segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Tradições preservadas. Projeto
da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, busca catalogar o patrimônio
imaterial de várias partes do mundo. O foco está nas manifestações culturais
ameaçadas de desaparecer. China, Guiana e Quênia já participam da iniciativa
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Artistas
da Guiana fazem apresentação de dança típica de seu país durante visita do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: intercâmbio cultural é um dos
objetivos do projeto. CORREIO BSB 22.01
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Qualquer
pessoa, disse o folclorista Luis da Câmara Cascudo, é um mestre que sabe
contos, mitos, lendas, versos e superstições, “e sabe fazer caretas, apertar
mão, bater palmas e tudo quanto caracteriza a cultura anônima e coletiva”.
Maestria essa que corre o risco de se perder, à medida que começam a desvanecer
na memória popular as conversas contadas à beira da fogueira, as músicas que os
tataravós cantavam, o entalhe ancestral das peças de artesanato, as danças que,
novamente nos ditos do pesquisador potiguar, “parecem ter nascido com a gente”.
A
conservação do chamado patrimônio imaterial ou inatingível é uma preocupação de
pesquisadores da universidade inglesa de Newcastle, que trabalham na construção
de um ambicioso inventário cultural. Financiado pela Comissão Europeia, o
Projeto En-compass pretende não apenas catalogar a memória de um povo, mas
registrar, com detalhes, a origem, a história e o significado de cada um dos
itens, que vão de dialetos a cerimônias, passando por contos, músicas e danças.
A seleção dos patrimônios é feita pela própria população local, estimulada a
identificar, principalmente, aqueles ameaçados de cair no esquecimento.
Além
do Reino Unido, participam China, Guiana e Quênia. O arqueólogo Aron Mazel, um
dos idealizadores, explica que a intenção não é criar um inventário de todo o
patrimônio inatingível do mundo. “Isso seria algo grande demais, inviável”,
afirma o pesquisador de Newcastle. Mas, segundo ele, o modelo poderia inspirar
a criação de projetos semelhantes. “Nós gostaríamos de ampliar o trabalho de
documentação, mas isso vai depender de uma série de fatores, incluindo mais
financiamento”, explica. Por enquanto, eles têm garantidos 950 mil euros.
Os
países que participam do projeto foram escolhidos a partir de contatos
acadêmicos e institucionais. Um dos parceiros é o Centro Internacional de
Conservação e Desenvolvimento da Floresta Iwokrama, da Guiana. A ONG cuida de
uma área de 360 mil hectares de floresta tropical intacta, doada pelo governo e
pelo povo do país à comunidade internacional.
“Essa
oferta ao mundo foi feita em 1989”, conta Raquel Thomas-Caeser, diretora da
entidade. No local, os nativos são estimulados a conservar e fazer uso
sustentável dos recursos naturais.
Diálogo
Raquel
diz que, na primeira fase do En-compass, representantes dos quatro países
fizeram expedições de intercâmbio e puderam conhecer o patrimônio imaterial uns
dos outros. “Essas visitas buscavam encorajar um diálogo internacional para se
criar um rede da expressão das culturas locais”, afirma. Na Guiana, 12 pessoas
foram curadoras de uma exposição itinerante da cultura do país, que será levada
à Inglaterra, à China e ao Quênia. “A Guiana tem uma rica cultura, já que temos
muitos grupos étnicos aqui, como indianos, ameríndios africanos, chineses e
portugueses. O país tem nove nações indígenas. O projeto está mais concentrado
no Rupununi Norte, área associada ao povo Makushi, que tem uma cultura
tradicional muito forte, ligada a música, dança, arte, artesanato, agricultura,
caça, pesca, alimentação, linguagem, folclore e espiritualidade”, relata.
Além
de partilhar a informação cultural, ela afirma que o En-compass pretende
assegurar a proteção do patrimônio popular. “Foi dada ênfase especial à
formação e profissionalização das pessoas envolvidas. Acreditamos que um
trabalho com profissionais competentes é substancial para a gestão e
salvaguarda do patrimônio cultural”, diz.
A
África anglofônica é representada pelo Centro de Desenvolvimento do Patrimônio
da África (CHDA, sigla em inglês), instituição baseada no Quênia. No primeiro
ano de atividades (2010), um artista performático, um artesão e um museólogo
foram escolhidos para participar de um workshop com colegas dos outros três
países. “Durante o workshop, eles se debruçaram sobre questões relacionadas aos
riscos que correm o patrimônio material e imaterial da China, da África
anglofônica, da Guiana e da Inglaterra, além dos desafios para protegê-lo”,
descreve Deirdre Prins-solani, diretora do CHDA. Quando voltaram, os
participantes usaram suas redes profissionais e pessoais para disseminar
campanhas de conscientização sobre a proteção patrimonial.
Entre
novembro e dezembro do ano passado, os quatro países participantes realizaram
treinamentos locais. “O objetivo era fazer as pessoas entenderem, apreciarem e
tomarem conta de seus próprios recursos culturais. Particularmente, procuramos
aumentar a consciência sobre o papel da cultura na coesão social e na luta
contra todas as formas de discriminação”, relata Prins-solani.
Diversificação
A
diretora do CHDA afirma que o patrimônio cultural do Quênia é bastante diverso,
pois cada grupo étnico tem seus próprios costumes. Ela destaca os seminômades
massais, que fazem artesanato, tocam música e têm uma dança única; os kambas,
escultores reconhecidos que trabalham principalmente com madeira; os kissii,
que também fazem esculturas, mas em pedra-sabão; os luos, conhecidos pela
música benga e pela dança dodo; e os suaíli, donos de um tipo de música muito
particular, chamada taarab, e de uma culinária ancestral característica. “A
contação de história é algo comum a todas as comunidades, com os mais velhos
passando informações culturais aos mais jovens”, diz.
Esse
patrimônio, afirma Prins-solani, está em risco. “Os jovens estão se inserindo
em culturas completamente novas, especialmente depois da disseminação da
internet, que permite o acesso à cultura global. O CHDA está tentando trabalhar
com a juventude para diminuir esse problema, trazendo os mais novos para perto
de sua própria cultura”, conta a diretora da instituição. O mesmo acontece na
Guiana, de acordo com Raquel Thomas-Caeser. “Os líderes comunitários estão
muito preocupados, por exemplo, com o declínio de falantes de makushi, a língua
do povo makushi”, afirma.
Ainda
assim, Prins-solani e Thomas-Caeser são otimistas quando o assunto é a
preservação desses bens. “O governo da Guiana, alguns anos atrás, declarou que
todo setembro é o mês da tradição ameríndia. Acredito que isso ajuda a
restabelecer o orgulho da cultura ameríndia, além de permitir que os indígenas
da Guiana compartilhem sua cultura com outros grupos étnicos”, diz a diretora
do Centro Internacional de Conservação e Desenvolvimento da Floresta Iwokrama.
“As comunidades estão se envolvendo e devem continuar a se envolver com o
progresso do projeto”, acredita Pris-solani. “Sabemos que isso vai causar um
impacto significativo na segurança do patrimônio cultural imaterial.”
Brasil
O
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é responsável,
no Brasil, pela política de salvaguarda dos bens culturais imateriais.
Atualmente, há 23 bens registrados, como o frevo e a festa do Divino Espírito
Santo de Pirenópolis. Outras 21 manifestações aguardam registro, como o ofício
das raizeiras e dos raizeiros do Cerrado e a literatura de cordel.
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Projetos prioritários da Cultura estão estagnados
Vale
Cultura está parado na Câmara e Pontos de Cultura têm problemas
As
Praças do PAC tiveram R$ 164,8 milhões empenhados, mas nenhuma obra foi
iniciada ainda FOLHA SP 23/01
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Em
seu discurso de posse, há um ano, a ministra Ana de Hollanda tinha pressa.
"Por
favor, vamos aprovar [...] o nosso Vale Cultura, para que a gente possa
implementar o mais rapidamente possível a inclusão da cultura na cesta do
trabalhador."
Mas
o projeto de lei está estagnado na Câmara dos Deputados. Aprovado pelo Senado
em 2009, voltou à Câmara para nova análise. Ainda não foi à votação, mesmo após
inúmeros requerimentos.
O
Vale Cultura servirá como espécie de "vale-alimentação", de R$ 50,
para aqueles com até cinco salários mínimos gastarem com cinema, livros e
shows, por exemplo.
O
secretário de Fomento à Cultura, Henilton Parente, atribui a demora a um
impasse sobre "o impacto que a inclusão dos aposentados [no benefício] vai
causar [nas contas] do governo". Ele aposta que esse ponto cairá na Câmara
ou por veto presidencial.
DEVAGAR
Não
é o únic projeto estratégico do MinC que acabou o ano sem evoluir. Na posse,
Ana de Hollanda destacou os Pontos de Cultura e as Praças do PAC, destinadas a
atividades esportivas e culturais.
Os
Pontos de Cultura sofreram em 2011. Houve atrasos de mais de seis meses no
reembolso aos gestores. Dois editais foram cancelados. A secretária responsável
pelo projeto, sob fogo de críticos, pediu demissão em setembro.
"Em
2010 as coisas estavam ruins, mas o retrocesso aumentou com a entrada da Marta
Porto. Tivemos apenas um encontro. E ela não respondeu a nossas demandas",
afirma Geo Britto, da Comissão Nacional de Pontos de Cultura.
Secretário-executivo
da pasta, Vitor Ortiz afirma que "nenhum cancelamento [de edital ou convênio]
foi determinado por questão política", e sim "por falha
processual".
As
Praças do PAC, que críticos chamam de "Praças do Crack" -pois
poderiam acabar abandonadas-, tiveram R$ 164,8 milhões empenhados num orçamento
autorizado de R$ 227 milhões. Nada foi pago em 2011, segundo informações do
Siga Brasil.
Nenhuma
obra foi iniciada. De acordo com Ortiz, as unidades estão em fase de
contratação. "A meta são 388 praças concluídas até dezembro."
A
marcha também é lenta para a reforma da Lei de Direitos Autorais. Em 2011, Ana
reabriu a consulta pública já encerrada na gestão anterior.
Esperava-se
que a nova lei previsse um órgão de controle do Ecad (Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição). Mas o texto entregue à Casa Civil traz um órgão enfraquecido,
o que desagradou a governo e classe artística.
Em 2011, um grupo de artistas (Ivan Lins e Fernanda
Abreu entre eles) pediu ao Ministério da Justiça que a reforma dos direitos
autorais vire responsabilidade da pasta.
O
músico Sérgio Ricardo diz que a falta de maior fiscalização do Ecad o leva à
conclusão de que "o padrasto deste filho abandonado não seria Cultura, mas
Justiça".
Para
a compositora Cristina Saraiva, não é birra com a gestão atual. "Justiça
tem peso maior e está menos sujeita a interesses diversos."
Haverá
reuniões "para esclarecimento de proposições inovadoras constantes do
anteprojeto" antes de enviá-lo ao Congresso, segundo o MinC.
O
ProCultura, mecanismo de incentivo fiscal substituto à Lei Rouanet, também
avança a passo de tartaruga. O projeto está parado na mesma comissão da Câmara
há um ano.
De
1991, a lei é criticada até por dirigentes do MinC. "Da forma que está
hoje, [a lei] não cabe mais", afirma o secretário Henilton Parente.
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Haddad reconhece falhas no ensino médio
Ministro
deixa cargo amanhã e diz que número de matrícula de jovens é insuficiente FOLHA SP 23/01
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Prestes
a deixar o governo para disputar a Prefeitura de SP, o ministro Fernando Haddad
(Educação) reconhece que não conseguiu avançar como queria no ensino na área
rural e no acesso de jovens ao ensino médio.
Após
quase sete anos à frente do MEC, ele passa amanhã seu cargo ao também petista
Aloizio Mercadante.
Haddad
diz que os problemas no Enem desde 2009 foram "pontuais". Em relação
à qualidade de ensino -no ensino médio, 29% dos estudantes têm o conhecimento
esperado em português -, Haddad diz que antes havia uma tendência de piora.
"Algo
que gostaria de ter feito mais seria na educação no campo, a pescadores,
quilombolas, indígenas e população ribeirinha", disse à Folha na semana
passada.
São
nessas populações que persiste, em grande parte, o analfabetismo, hoje em 9%,
segundo o IBGE -a meta era zerar o percentual.
O
ministro reconheceu ser insuficiente o número de matrículas no ensino médio
-menos da metade das pessoas com 19 anos terminaram o antigo colegial. "A
partir dos 15 anos, a matrícula não é obrigatória. A obrigatoriedade só entra
em vigor em 2016. A prioridade desse jovem é o mercado de trabalho."
De
pontos positivos da gestão, o ministro citou a entrega de 126 campi
universitários federais, 214 escolas técnicas, 552 polos de educação a
distância e melhora no Ideb (indicador de qualidade do ensino básico).
Apontou
também o aumento das matrículas no ensino superior, de 3 milhões para 6,5
milhões, ainda que a maior parte tenha sido na rede privada, por meio do ProUni
(bolsas a alunos carentes) e Fies (financiamento estudantil).
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Câmara
Deputado
baiano quer cota para parlamentares negros FOLHA SP 23/01
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São
Paulo - Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do deputado federal Luiz
Alberto (PT-BA) prevê a reserva legal de vagas na Câmara dos Deputados, nas
assembleias legislativas e na Câmara Legislativa do Distrito Federal para
parlamentares da raça negra. As informações são da Agência Câmara .
Segundo
a polêmica proposta do deputado baiano, o número de vagas seria definido com
base no percentual de pessoas que tenham se declarado negras ou pardas no
último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse
número não poderá ser menor que um quinto do total das vagas no Parlamento ou
maior que a metade das vagas disponíveis nas Casas.
A
proposta prevê ainda a prorrogação da reserva por mais pelo menos cinco
legislaturas, por intermédio da aprovação de uma lei complementar.
"Para
ter uma ideia do impacto disso, hoje nós temos cerca de 30 deputados negros na
Casa. Com essa proposta, iriam para aproximadamente 150. Evidentemente que os
partidos teriam interesse em disputar essas vagas. Não tenho nenhuma ilusão de
que é fácil aprovar essa proposta, mas queremos fazer o debate público, com os
movimentos sociais, com a sociedade, para que isso repercuta no Parlamento e
possamos aprovar essa proposta de emenda", disse o petista Luiz Alberto.
A
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara vai analisar a
admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição. Caso aprovada, uma
comissão especial será criada para avaliar a proposta do baiano. Depois, o
texto precisará ser votado em dois turnos pelos deputados federais no plenário
da Câmara dos Deputados.
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