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ENTREVISTA JOÃO UBALDO RIBEIRO
A literatura nunca vai perder sua força criativa
Fonte: folha.uol.com.br 26/02
O escritor baiano, que prepara novo romance, fala sobre a velhice e a antiga polêmica com a Flip, onde vai receber homenagem pela carreira
Confirmado: Sargento Getúlio, Barão de Pirapuama e a misteriosa senhora CLB estarão na próxima Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontece entre 6 e 10 de julho.
Quem falará por eles é seu criador, João Ubaldo Ribeiro, que acaba de fazer 70 anos. O escritor mora numa cobertura no Leblon, de onde sai muito pouco, geralmente para encontrar amigos, como Rubem Fonseca.
Passa a maior parte do tempo num refúgio refrigerado, onde, envolto por livros e um silêncio que garante a concentração, encara a tela de um computador.
Foi nesse escritório que João Ubaldo recebeu a Folha para uma entrevista. Numa conversa franca e simpática, entremeada por comentários divertidos e algumas boas risadas, revelou que já tem um novo romance na cabeça, falou de seu métodos de trabalho e da carreira bem-sucedida -tem dois Jabutis, por "Sargento Getúlio", em 1971, e "Viva o Povo Brasileiro", em 1984, e um Camões, recebido em 2008.
Falou também sobre a Flip, assunto que rendeu desentendimentos em 2004, quando retirou seu nome do evento, por considerar-se desprestigiado diante de outros convidados e por considerar a festa "uma realização voltada para autores da Companhia das Letras".
Um pouco desconfiado da própria memória, disse nunca ter sido convidado novamente, até agora. De qualquer forma, tanto o popular autor de "A Casa dos Budas Ditosos" quanto a Flip mostraram-se avessos a realimentar a polêmica.
Folha - É verdade que o senhor já tem um romance novo na cabeça?
João Ubaldo Ribeiro- Sim, mas antes de começar a escrever tenho de administrar meus compromissos. Não se pode interromper um romance, senão desanda. E perder o livro acontece muito, não só comigo. Você larga o livro três dias e quando volta não encontra mais os personagens, perde o contato.
O que mudou para o senhor para aceitar o convite da Flip, depois da confusão em 2004?
Nada, nunca bati a porta, apenas me trataram condignamente, como qualquer outro. Não quero ser estrela, só não quero ir na rabada dos etcs., pois não sou um iniciante. É a primeira vez que me convidam depois daquele episódio. E provavelmente vou gostar, apesar de não ter mais saco para viajar.
O que aconteceu afinal?
Tive a desinteligência de reparar que meu nome era raramente divulgado entre os convidados, aí eu decidi não ir. No release aparecia "fulano, fulano, fulano e outros".
Esse "outros" era eu. Aí eu disse: outros o caralho! De qualquer forma, não foi nenhuma briga.
Muda algo fazer 70 anos?
Fazer 70 é melhor que não fazer, é óbvio. Eu tendo a partilhar a observação de meu amigo Jorge Amado, que dizia: "Compadre, já me falaram muito das alegrias da velhice, mas ainda não me apresentaram nenhuma" (risos). Eu talvez tenha algumas, um maior desapego a certas convenções.
Não chego ao ponto de dizer que a alegria da velhice é poder peidar em público, mas é algo deste jaez, talvez menos escatológico.
Talvez tenha ficado mais fácil escrever.
Não. Apesar de manejar bem a técnica, continuo escrevendo com dificuldade. Ainda mais com computador, que torna o trabalho mais lento. Com a facilidade de mexer no texto a gente acaba fazendo mais mudanças do que deveria.
Como descobriu que escrever podia ser algo importante?
Não sei direito. Deve ter sido com uns nove anos, quando o Monteiro Lobato morreu. Eu era leitor fanático dos livros dele. Para mim ele não era nem gente, era atemporal, não podia morrer. Aí eu comecei a escrever aventuras de Narizinho e Pedrinho.
Como foi criar uma obra complexa como "Sargento Getúlio", considerado por muitos seu melhor livro?
Na época eu não tava muito convencido se eu realmente era escritor. Quando acabei o primeiro capítulo não sabia absolutamente o que vinha a seguir. Acho que o reescrevi 17 vezes.
Aí quase mato o meu pobre livrinho. Mudei o ponto de vista, mudei o narrador e me veio a ideia jericoide de alternar um capítulo na primeira e outro na terceira pessoa, um amadorismo deplorável naquela altura.
Ainda bem que meu anjo da guarda me segurou. Ele chama Pepe. Não devia divulgar, na Bahia não se revela o nome do anjo da guarda.
E "Viva o Povo Brasileiro"? Tinha aquela história de "livro bom é livro que fica em pé".
Quem me provocou um livro grosso foi o então editor da Nova Fronteira, Pedro Paulo Sena Madureira. Ele dizia: "Vocês escritores brasileiros só escrevem essas merdinhas que a gente lê na ponte aérea". Aí fiz o livro desse tamanho.
Aliás, ele é frequentemente mal interpretado. Disseram que recontava a história oficial do Brasil do ponto de vista dos oprimidos. Eu nunca pensei nada disso. Seria uma pretensão descomunal.
Chegaram a dizer que o senhor era um misto de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. O senhor concorda?
Nem um pouco. Acho que na época nem tinha lido Guimarães Rosa -e até hoje não sou leitor dele.
O senhor é leitor de quem?
Hoje, de Shakespeare. E de Jorge de Lima, Mark Twain. Fico lendo as mesmas coisas. Gosto muito de poesia, leio os poetas ingleses, gosto de Auden, Dylan Thomas.
O senhor revelou ter tido alguns bloqueios e até um certo pânico, mas também deve ter se divertido escrevendo, não?
Muito! Eu rio e choro com meus personagens, que frequentemente ganham vida própria.
O Nego Leléu de "Viva o Povo", por exemplo, nasceu para ser coadjuvante e se tornou um dos mais importantes no livro. O cônego que esculhamba tudo também. Abriu a boca e não fechou mais. Eu queria matá-lo e não conseguia (risos).
Me divirto tanto que não escrevo na frente de ninguém, só da minha mulher. Me lembro de um episódio engraçado, em Itaparica.
Eu estava escrevendo uma cena do "Viva o Povo", em que o Barão de Pirapuama comete uma grosseria inominável com a baronesa, e eu queria que ela respondesse com uma mesura. Aí eu fiquei na frente da máquina assim (levanta e faz a mesura). Meu compadre Bento viu e achou que eu estava louco!
Ouvi dizer que tem gente que acha que seus personagens são reais, é verdade?
Sim! (ri) Durante um evento numa livraria, um sujeito se aproximou e me disse: "Eu queria muito lhe conhecer pois sou descendente do barão do seu livro". Tentei explicar que não era possível, que o barão era inventado. Ele ficou indignado! (risos)
O senhor já mencionou a literatura como uma porta para a fantasia. Hoje, em que há milhões de portas para a fantasia, o papel da literatura está ameaçado?
Não, a literatura nunca vai perder sua força. O leitor não pode assumir a passividade que assume assistindo a um filme, vendo TV ou até ouvindo música.
Estão acrescentando tantos recursos aos livros eletrônicos que eles estão deixando de ser livros e virando DVDs. Daqui a pouco volta-se ao livro de papel como uma grande conquista.
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MEC quer participação das universidades no Enem
Fonte: UnB.br 26/02
Edital vai reunir contribuição de especialistas de instituições de ensino superior na elaboração de banco de questões para o exame
O Ministério da Educação quer a participação das universidades na elaboração das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em reunião com reitores das universidades federais nesta quinta-feira, 24 de fevereiro, a presidente do Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais (Inep), Malvina Tuttman, anunciou o lançamento de um edital para reunir especialistas que contribuam com a construção de um banco de questões para as futuras edições da prova.
Hoje, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) – que usa a nota do Enem como única fase do processo seletivo de candidatos ao ensino superior público – é usado por 83 instituições, num total de 83.125 vagas. Apesar das polêmicas que envolveram falhas e vazamento de informações em edições passadas do exame, Malvina reforça a importância de expandir a prova. “O Enem foi usado nos últimos dois anos como projeto piloto, ao avaliarmos o impacto, ao montarmos uma proposta de ampliação”.
O edital, que deve ser lançado em breve, faz parte do plano do governo federal para a reformulação no Enem, que pode incluir duas provas por ano. Malvina reforçou que, apesar das polêmicas, os números mostram o crescimento do exame na educação brasileira. “O número de candidatos, 4 milhões na última edição, e de instituições que aderiram ao exame de forma única ou parcial ampliou”, destaca. “Nesse sentido, a credibilidade da prova não foi afetada”.
O vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), professor João Luiz Martins, elogiou a iniciativa do Inep de buscar a aproximação com as universidades. “Hoje o Enem é uma ferramenta importante no sistema federal para ampliar ao acesso ao ensino superior”, disse. “Envolver as universidades na elaboração pode qualificar o teste e abrir portas para outras parcerias”, completou o reitor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
NOTAS PÚBLICAS – Além do debate sobre o Enem, os reitores anunciaram a publicação de duas notas da Andifes durante a reunião desta quinta-feira. Uma sobre o orçamento das universidades em 2011 e outra sobre a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). “Há preocupações sobre possíveis cortes no financiamento e a contratação de professores substitutos para o Reuni”, contou o reitor em exercício da Universidade de Brasília, professor João Batista de Sousa.
A Andifes também quer mais esclarecimentos sobre a MP 520/10, que cria a Ebserh. Segundo dirigentes da entidade, que ainda não construiu consenso sobre a criação da empresa, faltam detalhes a respeito da questão da autonomia das universidades sobre os hospitais, o financiamento e o destino dos atuais funcionários das unidades, caso a criação seja aprovada no Congresso. “Não abrimos mão da autonomia sobre a administração dos hospitais”, afirmou o presidente da Associação, Edward Madureira.
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