sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

11º Encontro de Folias de Reis
“E por que folia, se folia tem o sentido de brincadeira de mau gosto, baderna, farra?”
Teremos, no próximo dia 29, o 11º Encontro de Folia de Reis, na Praça da Matriz de Campinas, em uma promoção da Secretaria Municipal de Cultura e Comissão Goiana de Folclore. Terão participações grupos de foliões de todo o Estado, não para competirem, mas para se apresentarem. O POPULAR  / GO   06/01/2012
-
O ano passado a homenagem foi para Estrela Guia e este ano, os presentes: Ouro, Incenso e Mirra. Já passaram de 80 grupos goianos registrados na secretaria. As prefeituras deverão proporcionar as viagens e aqui terão o farto café da manhã e o almoço calculado para 2 mil refeições.


Pinceladas rapidinhas sobre os reis magos - a Igreja não os reconhece como santos; estão citados apenas no Evangelho de São Matheus. Não foram reis, mas, sim, conselheiros, adivinhadores, mágicos, encantadores e conheciam astrologia. E há estudiosos que afirmam terem sido mulheres, os magos, e que foram 4 e 5, dando até os nomes. Tradicionalmente são apenas 3: Melchior, jovem; Gaspar, idoso; Baltazar, madurão. Da Pérsia a Belém o tempo consumido foi, segundo uns, de 13 dias, e outros, 33. Trouxeram, para presentear o Menino: ouro, que representa a riqueza; incenso, a divindade, e mirra, a longevidade. Os seus ossos estão guardados na Catedral de Colônia, Alemanha, em uma urna que pesa 300 quilos de ouro maciço. Dizem os astrólogos que a Estrela Guia era um cometa; os ufólogos, disco voador, e os espiritualistas, espírito de luz.

E por que folia, se folia tem o sentido de brincadeira de mau gosto, algazarra, anarquia, baderna, farra? É que a Folia de Reis, ou Folia dos Santos Reis, Terno de Reis e Reisado (este no Nordeste), veio de Portugal, pelos padres jesuítas, no século 16, em 1534, e lá era um grupo de homens católicos que saía cantando e tocando instrumentos em louvor a um santo, percorrendo moradores rurais e angariando dinheiro e prendas para a festa, que se daria na igreja da comunidade.

Aqui, anteriormente, os foliões, devotos dos Santos Reis, percorriam as residências rurais à noite e montados a cavalo, como os magos que viajaram em camelos e somente durante a noite. Depois passaram a girar durante o dia e a pé, parando para os pousos, onde havia rezas, cantorias, comilança, cachaça e catira. Os figurantes são nominados foliões, tendo, entre eles, o gerente, o mestre, o embaixador, o alferes ou porta-bandeira, o capitão e, ainda, os palhaços ou bonecos, que representam os espiões do Rei Herodes à procura do Menino. Eles brincam, mexem com todos, vasculham tudo e ninguém se incomoda.

Na chegada aos pousos, vencidos os "obstáculos", vem a cantoria: "Senhor dono da casa, abra a porta, acenda a luz, recebei os Santos Reis e o menino Jesus." Na saída, a despedida: "A bandeira se despede, vai no giro de Belém, adeus senhores e senhoras, até pro ano que vem." Quem faz o voto de girar uma Folia, fará por sete anos seguidos, caso contrário... azar! A Folia começa a girar na véspera de Natal e vai até 6 de janeiro, que é o Dia dos Santos Reis.

PS - O livro mais importante sobre o assunto é As Viagens dos Reis Magos , do antropólogo da UFG Jadir Morais Pessoa, em parceria com a francesa Madeleine Félix - Editora da UCG e, agora, na França, Ed. L'Harmattan (jadirpessoa@hotmail.com) .
-

-
INTERCÂMBIO CULTURAL »  Percussão como instrumento de cidadania 
Embalado por compromisso social, o músico Ricardo Amorim (em destaque), que auxilia jovens na arte e nos estudos, colhe prêmios e a doação de instrumentos musicais CORREIO BSB 06.01

-
O investimento, num primeiro momento, foi modesto: há uma década, partiu do compromisso do professor brasiliense Ricardo Amorim com jovens de restrito poder aquisitivo, no Recanto das Emas. Interessados em música, 12 alunos compareceram para a ação social proposta por uma Igreja presbiteriana, mas a limitação foi gritante para o professor da UnB, que, apostando em aulas com instrumentos convencionais, deu-se conta da inexistência deles. “Então, comecei a fazer um trabalho com percussão corporal, proposto de uma experiência com o grupo Barbatuques (de São Paulo) e da orientação do falecido pesquisador musical José Eduardo Gramani. O batuque no corpo veio como uma ferramenta alternativa”, explica.

Com o trabalho concentrado num instituto (o Batucar), criado em 2006, o projeto Batucadeiros tem galgado posto em sucessivas premiações: reconhecido com o prêmio Itaú Unicef (no âmbito regional), em 2009, acumulou o prêmio Anu conferido pela Cufa (Central Única das Favelas), em 2010, e, entre 941 candidatos no país, acaba de ser um dos 14 selecionados pelo programa Rumos Educação, Cultura e Arte (do Itaú Cultural).

“Além de premiação em dinheiro, há a proposta de treinamento de encontros e de transição do conhecimento, com capacitação e reciclagem. A seleção traz um fôlego novo para a gente: dá uma condição de brilho e de projeção para o projeto e mostra que o nosso caminho tem sido legal, e que a gente pode seguir construindo nele”, comemora Ricardo Amorim. Aos 45 anos, o morador de Águas Claras, formado em arranjo instrumental pelo Conservatório de MPB de Curitiba e licenciado em música pela UnB, puxa da memória a marcante experiência com um professor de violão, na época de aprendizado, no Guará. “Éramos de classe média baixa, entre seis irmãos, e o professor Barbosa me deu aulas, de graça. Serviu de inspiração e me abriu para o universo da generosidade”, conta.

Com papel central fundamentado na arte — para criações de performances apoiadas por canções, percussão corporal e violão —, o Batucar busca alargar os objetivos, otimizando desempenhos escolares dos alunos. “Quando a gente chegou, eles não tinham perspectivas de continuar estudando. O estudante da periferia também vive nessa sociedade capitalista, então, ele também quer ter. Surgem trampos, isso quando ele não cai nas mãos dos traficantes para servir de avião. A arte entra com os componentes de paciência e reflexão, exigindo ordem, ensaio e planejamento. Sai daí a experiência de conviver e de se relacionar com o outro”, explica o professor. Driblando problemas que incluem a falta de acompanhamento dos pais, mais de 500 jovens viram surtir a diferença proposta pelo músico.

Ciente do fraco padrão exigido pela escola pública, Amorim investe no acompanhamento pedagógico, para suprir evasão ou defasagem no campo da educação. “Não dá pra ver os meninos tocando bem, mas com baixos índices de aproveitamento escolar. Um dos problemas detectados com o programa foi o da consolidação da alfabetização. O grande auxílio veio da ação dos multiplicadores. Vieram as oportunidades de bolsas para os alunos de melhor desempenho e as transformações dos índices de aprovação que partiram de 50% e culminaram em até 96% ”, explica o orientador.

Foco nas notas
Mais de 15 alunos formados pelo Instituto Batucar, que realimentaram a cadeia de aprendizado ou encontraram posição no mercado de trabalho, motivam o orgulho pleno. “O complicado sempre é manter o ânimo e o foco dos alunos”, sintetiza o professor, destacado pelo Rumos, que pinçou exemplos em meio à cultura tradicional, à música, às artes cênicas e à audiovisual. Além de R$ 10 mil, os contemplados participarão de um ciclo de viagens, numa proposta de intercâmbio que integrará experiências de êxito comandas, em meios diversos, que vão do circo à sonoridade de violino, passando ainda pela ginga de capoeiristas.

Com cronograma de atividades a ser reaberto em 16 de janeiro, o instituto tem perspectivas de revitalização asseguradas para o novo ano. Implantado em maio de 2009, o projeto Batucadeiros Crescendo com Música, com participação do maestro Emílio de César (ex-regente da Orquestra Sinfônica de Brasília), totalizou a aquisição de quase 40 instrumentos. “Brinco que eles chegaram depois de 10 anos. Alunos e amigos doaram violinos, violoncelos, contrabaixos e violas”, conta Ricardo Amorim.

Agente de cidadania, ele dá a dimensão da conquista com o Rumos Educação, Cultura e Arte. “Nos trabalhos sociais, você entende que o sistema tende a trabalhar para te desestimular. As instituições empenhadas, porém, trabalham na paixão”, conclui Ricardo.

Nenhum comentário: