sábado, 28 de janeiro de 2012
Retirada de famílias do Pinheirinho ignorou ação
social
A
reintegração de posse da favela Pinheirinho, em São José dos Campos, ocorreu
sem propostas sociais concretas para as milhares de pessoas que viviam na
invasão. Folha SP 25.01
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Homem
é agredido por PM após reintegração
Defensoria
entra com ação por abrigo a famílias do Pinheirinho
Homem
é agredido por PM após reintegração no Pinheirinho
Ato
vai protestar contra ações no Pinheirinho e na cracolândia
Governo
avalia inclusão de famílias no Minha Casa, Minha Vida
Em
oito anos de ocupação da área no interior paulista, os governos federal,
estadual e municipal não se posicionaram em favor da desapropriação da área e
não apresentaram programas habitacionais específicos para as família invasoras.
Ontem,
porém, as três esferas de governo apresentaram novas medidas. A União diz
querer implementar o programa Minha Casa, Minha Vida; o Estado, por sua vez,
ofereceu aluguel social.
Anteontem,
o prefeito Eduardo Cury (PSDB) disse que a prioridade é dar atendimento social
a curto prazo, com abrigos, vagas em creches e assistência médica.
Eduardo
Anizelli/Folhapress
Ex-moradora
do Pinheirinho, Ana Paula da Conceição, 23, se desespera ao ver que a casa onde
morava foi demolida
Esse
atendimento é precário, segundo a Defensoria Pública do Estado. Ela diz que
encontrou pessoas abrigadas em quadras próximas a viveiros de pombos e fezes de
animais. Alguns sem-teto, optaram por ficar numa igreja.
Segundo
a prefeitura, 70 famílias que moravam no Pinheirinho se cadastraram em
programas habitacionais em parceria com o Estado.
O
governo não soube informar quantas dessas famílias foram beneficiadas.
Somente
no início deste ano, quando a reintegração já havia sido determinada, um
protocolo de intenções foi assinado pelo prefeito, pelo secretário estadual da
Habitação, Silvio Torres, e pela secretária nacional de Habitação, Inês
Magalhães. O protocolo foi, no entanto, recusado pela Justiça, por falta de
ações concretas.
Ontem,
alguns ex-moradores da invasão disseram que suas casas foram demolidas antes
que eles pudessem pegar seus pertences.
Ao
longo do dia, máquinas colocaram abaixo metade das mais de mil casas da
invasão.
NOVAS
MEDIDAS
O
prefeito disse que não está, por ora, focado na montagem de programa habitacional
para os moradores.
Segundo
ele, o passo inicial é fazer uma triagem, por meio de assistentes sociais, para
detectar as "necessidades reais" dos moradores, que podem incluir
apenas a inscrição em programas sociais de transferência de renda, para que as
pessoas consigam pagar aluguel ou financiar o seu imóvel.
De
acordo com Cury, a cidade tem hoje cerca de 11 mil famílias inscritas em
programas habitacionais à espera de uma casa. Ainda segundo ele, o município
tem construído, em média, cerca de mil imóveis para as famílias de renda
baixíssima.
Cury
afirma que as famílias do Pinheirinho não poderão passar à frente das demais
inscritas no cadastro, a não ser que haja programa específico para isso.
O
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou ontem que as famílias
retiradas receberão até R$ 500 mensais para que aluguem casas, até que moradias
previstas pelo governo sejam construídas --950 famílias estão cadastradas.
Em
nota, o Ministério das Cidades informou que a União se comprometeu com parte
dos recursos e o Estado com os custos de elaboração dos projetos e
alternativas.
Segundo
o ministério "não houve retorno por parte do poder municipal" sobre
ações para as famílias. A pasta diz que aguarda um posicionamento do prefeito
para a criação do programa Minha Casa, Minha Vida na cidade.
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Interatividade
O
público é quem vai escolher a capa do novo CD de Zeca Baleiro (foto), O disco
do ano, que sai em março. O cantor e compositor colocará três opções no hotsite
www.zecabaleiro.com.br para que os fãs digam qual preferem. A votação começa na
próxima segunda, quando a página entra no ar. Depois de um tempo editando
discos pelo próprio selo, Saravá, o artista maranhense lança o nono de inéditas
pela Som Livre. CORREIO 28.01
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Corrupção e ineficiência sistêmica
Advogado,
é presidente do Instituto Internacional de Estudos de Direito do Estado CORREIO
28.01
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No
mundo globalizado há uma preocupação crescente da sociedade com relação à
corrupção. Daí porque existem organismos internacionais que se dedicam a medir
essa patologia por meio de critérios que dependem de formadores de opinião,
como é o caso da Transparência Internacional, do Banco Mundial, do Fundo
Monetário Internacional (FMI) e da Organização das Nações Unidas (ONU).
Trata-se de fenômeno até agora muito difícil de medir e os critérios adotados
podem, inclusive, ser questionados exatamente pelos que formam a opinião.
Pode
ocorrer o paradoxo, por exemplo, de a mídia expor mais intensamente pautas de
escândalos públicos, gerando a impressão de que eles aumentaram, quando, na
realidade, pode ter aumentado, isso sim, a intensidade dos holofotes sobre as
práticas não republicanas. Também pode ocorrer que a exposição pública tenha
relação estreita com aumento significativo das práticas desonestas no setor
público. Não há critérios suficientes para essa medição científica, na falta de
uma agência independente e autônoma para essas estatísticas, que não têm sido
um foco central de outras instituições.
Para
medir o problema, há uma primeira dificuldade: definir conceitualmente
corrupção e criar prioridades e critérios para diferenciá-la de ilegalidades.
Para muitas das instituições internacionais, por um prisma sociológico, o
conceito abarca simplesmente o uso de poderes públicos para alcançar fins
privados. Tal espécie de simplificação traz consigo o risco de misturar
práticas muito diversas entre si, tais como qualquer tipo de aparente
favorecimento indevido no setor público, o desvio de poder, o desvio de
finalidade, a violação às regras de competência e até mesmo uma enorme gama de
ilegalidades tratando de conflitos de interesses explícitos ou implícitos. Ou
seja, nesse amplo conceito, é possível mesclar situações extremamente distintas
e produzir perplexidades insuperáveis. É o que vem ocorrendo, aparentemente,
não raro, com a incidência da Lei 8.429/92, que busca combater improbidade
administrativa.
No
entanto, há outro fenômeno, que diz respeito muito mais de perto a países em
desenvolvimento, ligado indiretamente a práticas de enriquecimento ilícito no
setor público, que talvez mereça, cada vez mais, uma atenção intensa das
autoridades públicas e da própria opinião pública. Sabe-se que esse fenômeno,
por si só, é causa de prejuízos imensos à sociedade e aos cofres públicos,
talvez muito maiores do que os derivados das práticas definidas como corruptas.
Trata-se da ineficiência endêmica ou sistêmica.
A
desorganização institucionalizada, sistematizada, endêmica deve ser objeto de
atenção dos órgãos públicos e fiscalizadores porque envolve práticas de
desperdício profundo dos recursos públicos. Ademais, cria ambientes férteis
para práticas desonestas e falta de controles internos ou externos, ausência de
transparência e pouca efetividade dos mecanismos de contenção e prevenção. Não
há dúvidas de que se trata de uma agenda extremamente importante.
Não
se pode aceitar que qualquer setor fique imune a regras de transparência e
controles internos e externos adequados. Imperioso fomentar níveis adequados de
monitoramento dos resultados e dos desvios. O setor público não pode,
evidentemente, constituir uma agenda instrumentalizada em favor de interesses
subalternos, mas essa percepção deve adentrar as estruturas institucionais.
Isso não significa ficar refratário à agenda da iniciativa privada: ao
contrário, os interesses podem e devem ser convergentes, interesses públicos,
privados, gerais, coletivos, difusos, na medida do possível e do ponderável.
Repare-se
no caso das agências reguladoras. Sua eficácia, operacionalidade e atuação
dependem, em última análise, de orçamentos adequados, independência das
autoridades, mandatos autônomos e longevos o suficiente para assegurar-lhes
distanciamento em relação ao poder político e econômico, distanciamento que não
signifique isolamento da burocracia. O mesmo se diga dos tribunais
administrativos de uma nação: dependem de mandatos longevos, critérios
adequados para escolha dos membros e controles técnicos nas nomeações, além de
toda uma agenda de compromissos com transparência e produtividade. Pode-se
medir o grau de desenvolvimento de um país pelas estruturas institucionais
vigentes.
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RUY CASTRO
Prazeres
da "melhor idade" FOLHA 28.01
-
RIO
DE JANEIRO - A voz em Congonhas anunciou: "Clientes com necessidades
especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão tal
terão preferência etc.". Num rápido exercício intelectual, concluí que,
não tendo necessidades especiais, nem sendo criança de colo, gestante ou
portador do dito cartão, só me restava a "melhor idade" -algo entre
os 60 anos e a morte.
Para
os que ainda não chegaram a ela, "melhor idade" é quando você pensa
duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém
estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora
da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de
correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo
do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica.
Privilégios
da "melhor idade" são o ressecamento da pele, a osteoporose, as
placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano,
a falência dos neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar, a queda
de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós, da
"melhor idade", estamos com tudo, e os demais podem ir lamber sabão.
Outra
característica da "melhor idade" é a disponibilidade de seus membros
para tomar as montanhas de Rivotril, Lexotan e Frontal que seus médicos lhes
receitam e depois não conseguem retirar.
Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo
no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca, o
rapaz perguntou: "Voltando da farra, Ruy?". Respondi, eufórico:
"Que nada! Estou voltando da farmácia!". E esta, de fato, é uma
grande vantagem da "melhor idade": você extrai prazer de qualquer
lugar a que ainda consiga ir.
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HÉLIO SCHWARTSMAN
Operação desastrosa
SÃO
PAULO - A julgar pelos resultados, a operação policial no Pinheirinho foi
desastrosa: algumas pessoas saíram machucadas, famílias ficaram sem ter onde
morar e o "imbróglio" judicial em torno da massa falida da Selecta
não ficou mais perto do fim. FOLHA 28.01
Boa
parte das consequências era previsível antes de o juiz assinar a reintegração
de posse e a polícia executá-la. A pergunta é: por que tanta gente participou
de uma ação da qual claramente resultaria mais mal do que bem? Respondê-la é
tarefa para os novos cientistas do mal, pesquisadores como Roy Baumeister, que
se dedicam a estudar como a violência brota e se espalha pela sociedade.
Entre
várias descobertas e "insights" valiosos, Baumeister mostra que um
modo eficaz de arrebanhar perpetradores para ações cruéis é dividir a
responsabilidade, de preferência entre muitos atores, incluindo figuras de
autoridade. A psicologia de grupo ensina que, nessas situações, poucos ousarão
levantar a voz para denunciar a imoralidade e, como ninguém se sentirá
pessoalmente responsável, não deverá opor muita resistência em tomar parte no
processo.
Uma
receita quase infalível é a preconizada pelo sistema: um juiz defere a
reintegração e não tem mais nada a ver com isso; o governador manda a polícia
cumprir a determinação judicial e sai de cena; o comandante ordena à tropa que
aja, e os soldados, que têm juízo, obedecem. Ninguém é responsável sozinho e, por
isso, fica fácil espancar uns pobres diabos e pôr famílias no olho da rua.
Muitas vezes, essa divisão do trabalho e das
responsabilidades funciona para o bem, mas nem sempre. Se a ideia é fazer
justiça e não só cumprir leis, juízes talvez devessem visitar as áreas a ser
reintegradas e conversar com os moradores antes de assinar despachos. Os
americanos chamam isso de "igual consideração de interesses", um
princípio moral que alguns filósofos consideram tão ou mais importante que a
própria noção de direitos.
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