falou da adolescência, do período da juventude e da relação dele com a natureza. Ela diz que a praia de Ipanema era um areal naquela época. Isso não existe mais no Rio de Janeiro. Fui filmar em Florianópolis. Fiz as lembranças de infância do Tom. Isso causou um mal-entendido. Quando fui filmar, as pessoas diziam que não se lembravam de ele ter nascido lá (risos). Ele não nasceu em Florianópolis, mas a natureza de lá é muito parecida com a de Ipanema daquela época.

           
Encontro musical entre Aloysio de Oliveira, Sylvinha Telles e Tom Jobim


Os seus filmes sempre abordam algum aspecto da cultura brasileira. Qual deverá  ser o próximo?
Meu próximo filme deverá ser sobre o D. Pedro II, baseado no livro do José Murilo de Carvalho, Dom Pedro II — Ser ou não ser. Ele foi uma figura básica da história do Brasil. O livro não é uma historiografia acadêmica, fechada. É um livro muito interessante e me despertou a ideia de fazer o filme para lembrar a história do Brasil.

O cinema brasileiro já passou do momento de discutir a identidade nacional e avançou em termos de abordagens temáticas?
Eu não sei dizer. O cinema brasileiro tem mais filmes hoje, mais cineastas. É um momento de pujança. Para fazer uma análise, tinha de ver todos os filmes. Quando eu comecei, era obrigatório ver os filmes, discutir e detalhar. Quando tinha 20 filmes, nos anos 1970, dava para ter uma ideia da relação com a nossa história cultural. Do que acompanho, acho que existe de tudo. Esse julgamento tem de ser repensando. Existe gente preocupada com isso, sim. O cinema ficou múltiplo, voltado para as raízes históricas e nacionais. É que são outros caminhos de realização o de outros diretores. É uma polifonia com liberdade de criação. Acho bastante positivo que isso esteja acontecendo. Esse tipo de crítica fica meio saudosista. Nós brasileiros temos essa tendência ao saudosismo. Eu não tenho não. O melhor ainda virá.

E a música? Piorou depois da bossa nova?
Como tudo no Brasil, a música funciona no pluralismo. Uma forma de produção muito rica, ao mesmo tempo de pensamento. Há mais gente produzindo. Viva o pluralismo. Não sou especialista em música. Mas, os meus netos estão curtindo música popular, falando de coisas que eu nunca ouvi falar. Acho que essa boa fase econômica do Brasil, anunciada com possibilidade de desenvolvimento social mais justo, vai realmente nos oferecer um futuro muito bom em todos os níveis. Isso terá consequências na área da produção cultural, sem dúvida. O que ainda precisamos fazer é ficar livres do Estado, dos burocratas na criação artística.
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Livro relembra as publicações gays da imprensa no Brasil

"A Imprensa Gay no Brasil", de Flávia Pèret, mostra do ativismo de "Lampião", nos anos 1970, à "G Magazine"

Obra é a primeira da série "Folha Memória", que seleciona, todos os anos, pesquisas sobre jornalismo no país FOLHA SP 21.01.12
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Autor de "Fina Estampa", que criou o caricato personagem Crô, Aguinaldo Silva já esteve na vanguarda da militância gay no país.

O escritor -que é homossexual, contrário ao beijo gay em novela- ajudou a fundar o "Lampião da Esquina", o primeiro jornal engajado editado por ele entre 1978 e 1981.

Foi alvo de ataques de grupos paramilitares e esteve na lista de publicações a serem banidas. Seus diretores foram acusados de "atentado ao pudor" pelo Ministério da Justiça e responderam a um inquérito policial, arquivado.

Em 1979, "O Lampião" entrevistou Luiz Inácio Lula da Silva, então dirigente sindicalista, para uma matéria sobre machismo na esquerda.

Na reportagem, o ex-presidente disse "que homossexualismo na classe operária era coisa que ele não conhecia".

Os bastidores da atuação de Aguinaldo Silva no movimento gay é resultado de pesquisa de Flávia Pèret, autora de "Imprensa Gay no Brasil".

O livro, que será lançado na próxima semana pela Publifolha, é o primeiro da série "Folha Memória", um projeto da Folha que seleciona, por meio de um concurso anual, três propostas de pesquisa sobre a história do jornalismo brasileiro.

Os escolhidos têm seis meses para finalizar a pesquisa -paga com patrocínio da Pfizer- e escrever um livro. O melhor é publicado.

Segundo Pèret, o "Lampião" acabou por um racha entre Silva e o escritor João Silvério Trevisan, outro fundador. No ano seguinte, ele foi contratado pela Globo.

"Não posso dizer que faço isso [criar personagens gays] por ativismo, mas, se a gente analisar bem, vai perceber que não deixa de ser uma forma de militância", diz.

VIRARAM PURPURINA

O livro mostra que, em quase cinco décadas, a história dos veículos gays se repete: sucumbem diante das dificuldades financeiras, geradas principalmente pela escassez de anúncios. "Foi assim com o 'Lampião, e, em parte, com a 'Sui Generis' [revista]", diz.

A "G Magazine", primeira a exibir ensaios fotográficos de famosos em nu frontal, é outro exemplo.

Ela surgiu em 1997, se sustentou por alguns anos, mas, no final, acabou lançando revistas pornográficas para gerar receitas. Em 2008, foi vendida a um grupo estrangeiro.

Recentemente, parte das publicações migrou para a internet e ganhou vida nova.

Mas, ainda segundo Pèret, a proposta editorial mudou. Em vez do ativismo político, os títulos focam na "militância de mercado": o que os gays consomem, como se comportam e seus ícones.

A IMPRENSA GAY NO BRASIL
AUTORA Flávia Pèret
EDITORA Publifolha
QUANTO R$ 19,90 (136 págs.)


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História do músico Pixinguinha ganha versão em imagens
Vida do autor de "Carinhoso" é narrada de maneira resumida em livro que tem fotos como atração principal
André Diniz, o autor, já fez outras publicações nesse gênero, como os almanaques do samba, do choro e do Carnaval FOLHA SP 21.01.12
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O mais importante aqui são as imagens. "Pixinguinha - O Gênio e o Tempo" usa quase 150 fotografias -algumas bastante raras, outras inéditas em livro- para compor o universo do autor de "Rosa", "Lamentos" e "Carinhoso".

Algumas vêm ainda do século 19, como o retrato do flautista Joaquim Callado (1848-1880), considerado "o pai do choro" -gênero que, a partir dos anos 1930, teria em Pixinguinha (1897-1973) sua mais completa expressão.

Há também cenas do cotidiano de Noel Rosa (1910-1937), Orlando Silva (1915-1978), Mário de Andrade (1893-1945), Tom Jobim (1927-1994), entre outros artistas que, ao longo do século passado, construíram os pilares da música brasileira.

Mais valiosas ainda são as imagens que documentam os primórdios do choro, na virada do século 19 para o 20. Grupos como o de Sinhô (1888-1930) e de João Pernambuco (1883-1947), além, é claro, do Oito Batutas, formado por Pixinguinha em 1919.

Nesse entremeio, a história é narrada, em inglês e português, de maneira bem resumida, numa espécie de apresentação "fast food" do personagem, desde a infância em Catumbi, no Rio, onde descobriu seu ofício.

André Diniz, autor do texto, já fez outras publicações no gênero -quase todas com a mesma pegada pop-, como "Almanaque do Samba", "Almanaque do Choro" e "Almanaque do Carnaval" (todos da Jorge Zahar Editor).

"Pixinguinha - O Gênio e o Tempo" encarta CD com gravações de "Carinhoso", "Valsa dos Ausentes", "Canção da Odalisca" (feitas pela Orquestra Petrobras Sinfônica) e de "Lamentos" e "Querendo Bem" (pela Orquestra Sinfônica de Recife). Os arranjos replicam os originais, escritos por Pixinguinha.

A propósito, o jornalista Sérgio Cabral publicou, em 1997, uma biografia aprofundada de Pixinguinha pela editora Lumiar -e ela serviu como fonte para o livro de Diniz.

PIXINGUINHA - O GÊNIO E O TEMPO
AUTOR André Diniz
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$ 85 (208 págs.)


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Masp vai lançar prêmio de R$ 200 mil para arte visual
Valor é o maior pago no país na categoria e ultrapassa valor concedido por premiação de prestígio da Inglaterra
Museu deve anunciar o vencedor em dezembro; são elegíveis, entre outros, vídeo, pintura e intervenções urbanas FOLHA SP 21.01.12
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Um novo prêmio na área das artes visuais será instituído neste ano pelo Masp (Museu de Arte de São Paulo) e vai destinar R$ 200 mil a um artista contemporâneo cuja obra tenha se destacado no ano anterior.

Esse é o maior valor de um prêmio da categoria no país e um dos maiores do mundo, levando em conta que o Marcantonio Vilaça, a mais tradicional premiação brasileira, distribui R$ 30 mil a cada um dos cinco vencedores num ano, e o Pipa dá R$ 100 mil a um ganhador único.

No exterior, o prêmio britânico Turner reserva 25 mil libras, cerca de R$ 68 mil, ao vencedor, enquanto o espanhol Velázquez, um dos mais generosos, destina 120 mil euros, cerca de R$ 272 mil, a um único vencedor anual.

"Esse é um valor considerável para a situação de hoje", diz o curador do Masp, Teixeira Coelho, à Folha. "Está à altura do papel que a arte contemporânea hoje ocupa no mundo e no país."

Patrocinado pela Mercedes-Benz, com recursos incentivados, o prêmio do Masp deve anunciar seu vencedor em dezembro deste ano. Antes, três finalistas farão exposições no museu, em novembro, para mostrar ao público uma parte de suas obras.

Esses três finalistas serão escolhidos em maio por um grupo de cinco jurados.

Integram o júri José Roca, curador de arte latino-americana da Tate Modern, em Londres, Teixeira Coelho, curador do Masp, Chris Dercon, também curador da Tate, e os curadores independentes brasileiros Paulo Herkenhoff e Aracy Amaral.

Cada jurado será convidado a indicar dez nomes para uma lista com um total de 50 artistas. Desses, serão selecionados os três finalistas.

Eles serão avaliados por sua produção recente. Nesta primeira edição do prêmio, podem ser consideradas inclusive obras feitas ainda na segunda metade de 2010.

São elegíveis todos os tipos de manifestação artística contemporânea, incluindo vídeos, performances, intervenções urbanas e suportes mais tradicionais, como pintura, desenho e escultura.

"Esse prêmio tem a proposta imediata de ressaltar o valor de uma determinada obra ou de determinado artista", diz Coelho. "Também contribui para o sistema como um todo, tornando a arte um assunto de maior interesse para o público e para museus."

Coelho também espera que o novo prêmio sirva para retomar uma tradição nas artes visuais no país, como fazia a Bienal de São Paulo.

"A Bienal cometeu um erro quando parou de premiar os artistas", afirma Coelho. "Isso tem o mérito de incrementar a dinâmica artística de um determinado momento. O mundo reconhece que prêmios são importantes."

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Cinema independente está mais saudável, diz Redford
O cinema independente vai bem, obrigado. Isso disse Robert Redford, fundador do Sundance Film Festival, em conversa com cerca de cem jornalistas, anteontem, num antigo cinema de Park City, cidade de Utah que, coberta de neve, recebe o evento. FOLHA SP 21.01.12
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"Com os negócios mudando tão radicalmente, com o colapso do 'mainstream' [esquema dos grandes estúdios], o que vejo agora é que a categoria e a comunidade do cinema independente estão crescendo", disse. "Está mais saudável. Não significa que está fácil. Nunca foi fácil."

Ele citou como exemplo veteranos que voltaram a trabalhar longe dos grandes estúdios, em busca de liberdade criativa e de mais controle, tirando vantagem das novas formas de distribuição.

Citou Spike Lee, que traz ao festival "Red Hook Summer", e Stephen Frears, que apresenta "Lay the Favorite".

O evento também serviu para o lançamento do Artist Service, mais um programa do Sundance Institute, que promove bolsas e workshops de cinema durante o ano todo e é considerado "a parte mais significativa de Sundance", segundo Redford.

A novidade, que já levantou US$ 1,5 milhão (R$ 2,6 milhões), irá ajudar diretores a escolher novos métodos de distribuição na internet.

"No passado, existia a categoria dos filmes órfãos, que não eram 'hypados' no festival, não conseguiam distribuição e morriam. Hoje, o cinema independente cresceu, há outras plataformas."


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ENTREVISTA ANDRÉ CORRÊA DO LAGO
Países ricos serão cobrados na Rio+20 por falta de ação
Chefe de ambiente no Itamaraty fala sobre expectativas para conferência ambiental que, para ele, não selará acordo legal FOLHA SP 21.01.12

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A conferência Rio+20, principal evento internacional de 2012 sediado no Brasil, não terá como resultado uma fórmula ideal -e única- para resolver o problema ambiental em todos os países.
Acordos e mecanismos legais firmados de última hora, comuns em encontros do gênero, devem ceder espaço a "processos", com missões de "longo prazo".
A opinião é do embaixador André Corrêa do Lago, 52, chefe do departamento de Meio Ambiente do Itamaraty.
Segundo ele, a conferência abrirá uma enorme oportunidade econômica para o Brasil, que poderá se beneficiar de um eventual padrão internacional de produtos sustentáveis -algo a que o Itamaraty sempre se opôs por ver as certificações como barreiras não tarifárias.
"O Brasil, com pequenos ajustes, tem vantagens imensas", diz o diplomata, neto do ex-ministro Osvaldo Aranha.
O encontro, que acontece em junho, será no Rio Centro, que sediou a Eco-92.

Folha - Como está a predisposição dos países em relação à conferência?
André Corrêa do Lago - Muito positiva. Diminuiu a preocupação dos países em desenvolvimento de que a Rio+20 seria um questionamento do legado de 1992.
Em Johannesburgo, em 2002, os países ricos tentaram passar a responsabilidade para o setor privado.
Agora há um esforço, que preocupa Brasil, Índia e China, de tentar transferir para os países emergentes parte da responsabilidade, inclusive pelos recursos para o desenvolvimento dos menores.
Os ricos estão sempre tentando tirar o corpo fora. Os países em desenvolvimento já estão fazendo muita coisa em cooperação sul-sul.
Não devemos diminuir o que estamos fazendo, mas isso não pode ser considerado como uma substituição do que devem fazer os ricos.

Onde na Rio+20 poderia se manifestar essa transferência do ônus para os países em desenvolvimento?
A conferência terá uma avaliação da implementação de medidas em favor do ambiente nos últimos 20 anos. Os países ricos estão com medo de serem colocados na parede pelo que não fizeram.
Eles não cumpriram, por exemplo, o compromisso de aumentar a assistência ao desenvolvimento para 0,7% do PIB. O Brasil não quer que a conferência seja para apontar as culpas. Mas é inevitável que vá haver essa cobrança.

O que deve ser a principal marca da Rio+20?
Nos anos 60, 70, até 80, os países que cresceram mais foram os que seguiram modelos predeterminados dos países ricos: Japão, Coreia, Cingapura.
Os anos recentes viram o crescimento de países que tinham maior autonomia e nenhuma intenção de serem reconhecidos pelo clube, que é o caso dos mais jovens, como Brasil, China e Índia.
Há várias formas de desenvolvimento, os países têm uma autonomia com relação a essa fórmula. A consequência dessa mudança é a volta da importância do Estado.

Em Johannesburgo, em 2002, houve um sequestro da agenda da Rio+10 pela questão da pobreza na África. O Brasil está tentando trazer a discussão de Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida. Não existe um risco de uma agenda de governo atrapalhar a conferência?
Não, porque essa é uma agenda nacional. O objetivo não é ter uma forma mundial de fazer as coisas, é inculcar em tudo o desenvolvimento sustentável. Todo tipo de investimento no país deveria ter como paradigma o desenvolvimento sustentável.

Mas o próprio governo brasileiro não incorporou isso.
Podemos aproveitar a Rio+20 para o Brasil se tornar mais contemporâneo na integração do pensamento social, ambiental e econômico. Se essas agendas chegarem juntas, o país passa a poder ser a síntese do desenvolvimento sustentável.

Se a ideia não é criar uma fórmula mundial, o que se tira do encontro?
Um resultado que eu gostaria de ter seria os ministérios da fazenda e os organismos internacionais econômicos terem o desenvolvimento sustentável como paradigma.
Se for criado um padrão internacional de que um produto sustentável é uma coisa positiva, o Brasil, com ajustes, pode ser um país onde as coisas são sustentáveis.

Qual é a expectativa de adesão de chefes de Estado à Rio +20?
Altíssima.

Mas tem se falado que, com a crise econômica, a presença deve cair.
A Rio+20 vai chegar com um pacote de boas ideias para os próximos anos. Num momento de crise, é atraente para os chefes de Estado se associar a um evento que abre portas para coisas positivas no futuro. Agora, ela tem que ser suficientemente forte para não ser uma enrolação.

Como é que você cria uma agenda positiva, com a qual todo mundo se associa, sem ter metas e prazos?
Teremos objetivos de desenvolvimento sustentável, como os objetivos do milênio. Um exemplo seria a área de padrões de consumo. Não serão decisões definitivas, mas processos.

A conferência do clima de Durban foi sobre processos. O que aconteceu com os acordos e tratados?
Lá falou-se de uma nova fase do multilateralismo, em que as partes legais já estariam completas e que seria preciso implementá-las. É criar dinâmicas para que as coisas aconteçam.

RAIO-X ANDRÉ CORRÊA DO LAGO

ORIGEM
Brasileiro, filho de diplomatas, nasceu em Paris em 1959

FORMAÇÃO
Economia, pela UFRJ

ATUAÇÃO
É diretor do departamento de meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores e foi chefe da delegação brasileira na 16ª Cúpula da ONU sobre Mudança Climática (COP17), em Durban, em dezembro
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Brasileiro vai chefiar convenção da ONU sobre diversidade biológica

Anúncio foi feito ontem pelo secretário-geral das Nações Unidas FOLHA SP 21.01.12


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O brasileiro Bráulio Ferreira Dias foi anunciado ontem como secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU (Organização das Nações Unidas).

Secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, ele assume o posto com o desafio de definir, na convenção, um modelo para a divisão dos bens produzidos da natureza. O encontro está marcado para outubro na Índia.

A nomeação foi anunciada ontem pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Em entrevista no Palácio do Planalto, Dias afirmou que terá como metas estabelecer ações concretas para conservar a biodiversidade e repartir os benefícios com povos nativos, como indígenas.

Essas medidas poderão incentivar pesquisas em biotecnologia, valorizar os conhecimentos das populações tradicionais e ajudar a reduzir a biopirataria.

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