terça-feira, 10 de janeiro de 2012
O amado rei do livro. Arnaldo Niskier
Doutor em educação, membro da Academia Brasileira
de Letras e presidente do CIEE/Rio. CORREIO
BSB 08.01
-
Teremos
um ano bastante rico em matéria de cultura. Haverá, em 2012, a comemoração de
dois significativos centenários: o do Barão do Rio Branco e o de Jorge Amado,
ambos pertencentes à galeria de imortais da Academia Brasileira de Letras. O
escritor baiano, pela grande aceitação popular de seus livros, ultrapassou as
fronteiras da literatura, tornando-se um dos autores brasileiros que mais
tiveram a obra vertida para a televisão e o cinema.
É
difícil compreender o estilo de Jorge Amado por meio de interpretações
sociológicas ou teorias afins: corre-se o risco de não se ter a exata definição
da arte do escritor baiano. Também não terá sucesso quem fizer um paralelo
entre seus livros e os fatos históricos ocorridos nos períodos em que foram
escritos. Esses estudos críticos não levam em conta a liberdade de criação.
Jorge Amado criou um estilo jorgeamadiano, totalmente pessoal, indo muito além
de fundamentações teóricas, legando-nos obras inesquecíveis.
Cabe
aqui um parêntese para falar do crítico Antônio Cândido, cujo livro Formação da
literatura brasileira é considerado fonte de referência das mais confiáveis.
Apesar de usar os acontecimentos históricos e sociais localizados nos períodos
em que as obras foram escritas como critérios críticos para emitir suas opiniões,
sobre Jorge Amado ele procurou realçar a força poética dos romances analisados.
O
que vemos a seguir é uma declaração de amor de Antonio Candido, entusiasmado
pela simplicidade do estilo do autor de Jubiabá: “Na nossa literatura moderna,
Jorge Amado é o maior romancista do amor, força de carne e de sangue que
arrasta os seus personagens para um extraordinário clima lírico. Amor dos ricos
e dos pobres; amor dos pretos, dos operários, que antes não tinha estado de
literatura senão edulcorado pelo bucolismo ou bestializado pelos naturalistas”.
Como
se vê, trata-se de uma obra que consegue conquistar leitores e críticos com a
mesma intensidade. Para Alfredo Bosi, a criação de Jorge Amado teve uma
caminhada multifacetada no decorrer dos anos: iniciou com tintas de “romance
proletário”, passou por depoimentos líricos, seguiu a cartilha da pregação
partidária, se especializou na valorização da região cacaueira e, por fim, se
estabilizou na produção de crônicas de costumes provincianos.
A
obra do escritor baiano, adaptada para a televisão, obteve imenso sucesso de
audiência. E um fato adicional engrandece ainda mais essa façanha: depois da
exibição de cada uma das novelas, as edições dos livros se sucederam, revelando
sinergia muito forte entre as duas mídias. Graças à transposição de seus livros
para a televisão, foi revisto o mito, sustentado na época por alguns
intelectuais, de que a televisão estragava o gosto pela leitura ou impedia a
sua propagação.
Comprovei
esse fato em 1995 quando, a pedido do então presidente da ABL, Austregésilo de
Athayde, falei pela primeira vez na Casa de Machado sobre a existência de uma
nascente literatura eletrônica, fato que hoje se tornou realidade, com a
multiplicação de e-books, tablets, Kindles e outros recursos digitais.
Nas
muitas viagens que fiz ao longo da vida, visitei bibliotecas de várias
universidades, onde sempre encontrei versões dos seus romances. Não
necessariamente dos 37 livros, mas a maioria deles, nas línguas locais. Foi
assim em Seul, em Berkley, em Estocolmo, em Tóquio e em Telavive.
Ao lado de Pelé, Amado foi o brasileiro que mais
trabalhou pela imagem do país no exterior. Se um é o rei do futebol, o outro
pode ser considerado o rei do livro ou da palavra escrita. Um incomparável
contador de histórias.
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Bairros de classe média abrigam cracolândias privês
Traficantes
alugam apartamentos e casas na Vila Mariana, Paraíso e Bela Vista para receber
viciados
-
Em um espaço do tamanho de uma perua Kombi, seis
homens dividem três cachimbos de crack feitos com antenas de TV e latinhas de
alumínio. FOLHA SP 09/01
Cinco
deles estão sentados no chão. São iluminados por um lampião que contrasta com a
janela de vidros escurecidos. O outro está em pé. Observa a cena ao lado da
porta. Ali, não há móveis, tapetes, tampouco cortinas.
Passa
das 16h de uma sexta-feira nublada em São Paulo. O ambiente descrito acima
poderia ser em uma rua da cracolândia, na região central da cidade, mas não é.
Trata-se
do interior de um apartamento de classe média na Bela Vista, a poucas quadras
de um dos mais famosos corredores gastronômicos da metrópole, a rua
Avanhandava. Lá, usuários de crack alugam a sala, o quarto e a cozinha com um
único propósito: fumar a droga.
Com
três celulares no bolso, um senhor cabisbaixo, aparentando ter 60 anos, era o
responsável pela venda das pedras e também pelo aluguel do imóvel. Preço: R$ 10
(a pedra), mais R$ 10 pelo espaço usado para o consumo.
Antes
mesmo da operação da Polícia Militar, que cercou a cracolândia na semana
passada, a Folha percorreu, nos últimos seis meses, bairros como Vila Mariana,
Bixiga, Paraíso, Penha e Bela Vista.
Nesses
locais, a reportagem encontrou casas e apartamentos onde funciona um esquema
até então desconhecido das autoridades, as cracolândias privês.
Dentro
do apartamento da Bela Vista, o cheiro, uma mistura de tabaco, fumaça, óleo de
lampião queimado e suor, é forte. Dois jovens estão alucinados. Acabaram de
fumar a terceira pedra do dia. Entreolham-se e parecem apavorados, sem motivo
aparente.
Um
acaba de dar seu primeiro trago. Os outros três observam. Eles fumam cigarros.
Esperam a vez para terem a sensação que tanto aguardaram após uma manhã inteira
de trabalho em uma loja de informática ali perto.
As
cracolândias privês são extremamente lucrativas e seguras para o criminoso. Ele
ganha duas vezes: na venda da droga e na locação da área.
Para
o usuário, a maioria homens de classes baixa e média, com idades entre 18 e 35
anos, de diferentes profissões, é algo discretíssimo.
Nesses
ambientes, ele consegue fugir dos olhares de reprovação de moradores e também
do controle policial.
Para
entrar nesse submundo, é preciso ser apresentado por algum conhecido do
traficante. Deve-se seguir a principal exigência do local, só consumir a droga
vendida ali.
"Fique
esperto, aqui não entra pedra [de crack] de outro lugar", alerta o
traficante.
LUZ
DE LAMPIÃO
A
Folha visitou cinco imóveis, entre casas e apartamentos. Em dois deles, a
reportagem entrou acompanhada de um usuário, em tratamento, que conheceu na
cracolândia enquanto apurava outra história. Ele só aceitou apresentar o
repórter às cracolândias privês porque diz estar indignado com a quantidade de
jovens viciados na cidade.
À
primeira vista, por fora, não é possível perceber que em qualquer um desses
cinco lugares haja venda e consumo de drogas lá dentro.
Os
apartamentos, na Bela Vista e no Bixiga, são iluminados por lampiões. Possuem
pequenas brechas nas janelas, para não intoxicar quem está trancado lá. As
portas permanecem quase o tempo inteiro fechadas.
Para
ter acesso a eles, é preciso subir dois lances de escadas. Na sequência,
deve-se comprar a "pê" (pedra de crack) vendida na própria escadaria
e pedir que o vendedor autorize a entrada -vale registrar que o repórter não
comprou a droga.
Já
as casas, ou estavam abandonadas e foram invadidas ou haviam sido alugadas
pelos traficantes por preços baixíssimos por conta de seu mau estado de
conservação.
Elas
estão na Vila Mariana, Paraíso e Penha. Os muros têm mais de três metros de
altura. Os portões não têm brechas, o que impossibilita que alguém, do lado de
fora, observe o que acontece ali.
A
casa da Vila Mariana não é imunda como os cortiços fechados pela operação da
polícia no centro paulistano.
A
morada é simples. Fica em uma rua bem arborizada, próxima de um posto de
gasolina, rodeada por prédios residenciais. Dentro dela, poucos móveis. Uma
mesa e duas cadeiras na sala, onde ficam o "patrão" ou seu
subordinado. Ao todo, são 11 cômodos improvisados, transformados em quartos,
coletivos ou individuais. São divididos por finas paredes de madeira
compensada.
Há
dois tipos de cracolândia privê. Nos apartamentos, o usuário compra a pedra com
o traficante e a consome em um dos cômodos.
Na outra, vive no lugar, chamado "mocó".
Pode tomar banho, comer, dormir. O valor varia conforme a forma de pagamento.
Adiantado em dinheiro, R$ 210. Se for pagar no fim do mês, R$ 300.
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Literatura. O triste espelho da alma
Lançamento
de nova edição de O Duplo, de Dostoiévski, é mais uma chance de mergulhar na
prosa de um autor que soube como ninguém construir personagens atormentados. O popular/GO 10.01
-
.
Nunca,
nunca mesmo subestime a capacidade que certos autores têm de surpreender seus
leitores. Não importa que já tenha lido algumas obras desses escritores, que já
tenha se dado ao trabalho de tentar entendê-las um pouco mais profundamente,
que tenha mantido contato com seus críticos, comentadores e teóricos que se
dedicaram a estudá-los. Tudo isso fica diminuto diante do efeito que uma prosa
poderosa pode exercer. Fiódor Dostoiévski, o russo que para muitos chegou ao
ápice da criação literária quando o assunto é o gênero romanesco, faz parte
deste exclusivo clube. O livro O Duplo, relançado agora pela Editora 34 com uma
tradução direta do russo feita pelo craque da área Paulo Bezerra, é uma chance
inestimável de comprovar isso.
Personagens
como o amoral Raskólnikov de Crime e Castigo , o assustador Smerdiakóv ou o
dúbio Ivan, de Os Irmãos Karamázov, os seres misteriosos e degradantes de Os
Demônios formam um rol de criações literárias monumentais, inseridas em enredos
complexos e cheios de reviravoltas, em que Dostoiévski explora meandros
obscuros da sociedade e da alma humana. Pois nesta lista, em pé de igualdade
com os demais, encontra-se o perturbado funcionário público Golyádkin,
protagonista de O Duplo , segundo romance da carreira do escritor russo,
apresentado logo após seu livro de estreia, Gente Pobre. Trabalhos que foram
recebidos de formas distintas. Enquanto Gente Pobre foi aclamado, O Duplo foi
pesadamente criticado. Era um livro incômodo e de difícil digestão.
A
história de Golyàdkin é árida e este personagem suscita uma série de
sentimentos, muitos deles contraditórios. Daí vem sua grandeza. Ao mesmo tempo
em que nos solidarizamos com seus inúmeros infortúnios, é impossível não pensar
que ele os merece... todos eles.
A
história começa com este "conselheiro titular" - cargo cuja pompa
para no nome, uma vez que se trata de uma função de terceira categoria na
intrincada burocracia da Rússia czarista - tentando se infiltrar em um meio
social que não é o seu, mas que habita todos os seus sonhos. O personagem
intenta participar de uma festa dada por um superior seu, homem de respeito na
sociedade de São Petersburgo, cuja filha move as paixões desse pobre coitado.
O
problema está justamente aí. Golyádkin é um pobre coitado, um homem desprovido
de malícia e perícia para conseguir seus objetivos. Na intenção de se fazer
aceito em um meio hostil aos mais humildes e ascender socialmente, como diz o
próprio narrador dostoievskiano, acaba "metendo os pés pelas mãos".
Sua tentativa frustrada de entrar na festa acaba descambando para um pequeno
escândalo e uma cena de humilhação, a primeira de muitas pelas quais Golyádkin
irá passar.
E
nesse ponto específico, Dostoiévski é implacável. Ele faz seu personagem comer
o pão que o diabo amassou, com um detalhe que depois ficaria evidente em suas
obras seguintes, talvez com a exceção de Crime e Castigo : não há redenção,
final feliz ou coisa que o valha.
As
atitudes reprováveis e bizarras de Golyádkin são explicadas, em grande parte,
pela engrenagem torta de seus raciocínios. Aí está o forte do livro de
Dostoiévski. O personagem não ganha a vida apenas por seus atos atrapalhados e
sim por seu jeito de pensar e ver o mundo, com a construção de um narrador
genialmente inapreensível. Quem conta a história, afinal? É alguém onisciente,
é o próprio Golyádkin, é um personagem secundário da história?
Na
verdade, são todos eles ao mesmo tempo, dando a exata ambientação imprecisa que
a narrativa demanda, uma vez que este homem rejeitado por todos terá apenas uma
pessoa com quem se abrir: ele próprio. Surge a figura do duplo, não como um
canal de escape, uma projeção alentadora, mas sim como a maior das ameaças.
Mistério
Golyádkin,
o homem que mora em um birosca, que desconta todas as suas frustrações em um
criado que mais parece um lacaio escravizado, que é alvo de toda sorte de
fofocas da parte de seus colegas de repartição, que não goza do respeito e do
afeto de ninguém, passa a se ver em uma figura misteriosa que surge durante uma
densa nevasca nas ruas desertas de São Petersburgo. Há algo de sinistro no ar
desde sua primeira aparição, e algo de venenoso no diálogo improvável que
travam no quarto imundo onde o funcionário público se esconde. Mas Golyádkin,
por carência ou por pura falta de tato, não percebe o perigo e acaba, de novo,
sendo vítima de sua personalidade errática e covarde, de sua falta de condições
de reagir, de sua submissão doentia e atroz.
O
duplo, por sua vez, é seu oposto. Sabe como ninguém puxar o saco do chefe, usar
de artimanhas para atingir seus objetivos mais torpes, é desprovido de
princípios e escrúpulos. Tudo o que Golyádkin sempre sonhou e nunca alcançou,
seu duplo amealha em pouquíssimo tempo, num jogo de falsidades com o seu
criador. Criador? Sim, criador.
Dostoiévski
nunca deixa claro que tipo de ser é esse duplo. Pura imaginação de uma mente
atormentada ou uma figura mefistotélica que veio de alguma profundeza
atormentar uma alma já à beira do precipício? Dúvida que é potencializada com a
forma de Golyádkin se expressar e ser. Ele gagueja, hesita nas mais banais
situações, não tem coragem de viver sua própria vida, lhe falta serenidade para
aceitar e coragem para avançar.
O
livro é crítico a convenções sociais que deixam em segundo plano o sentimento
do próximo. Como ocorre em muitas de suas narrativas, Dostoiévski destaca o
conflito de classes de uma sociedade muito estratificada e engessada em suas
desigualdades, caldo de cultura para revoluções e revoltas.
O
personagem principal é enxotado de todas as maneiras imagináveis, suas
opiniões, além de mal expressas, são ignoradas, sua presença é desagradável,
seu status é nulo. A desumanidade com que é tratado alimenta um ciclo vicioso
em que à ausência de talento se junta uma inerente incompatibilidade com o
mundo, uma carência abissal e uma incompreensão generalizada em torno de sua
existência. O duplo vem, de alguma forma, suprir todas essas deficiências, mas,
ao ganhar vida, começa a participar do linchamento de seu modelo original.
Criar
um personagem desta natureza é um verdadeiro feito, uma vez que seria simples
justificá-lo apenas pela loucura ou pela alucinação. Golyádkin exacerba esses
limites. Seus contornos, ainda que indefinívies muitas vezes, não são tênues.
Trata-se de uma pessoa coerente nos gestos, nas palavras, nos fracassos e na
maneira inadequada com que lida com as pessoas.
O
frio de São Petersburgo e a pompa das grandes recepções na cidade mais
cosmopolita da Rússia do século 19 colaboram para a compreensão deste homem tão
pobre de vida, mas tão rico em sentidos. Ele não matou uma velha usurária, ele
não planejou um atentado, ele não assassinou o pai para se vingar dele e dos
irmãos, ele não é um viciado inveterado em jogo, mas também cometeu um delito
mortal: ele existe. E existe em dose dupla. Duas faces de um homem cheio de
medos e lacunas.
PERFIL:
Fiodor
Dostoiévski (1821- 1881) é autor de alguns dos maiores clássicos da literatura
mundial escritos no século 19. Entre eles estão Os Irmãos Karamazov , Crime e
Castigo , O Idiota , Notas do Subterrâneo , Os Demônios e O Jogador . Nascido
em Moscou, chegou a se formar em engenharia, mas a vida literária o arrebatou,
primeiro com traduções de autores como Balzac e George Sand, depois com suas
próprias criações. Em 1849, já tendo escrito algumas obras, foi preso sob a
acusação de integrar um grupo que conspirava contra o czar Nicolau I. Julgado,
foi sentenciado à pena de morte. Pouco antes da execução, já diante do pelotão
de fuzilamento, Dostoiévski recebeu a notícias de que sua pena havia sido
comutada para exílio e trabalhos forçados na Sibéria. Essa experiência marcaria
profundamente sua vida e literatura.
Seus
grandes livros são da fase posterior à prisão, onde perdeu as ilusões
intelectuais e a boa saúde. Ele começou a ter uma visão mais independente da
sociedade, exercitando sua veia crítica, muitas vezes por meio de metáforas ou
personagens representativos de classes e conflitos. Jornalista também
combativo, foi dono de jornal e revista, onde expôs muitas de suas ideias e
também publicou fragmentos de sua obra literária. Influenciado por grandes
romancistas franceses, ingleses e também russos, serviu de contraponto estético
a muitos deles, inaugurando novas formas de narrativa que, mais tarde, seriam
definidas como polifônicas (várias vozes intervenientes) e dialógicas (em uma
relação mais próxima e transparente com os entes envolvidos na obra, incluindo
o leitor). Epiléptico e com problemas pulmonares, Dostoiévski morreu em 9 de
fevereiro de 1881 como um escritor popular e de grande prestígio entre críticos
e estudiosos.
Livro:
O Duplo
Autor:
Fiodor Dostoiévski
Tradução:
Paulo Bezerra
Páginas:
256
Preço:
R$ 39
Editora: 34
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Tribunal de MG é acusado de promover juízes
ilegalmente. Ao julgar o caso, CNJ pode anular a nomeação de 17
desembargadores. Entidade
afirma que as promoções não foram publicadas em edital nem seguiram critérios
como produtividade FOLHA SP 10/12
-
O
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) está julgando o pedido de anulação das
promoções de 17 juízes ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais, entre 2006 e 2009.
As
promoções foram denunciadas ao CNJ por uma entidade nacional que representa
juízes.
Segundo
a Anamages (Associação Nacional dos Magistrados Estaduais), o tribunal
privilegiou parentes de desembargadores e ex-dirigentes de outra entidade de
classe em detrimento de juízes mais antigos.
Além
de não observar critérios como antiguidade e produtividade, as promoções foram
feitas às escuras, sem a publicação de edital, sustenta a Anamages.
Por
meio de sua assessoria, o tribunal mineiro informou que vai aguardar a decisão
final do CNJ e cumprir o que for determinado.
VOTAÇÃO
Dois
conselheiros do CNJ já votaram. Ambos consideraram ilegais as promoções, mas
divergiram sobre a providência a ser tomada.
Jorge
Hélio Chaves de Oliveira pediu a anulação das promoções por considerar que os
atos "não podem ser convalidados com o tempo".
O
relator, Fernando Tourinho Neto, votou pela manutenção das promoções, somente
se aplicando a resolução em casos futuros.
O
julgamento foi suspenso em dezembro, após pedido de vista (tempo para análise
do processo), e deve ser retomado em fevereiro.
O
tribunal tem 130 cargos de desembargadores e dez vagas a serem ocupadas.
A
acusação foi feita em 2009 ao CNJ. Entre os promovidos, há sete ex-dirigentes da
Amagis (Associação dos Magistrados Mineiros), entre os quais Nelson Missias,
atual secretário-geral da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros).
A
AMB, maior entidade de juízes do país, é pivô da mais recente polêmica
envolvendo o CNJ. A pedido da entidade, o Supremo Tribunal Federal tomou duas
decisões que desidrataram o poder de investigação do conselho, impedindo que
ele abra investigação por iniciativa própria.
CRITÉRIOS
Além
de Missias, também consta da lista Doorgal Andrada, promovido quando era
vice-presidente da AMB.
Segundo
o pedido de anulação, a promoção de Andrada preteriu 41 juízes mais antigos do
que ele.
Por
sua vez, ao ser promovido, Missias era o 46º na lista de antiguidade e não
atuava como juiz -no período, dedicava-se à Amagis e, por isso, não poderia ter
sua produtividade analisada.
Nas
sessões que decidiram pelas promoções, há desembargadores que justificam sua
escolha ao elogiar a atuação dos juízes no comando das entidades de classe, sem
levar em consideração sua atuação como magistrados.
"Não
se fala em produtividade, assiduidade ou qualquer outro critério, apenas se dá
ênfase ao compadrio pessoal ou associativo", acusa a Anamages em documento
enviado ao CNJ.
Andrada e Missias classificam o caso como uma
retaliação, fruto de disputas no Judiciário mineiro.
>>>
ANDRÉ LUIZ MACHADO DE CASTRO. Corporativismo contra a Defensoria
A
OAB-SP pleiteava cortar verba da Defensoria; os mais pobres ficam reféns de uma
entidade que, em SP, quer apenas manter uma receita para seus filiados. Ontem, a Defensoria Pública do Estado de São
Paulo completou seis anos. O período provocou uma significativa mudança no
contexto de exclusão social perante a Justiça. FOLHA SP 10/12
-
Graças
ao preparo, a competência e a dedicação dos apenas 500 defensores públicos e
dos 330 servidores de apoio, atuantes em somente 29 cidades do Estado, as ações
do órgão ultrapassaram as fronteiras desses poucos municípios, várias delas
recebendo o reconhecimento de prestigiosas instituições de análise e avaliação
de boas práticas no sistema de Justiça, como o Instituto Innovare.
As
vitórias processuais nos tribunais superiores em Brasília, por muito tempo
acessados apenas por pessoas com recursos financeiros, contam-se aos milhares.
Mas
não foi por isso que a Defensoria Pública de São Paulo ocupou espaço
recentemente no noticiário, e sim por conta de uma falsa crise e de um falso
dilema com a OAB-SP.
Sob
o argumento de que a Defensoria Pública não consegue atender as mais de 300
comarcas do Estado, a OAB-SP pleiteava reduzir drasticamente o seu orçamento. O
objetivo era gastar esses recursos exclusivamente com o convênio que o Estado
mantém com ela há quase 30 anos para a prestação de assistência judiciária onde
não há defensores públicos suficientes.
O
convênio custa anualmente aos cofres públicos cerca de R$ 300 milhões e
beneficia quase 50 mil advogados, que para prestarem o serviço precisam apenas
estar em dia com os cofres da ordem, não passando por qualquer tipo de seleção.
Todo
o debate dos últimos meses na imprensa, no governo e na Assembleia Legislativa
(se o convênio e os seus milionários recursos tinham de ser transferidos da
Defensoria para a Secretaria de Justiça e se a Defensoria fiscalizava demais ou
de menos) era uma falsa discussão.
A
questão principal, nesse tema da efetivação do direito constitucional de acesso
à Justiça, é esta: por que ainda há apenas 500 defensores e 330 servidores em
29 cidades?
Essa
questão jamais foi sequer tocada pela OAB-SP, contrariando o estreito apoio que
o Conselho Federal da OAB e diversas outras seções estaduais sempre prestaram
-e continuam prestando- ao fortalecimento das defensorias públicas.
Deve-se
perguntar aos poderes Executivo e Legislativo do Estado a razão pela qual,
depois de seis anos, houve um aumento de apenas cem defensores e a ampliação da
atuação para apenas mais oito cidades.
Existem
recursos, pois os milhões gastos com a prestação terceirizada seriam
suficientes para custear a prestação direta de assistência jurídica às pessoas
carentes.
Enquanto
não houver um crescimento gradual e constante do número de defensores públicos
-por exemplo, cem novos cargos por ano até se atingir o número necessário
estimado de 1.600 (há cerca de 2 mil juízes e 1.800 promotores no Estado) -, a
parcela mais pobre dos paulistas e o próprio governo vão ficar reféns de uma
entidade que, em São Paulo, não está preocupada com o fortalecimento do Estado
democrático de Direito e a efetivação dos direitos humanos para todos, mas
apenas com a manutenção de uma fonte de receita para uma parcela de seus
filiados.
Nenhuma
outra ordem profissional (de médicos, engenheiros, contadores etc.) possui ou
jamais pensou em possuir algo assim.
O
governador Geraldo Alckmin, agora novamente eleito, já provou, ao superar as
mesmas forças resistentes que retardaram a criação da Defensoria em 18 anos,
que tem consciência e compromisso com a necessidade jurídica e social da
efetiva implementação da Defensoria Pública no Estado.
As
centenas de entidades da sociedade civil que, no último mês, novamente se
reuniram para defender a Defensoria Pública certamente anseiam por isso.
ANDRÉ LUIZ MACHADO DE CASTRO, 38, mestre em direito
civil, é presidente da Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep)
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