quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Jornais do Irã festejam Globo de Ouro
Contrariando
hostilidade habitual a Hollywood, mídia oficial comenta prêmio dado pelos EUA
para 'A Separação'. Diretor teve
licença para filmar anulada por duas semanas ao defender cineastas reprimidos
pelo governo iraniano. folha
sp 18.01
-
Do
ódio à resignação. Autoridades do Irã engoliram a hostilidade a Hollywood e
festejaram a conquista, no domingo, do Globo de Ouro de melhor filme em língua
estrangeira para o longa "A Separação", de Asghar Farhadi.
O
Ministério da Cultura e Orientação Islâmica, responsável pela censura imposta a
filmes e artistas americanos há 33 anos, parabenizou Far- hadi por ter
"vencido preconceitos anti-iranianos".
"Sábias
avaliações ergueram este filme ao pódio dos eleitos", disse o
vice-ministro Javad Shamaghdari.
Tom
semelhante foi usado por boa parte da mídia estatal.
O
jornal conservador pró-regime "Ettelaat" disse que a entrega do
prêmio pela cantora Madonna -cujas músicas e fotos são banidas no Irã- foi de
"tirar o fôlego".
Segundo
o jornal, Madonna "parecia feliz por ter sido honrada com a
responsabilidade de conceder o prêmio".
Farhadi
evitou apertar a mão da cantora para não se expor a críticas domésticas, já que
a lei iraniana proíbe contato físico entre homens e mulheres não casados.
Outro
jornal governista, "Iran", disse que o Globo de Ouro sela "mais
uma brilhante conquista" para Farhadi.
O
site da agência de notícias Irna, ligado ao presidente Mahmoud Ahmadinejad,
traz extensa lista de prêmios conquistados pelo longa, inclusive o de melhor
filme de 2011 concedido pelo "Wall Street Journal", publicação tida
como "sionista".
Mas
a reação ufanista e elogiosa não foi unânime.
Porta-voz
do Ministério das Relações Exteriores criticou o fato de "A
Separação" ter como tema central "a pobreza e as dificuldades
enfrentadas pela população".
"Nossos
artistas não deveriam ignorar os muitos aspectos positivos de nossa nação [nem]
ilustrar o tipo de realidade que os organizadores de festivais gostam de
ver."
Apesar
de abordar temas tabus como a relação entre homens e mulheres, a modernidade e
o sistema jurídico arcaico, o filme recebeu aval das autoridades para ser
rodado no Irã, onde teve sucesso.
Não
está claro se o filme foi autorizado porque a censura fez vista grossa ou
porque o governo não detectou o teor político implícito.
Mas
o fato de uma das principais cerimônias cinematográficas norte-americanas
merecer atenção e elogios do regime por si só é uma reviravolta no Irã.
O
governo iraniano abomina Hollywood, que considera um lugar dominado por lobbies
pró-Israel e onde o islã é sempre o vilão.
Uma
das razões que motivaram o recente fechamento da Casa do Cinema, epicentro da
vida cinematográfica de Teerã, foi o convite a uma delegação da Academia de
Cinema dos EUA, que visitou o Irã em fevereiro de 2009.
Diretores
da casa foram convocados a se explicar diante de parlamentares furiosos com o
que viam como concessão aos inimigos.
A
situação se agravou meses depois, quando diretores e atores apoiaram protestos
devidos à reeleição de Ahmadinejad. Muitos foram presos, entre eles Jafar
Panahi.
O
próprio Farhadi teve sua licença para filmar "A Separação" cassada
durante duas semanas, em 2010, por ter defendido cineastas alvos da repressão
do governo.
Farhadi
recuperou a permissão depois de se retratar.
REAÇÃO
POPULAR
Entre
a população iraniana, a obra gerou reações contraditórias. Uns adoraram e se
sentiram orgulhosos com a conquista, vista inclusive como vitória diplomática.
Mas há quem critique o filme por trair o estilo
iraniano. "É uma obra com técnica ocidental e voltada para o público
ocidental, não tem o brilho dos outros filmes de Farhadi", diz a estudante
Y.H., 26.
>>>
JORNALISTA Washington Novaes
Receitas
para grandes cidades
Será
que leis conseguirão resolver os gravíssimos problemas que hoje assoberbam
nossas grandes cidades - trânsito, segurança, poluição do ar, lixo etc.? Se
olharmos a pletora de leis já existentes e não cumpridas, a tendência será de
responder não; se olharmos para nossas esperanças e desejos, assim como para a
inviabilidade de outros caminhos já experimentados, provavelmente se responderá
que sim. O POPULAR 19/01
-
Neste
início de ano, entram em cena, em âmbito nacional ou de grandes cidades, várias
leis que tentam enfrentar aqueles dramas. A começar pela Lei da Política
Nacional de Mobilidade Urbana (12587/2012), que vigorará a partir de maio, e
que pretende "integrar, melhorar, tornar mais acessíveis, os modos de
transporte de cargas e pessoas". Ela reconhece os direitos de usuários de
transporte, de serem informados nos pontos de embarque e desembarque, a
respeito de itinerários, horários, transferências, interação com outros modos
de transporte, tarifas. Funcionará, tendo em vista as notórias deficiências de
estrutura e pessoal do poder público e das concessionárias de transportes?
Também permite essa lei que se estabeleçam restrições, como o rodízio de
veículos (que já existe em São Paulo); criação de espaços exclusivos para
veículos de transporte público; criação de subsídios para tarifas; reduzir os
níveis de poluição admitidos (e proibição de trânsito de veículos em áreas mais
problemáticas). Dará certo? Se der, também beneficiará um terço das populações
de grandes cidades que se desloca apenas a pé, assim como idosos, deficientes,
crianças.
Neste
mês, entra em vigor ainda a disposição que torna obrigatório, em todo o País, o
fornecimento apenas de diesel S50, em lugar do S500 e do S800, pelo menos dez
vezes mais poluentes e com 80% mais de material particulado e 98% mais de óxido
nitroso. Só caminhões usuários são 2,3 milhões no País - e este ano entram em
circulação mais 170 mil. No Rio de Janeiro, também a partir deste mês, serão
reprovados pelo Detran veículos que não respeitem os limites de poluição
fixados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (só em 2011, na vistoria, 400
mil estavam fora dos limites, numa cidade que tem 5 milhões em circulação).
Não
é só na área do trânsito e transporte que vêm inovações. Está para ser votada
no Senado resolução que já passou por comissões e que obriga os municípios a
implantar redes subterrâneas de serviços (energia, telefone, saneamento) antes
de pavimentar qualquer via - algo que já deveria acontecer há décadas. E na cidade
de São Paulo está entrando em vigor a "lei das calçadas", que dá 15
dias de prazo para proprietários ou locatários de imóveis multados consertarem
calçadas esburacadas diante dessas construções; quem não cumprir, receberá
multa de 300 reais por metro linear da frente da construção. Também aumenta de
90 para 120 centímetros a faixa para pedestres nas calçadas a ser mantida livre
de postes, lixeiras ou árvores e cria multa de 4 reais por metro quadrado para
quem mantiver suja a calçada.
Outro
avanço possível: adotar legislação como a da cidade de São Paulo (Lei da Cidade
Limpa), que permitiu retirar quase 600 mil pontos públicos de propaganda e
limitou a 43 mil os pontos de exibição autorizados (R$ 50 milhões em multas já
foram aplicados). Um descanso para a vista dos moradores, nessa área que
registra uma das queixas mais frequentes (outras: barulho, trânsito, poluição,
enchentes) nas pesquisas feitas ali, que mostram cerca de 50% dos moradores
manifestando o desejo de mudar-se para outra cidade. Não espanta, numa cidade
que tem 2.627 favelas e 25% da população (entre 3 e 4 milhões de pessoas)
vivendo em áreas de risco, precárias ou irregulares ( O Estado de S. Paulo ,
28/11/11).
Em
um levantamento feito pela Rede C40 e publicado pelo mesmo jornal (1/6/11),
foram apontadas muitas soluções encontradas em grandes cidades. Londres e
Estocolmo já cobram pedágio nas áreas de maior trânsito; e com isso reduziram
em até 50% a circulação de veículos nesses pontos, o que permitiu aumentar em
50% a velocidade dos coletivos. A capital sueca também mantém 700 quilômetros
de ciclovias. Amsterdã incentiva o uso de carros elétricos, menos poluidores,
mantendo uma rede de cem pontos onde a recarga de energia é gratuita. Chicago
passou a economizar 85% do consumo em 2,9 mil semáforos, trocando por LED o
sistema de energia. Los Angeles permite que os cidadãos optem por energia
eólica (não poluidora na geração), a um custo muito menor.
Todos
os estudos sobre a problemática urbana indicam a necessidade de
macroplanejamentos para as grandes cidades - que integrem as soluções para toda
a área - e, ao mesmo tempo, a necessidade de descentralizar a execução de tudo,
de modo que os administradores estejam próximos dos problemas a resolver. Que
são imensos. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o
prejuízo médio das grandes cidades no mundo é de 3% de seu produto bruto a cada
ano. Para reduzi-lo, diz o Pnuma, é preciso conceber cidades mais compactas, em
que seja menor a distância a percorrer pelos meios de transporte e as pessoas
tenham suas casas mais próximas dos locais de trabalho (na cidade de São Paulo
já há avenidas, como a Faria Lima e a Santo Amaro, em que até de madrugada a
velocidade no trânsito - 7 quilômetros por hora - é igual à de outras grandes
avenidas nas horas de rush, de manhã e à tarde).
Sempre
é possível aprender e mudar. Sem perder a esperança, mesmo em tempos tão
confusos como os de hoje. Mas relembrando a frase de um antropólogo basco:
"A grande cidade começa por nos roubar o essencial: o ruído dos nossos
próprios passos e a visão da sombra do nosso corpo."
Washington
Novaes é jornalista
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Educação
impõe virada de página. CORREIO 19/01
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Em
uma década, o Brasil dobrou o número de alunos matriculados em cursos
superiores. Mas o contingente atual, de 6,4 milhões, ainda representa apenas
15% da população com idade entre 18 e 24 anos. As evidências são de que urge
acelerar o aumento da escolaridade. E não há tempo a perder: em três anos, o
país deverá alcançar o posto de quinta potência econômica mundial — chegar lá
com nível educacional tão atrasado será, mais do que vergonhoso, comprometedor
para a sustentabilidade do desenvolvimento nacional.
O
avanço dos últimos anos se deveu à mudança de enfoque na política de governo,
com a educação passando a ser vista como eficaz meio de crescimento, e também à
melhoria de vida das pessoas. Superadas décadas de crise, com estagnação,
hiperinflação e altas taxas de desemprego, o cidadão não só foi às compras:
para melhorar a renda, investiu no próprio aprendizado, suprindo parte da
deficiência do Estado. O resultado do dever de casa cumprido é promissor.
Estudo da Fundação Getulio Vargas mostra que, a cada ano de estudo adquirido, o
brasileiro engorda o salário em cerca de 15%.
A
equação igualmente vale para o Produto Interno Bruto, soma das riquezas
produzidas no país. O PIB cresce até 7% a cada ano de escolaridade somado pela
população, graças à ascensão social e à melhoria das condições de investimento,
inclusive em novas tecnologias. A questão é que tantas vantagens ainda são
insuficientes para motivar as autoridades a promover a revolução educacional
necessária. Lançado no ano passado, o Plano Nacional de Educação (PNE) é
desanimadoramente tímido: prevê chegar a 2020 com pouco mais de um terço (33%)
dos jovens de 18 a 24 anos na faculdade.
Pior
que a realidade quantitativa é a qualitativa. Levantamento da Universidade da
Pensilvânia, nos EUA, equipara a produtividade do nosso trabalhador à que os
japoneses tinham em 1964, perto de meio século atrás. A tragédia é simples de
entender: 90% dos estudantes brasileiros não têm conhecimentos mínimos de
matemática e a 62% falta habilidade para ler textos longos. Com a crise lá fora
e a proximidade do pleno emprego aqui dentro, a atração de mão de obra, ou
seja, a concorrência estrangeira no mercado de trabalho, passa a ser risco
extra para o brasileiro. A conjuntura já leva o setor privado a investir em
qualificação, mas mesmo esse esforço é incipiente.
Desde domingo, o panorama crítico da educação
nacional vem sendo rigorosamente traçado nas páginas do Correio. A série de
reportagens chega hoje ao fim, compondo o complexo retrato do desafio imposto
ao país. Até cumprir a exigência do Ministério da Educação (MEC) de que
universidades e centros universitários tenham pelo menos um terço do quadro de
professores formado por mestres ou doutores está difícil de atender. Afinal, só
temos 1,4 doutor para cada mil habitantes, ao passo que mais de 60% da
população estão enquadrados na categoria de analfabetos funcionais. Para
completar, a sexta maior economia do planeta é a 47ª em inovação. Ou viramos
essa página, ou seremos nós a ficar para trás.
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CARNAVAL »
Folia de Momo fica em Ceilândia
A
decisão encerra a controvérsia entre dirigentes. Parte desejava a festa no
Plano Piloto. Outro grupo defendia o atual local, prestigiado por cerca de 60
mil pessoas por dia
Ceilambódromo:
escolas de samba aguardam a liberação de R$ 2,5 milhões ainda esta semana
Os
rumores de que o carnaval brasiliense voltaria a ser realizado no Plano Piloto
após sete anos em Ceilândia chegaram ao fim. Após várias reuniões ao longo da
semana, o governador Agnelo Queiroz bateu o martelo e confirmou que a festa
popular permanecerá no Ceilambódromo, pelo menos neste ano. O projeto do
sambódromo, de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, está em análise na
Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e na Secretaria de Obras e
depende de aprovação da Secretaria de Habitação, Regularização e
Desenvolvimento Urbano (Sedhab). No total, serão investidos R$ 11,9 milhões,
cerca de R$ 2 milhões a mais que no ano anterior.
De
acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Cultura, a decisão se
baseou em uma reunião realizada no fim de 2011 com as escolas de samba. Na
ocasião, ficou definido que, caso não houvesse um local definitivo para o
carnaval, a festa permaneceria em Ceilândia, o que já ocorre desde 2005. Este
ano, serão investidos R$ 11,9 milhões. Para os blocos e as escolas de samba
serão destinados R$ 5 milhões. O apoio aos blocos tradicionais custará em R$
1,4 milhão ao governo. A contratação de artistas consumirá R$ 1 milhão. Embora
o GDF tenha reservado R$ 4,5 milhões para a instalação da estrutura do
Ceilambódromo, o gasto efetivo poderá ser menor, por se tratar de processo de
licitação. A obra fica com a empresa que garantir o menor preço. Ano passado,
foram gastos R$ 4,1 milhões.
Expectativa
Apesar
da indecisão inicial sobre o local da festa, Geomar Leite, presidente da União
das Escolas de Samba e Blocos de Enredo de Brasília (Uniesbe), espera um grande
carnaval este ano. “As escolas estão trabalhando desde agosto de 2011. Elas
estão preparadas, com os enredos e figurinos prontos.” O único problema,
segundo ele, é o atraso na liberação da verba. “Metade dos R$ 5 milhões já
deveria ter sido repassada na última semana. Se não for paga até amanhã (hoje),
complica a realização do carnaval da maneira que queremos”, alertou. Segundo a
Secretaria de Cultura, o atraso ocorreu devido à demora na entrega dos
documentos por parte de algumas escolas. Mas os 50% devem ser liberados até o
fim desta semana. A estimativa do governo é que o restante seja repassado da
seguinte forma: 40% até cinco dias antes da festa e 10% após a prestação de
contas.
A
mudança para um local permanente é um desejo dos carnavalescos. Em 2005, o
arquiteto Oscar Niemeyer divulgou o projeto do sambódromo brasiliense — uma
estrutura semelhante ao da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Em 2006, o
então governador Joaquim Roriz sancionou a lei que autorizava o projeto, mas
ele nunca saiu do papel. Conforme a assessoria da Secretaria de Obras, o
projeto precisa passar pelo crivo da Sedhab, que vai adaptá-lo à área definida
para a obra, que não tem data para começar. O local, além de sediar o carnaval,
prevê a realização de outros grandes eventos, como shows e festas.
Impasse
A
decisão de manter o carnaval em Ceilândia não é consenso entre os dirigentes
das escolas de samba do DF. O presidente da Associação Recreativa Unidos do
Cruzeiro (Aruc), Moacyr Oliveira, é contra a decisão. “É lamentável, contraria
a lógica e o bom senso, não pensa no bem do carnaval de Brasília. Essa é uma
festa do povo e, a exemplo de outras festas, como o réveillon e o Sete de
Setembro, deveser realizada no centro do DF para que o acesso seja igual para
todos”, reclamou. “Isso vai contra o carnaval de Brasília, é triste.”
O presidente da Águia Imperial de Ceilândia,
Roniery Rezende, afirmou que a transferência da festa para o Plano Piloto seria
um retrocesso. “Para a nossa escola, não influiria muito, mas para o carnaval
em si seria ruim. Lá (Plano Piloto), o público é de cerca de 8 mil pessoas e em
Ceilândia, 60 mil. Já tínhamos uma noção de que permaneceria em Ceilândia. O
carnaval é público e esse público é em Ceilândia”, afirmou.
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Rio+20 pode ser o maior evento da história da ONU. Logística
da Rio+20 prevê evento inédito na história da ONU. Valor
Econômico - 19/01/2012
-
"Durante
dez dias, o Rio será o umbigo do mundo", diz o diplomata Laudemar Aguiar,
responsável por toda a logística da Conferência das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. O governo brasileiro quer que o evento,
em junho, seja a maior conferência da história da ONU, superando a Cúpula de
Copenhague, de 2009, em número de participantes. Aguiar prevê a presença de 150
chefes de Estado e um total de 50 mil visitantes, entre diplomatas,
jornalistas, empresários, políticos e militantes ambientais
"É
preciso que se entenda que durante dez dias o Rio de Janeiro será a ONU",
diz o diplomata Laudemar Aguiar, 50 anos, fluminense de Niterói e responsável
por toda a logística do que o governo brasileiro quer que seja "a maior
conferência da história das Nações Unidas". Ele trabalha com grandes
números: 150 chefes de Estado e de governo e 50 mil diplomatas, jornalistas,
empresários, políticos e mais gente cadastrada a circular pelo Riocentro, onde
acontecerá a cúpula da ONU, em junho. E mais dezenas de milhares de pessoas -
um número ainda mais difícil de estimar -, que irão aos eventos programados
pela sociedade civil no Aterro do Flamengo, no Centro e na Barra da Tijuca.
"O Rio será o umbigo do mundo", celebra.
Mas,
para o superlativo dessa megaoperação se confirmar, não depende da vontade do
governo. O conteúdo da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável (o nome formal da Rio+20), determina seu papel político e a
importância dos líderes que virão. Na famosa conferência do clima de
Copenhague, em dezembro de 2009, foram 47 mil inscritos e 120 líderes - 40
deles confirmaram presença apenas dois dias antes do evento, quando o
presidente Barack Obama finalmente disse que ia. Mas Copenhague não deu lá
muito resultado, e o evento seguinte, em Cancún, no México, se ressentiu -
foram 20 mil credenciados e apenas 22 líderes mundiais.
A
Rio+20 faz parte de outra família de conferências da ONU, a que discute como o
planeta quer se desenvolver, iniciada há 20 anos com a Eco 92 (ou Rio 92), e
que teve outra edição de peso em Johannesburgo, na África do Sul, há 10 anos.
Será um debate importante sobre desenvolvimento sustentável com sua vertente
econômica, ambiental e social, tendo como pano de fundo a redução da pobreza e
a "economia verde", conceito que pressupõe o usode tecnologias
limpas. Mas não produzirá nenhuma Convenção, como a conferência-mãe, quando
surgiram os dois importantes acordos ambientais contemporâneos, a convenção do
clima e a da biodiversidade.
Na
Eco 92 vieram ao Rio 109 líderes e mais de 30 mil pessoas circularam no evento
oficial, que também foi no Riocentro. O conteúdo da Rio+20, bem mais modesto,
começa a ser discutido este mês, em Nova York. O nível de ambição do que será
obtido em junho, no Rio, depende das negociações até lá, dos rumos da campanha
eleitoral nos EUA e da crise econômica global.
O
trabalho de Laudemar Aguiar não pode esperar. "No dia 5 de junho temos que
entregar as chaves do Riocentro às Nações Unidas. Eles hasteiam a bandeira e
vira território da ONU. O Rio passa a ser Nova York", diz, fazendo
referência à sede das Nações Unidas.
O
desafio deste diplomata, que era ministro conselheiro da embaixada brasileira
em Paris até receber o convite para ser o responsável pela logística da Rio+20,
é organizar a festa sem saber quantos convidados virão - e nem se virão.
"Trabalhamos com estimativas históricas, mas sempre com margem de
acréscimo", diz. "O que não pode acontecer é nos prepararmos para
receber 10 e chegarem 20."
O
orçamento aprovado pelo Congresso para a conferência, em 15 de dezembro, é de
R$ 430 milhões. Deste, R$ 230 milhões irão para a segurança e R$ 190 milhões, à
logística. Os contratos de aluguel dos espaços somam R$ 30 milhões. "Tudo
será transparente, todos os gastos comprovados", diz Aguiar,
secretário-geral do Comitê Nacional de Organização da Rio+20. "Há enorme
interação", garante, salientando o trabalho em conjunto com a Prefeitura e
o Estado do Rio.
Uma
das marcas que a Rio+20 persegue é a de ser uma conferência com o "máximo
de participação possível da sociedade civil", diz Aguiar, repetindo o
mantra que vem sendo dito pelo alto escalão do governo. "Estamos
discutindo o que vai ser o planeta. O documento que sair da Rio+20 será
acertado entre governos, mas queremos que tenha o máximo de "inputs"
de todos os setores da sociedade."
O
desafio da logística é conseguir fazer com que o deslocamento no Rio seja o
melhor possível - estão em estudos vários planos de fluxo de trânsito -
reduzindo a distância do Riocentro, na Barra da Tijuca, com o resto da cidade.
Também por isso, inicialmente, a conferência iria ser na região do porto. Tudo -
evento oficial e todos os paralelos - seriam concentrados ali. A iniciativa
iria exigir uma grande obra de revitalização da área, legado que ficaria para a
cidade. As docas eram, por este motivo, a opção da Prefeitura. Mas não deu
certo. "Por diversas razões, logística, segurança, infraestrutura e também
custos", explica Aguiar. "Ao passar para o Riocentro digo que
trocamos dez problemas por um: o grande problema da Barra é o acesso. Vamos
fazer um trabalho muito grande em relação ao transporte", promete.
Uma
das grandes diferenças da Rio+20 com a Eco 92 é a prioridade que os chamados
"major groups" têm hoje em relação há 20 anos. O conceito, em voga
nas Nações Unidas, reúne nove segmentos da sociedade civil - empresas, crianças
e jovens, produtores agrícolas, comunidades indígenas, governos locais, ONGs,
cientistas, mulheres, trabalhadores e sindicatos - e é intenção do governo
aproximá-los o máximo das decisões da conferência. Na edição de 1992, os
governos reunidos no RioCentro, e a sociedade civil, no Aterro. Eram dois
mundos separados. A arquitetura proposta agora é diferente.
Segundo
ele, na Rio+20, "pela primeira vez em uma conferência das Nações Unidas, a
sociedade civil terá vários lugares diferentes para se reunir", adianta. A
sugestão é de oferecer, na Barra da Tijuca, o Parque dos Atletas (ex-Cidade do
Rock), para que governos nacionais e locais possam montar pavilhões e estandes.
O Autódromo de Jacarepaguá é uma grande área que está disponível para a
sociedade civil - grupos indígenas estudam montar ali grandes ocas e também
empresas avaliam se é o caso de usar parte dos 550 mil m2 do local. Está sendo
alugada a Arena da Barra (o HSBC Arena), um moderno ginásio coberto com
capacidade para 18 mil pessoas.
Áreas
no centro do Rio são a outra opção para os eventos da sociedade civil. Aguiar
cita a região ao redor do Museu de Arte Moderna (MAM) e do Monumento aos Mortos
da Segunda Guerra Mundial. O Vivo Rio, com capacidade para 2 mil pessoas, seria
outra área para seminários e reuniões. "Em 92 usou-se todo o Aterro, o que
não dá para fazer agora", diz, lembrando que a grama foi destruída. A
região, sem ocupar as áreas gramadas, é a área predileta das ONGs e dos
movimentos sociais. Aguiar diz que, se faltar espaço, a Quinta da Boa Vista
funcionará como uma espécie de "área back up".
Para
agilizar as contratações, a organização da Rio+20 fez uma força-tarefa com o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), das Nações Unidas. O
PNUD pode ir mais rápido nas contratações necessárias, agilizar contratos e
escolher fornecedores não só pelo critério do menor preço, mas considerar
outras variáveis, como qualidade, por exemplo. A licitação sobre a empresa que
cuidará da hospedagem e viagens das delegações oficiais foi decidida esta
semana. "Mas as pessoas terão que se hospedar também em cidades
próximas", estima Aguiar. A rede hoteleira carioca tem, no máximo, 33 mil
quartos, incluindo flats. Só de credenciados a previsão é chegar a 50 mil.
"Terão que se hospedar também na casa das pessoas", prevê.
A Rio+20 terá novidades de conectividade,
acessabilidade e sustentabilidade, promete Aguiar. "Teremos a menor
utilização de papel possível e o maior uso de novas tecnologias",
exemplifica. O metrô do Rio será o primeiro metrô com mais de dez anos totalmente
acessível. Geradores a biodiesel, copos de papel, coleta de lixo seletiva são
alguns dos critérios de sustentabilidade adotados.
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